O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 16
Capítulo Dezesseis




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Dezesseis

Normalmente, Artemis não teria culpado Gabriel pelo seu quase-encontro com Apolo. Tudo bem, o garoto a havia chamado à sua mesa, mas que culpa ele tinha se Apolo era daquele jeito? Quem imaginaria que depois daquele escândalo com Lily o garoto se aproveitaria para tentar convencê-la a sair com ele?

Contudo, Artemis teria sido racional assim em um dia normal. Agora, com a perspectiva de Apolo esperando por ela à porta da Academia no fim da tarde de sexta-feira, ela não se sentiu nem um pouco culpada enquanto arremessava uma almofada na cara de Gabriel.

Que, vale dizer, estava descaradamente deitado de pernas para cima no sofá do dormitório, mexendo no celular com a expressão mais inocente do mundo.

— Artie! – ele exclamou, achando graça e colocando a almofada atrás da cabeça. – Eu estava quase batendo meu recorde no CandyCrush! Qual o motivo de tanta violência?

— Eu não acredito que me chamou para sentar à mesa de vocês – ela explicou. – O que deu em você?

Gabriel encolheu as pernas para que ela se sentasse, e Artemis até se sentiria agradecida se o garoto não as estendesse por cima do seu colo logo depois.

— Qual o problema em sentar comigo? Você não me ama mais? – Gabriel pôs uma mão sobre o coração, dramático. – É pelo jeito que eu como? Isabella me chama de nojento, aquela cobra.

— Você é nojento comendo. E não é sobre você, é Apolo — ela enfatizou o nome. Como se fosse necessário, honestamente. Gabriel ouviria qualquer murmúrio sobre o loiro. – Você não percebeu que eu estava o ignorando? Eu consegui por uma semana inteira, e agora, graças a você, ele conseguiu me chamar para sair. De novo – acrescentou, impaciente. – E, aparentemente, aquele cérebro subdesenvolvido não entende o sentido de uma negação. Pelo visto, o convite está “aberto” para essa sexta.

Gabriel levou algum tempo para processar tudo, e, quando o fez, sua resposta foi inútil, como Artemis havia imaginado que seria.

— Artemis, ele te chamou para sair, não para caçar ursos-polares de cima de helicópteros. Se bem que, cá entre nós, eu caçaria ursos-polares com Apolo. E então poderíamos dormir abraçados em algum lugar super frio para calor humano.  Você sabe se é mesmo ilegal esse tipo de coisa, ou é meio que condenado só por ONGs e o Greenpeace? Tipo, os ursos estão em extinção, e tem toda aquela coisa de aquecimento global, mas...

Artemis ignorou o resto do que Gabriel ia dizendo, afundando-se no assento e tentando calcular as possibilidades de Apolo sofrer um trágico acidente até sexta-feira. Talvez uma de suas fãs desmioladas até o matasse, como em uma encenação menos glamurosa do que havia acontecido a John Lennon.

Não, não tão cedo, pensou, com amargura.

— Eu não quero sair com ele – acabou suspirando, apoiando a cabeça no encosto da poltrona e encarando o teto.

Gabriel parou a bobagem que ia dizendo, e levou uns segundos até abrir a boca novamente.

— Artemis, eu vou te dizer uma coisa muito importante, do alto da minha experiência – anunciou, com pompa.

— É, porque eu estou desesperada por conselhos sobre sexo gay.

— A menos que você seja uma hermafrodita, meus conselhos sobre sexo gay seriam inúteis – Gabriel apontou, com naturalidade. – Eu só acho que você deveria sair com ele, pelo menos uma vez.

Artemis o encarou.

— E como chegou a essa conclusão? Ele não está te subornando para dizer isso, está?

— Eu bem queria que estivesse – Gabriel sorriu. – Mas eu só acho que Apolo não vai desistir de você. Quero dizer, ele nunca recebeu um fora na vida, porque a pessoa teria que ser retardada para isso, então ele não sabe lidar com um não. Sem ofensa, eu não quis dizer que você era retardada – acrescentou, insincero. – É só que quanto mais você recusa, maior é o desafio para ele.

Fazia sentido. Onde ele teria lido sobre aquilo, livros para pré-adolescentes?

— Gabriel, se milhares de garotas encheram o ego de Apolo e o acostumaram mal com o passar dos anos, eu realmente não tenho culpa.

— E daí? Não é sobre culpa – Gabriel gesticulou, afastando a palavra para longe. – Mas é meio que como comida, você não pode dizer que não gostou sem ter provado. - E então ele sorriu. - Ah, vai, não é engraçado pensar em Apolo como comida? Eu o comeria.

Ele riu da própria ideia enquanto Artemis revirava os olhos.

— Eu não quero nada com ele, nem um encontro nem vários. Vamos dizer que eu seja alérgica a Apolo. Onde está meu livre arbítrio?

— Como diz o Loki, a liberdade é a maior mentira da vida – Gabriel anunciou, fazendo uso de seu surpreendente conhecimento cinematográfico. – E, olha, eu até acho que vocês se completam.

— Nós o quê?

— Se completam - ele explicou, sorrindo de antemão. - Apolo é super divertido e você é, tipo, a pior pessoa que eu conheço.

— Nossa, você realmente sabe fazer uma garota se sentir especial.

