Pov’s Narrado Observador

Selena jurava que os gritos que ouvia eram de Katherine. A garota se via cada vez mais desesperada a cada palavra que era gritada na outra sala e tentava incansavelmente se desafazer das correntes que a prendiam, mas elas pareciam impossíveis de serem quebradas.

Minutos mais tarde, Selena ouviu uma risada esganiçada, algumas palavras que ela não conseguiu identificar e no instante seguinte uma porta foi aberta a sua direita e a menina vislumbrou a imagem de Katherine.

– Kath? - Selena pronunciou o nome da garota e sua voz saiu como a de uma criança arrependida chamando a mãe depois de ter levado uma bronca.

A morena não respondeu, foi jogada em um canto e permaneceu imóvel. Selena sentiu o desespero invadir seu corpo, se remexeu na cadeira tentando, mais uma vez, se livrar das correntes, mas elas só machucavam mais ainda seus pulsos, gritou pelo nome da amiga várias vezes, porém não obteve resposta alguma.

A garota chorava baixinho observando o corpo de Katherine estirado ao chão, ela parecia estar respirando, mas Selena não tinha certeza até a amiga mexer o braço e gemer de dor ao vê-lo preso em correntes.

– Katherine? - Selena aumentou o tom de voz e a menina sentou-se, olhando para a amiga.

– Temos que sair daqui. - Disse Katherine. Sua aparência era deplorável, ela tinha um olho roxo e várias escoriações pelo corpo, algumas gotas de sangue escorriam de sua testa e seus cabelos nunca estiveram mais desgranhados. - Eles sabem onde o portal esta, logo virão buscar você e, provavelmente, me matar.

– Como eles descobriram? - Selena pediu tentando se aproximar mais de Katherine.

– Crowley trouxe uma bruxa. - Katherine explicou e algumas lágrimas correaram pelas suas bochechas. Selena teve vontade de abraçar a amiga, mas mal podia se movimentar. - Ela era ótima.

Selena não pode deixar de rir com a ironia da garota.

– Onde o portal fica?

– Não faço ideia, Amanda não me deixou saber. - Katherine respondeu e Selena assentiu pensativa, era como se as duas já tivessem aceitado a ideia de que não sairiam vivas daquela situação, Sel estava esparramada pelo chão fitando o teto e Katherine encostada na parede olhando para as rachaduras do piso como se elas fossem mais importantes que qualquer coisa.

– Onde quer que seja esse portal, Crowley está indo para lá. Então os anjos também estão, certo? - Selena pediu quebrando o silêncio confortável em que a sala se encontrava.

– Se eles forem espertos.

Selena se sentou rapidamente e olhou para a morena, que a fitava assustada.

– Então vai haver uma guerra? - Ela pediu e Katherine apenas assentiu dando ombros. - E eu vou estar lá?

– Claro, você abrirá os portões.

– Mas, você não irá.

Mitchell passou a chutar e forçar as pregas que mantinham as correntes na parede enquanto Katherine continuava estática.

– Isso não vai acontecer. - Falou dando mais um chute na parede. - Você precisa estar lá! Afinal, quem vai gritar quando eu acabar com aqueles demônios desgraçados?

– Não vou conseguir me livrar dessa, Sel. Vai ter que pedir para outra pessoa.- Selena parou de puxar as correntes e olhou para Katherine.

– Você me disse que não iria desistir, disse que lutaria por nós duas se precisasse. Bem, eu já estou lutando por mim, mais uma vez facilitei o trabalho pra você. Agora se mexa.

Katherine olhou Selena incrédula. Era incrível como ela estava sempre surpreendendo os outros com suas formas distintas de motivação. Sem demora, Kath também passou a puxar as correntes, na tentativa de se soltar.

xxx - Hartland, Wyoming.

– Então, esse é o lugar?. - Zacarias falou olhando a fazenda ao seu redor, onde os portais estavam. Ele não via nada de mais, só um monte de mato, árvores e alguns animais, mas isso não o aborreceu, não esperava ver uma plaquinha apontando para o local certo. - Se eu pudesse escolher, colocaria em Las Vegas.

– Mas você não pode. - Ezequiel, um dos anjos mais justos do céu, inclusive antigo defensor de Castiel, disse. - O local foi escolhido pelos primeiros profetas e ele só se revelará se a guardiã chegar.

