Lost It All escrita por Alice Antivist


Capítulo 6
It Never Ends


Notas iniciais do capítulo

MÚSICA DO CAPÍTULO: It Never Ends - Bring The Horizon



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Aquele garoto, Andy... Sinto-me mal por ele. É como se a dor dele tivesse sido passada por mim no momento em que o vi chorando. Mal o conheço, não perguntei muito sobre sua vida durante nossa curta conversa. Tudo o que me repetiu foi "eu estou bem".

Pessoas se forçam a dizer essa frase para não serem julgados, ou por acharem que não merecem atenção em um momento de fraqueza. Eu não quero que alguém se preocupe comigo. Não por achar que não preciso, mas por questão da outra pessoa já ter problemas o suficiente. Ninguém precisa carregar mais os meus nas costas. A única coisa estranha: eu gosto que joguem suas dificuldades em mim. Fico contente quando posso ajudar e apoiar alguém.

Infelizmente, não tenho ninguém que precise desse apoio.

Meus poucos amigos (Leo e Frank) meio que se conhecem desde pequenos. Fica meio difícil, sabe? E minha amiga, Annabeth, está ocupada demais paparicando a namorada, Hazel. Sobra para mim Piper, que quer tudo comigo, menos amizade. Eu não gosto dela, nem de ninguém. Eu sou meio...

Aquele que ousar pronunciar a palavra "assexuado" vai ter a cara esmigalhada contra a parede.

É só que... Eu nunca encontrei aquela pessoa especial. Que vai me fazer ficar idiota e abobalhado, sorrindo como se estivesse tudo maravilhoso. Eu não me importo se for um garoto ou uma garota, tudo que eu quero é simples: amar e ser amado.

Mas voltando ao assunto "Andy" a garota punk e garoto que se corta, ambos daquele dia que fui falar com Cristal, apareceram. A menina correu em direção a Andrew, o abraçando fortemente. Aquilo provavelmente foi um tentativa de consolo. Quando o soltou, começou a arrastá-lo para dentro do prédio, perguntando-lhe em desespero o que tinha acontecido. Adorável, mesmo estando estampado na cara que ela gosta dele.

O garoto mais velho, se aproximou e sentou do meu lado, suspirando pesadamente. Usava fones, de forma que me impedia de puxar assunto. Observei suas feições distraído.

Os braços estavam cruzados sobre o peito, ele fazia questão de puxar as mangas da camisa e enrolá-la entre os dedos. O cenho franzido e os lábios apertados devido a luminosidade incômoda do sol. Mesmo com todos aqueles panos um pouco desnecessários cobrindo-lhe, [N/A: parem de ser pervertidos! É por causa do clima!] era possível ver o quão magro era. De repente, minha mente deu um estalo.

Se ele estava aqui, não deve ter muitos amigos.

Meu desespero por puxar conversa com esse garoto tão estranho falou mais alto, e tive de tentar:

— Hãn... Você tem horas?

O garoto tira os fones. Merda, tinha esquecido desse "pequeno" detalhe.

— Disse alguma coisa?

— Sim. - respondi - Perguntei se sabe me informar as horas.

— Ah, claro. - disse, buscou o celular no bolso, verificando a tela - São três e cinquenta. - virou-se para mim novamente - Você está aqui pelo grupo?

— Sim. - dou um sorriso - Você também, certo?

— Meio óbvio. - da um riso meio amargurado - A sociedade não gosta muito de emos, sabe?

— Acho que não tem uma opinião muito diferente de punks.

Dou um pequeno riso, reparando pela primeira vez que sua franja sugere o estilo. Ouço falar tanto de brigas entre punks e emos... Devo odiá-lo ou algo assim? Ah, dane-se. Odeio esse negócio de seguir padrões estúpidos mesmo.

O garoto se curva, colocando os cotovelos sobre os joelhos. Perco o contato com suas íris negras, que puxavam levemente para o vermelho. Com se ele tivesse um pouco do inferno nos olhos.

— Sou Nico di Angelo.

— Jason Grace.

Estendo-lhe a mão e ele aceita o cumprimento. Tenho a estranha vontade de esticar seu braço e arregaçar aquelas mangas, para confirmar minhas suspeitas, mas a minha parte não paranóica me impede de fazer isso. Seria grosseiro, fora que eu iria parecer um louco. Perguntei sua idade e ele me respondeu 16. Um ano mais novo, mais ele parece ser muito mais velho que eu.

