Essa visão foi diferente.

Ela estava perto da mesa de pedra. A mesa de pedra estava inteira, não quebrada. E o mais aterrorizante, tinha um leão na mesa. O leão estava sem juba, preso com cordas e estava com vários machucados, uma imagem que faria um ativista dos direitos dos animais surtar . Aquele leão era famíliar, ela já tinha visto ele antes.

Atrás do leão, tinha uma mulher. Os seus cabelos eram louros quase prateados , uma pele branca como neve. A mulher era extremamente parecida com Diana, de um jeito impossível de explicar.

A loira segurava uma faca feita de pedra. Então num piscar de olhos ela enfincou a faca no leão.

–- Finalmente o Grande Gato está morto –- A mulher sorriu maldosamente.

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Diana abriu os olhos. Todos na sala estavam chocados, e ela não podia os culpar por isso.

–- O q -que foi isso –- gaguejou Pedro. O garoto estava palído e com os olhos arregalados. Parecia estar a ponto de se esconder debaixo da cama.

Era uma cena hilária. Diana teria rido da cara de Pedro se o clima não estivesse tão tenso.

–- Ela teve uma visão –- Caspian esclareceu –- Isso já aconteceu uma vez. Quando ela viu vocês chegando em Nárnia.

Na verdade já tinha acontecido outras vezes, mas Diana não contaria isso.

–- Ela é vidente ? –-perguntou Susana.

–-Acho que sim. –- concordou Caspian .

A palavra vidente fez Diana lembrar das ciganas que perambulavam por ai com bolas de cristais e cobrando consultas. A garota se imaginou atrás de uma bola de cristal com um xalé colorido. Pensamento bizarro ... Definitivamente bizarro.

–- Mas o que você viu ? –- Edmundo perguntou.

–- Ahn ... Não sei como explicar. Mas tinha um leão. Ele estava amarrado na mesa de pedra e também tinha uma mulher loira psicopata com uma faca e ela esfaqueou o leão.

Susana e Lúcia se entreolharam.

–- Acho que Diana não só ver o futuro –- falou a mais nova –-Ela deve ver o passado também. O que ela viu foi a feiticeira branca matando Aslan, eu e Susana já vimos isso.

–- Mas se o Aslan esta morto , por que vocês falam tanto nele ? –- Diana perguntou confusa.

–- Quando uma pessoa inocente morre na mesa de pedra, ela volta a vida –-disse Edmundo, ele aprecia um tanto sombrio, ou melhor, culpado.

–- Então o leão ressuscitou, entendi.

–- Você é estranha –- observou Susana.

–- Vocês vieram de outra dimensão e eu que sou estranha ? –- a princesa retrucou.

–- Mas no que essas visões vão ajudar ? –- perguntou Pedro.

Diana revirou os olhos.

–- Até que eu saiba, elas só servem para me irritar .

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Caspian e Diana estavam treinando esgrima. Depois do episódio da luta, Caspian não estava tratando a princesa como uma bonequinha de porcelana, finalmente ele percebeu que sua irmã podia se cuidar muito bem... bem até demais.

Ela atacou precisão, por pouco não fazendo um corte na bochecha do príncipe. Ele desviou o golpe com o punho da espada. Caspian notou algo estranho na irmã, ela parecia tensa.

–- Você está escondendo alguma coisa, algo referente a visão certo –- tentou adivinhar.

Diana se irritou. Por que a criatura fazia perguntas dessas no meio de uma luta ?

–- Não estou escondendo nada –- mentiu.

Ele a atacou aproveitando que estava distraída. A menina se recuperou da pergunta e desviou o golpe. Agora ela estava entendendo o jogo do seu irmão... se ele iria distrái-la com perguntas, ela também iria.

–- Como está a rainha Susana ?

Caspian corou imediatamente.

–- Ahn ? Quem ? –- Ele respondeu, lerdo como sempre.

Diana sorriu. Caspian podia ser o irmão mais velho, mas ele também era o mais bobo.

–- Eu percebi seu olhar nela, safadinho ! –- brincou.

O cérebro de Caspian ainda estava processando o que acabou de escutar. A princesa percebeu a distração do irmão e o desarmou com um golpe.

–- Isso não vale ! É trapaça! –- Caspian disse indignado.

–- Numa luta real não existe trapaça, existe modos de vencer.