– Selena. - Zacarias falou observando o horizonte. - Ela virá, Crowley irá trazê-la.

– Espero que não.

xxx - Algum lugar de Nebraska.

As duas ouviram o, agora conhecido, som da porta de material pesado sendo aberta. Uma figura se formou por entre as sombras escuras da sala e adentrou, apenas o barulho de seus sapatos eram ouvidos. Selena e Katherine estavam estáticas desde que a porta havia soltado seu primeiro rangido.

– Finalmente, a hora chegou. - Começou Crowley olhando para Selena. A luz agora estava acessa e ela podia ver a imensidão da sala. - Estou feliz que possa estar ao meu lado, querida.

– Vai pro inferno, Crowley. - Selena cuspiu as palavras nele que se abaixou e segurou o queixo da menina.

– Como sabe que não estamos nele?

– Porque ouço pássaros. - Ela falou tentando se desvencilhar de sua mão. Naquele instante Katherine se sentiu livre e não porque Selena mencionou passarinhos, ela odiava esses animais, na verdade, a garota tinha conseguido desprender a corrente da parede e estava um passo mais perto de sair daquele local.

Sel pareceu perceber, mas não disse uma palavra sequer, apenas deixou Crowley a soltar e arranca-lá do chão onde estava.

– Pelo menos me diga onde estamos indo - Selena pediu esforçando-se para fica em pé.

– Hartland. - Crowley sorriu e saiu da sala com Selena em seu enlaço. Katherine arregalou os olhos quase surpresa por ter sido tão fácil. Correntes mal presas a parede, Crowley dizendo a localização sem nenhuma suspeita. Tudo estava muito fácil.

– Tem alguma coisa errada. - Sussurrou e pulou a janela do lugar, dando de cara com um beco imundo. A fuga era outra coisa que havia sido fácil de mais.

Katherine decidiu que iria pensar nisso depois, saiu correndo e parou em frente ao primeiro telefone público que encontrou e discou o número de Damon.

– Alô? - A menina ouviu a voz de Damon e suspirou aliviada.

– Damon, Crowley pegou a Selena, eles estão indo...

– Katherine? Onde você esta? Ta tudo bem? - Damon interrompeu a morena com uma enxurrada de perguntas que ela não estava nem um pouco a fim de responder.

– Damon, me escuta. Esquece tudo, eu estou ótima, depois falamos sobre isso. Vocês precisam ir para Hartland agora. Os portões vão ser abertos.

Damon ficou em silêncio por um tempo, Katherine imaginou que ele estava processando todas as informações.

– Tudo bem.

– Ok, nos vemos lá. - Katherine disse desligando o aparelho em seguida.

xxx - Hartland, Wyomming

I'm bleeding out

So if the last thing that I do

Is bring you down

I'll bleed out for

Katherine parou na entrada da cidade e riu aliviada, pensou que não conseguiria chegar na cidade com o carro velho que tinha roubado. Ficou alguns minutos parada ali sentindo o vento forte entrar pela janela do carro e bater em seus cabelos desgrenhados. Minutos depois, ouviu um rouco familiar e observou um Impala parar ao seu lado. Dean, Damon, Sam, Spencer, Castiel e uma garota que ela não reconheceu desceram de lá e Kath imaginou como todos couberam no carro.

– Precisamos ir logo, Selena corre perigo. - Ela disse abraçando Damon.

– Ir pra onde? - Spencer perguntou e Katherine olhou para o céu, no horizonte, não muito distante, uma nuvem escura cobria uma pequena parte da cidade. Era como o início de uma grande tempestade, ela conseguia ver as árvores se movimentando ferozmente ao seu redor, o vento ficando gelado e úmido, as nuvens se aproximando rapidamente.

– Pra lá. – A garota respondeu apontando para a grande nuvem em um tom tão escuro que parecia quase preto.

***

– Esse é o lugar? – Selena falou observando a grama seca e as árvores ao seu redor. Ela não sentia nada. Imaginou que fosse sentir seu coração pulsar, seus pés iriam leva-la até o local dos portões e como em um passe de mágica eles se abririam. Mas isso não aconteceu. Era só ela, um punhado de demônios, muita grama e uma grande tempestade. Ela desviou seu olhar pra Crowley. Porque ele ainda não tinha a feito abrir o portal? O homem estava sentado em uma cadeira de praia, observando o horizonte, como se esperasse por algo, ou alguém.