Chegando as quatro horas da tarde, levantamos e caminhamos para dentro do prédio. Quero acabar com isso o mais rápido possível. Só estou aqui por Cristal, mais nada.

A garota estava com Andy, fazendo o rir de alguma bobagem que dizia. Ao lado, sentava um outro garoto, de uns dezesseis anos, que acenou em nossa direção, obviamente para Nico. Os olhos eram cor de âmbar e a pele em um tom menos pálido que todos os outros dali (inclusive eu). Calçava coturnos, usava calças meio justas (como é mesmo o nome? Skinni? Deve ser isso) e uma camisa preta que tinha escrito em vermelho-sangue: "PREFIRO ZUMBIS A SERES HUMANOS". O gorro cinza escuro contrastava com o cabelo castanho claro meio bagunçado. Ao contrário de Nico, suas unhas não estavam pintadas (sério, quem pinta as unhas?).

— Hey Nico!

— Oi Isaac... - Nico se aproximou.

— Nossa, quanta animação. - disse sarcástico.

— Eu não vejo problema nenhum, você que é alegre de mais para um cara que acena com a mão esquerda.

O garoto fez uma careta, pude ver mágoa em seus olhos. Tentei entender ao que Nico se referia, e percebi pela primeira vez a falta de seu braço direito. Me senti um pouco desconfortável vendo apenas um afunilamento no lugar de onde deveria existir o antebraço. Ai. Aquela piada não foi nem um pouco simpática e Nico aparentemente percebeu sua falta de tato. Inclinou de leve a cabeça e disse em um volume baixo.

— Me desculpe... - aproximou-se do outro, tocando-lhe o ombro - É sério, me perdoa. Não quis dizer isso, eu de repente... fiquei meio... estranho.

— Tudo bem, cara. Mas não foi legal. - Isaac riu - Pelo menos você fez uma piada! Se continuar assim vai se ver livre da terapia rapidinho!

Nico fez uma careta, o que foi bem engraçado. Todos na sala acabaram rindo, porém eu apenas sorri. Os dois pareciam ser bem amigos.

A falsa alegria Isaac me incomodava absurdamente.


(...)

A sala de Albert Iero era maior que minha sala de jantar. As poucas cores que ali ocupavam chamavam atenção por ser todas as paredes serem brancas. Tinha janelas extensas, todas cobertas por cortinas cor de marfim, com desenhos geométricos em marrom. Os móveis de madeira, um tanto quanto rústicos, foram arredados para os cantos, permitindo que um círculo de cadeiras fosse formado no meio do cômodo.

Estou sentado ao lado de Albert, e de uma garota muito bonita. Tem cabelos castanhos escuros e olhos no mesmo tom. A pele é clara, um pouco mais bronzeada que a de Isaac, dando a certeza de que pelo menos ela sai de casa. Usa jeans surrados, tênis e uma camiseta branca com o desenho "(:(" e os dizeres "você escolhe". Interessante foi o fato de que a primeira carinha que eu vi, foi a triste.

Albert era um homem de mais ou menos 30 anos. Ele tem dreads por todo o cabelo castanho, presos por um rabo de cavalo mal feito. A camisa branca realçava sua pele escura, cor de chocolate. Os olhos eram meio dourados, davam arrepios. Era como olhar para areia em um deserto: você se perdia com facilidade. Ele deve ter uma facilidade enorme para arrancar a verdade dos seus clientes.

Haviam vários adolescentes lá, com os mais variados estilos e jeitos. Tinha uma garota com o cabelo raspado, um garoto com o cabelo comprido. Uns usavam preto, e outros usavam roupas coloridas. Alguns era extremamente quietos, e haviam aqueles que chegavam a ser hiperativos. Praticamente nenhum conversava, mesmo assim.

— Bom gente... - começou Albert - Hoje, como devem ter percebido, temos dois colegas novos: Jason e Reyna. - apontou para mim e para a garota que sentava ao meu lado - Vamos nos apresentar, certo? Andy... Por que você não começa e assim seguimos adiante até chegar nos dois?

Andy, que estava a esquerda de Albert, se levantou.

— Hã... Eu... Não sou muito bom com apresentações mais vai, né? - se explicou, rindo sem graça - Sou Andrew Way, tenho 14 anos e... É acho que é só isso.

Sentou-se e se virou para Bandit. A garota se levantou, sorrindo alegremente.

