Lost It All escrita por Alice Antivist


Capítulo 3
Can You Feel My Heart?


Notas iniciais do capítulo

Heeeeey sweethearts! :33
Eu escrevi notas né? Sinal que tenho coisas a dizer u.u
Eu nunca, em hipótese alguma, disse que os flashbacks são necessariamente de quem tá narrando né? Vamos ver se vocês adivinham de quem é huehuehue
Eu acho, de certa forma, irritante escrever "#Flashback" mas eu tenho que fazer isso T-T não dá pra por itálico entende? T-T
Enfim... Boa leitura! Espero que gostem c:



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Somente duas semanas depois de conhecer Cristal Way, que comentei sobre ela com tia Sally. Quero dizer... Somente duas semanas depois de conhecer Cristal Way, que tia Sally encontrou o cartão dela esmurrado no fundo de uma gaveta e, como era esperado, me exigiu explicações.

Contei-lhe sobre a mulher. Como ela parecia dolorida e o fato de ter me oferecido o cartão de seu consultório para caso eu me interessasse.

Esperava dela uma reação que fosse além de apenas comprimir os lábios e umedece-los em seguida.

Tentei relaxar enquanto percebia o olhar dela fixo em mim, porém cada vez mais distante: perdendo-se em pensamentos. Observei-a retornar ao presente também. Encarando-me, séria, porém levemente hesitante. Me controlei para não desabar em lágrimas ali mesmo ao lembrar para quem aquele olhar fora dirigido uma vez.

Toda vez que eu vejo tia Sally, me estômago se retorce e me sinto novamente um garotinho de quatro anos contendo as lágrimas. É incrível. Me deparo com as mesmas lembranças de uma feliz tarde de verão em família. Um nó se forma na minha garganta.

Aos quatro anos, eu já tinha sentido na pele a morte. Aos quatro anos, minha mente fora dominada por pensamentos simplesmente macabros. Que apenas evoluí, a medida que eu vivo. A cada vez que eu minto sobre coisas como "escovei os dentes" até "eu tenho amigos" ou "não, tia, eu nunca injetei heroína na minha vida".

Tudo por causa de um par de olhos verdes, que me assombram até hoje, sob a guarda da mãe desse peste.

Aperto as pálpebras para conter as lágrimas que já embaçam minha visão. O nó no peito afrouxa, mas o da garganta continua. Esgoto meu vocabulário de palavrões xingando mentalmente tudo e todos. Sou interrompido por tia Sally, que voltou totalmente do labirinto da própria mente.

— Você poderia tentar.

— Tentar o que? - do um sorriso de escárnio - Falar com a filha daquela mulher? Aquela que fez meu pai trair minha mãe?

— Exato. - arregalei os olhos e - Ver o outro lado da moeda, Jay. Conheça a história dessa mulher, já que tem haver com a sua.

— Mas...

— Ligue para ela. Marque uma sessão o mais breve possível.

Sendo assim, me encaminhei ao telefone e disquei número.

*

*

*

Na porta do consultório estavam dois nomes. "Cristal Way" e "Albert Iero". Também haviam os melhores dizeres que eu já tinha visto na vida:

"Viva, porque essa é a melhor merda que você pode fazer."

Suspiro antes de girar a maçaneta para o consultório. A visão que tenho não é a que eu esperava. Tem um pré-adolescente sentado (lê-se: jogado na cadeira com os pés na mesa) atrás do balcão de vidro. Pele e olhos claros, cabelos e roupas pretas. Usava uma camisa do Ramones sem mangas, um jeans rasgados no joelhos, várias correntes e braceletes de couro. O cabelo estava bagunçado, de uma forma um tanto quanto proposital. No momento que entrei, me cumprimentou:

— Hey. - sentou-se corretamente e olhou os papéis a sua frente - Você é Jason Grace? Que tá com uma sessão marcada para as duas? - virou-se para mim e eu assenti - Certo. Tem uma garota lá dentro, mas ela já vai sair, é só esperar

— Não tenho que preencher nada?

— Não. - ele voltou a posição inicial na cadeira - Você já tem um ficha aqui.

Muito bem. Aí está uma boa pergunta para Cristal Way.

Sento-me no sofá encapado com couro e meus olhos varrem a sala. Há uma estante cheia de livros ao meu lado direito, e logo a minha frente uma televisão passando um filme qualquer legendado. Próximo ao balcão (que está à minha direita) tem um corredor que termina em duas portas, sem números ou nome. Na parede direita tem uma outra porta. Provavelmente o banheiro. Tem apenas um quadro no cômodo, um em cima da TV. Retrata uma floresta com árvores altas e duas pessoas andando entre elas. Mesmo simples, devo admitir que é muito bonito.

Um barulho no corredor me faz desviar o olhar do filme. Saindo pela porta da esquerda, vinha um adolescente magro e pálido. Cabelos pretos desgrenhados na altura ombros, franja caindo sobre os olhos negros, olheiras escuras e umas poucas sardas no rosto. Jeans escuros e rasgados no joelho, uma camiseta de uma banda chamada Bring Me The Horizon e, por baixo da mesma, uma outra cinza escura de mangas tão compridas que cobriam parte de suas mãos...

Ah.

Vi o garoto se aproximando do "secretário" e iniciando uma conversa com ele. Mantinha o mesmo semblante tranquilo. Ele ria, mas eu conseguia enxergar lágrimas presas em seus olhos. Observei seus braços cobertos pela camiseta, e não fiquei surpreso ao encontrar o mesmo tique de Thalia. Ele puxa as mangas, mesmo que estejam até grandes demais.