A chuva começou a cair e nesse instante Sel observou o Impala de Dean e outro carro velho se aproximarem do local. Ela queria rir, mas sabia que não existia motivo para graça. Uma guerra estava a ponto de começar e agora, não só ela, mas todos seus amigos também estariam metidos no meio.

– Pensei que nunca chegariam. – Crowley disse se virando para observar os caçadores se aproximarem.

– Oh, nos desculpe pelo atraso. – Dean falou desviando seu olhar para Selena, que estava do outro lado, completamente imóvel.

– Não se preocupe, não perderam nada. – Respondeu Crowley aproximando-se de Dean. – Aliás, estou do seu lado.

– O que? – Dean perguntou segurando sua faca perto do pescoço do demônio.

– Descobri algumas traições. – Falou abaixando o braço de Dean, afastando-o assim de seu pescoço. – Querem roubar meu trono.

– Nós não damos a mínima. Viemos buscar Selena. - Sam disse visivelmente irritado e Sel tentou correr até ele, mas estava presa por algumas correntes.

– Ótimo, só vão tê-la quando matarem Zacarias. – Disse.

– Zacarias? – Castiel finalmente se pronunciou. – Com quem ele esta trabalhando se não é com você?

– Alaister. – Crowley riu voltando a se sentar. – Eles estão em algum lugar por aqui, sentem e esperem. Logo, logo terão com quem lutar.

– Você não é o todo poderoso? Porque não o mata você mesmo? – Katherine perguntou ignorando completamente o que Crowley havia acabado de dizer.

– Porque, minha querida, não quero sujar minhas mãos, pretendo sair como o bonzinho dessa situação – Falou erguendo as mãos e mexendo os dedos – Então, a situação é a seguinte, vocês matam Zacarias, eu prendo Alaister em uma jaula para sempre e ninguém rouba as almas do céu.

Dean arqueou a sobrancelha e olhou para Selena, que prestava atenção em tudo.

– Ah, claro. Vocês podem levar ela. – Ele disse.

– Quem nos garante que ira cumprir com o trato? – Damon pediu aumentando seu tom de voz, já que agora o vento soprava mais forte e a chuva caia mais intensamente.

– Eu dou a minha palavra.

– A sua palavra vale menos que a grama que estamos pisando no momento. – Spencer falou.

– Bem, isso depende do ponto de vista. - Começou Crowley – O que eu posso dizer? Ou vocês matam Zacarias ou eu mato vocês.

Spencer até se preparou para responder o demônio, mas foi interrompida por uma voz que ela não conhecia.

– Estamos atrasados? - Ariel apareceu do nada, como Selena diria, e atrás dele estavam vários outros anjos, inclusive Zacarias, que sorriu sugestivamente para Crowley.

– Só alguns minutinhos. – Crowley pegou sua faca dentro do bolso do casaco e se aproximou de Ariel.

When the day has come

That I’ve lost my way around

And the seasons stop

And hide beneath the ground

When the sky turns grey

And everything is screaming

I will reach inside

Just to find my heart is beating

Selena não viu como as coisas aconteceram, mas de repente o céu ficou realmente escuro e raios passaram a cair no horizonte, o som dos trovões já era comum e ela mal podia ouvir a voz de Dean, mesmo ele estando a poucos metros de distância.

Ela ainda estava presa as correntes e a única coisa que podia fazer era observar a briga entre anjos, demônios e seus melhores amigos. Agradeceu o fato de ninguém ter tentado mata-la ainda, apesar de saber que se morresse os portões se fechariam e então tudo teria acabado.

Segundos depois, como em um piscar de olhos, Selena viu Castiel ser jogado ao chão por um anjo, ela gritou, mas não adiantou nada, o anjo continuava batendo nele e ela percebeu que logo o mataria. Desesperadamente tentou se soltar, puxou as correntes, mas elas não eram tão fracas quanto aquelas do cativeiro. Selena, então, esticou-se o máximo que pode e quase conseguiu alcançar o anjo, porém antes que pudesse tomar qualquer atitude sentiu algo joga-la contra o tronco da árvore a que estava presa. Era Spencer.

