O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 23
Capítulo Vinte e Três




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Vinte e Três

Artemis não era muito de mudar de opinião, mas, para quem desprezava o pôr-do-sol, saíra do observatório decidindo que tinha um novo momento favorito no dia. Talvez ela devesse rever seu conceito sobre clichês, apenas talvez.

Os dois haviam acabado de voltar para o carro, em um silêncio confortável. Apolo não estava sorrindo, mas, ainda assim, Artemis podia dizer que ele estava satisfeito, o que era, novamente talvez, preocupante.

Observando a vida noturna da cidade, ela se descobriu apaixonada pelas luzes. A cidade parecia ganhar movimento e beleza à noite, carros, prédios e letreiros criando contornos sutis naquela noite sem estrelas ou Lua.

Apolo era um excelente motorista, mantendo uma boa velocidade sem deixar de parar nas esquinas ou de ceder passagem para alguém mais apressadinho. Ela se perguntou quem o teria ensinado a dirigir, e tentou imaginar como o pai dele seria. Um fã de rock que havia passado seu gosto ao filho? Algum médico colega de David? Quando se falava em Apolo, as possibilidades eram inúmeras.

Graças a Deus, o CD do Guns 'n' Roses não demorou muito para chegar ao fim. Axl Rose havia passado os últimos minutos gritando feito um desvairado, e Artemis nunca entenderia a graça daquilo – Apolo, por outro lado, tamborilava os dedos no volante.

— Posso escolher o próximo? – ela arriscou pedir. – Você tem mais discos aqui, não tem?

— No porta-luvas.

Artemis pegou o porta-discos, percebendo que o garoto estava a observando. Ejetou o CD do Guns com cuidado, mas teve que revirar os olhos para a atenção obsessiva de Apolo.

— O que acha que eu vou fazer, arranhar todos os seus CDs? Olhe para a frente, você está dirigindo. Eu não posso sofrer um acidente e quebrar meu pé.

Apolo pareceu embaraçado enquanto voltava a se concentrar na avenida.

— Só tome cuidado. Alguns desses CDs são edições de colecionador.

— Não vou estragar nenhum – Artemis reclamou, indignada. Pessoas como Gabriel tinham de "tomar cuidado"; ela sempre fora precisa e habilidosa em tudo o que fazia. Não havia chance de algum daqueles CDs se danificar em suas mãos. – Você tem mais discos ou esses são todos? – suspirou. – Não conheço nada aqui.

Os CDs eram uma profusão de ícones de rock que, ela tinha que admitir, só conhecia de camisetas e quotes famosos. Considerou Led Zeppelin, porque Babe I'm Gonna Leave You era decente, mas desistiu quando percebeu que não fazia ideia em que CD a música estaria (Apolo tinha sete deles).

Estava quase procurando pelo CD do Dire Straits quando algo chamou sua atenção. Ergueu o disco (ignorando o olhar de soslaio de Apolo), inclinou a cabeça para o lado e sorriu.

— Eu gosto deles. – Era um disco do R.E.M. que parecia antigo, mas o nome era familiar o bastante. – É esse que tem Everybody Hurts, não é?

— É – Apolo confirmou, parecendo surpreso. – Você gosta?

— Sabe qual faixa é? – Artemis ignorou sua pergunta, colocando o CD no player.

— Dezesseis. – Apolo freou em um sinal fechado, e então se virou para ela. – Você gosta da banda ou só da música?

— Não conheço mais nada da banda – Artemis o informou, fingindo não ver a decepção no rosto dele, iluminado pelo vermelho do farol. – Mas essa música é linda.

— É mesmo. – Ele trocou de marcha e acelerou quando o semáforo se abriu. – Você gostaria das outras deles, são boas também.

Artemis não respondeu, cruzando as pernas no espaço estreito e deixando que a música a deixasse mais tranquila. O carro ajudava, também, com todo aquele ar antiquado e clássico, o couro claro e as bordas quadradas. Ela se perguntou se seria Apolo quem cuidaria dele, e mordeu a parte interna da bochecha, embaraçada, ao imaginar o garoto sem camiseta debaixo de um sol quente, debruçado sobre o capô aberto enquanto arrumava qualquer coisa.

Pensar naquilo era tão Gabriel. Talvez estivesse convivendo demais com o garoto.

— É o carro do 007 – Apolo comentou, a sobressaltando. Artemis percebeu, então, que estivera olhando para o painel por tempo demais. – Você reconheceu?

— Qual 007?

— O de ‘74, O Homem da Pistola Dourada. Conhece?

— Nunca assisti a nenhum 007 – Artemis replicou, mas com curiosidade. – Você é um fã de filmes antigos, também?

Um vinco surgiu na testa de Apolo.

— Por que o “também”?

Artemis gesticulou de forma vaga.

— Músicas antigas, filmes antigos.

As sobrancelhas de Apolo subiram em compreensão.

— Não, só conheço os que os meus pais gostam. Não sou um grande fã de televisão, nem de cinema.

— Hum – Artemis fez. – O nível de idolatria do Gabriel por você baixou três pontos percentuais depois dessa – não pôde evitar comentar. – Ele é apaixonado por musicais.

Apolo deu uma risadinha.

— Ele estava cantando sobre a Transilvânia Transexual outro dia.

Artemis revirou os olhos, tentando não sorrir.

— É a cara dele. Rocky Horror Movie é um lixo, de qualquer forma. – Fez uma pausa, olhando pela janela. – Também não gosto muito de televisão. Para onde estamos indo? – perguntou, preocupada, notando, pela primeira vez, que Apolo havia a distraído o bastante para que ela nem notasse que não fazia ideia de onde estava.

— Comer alguma coisa.

Artemis o encarou.

— Não estou com fome.

— Você nunca está – Apolo retrucou, com naturalidade. – Gabriel come por três, mas você mal aparece no refeitório, e, quando vem, come três folhinhas de alface e logo vai embora.

Artemis revirou os olhos.

— Eu não vou levar a sério conselhos nutricionais de alguém que, provavelmente, vive de latte da Starbucks.

— O que você tem contra a Starbucks?

— Você não está me levando para lá, não é?

— Não – ele deu de ombros. – Minha mãe só pediu para te conhecer.

— O quê?!

Em um timing perfeito, Apolo virou em uma esquina e estacionou, e então se virou para ela com seu melhor sorriso.

— Estou brincando. Relaxe um pouco. Vem – chamou, tirando o cinto. – Você vai conhecer o melhor restaurante grego dessa cidade.

Observando-o abrir a porta e sair, supremamente satisfeito, Artemis piscou, surpresa, levando alguns segundos para fazer o mesmo.

Inacreditável.

{...}

 


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Notas finais do capítulo

Vocês acham que Hera aprovaria o meu casamento com a voz do Zeca Baleiro? (E, falando nisso, onde eu assino para autorizar o casamento imediato do Apolo e da Artemis?)

O capítulo é curto, e eu andei sumida por um tempo, mas vou postar o próximo ainda hoje. As reclamações podem ser enviadas para a secretaria da minha escola.

Beijinhos *-*