Lost It All escrita por Alice Antivist


Capítulo 5
Welcome Home Sanitarium


Notas iniciais do capítulo

MUSICA DO CAP: Welcome Home (Sanitarium) - Metallica



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/472244/chapter/5

O medo.

O medo de me machucar, de chorar, de morrer, de ser abandonado, de cansar, de perder os que amo, de acreditar, de me decepcionar, de sonhar, de odiar, de amar...

Enfim: o medo de viver.

Isso se reflete na minha vida, o que é terrível. Tenho raiva de mim mesmo por as vezes não conseguir aguentar e me desfazer em lágrimas. Tem dias que eu não suporto esse desespero, essa dor. Sendo assim, começo a ver outra cor além de cinza.

Vermelho.

Encosto a lâmina contra o meu antebraço. Aumento a pressão e sinto a pele romper-se de leve, uma onda de adrenalina percorre meu corpo. O corte começa a latejar e sinto-me levemente dopado. É esse o efeito que a dor exerce em mim... Como minha droga. Minha estranha válvula de escape. Não há nada que eu mais odeie, nem nada que eu mais ame.

"É para o bem de vocês" ela disse.

"Vai dar tudo certo" ela disse.

Muito bem mãe, agora me explique qual foi o erro do seu engenhoso cálculo.

— Nico?

A voz de Bandit ecoa, um tanto abafada devido a porta do banheiro. Eu não sei se devo agradecê-la ou odiá-la por ter me tirado de meu santuário de pensamentos. Acho que é bom. Evita os estragos que posso fazer no meu corpo ao reviver o passado. Odeio lembrar.

— Já vou. - respondo.

Desligo o chuveiro, e observo o corte que agora está um tanto aparente. Saio do box, enxugo-me e visto minhas roupas, já separadas. Um jeans justo (mas não tanto), uma blusa preta sem estampa e meu casaco de moletom. Calço meus tênis e saio do banheiro, ainda enxugando meus cabelos. Sabia o quanto minha prima iria reclamar se não os secasse direito.

Minha prima.

Acho que todos já sabem o que ela tem, não é?

Bandit é bem mais frágil do que parece e sofreu bastante, mas de acordo com ela, ter dupla personalidade foi apenas uma cicatriz. Estamos tratando-a das formas possíveis, só que nada adianta. Ficamos muito preocupados, principalmente ao saber o motivo de ser tão difícil de curado: ela quer os alters.

Minha prima quer mante-los para não sofrer. Usa-os como uma espécie de proteção ou escudo. Quando está triste, Sophie aparece; quando está lembrando do padrasto, Giovanna surge. Espero não ter que explicar sobre Gi... É muito estranho imaginá-la assim.

Mas vocês vão conhecê-la logo logo. É só esperar um pouco.

Escuto meu avô xingando em italiano, provavelmente por ter se queimado enquanto fazia o almoço. Caminho até a mesa e confirmo minha suspeita, ao vê-lo trazendo um travessa nas mãos com um careta de dor. Tento prender o riso, mas acaba não dando muito certo. Os olhares de repreensão do velho não me atingem mais.

Sentamos todos à mesa, comendo imersos no silêncio. Eu não sei se gosto muito de situações assim. Afinal, quanto menos distrações, mais tempo para pensar. Definitivamente não gosto disso, já que o passado sempre acaba voltando. Olho para meu avô e, numa tentativa de puxar assunto, pergunto:

— Como vai a loja?

Esqueci de comentar sobre meu avô. Ele na verdade tem idade para ser meu pai, só que minha mãe nasceu... Um pouco antes de previsto, por assim dizer. Minha avó tinha 15, jovem até demais para ter tido minha mãe. O que eu gostei do meu avô, foi não ter abandonado ela com a criança. Sempre concordei com as histórias dele ser um cavalheiro. Mesmo que isso não coincida muito com sua aparência.

Stan, meu avô, tem várias tatuagens, que faz em mais variadas épocas e com motivos diferentes. Pessoalmente, a que eu mais gosto é uma que imita uma rachadura em sua pele. Ele fez três em cada pulso. Todas, em homenagem a mim e minha irmã. Só eu, ele e Bandit sabemos o motivo, mas isso não vem ao caso.

Ele tem cabelo cor de areia, que quando era mais novo deixou crescer até a altura dos ombros. Só que agora é curto, rente a raiz. Suas roupas escuras ainda não foram cem por cento substituídas, embora já seja comum vê-lo com camisas claras. Tudo bem, eu gosto do estilo metal do meu avô.

Ele e minha avó (que não tem um estilo muito diferente do dele, como é esperado) são donos de uma loja especializada em artigos de bandas, tatuagens, piercings e alargadores. Desde pequenos, eu, Bianca e Bandit fomos influenciados pelo "negro" da família. Mas admito, adoro isso e muito. Minha irmã tem uma tatuagem de cobra no ombro, Bandit e eu temos piercings. Tenho um no lábio inferior e dois na sobrancelha, já minha prima tem furos na orelha.