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Na sala da mesa de pedra todos estavam reunidos. Os principais comandantes e lideres. Lúcia estava sentada na mesa de pedra, aquilo a fazia se sentir mais próxima de Aslam. Diana estava um pouco atrasada para a reunião ... talvez estivesse mais que um pouco.

Quando ela entrou na sala todos a encararam.

–- Atrasada como sempre ... –- resmungou Caspian.

Diana teve a ousadia de lhe lançar um sorriso irônico e logo em seguida foi sentar ao lado de Lúcia.

–- É só uma questão de tempo. –- disse Pedro. O loiro estava no centro da sala, com uma pose arrogante enquanto discursava –- Os homens e as armas de guerra de Miraz estão a caminho. Ou seja esses mesmos homens não protegem o castelo.

–- O sugere que façamos, Majestade? –- perguntou Ripchip, se aproximando

–- Atacar o castelo –- Pedro disse como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

–- Começar a planejar... –- Caspian começou a dizer ao mesmo tempo que o outro. Imediatamente Pedro lançou um olhar irritado para ele " eu sou o lider aqui " . Caspian ficou quieto, mas não parecia feliz.

–- A única esperança é atacá-los antes que eles nos ataquem.–- continuou o rei, ignorando completamente outro.

A princesa sabia que isso não ria dar bom resultado. Ela conhecia seu tio, Miraz era um homem prevenido, jamais deixaria o castelo sem uma boa defesa. E o pior : Ela sabia que esse ataque poderia dizimar grande parte do exército narniano.

–-Mas isso é loucura. Ninguém jamais tomou o castelo–- protestou Caspian e pela primeira vez na vida, ele estava completamente certo.

–- Pela primeira vez na vida ele está certo –- concordou Diana.

–- Falou a nossa vidente –- zombou Susana.

Não é preciso dizer que a princesa ficou irritada.

–- Eu sou a vidente e você é a toupeira, quem está na vantagem ? –- retrucou Diana.

–- Sempre há uma primeira vez. –- disse Pedro.

–-Teremos o elemento surpresa –- concordou Trumpkin.

–- Mas temos a vantagem aqui! –- Caspian insistiu.

–- Se nos prepararmos podemos contê-los pra sempre. –- Susana falou esperançosa.

Se a sem-sal topeira concorda, é má ideia, pensou Diana.

–- Eu me sinto bem melhor aqui embaixo –- comentou um sátiro.

–- Olha... - Pedro disse mais normalmente, sem a habitual arrogância –- Agradeço o que fizeram aqui, mas isso não é uma fortaleza. É uma tumba.

–- É. –- Edmundo comentou. Ele ficou tanto tempo calado que Diana tinha até esquecido que ele estava ali –-Se os telmarinos forem inteligentes só vão esperar a gente morrer de fome.

E ele tinha razão. Se não arranjassem alimentos eles iriam morrer lentamente. Diana não achava que só tinham duas escolhas, ficar lá ou atacar, tinha que ter uma outra saída ... sempre tem.

–- Nós podemos colher nozes! –- sugeriu um esquilo do lado de Ripchip

–- É! E jogar nos telmarinos! –- disse Ripchip irônicamente. –- Cala a boca. –-disse mais Rígido e depois olhou o Grande Rei. - Conhece minha opinião, senhor.

Pedro levantou-se e foi até o chefe dos centauros

–- Se eu entrar com suas tropas, pode lutar com os guardas?

Por favor não aceite ! Por favor não aceite ! Por favor não aceite ! , Diana rezou mentalmente .

Como sempre, as orações dela não funcionaram.

–- Ou morrer tentando, Soberano.

Lúcia parecia inquieta e irritada. A menina não concordava com o irmão, ela achava que tinham que esperar Aslam e não atacar de imediato, ela suspeitava que aquele ataques causaria danos. E estava certa.

–- É isso que me preocupa. –- Lúcia falou chamando a atenção de todos

–- O que disse? –- perguntou Pedro

–- Estão agindo como se houvesse apenas duas opções. Morrer aqui ou morrer lá.

–- Acho que não ouviu direito, Lu... –- Pedro iria continuar o discurso, mas foi interrompido.

–- Não, é você que não ouve! –- insistiu a menina, teimosa.–- Ou já se esqueceu quem derrotou a Feiticeira Branca.

Feiticeira Branca. Assim que esse nome foi pronunciado um arrepio percorreu o corpo de Diana.

–- Acho que já esperamos tempo demais por Aslam.