— Estou atrás dos garotos mesmo – Gabriel se espreguiçou. – Mas falando sério, saia com ele uma vez, o que custa? Vocês provavelmente vão se divertir.

— Oh, então vou sair com Apolo uma vez, repetir minha opinião de que não quero nada com ele, e esperar que ele desista? – Artemis revirou os olhos. – Mesmo que eu diga que odiei, não acho que Apolo vá desistir.

E, de fato, por algum motivo, Artemis não conseguia ver Apolo abrindo mão dela assim tão fácil, principalmente depois de ter tido o gostinho de um primeiro encontro. Mas como eu poderia saber disso? Realmente mal o conheço.

— Artemis, Apolo tem praticamente vinte anos. Ele vai superar se você não quiser mais nada depois de uma primeira tentativa.

— Da mesma forma que superou o não?

Gabriel deu de ombros, sorrindo.

— Se ele não superar, eu o consolo.

Artemis não o respondeu, e Gabriel enfiou a mão no vão do sofá, pegando seu celular caído. Artemis deixou que a musiquinha do jogo dele a distraísse, pensativa.

— Por que o David não estava com vocês? – perguntou, depois de um tempo. – Ele sempre está com Apolo.

— Uh. – Gabriel manteve o olhar na tela do celular. – Ele, hum, talvez esteja me evitando? Assim, talvez.

— Gabriel?

— Eu tentei algo no sábado, mas não deu muito certo – o garoto resumiu, obviamente sem querer falar sobre aquilo. – E a Lily vai mesmo embora, te contei? Suponho que você vá ficar feliz, mesmo qu--

— Isso não me deixa particularmente feliz, e você está mudando de assunto. Por favor, não me diga que ele vai mesmo abrir um processo de assédio sexual contra você.

A ideia fez o garoto rir.

— Não, não vai. E eu sou muito adorável para ir preso.

— Claro. – Artemis estudou seu rosto, perguntando-se o que teria acontecido para que Gabriel, a pessoa mais tagarela do mundo, decidisse ficar quieto. – Aquele monitor vem mesmo na quarta?

— O Michael, é. E quinta tem festa para comemorar – Gabriel comentou, erguendo os olhos do celular e soando mais animado. – Ele é legal, muito gostoso mesmo. O chato é que é um mala, temos horário para dormir e tudo. Meio humilhante ser posto na cama aos dezenove anos, sei lá.

— Sério? – Artemis perguntou, achando graça.

— Bom, o horário de dormir, tecnicamente, nós já temos, é às dez e meia, mas a Lily sempre deixou a gente ficar até mais tarde. Tragicamente, contudo, o Michael sempre mandou todo mundo para a cama na hora certa – Gabriel suspirou. – Vai ser um saco.

— Antes isso do que a conversa mole da Lily – Artemis resmungou, fazendo Gabriel dar uma risadinha.

— Ela disse para todo mundo que estava no banheiro que está saindo por sua culpa – ele avisou. – A Serena do terceiro período veio me perguntar se era verdade que você havia roubado o papel dela na peça.

Artemis boquiabriu-se.

—Ela está dizendo isso? Sério?

Gabriel deu de ombros, contendo o sorriso.

— Eu não me importaria se fosse você. Ninguém nunca gostou de você mesmo.

— Gabriel.

O garoto riu.

— Não se preocupe, as pessoas vão esquecer logo. E é culpa desse seu carisma, você podia aprender umas dicas de simpatia com Apolo.

— É, porque tudo o que eu preciso é de fãs sem cérebro.

— Ciúmes das Apoletes?

— Das o quê...? Ah, esquece.

Gabriel riu, e então arqueou as costas para estralá-las, tombando a cabeça para trás e encarando o teto.

— Faz um sanduíche bem grande para mim, por favor? – pediu, manhoso. – Com tudo o que tem na geladeira, menos picles.

— Você com certeza estava muito ocupado transando com alguém no armário enquanto os professores ensinavam que bailarinos tinham que ser magros, não é?

— O quê, eu sou magro. Ou você não percebeu o corpo lindo que tem nas mãos? – ele piscou, e Artemis percebeu que, em algum momento durante a conversa, havia apoiado os antebraços em suas pernas.

— Bom, mova esse corpo lindo, então – empurrou as pernas dele, se levantando. – Só porque eu iria fazer um para mim, já que almoço foi arruinado – avisou, quando Gabriel abriu um sorrisinho satisfeito.

— Eu já entendi tudo, mocinha. Maior é a pena para você.

Artemis se virou para ele, confusa.

— Perdão?

— Eu sei por que você não quer sair com Apolo.

— Oh, sabe?

— Você está apaixonada por mim.

— Oh! Não sei o que farei, agora que você descobriu – ela revirou os olhos enquanto lhe dava as costas.

{...}


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Notas finais do capítulo

Gente, precisamos de camiseta para o Team Daviel! David + Gabriel = Daviel, é claro.
E eu estava aqui pensando sobre Apolo como comida, acho que ele seria salgado. A Artemis seria azeda, porque sim, e o Gabriel, meio docinho, como algodão doce. O David seria amargo, como café forte, ou aquele gosto marrento de vinho.
Enfim, essa sou eu surtando. Gostaram?
Beijinhos