— Bem... - responde - De onde veio essa pseudo preocupação repentina?

Um mínimo sorriso brinca em meus lábios.

— É que...

— Não.

A voz de minha avó interrompe minha pergunta. No momento que ela adentra a sala, desisto de minhas tentativas.

— Calam Camile! Você nem escutou o garoto, como sabe o que ele vai pedir? - meu avô me defende, lançando a mim um olhar um tanto quanto cúmplice.

— Você sabe muito bem e eu também! - ela se volta a mim - Não me venha com esse papo de novo, Nico!

Vô Stan faz um gesto para que eu continue. Meu sorriso se expande e me controlo para não rir da expressão indignada de vó Camile.

— É que eu queria fazer uma tatuagem.

Meu avô ri assentindo com a cabeça, e minha avó derrama parte do café na mesa. Bandit explode em gargalhadas ao vê-la se voltar para mim, pronta para me dar um bronca. Meu sorriso consegue aumentar mais ainda.

[...]


Suicide Silence é foda. Quando escuto tudo o que consigo fazer é bater o pé no ritmo da música e balançar a cabeça. Por que as pessoas não gostam? Eu consigo entender muito bem a letra...

Estou no carro, indo para o... Como se chama mesmo? Grupo de apoio? Ah, lembrei. "Grupo de apoio para adolescentes com dificuldades de socialização". Vamos encarar a realidade: eu nunca conversei com ninguém lá.

Bandit também vai, já que somos os dois considerados "anti-sociais". Embora o meu problema seja mais timidez ou algo assim, e Bandit seja espevitada demais para uma convivência normal. Acho que de amigos, só tenho Andy e Isaac, um garoto do grupo que perdeu um braço e puxou assunto comigo devido ao meu estilo de me vestir ser um tanto quanto emo. Ok, sou totalmente emo, mas isso não vem ao caso né?

Mal o carro parou, que minha prima literalmente saltou do banco e correu para abraçar Andy. Sério, muito fofo os dois. (Isso soou gay, mas vamos ignorar) Meus olhos se prendem na criatura sentada ao lado dele: o garoto loiro. Agora vai ser assim? O universo vai tirar uma com a minha cara? A voz de Bandit me tira do meu "drama adolescente":

— Andy! O que aconteceu?!?

Analiso com mais cuidado o garoto, reparo em seu rosto. Vermelho. Úmido. Sofrido.

Andy estava chorando.


~Flashback on~

Medo era o que o pequeno sentia. Seus braços magros pediam ao lado do corpo infantil, os fios negros estavam cuidadosamente penteados pela irmã, que tinha os cabelos coloridos novamente. Usavam roupas simples, não queriam chamar atenção e estavam em um lugar sério. O menino achou o nome um tanto quanto engraçada.

"Manicômio".

Um lugar para loucos.

Os passos ecoavam pelo piso revestido pela cor branca, causando um som sinistro. O corredor era vazio, eles estavam indo para uma área verde. Muito bonito por sinal, o jardim. As cadeiras dispostas em volta da mesa de madeira, sem mais nada. Seria apenas uma conversa simples. Ao se sentarem, a mais velha chamou-lhe:

— Andrew. - o moreno a fitou - Não fale sobre nada relacionado a amor. E não importa o que aconteça, não a chame de mãe. É Sra. Way, o tempo todo.

— Sim, Cris.

Seus olhos encheram de lágrimas, e o rosto da irmã permaneceu impassível. De acordo com as histórias, sua mãe os odiava. Por que repentinamente iria querer vê-los?

A mulher apareceu.

A roupas eram cáqui e, mesmo assim, sua pele se destacava por ser tão clara. Os cabelos castanhos presos em um coque alto, os olhos brilhando de... de... Andy não sabia. O que aquele olhar significava? Por que sua mãe encarava apenas Cristal? Será que não o via? Como chamá-la? Como iria atrair sua atenção?

A mãe gritou algo, Andy não a escutou. As feições, que antes lhe pareciam encantadoras, agora demostravam um ódio que era desconhecido. A irmã o o pôs no colo, segurando-o com firmeza.

O desespero começa a arranhar-lhe a garganta, sua respiração vacilou e se tornou descompassada.

Um.

Podia ouvir o próprio coração bombeando-lhe o sangue pelas veias.

Dois.

Pessoas surgiram e agarram sua mãe, puxaram Cristal e o pequeno de volta para o corredor branco.Tremores. Andrew tremia da cabeça aos pés, o suor frio escorrendo por sua testa.

Três.

Medo.

Medo. Medo. Medo. Medo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Welcome Home (Sanitarium) .< Ele não suporta relembrar. Então. Isso é a minha carta na manga para a tensão da história. Oops, spoiler ~carinha de anjo~

Vamos conversar que tal? Hoje eu to com vontade de tagarelar u.u Qual a banda/cantor/sei-lá preferido(a) de vocês?
As minhas bandas preferidas são My Chemical Romance e Pierce The Veil



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lost It All" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.