Ah.

Ele se corta.

Um instinto protetor cresceu no meu peito. Uma vontade avassaladora de abraçar e consolar o garoto me tomou. Eu sofri muito por esses cortes, muito mesmo. Thalia. Engoli em seco, tentando evitar um derramamento de lágrimas desnecessário e me concentrei na conversa dos dois:

— Eu simplesmente não consigo te ver como Andy Way. - disse rindo o adolescente - Por que diabos você pintou o cabelo?

O rosto do garoto, que descobri se chamar Andy ou algo assim, se contorceu em uma careta.

— Porque eu não gosto de ser loiro.

— Mas você fica melhor loiro que sósia do Nico. - disse uma voz feminina.

Uma garota saiu do corredor. Cabelos castanho-escuros, olhos verdes e pele clara, mas não pálida. Usava uma regata frouxa com um colete de couro preto por cima, uma saia jeans também preta, e meia calça (mais preto) rasgada. Ela usava maquiagem forte (preta, é claro) que realçava as belas íris. Tinha as mãos na cintura e um sorriso debochado e torto, bem sacana. Era a típica garota sarcasmo.

Nico, o adolescente que acabei de descobrir o nome, olhou para ela e revirou os olhos.

— Brincadeira, Niquito. - disse rindo - Você sabe que eu te amo! - ao dizer isso se atirou em direção ao garoto, se agarrando seu pescoço - Vamos! Vovô me deu dinheiro pra comprarmos brownies na cafeteria que tem aqui perto.

Andy aparentemente se interessou pelo assunto:

— Brownies? Eu quero brownie! Posso ir com vocês?

A garota se virou pra ele, ainda abraçando Nico.

— Não. - deu língua para o mesmo e continuou com seu óbvio fingimento de fofa - Dessa vez vamos só eu e meu priminho, né Nick?

— Me larga, Bandit. - repreendeu-a - Você pode vir se quiser, Andy. Mas acho melhor você perguntar para Cristal antes...

— Ah, certo. - virou-se, colocou a cabeça na direção do corredor e gritou - MANA!

A porta da direita foi aberta, revelando a "senhorita Way". Usava uma camiseta de mangas compridas bege, um jeans azul escuro e as unhas pintadas. A única coisa que realmente mudou foi seu cabelo: agora o loiro quase branco recebia apenas tinta preta nas pontas. Continua, mesmo depois de tudo, sendo de longe a psicóloga mais foda que já vi.

— Eu?

— Vou comer brownies com o Nico e a Bandit, ok? - avisou Andy, se levantando e indo para a porta.

— Certo. - Cristal virou-se para mim, abriu um sorriso pequeno e doce - Ah, Jason! Que bom que veio! Entre, por favor.

Me encaminhei para a sala dela, ouvindo os risos vindos da sala de espera. Senti uma vontade enorme de me juntar a eles.

Eu nunca tive amigos. Quero dizer, já tive colegas e conhecidos, admito, mas nada que eu possa considerar como amizade. Era como sempre; na hora da brincadeira, todos se adoram, só que nas horas difíceis... Todos te abandonam. Se tem uma única coisa boa que eu ouvi da minha mãe psicótica foi que os amigos são para sempre. E dos outros, só fica quem quer te destruir de verdade. Ela era sábia até certo ponto.

— Jason? - ouvi Cristal.

Quando voltei a tona, já estava sentado em uma poltrona marrom de frente para a mulher, que estava sentada em outra igual. Perco-me em pensamentos com uma facilidade enorme. Não me admira o que aconteceu agora.

— Te fiz uma pergunta, Jason Grace.

Meu peito afundou. Como digo para ela que tenho um caso raro de "perder-se em pensamentos constantemente"? E se ela me perguntar no que estava pensando?

— Sim? - hesitei.

— Eu perguntei, Jason - ela fez uma pausa, como se ponderasse se realmente deveria perguntar - Se, ao contrário de mim, você ama seus pais.

#Flashback on

A garota já não tinha ideia do que fazer. A mãe recentemente havia dado a luz a um menino. Saudável e adorável. Isso, obviamente, causou o surgimento de um grande instinto materno na jovem irmã. Aos seus dezessete anos, já tinha pintado seus cabelos de um castanho avermelhado com várias mechas loiras. Tudo, mas tudo valia para se diferenciar da mãe. Desde que não fosse possível reconhecer o odiável parentesco, ela estaria satisfeita.

Estremeceu com as lembranças que tanto a aterrorizavam. Aquela casa já quase pertencia a Zeus Grace. Quase. A jovem faria de tudo para que isso não se realizasse.

Talvez a culpa não fosse toda dele. Afinal, homens são em uma grande maioria facilmente manipulados. Porém a dor permanecia em todas as noites que, assim como essa, a adolescente permanecera acordada, esperando a chegada da mãe.

Tocou o rosto do irmão, com seus recém completados dois anos. Tão pequeno e já sofrendo tudo isso. "Um erro", foram as frias palavras da mãe, ao jogar a criança nos braços da filha mais velha. Seria ela um erro também?


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Notas finais do capítulo

AndyxBandit >>>>>>>>>> shippando mais que tudo spoakspoaskpoaskppaskpoakspaosk olha que é raro eu shippar algo que não sejam dois garotos spoakspoakapoKspoakspoas
Descobriram de quem é o flashback? Me digam nos comentários que eu SEI QUE VCS VÃO DEIXAR U.U