A menina caiu desacordada no chão e Selena entrou em desespero, mesmo com as costas doloridas tentou arrastar Spence para o mais longe possível da briga que ela conseguisse, porém a ação não foi bem sucedida visto que alguém a chutou, fazendo com que ela caísse ao lado da garota. A única coisa que Selena conseguiu fazer foi pegar a faca de Spencer ao seu lado e cravar na perna do agressor, que caiu ferido no chão.

Voltando sua atenção para Cass, Selena foi o mais próximo que conseguiu e jogou a faca para o amigo, que matou o anjo no mesmo instante, devolvendo a arma para a menina.

Ela observou todos a sua volta, Katherine lutava contra dois anjos, Sam ajudava Damon a se levantar do chão, Castiel tentava se recuperar da luta que quase perdera, Spencer estava desacordada ao seu lado, a garota que havia chegado junto com eles parecia estar fazendo macumba no terreno e Dean, naquele exato momento, cravava uma faca no peito de Zacarias.

Logo após seu corpo cair no chão Crowley deu um grito, fazendo com que todos parassem de lutar. Selena não sabia o que estava acontecendo, mas esperava que ele fosse anunciar o fim de tudo que estava acontecendo, porque ela estava começando a sentir a sensação que não havia sentido antes, aquela sensação de que, literalmente, ela estava prestes a abrir algum portal super poderoso.

– O traidor foi detido. – Crowley falou com um sorriso contente nos lábios. Ariel se aproximou com uma expressão nada amistosa.

– Traidor?

– Ele estava trabalhando com Crowley esse tempo todo. – Castiel respondeu. - Eu tentei avisar

– Não, não. Ele estava trabalhando contra mim e contra vocês. Ele traiu nós dois. – O demônio explicou e Ariel arqueou a sobrancelha.

– E o que você quer que eu faça? Te abrace? Nunca esperei muito de Zacarias, mesmo.

– O que eu quero que faça? – Crowley abriu um sorriso desafiador – Quero que saia da minha frente e me deixe pegar a droga das almas.

– Você disse que se matássemos Zacarias você não invadiria o céu. – Selena falou com uma voz chorosa, quase inocente e, pela primeira vez, todos olharam para ela, a peça mais importante de toda a guerra que estava acontecendo, ela era o prêmio. Com ela, Crowley ganhava, sem ela, o portal nunca seria aberto. Ela era a chave.

– Jura? – Respondeu ele cruzando os dedos e jogando todos, exceto Selena e os outros demônios ali presentes, no chão, deixando-os imóveis. – Abra o portal. Ou eu mato seu Winchester Senior agora mesmo.

Selena ainda tinha a faca em mãos, Crowley se aproximava sorrateiramente, ela sabia que nada nem ninguém a salvaria naquele momento, porque, bem, todos que podiam realizar tal feito estavam agonizando no chão naquele momento e ela não acreditava que algo como um avião pudesse cair por ali e acabar com tudo.

So I peel my skin

And I count my sins

And I close my eyes and I take it in

And I'm bleeding out

I'm bleeding out for you

Naqueles poucos segundos que Crowley levou para ir até Selena, ela tomou uma decisão que resultaria no fim de toda aquela penúria que sua vida havia se transformado nos últimos meses, sim, ela tinha experimentado coisas novas, tinha rido, tinha sentido medo como nunca antes e, principalmente, tinha amado, mas era impossível negar que aquilo acabaria logo, não se pode fugir para o resto da vida e era isso que aconteceria se ela não tivesse tomado a decisão que tomou, ela sempre seria a garota que poderia abrir o portão para o céu e isso, com absoluta certeza, atrairia muitos problemas e com a mesma absoluta certeza era algo que ela não queria.

Então, Selena segurou a faca com mais força em sua mão e com uma coragem que ela não sabia da onde tinha surgido apertou a arma contra seu peito, no começo ela não sentiu nada, provavelmente por causa da adrenalina que corria em suas veias, mas depois de alguns segundos seus olhos começaram a ficar embasados, ela teve a chance de ver Crowley fugir de lá, evaporando como fumaça e então sentiu os braços quentes de Dean Winchester ao redor de seu corpo, envolvendo-a como veludo.

You tell me to hold on

Oh you tell me to hold on

But innocence is gone

And what was right is wrong

– Eu te amo. – Dean falou e a Selena riu.

– Não escuto uma palavra do que você diz. – Respondeu divertida fechando os olhos no momento seguinte.

Fim