— Bem, eu fiz 14 em setembro e me chamo Bandit-barra-Sophie-barra-Ashley di Angelo.

Eu não entendi, mas todo o resto do salão sim. As risadas ecoaram pela sala, enquanto Bandit voltava para seu lugar novamente. Todos olharam para Nico.

— Oi, eu sou Nico di Angelo, tenho 16 anos, não me levantei porque sou preguiçoso demais até para isso e... - ele apontou para Reyna e sorriu brincalhão - Se eu fosse hetero, eu te pegava. Você é uma gata.

Dessa vez não consegui não conter uma risada, e me juntei ais outros que riam da suposta "cantada" de Nico. Isaac só se levantou empurrado pela menina dos cabelos raspados, após todos se acalmarem.

— Hey, me chamo Isaac Benet, tenho 16 e provavelmente sou a pessoa menos depressiva dessa sala. - ele estendeu o braço esquerdo, como se sugerisse um aperto de mãos - Eu até estenderia a outra mão mas... - balançou o que restava do outro braço, como se tentasse estende-lo também - Tá meio difícil, né?

Por incrível que pareça, as pessoas riram. E por mais incrível ainda que pareça, Isaac as acompanhou. A garota de cabelos raspados se levantou (não suporto mais chamá-la assim, graças a deus).

— Olá, eu sou Amy Clair, tenho 17 anos e... - ela olhou para mim e sorriu de forma maliciosa - Sinto em ter que fazer a mesma observação de Nico. Se eu não fosse lésbica, você estava fodido, seu gostoso.

As sala explodiu em risadas novamente e o garoto de cabelos compridos se levantou.

— E aí? Sou Dastan Ravene, tenho 15 anos e...

Assim as pessoas continuaram, umas faziam comentários muito engraçados e outras comentários extremamente depressivos. Somos ao todo 18 adolescentes confinados em uma sala de terapia com apenas um adulto como nosso não-tão-responsável. Gostei da parte de "não tão".

Al disse que, como somos os novatos, tínhamos que nos apresentar mais demoradamente, acrescentando algo sobre nossas personalidades, gostos etc. Finalmente, chegou a vez de Reyna. Vários garotos haviam feito exclamações sobre sua beleza, tanto que ela estava um pouca acanhada de falar. Exatamente: estava. Um sorriso doce adornou seus lábios, e ela começou:

— Olá pessoas, eu sou Reyna Avila, tenho 15 anos e vim de orfanato em Porto Rico. Meus novos pais se mudaram para cá tem quase um ano, e, como não fiz nenhum amigo até agora, acharam que esse grupo seria uma boa ideia. Eu discordei, mas fazer o que? Aparentemente tem pessoas legais aqui, eu gostaria realmente de conhecer todos vocês. - encarou Isaac - Você principalmente. Aceito o aperto de mãos mesmo que seja com a esquerda.

Reyna estendeu a mão (direita) e Isaac se levantou, aproximou-se e segurou-a. Porém, ao invés de apertá-la, levou-a aos lábios e depositou um beijo sobre (PALAVRA). Gritos ecoaram pela sala, enquanto a morena corava e ria. Em meio a série de brincadeiras o outro voltou para o lugar e Reyna recomeçou a falar.

— Gosto muito de ler e ver séries ou filmes. Não curto muito música, porque não conheço muitas bandas boas e nem tenho tempo para procurá-las. Sou meio tímida, mas consigo esconder isso por aparentar facilidade de falar em público. Sou um tanto quanto mandona, mas compreendo quando não gostam das minha opiniões ou coisas do tipo. As pessoas costumam dizer que sou bonita, mas eu não acho. E... Bem, é isso. Obrigada.

Ela se sentou e, como o esperado, todos olharam para mim. Eu era o último. Albert fez sinal para que eu me levantasse e meu estômago revirou. Não é todo dia que tem tantas pessoas olhando com tanta expectativa para mim. Fico de pé, tentando não parecer nervoso. Respiro fundo e começo a falar.

— Bem, me chamo Jason Grace, tenho 17 anos. Gosto muito de música, principalmente metal e punk rock. Minhas bandas preferidas são Metallica e Ramones... As pessoas costumam me chamar de rebelde, e talvez seja verdade. As vezes sou um pouco rude, me esforço ao máximo para mudar isso, porque não tenho intenção de magoar ninguém. - olho para Amy sorrindo brincalhão - Quanto a você Amy, se algum dia você precisar de alguém para confirmar sua homossexualidade, me procure. Vou estar a disposição.

As pessoas dão risadas pelo que falei e Al se volta para mim.

— Certo, Jason, fale sobre sua família ou algo assim.

Família. Ele sabe. Ele tem que saber. A puta da Cristal deve ter contado para ele. Merda, merda, merda. Controle-se, Jason. É só falar, provavelmente eles não vão se assustar, são todos tão anormais quanto você.

— Certo. - minha expressão imediatamente se torna sombria - Meus pais bateram as botas tem uns anos, então moro com a minha tia, que perdeu o filho e conseguiu minha guarda. Minha irmã se suicidou quando eu tinha 10, então passei o resto do aturando as brigas constantes dos meus pais sozinho. Minha mãe passou a usar drogas depois de um tempo, matou meu pai covarde e a amante estúpida dele e, logo depois se matou. Meu único amigo foi meu primo, que faleceu quando eu era pequeno. Mas eu amo minha tia para caralho. - sorri com sarcasmo - Pois é, esqueci de acrescentar que aparentemente todos que se aproximam de mim morrem.

~Flashback~


A música alta já não encobria os gritos dos pais e Jason se sentia absurdamente só. Tinha ido atrás de Thaia, mas a morena estava no banheiro. Claro que o loiro sabia o que ela estava fazendo, o choro era audível do lado de fora.

Alguma força inexplicável guiou-o para fora do quarto. Desceu as escadas, seguindo os sons das ofensas e objetos sendo quebrados. A situação era cruel, mas Jason estava acostumado. Era sempre assim. Eles brigariam, supostamente se perdoariam, a mãe iria fingir alegria e o pai correr para a amante. Mesmo com apenas 10 anos, o loiro já sabia a história toda.

Sentou-se na porta do banheiro, onde a briga era bem visível. Sua irmã não chorava mais, o que não significava boa coisa. A voz feminina chegou aos seus ouvidos, sem sentimentos, apenas fraca:

— Você sabe, não é Jay? Você sabe o que fiz, não sabe?

Um pouco do líquido vermelho escorreu pelo vão entre o chão e a porta. Jason não sentiu dor. Sentiu nojo.

Quase todas as pessoas consideram o suicídio uma covardia, mas o loiro não pensava. Para ele, pessoas que o faziam eram nada mais nada menos que injustas. Ele acreditava que era uma injustiça consigo mesmo, afinal, ele também queria morrer. Porém não podia. Ele invejava aqueles que viam como um fato simples acabar com a própria vida. Por que outros podiam e ele não?

Porque não podemos ter tudo que queremos na vida Jason. O mesmo acontece com o que queremos ao morrer. O que te garante, pequeno, que essa dor vai acabar?

— Eu te amo, Jason. - sussurrou a irmã - Estou agradecida por tentar me ajudar.

— Eu te odeio, Thalia - respondeu Jason - Estou enojado por você me abandonar.

Ele dissera a verdade. Daquele dia em diante, o loiro jurou a si mesmo que seria sincero em como se sentia em relação aos outros. Não iria imitar o pai.

Os professores de todas as escolas, os pais, os tios... Todos dizem que começamos a ver o mundo de verdade apenas quando adentramos a fase adulta. Porém, sempre existiram aqueles que discordam. E "aqueles" são as crianças. Os jovens que foram apresentados ao mundo com muito mais antecedência, muito antes do esperado. Esses, se diferenciam dos outros. No modo de vestir, de agir e muito mais no jeito de pensar. Em muitos casos, essas crianças sofrem em seus relacionamentos sociais e, grande parte, não são levadas a sério. "Isso tudo é drama" foi o que disseram. Mas os outros não entendem que essas pessoas são diferentes.

Que somos especiais.


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Notas finais do capítulo

OE CUPCAKES X3 QUEM QUER TER UM NÃO-TÃO-RESPONSÁVEL? EUO O/

Escrevendo esse capítulo, percebi o quanto eu amo o Nico hwhehqjhdhsjdba Sério, ele é lindo perfeito e maravilhoso hsndhjqf viado do meu heart gejsbdhah

Eu não tenho grandes observações para fazer, até porque, deve ter pelo menos um chorando depois dessa huehue

Vamos conversar de novo? *u*
Tem meninos lendo essa fanfic? Se sim, mandem um oi né ^-^

Kissus cupcakes! Amo vocês!



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