Ela não sabia porque fazia aquilo. Embora não estivesse totalmente acostumada com o planeta Terra, já era entendida o bastante pra saber que tal atitude era errada. Mas apenas seguia seu instinto e não conseguia parar. Voava pelo céu de San Francisco com olhos de águia concentrados em um único ponto, o qual cortava as ruas em cima sua moto, era Richard Grayson. Enquanto ele fazia curvas, os olhos esmeraldas da moça do planeta Tamaran o seguiam, como se percorresse um labirinto. E o coração batia mais forte que o tambor de uma escola de samba.

Repentinamente, a moto do rapaz parou em um lugar que ficava afastado do centro. Lentamente, Estelar ia pousando próximo ao local a fim de tentar entender o que Robin fazia ali. Não havia sinal de confusão, roubo, assassinato, ou qualquer tipo de pertubação à comunidade heroica. Então o que levara o líder d'Os Jovens Titãs, guardiões da cidade de San Francisco, até aquele local?

Era uma casa normal de tamanho médio, parecia nova e não demorou para que alguém atendesse a porta assim que Richard apertou a campainha. Na verdade atenderam muito rápido. De forma cuidadosa, ela procurou por alguma fresta em que pudesse ver o que se passava lá dentro.

Não era do feitio de Estelar agir dessa forma, mas naquela manhã ela acordou diferente e estranhamente todos da torre T pareciam estar diferentes também, com a cabeça pertubada ou inquieta. Ravena, a empata, tomara seu chá matinal e logo saiu da mesa onde todos tomavam seu café. Mutano, o metamorfo, não começou o dia fazendo suas piadas e oferencendo carne de soja aos amigos. Cyborg, o ciborgue estava calado durante todo o café, e em momento algum recriminava Mutano por estar comendo tofu, como sempre fazia em todas as manhãs. Para a Tamareana, isso era algo fora de curso, mas fazia sentido. A noite anterior foi repleta de golpes e ação, venceram o vilão, mas o clima de manhã não parecia de vitória devido ao cansaço. No grosso, podia-se dizer que levaram uma bela de uma surra, mas derrotaram Mad Mod depois de 5 longas horas de batalha. O exercito que o apoiava estava bem preparado e parecia conhecer todos os pontos fracos dos Titãs, de forma com que ficassem em xeque. Mas a parte mais estranha era o fato de Robin estar bem falante. Ele falava, gesticulava, fazia perguntas e interagia com o grupo na mesa, onde só Ravena estava ausente. Os outros respondiam com um "sim", "não", ou "é mesmo?". Isso não era comum, já que o líder estava sempre ocupado com alguma coisa ou tentando descobrir os passos de Slade, então seu café da manhã se resumia em chegar na cozinha, pegar uma xícara de café e um pedaço de pão, dar bom dia aos outros e ir pra sua sala. Estelar o observava com os olhos semicerrados, mas logo acordou de seu transe ao perceber que o rapaz a encarava, o que não a intimidava nem um pouco, mas fazia com que ela tentasse imaginar o que ele estaria pensando. Ele se levantou da mesa e disse que iria sair. Sua saída repentina após encará-la, pertubou a alienígena levando-a onde estava naquele momento.

Conseguira achar uma janela, por onde podia-se ver um quarto feminino pela fresta da cortina que não estava totalmente fechada. Ela estava inquieta e um sentimento de culpa a invadia, começara a pensar que aquela não era uma boa idéia e que devia ir embora, mas ao levantar voo, ouviu a porta do quarto abrir violentamente e voltou. Ao espiar o quarto pela pequena fresta, parecia que todos os sentimentos ruins que conhecia a preenchiam. Era um misto de dor, confusão, nervosismo, desespero e repúdio, tudo num sentimento só, que ao seu ver iriam destruí-la a qualquer momento.

Robin entrara no quarto abraçado a uma moça, mas não era o abraço terno e cordial que Estelar costumava ver e provar, era um abraço voluptoso e violento. As mãos de Richard passeavam por todo o corpo feminino o apertando e o contornando. A mulher num rápido movimento empurrou o rapaz em cima de sua cama, e logo tratou de despir os dois corpos. A cama ficava bem próxima à janela, logo Estelar via claramente as costas de Dick, as quais eram musculosas e seus ombros, bem largos; O cabelo estava molhado devido ao suor que parecia aumentar, a medida que a mulher o beijava e se movia sobre ele. Estelar nunca tinha visto nada parecido, mas pelo o que entendia da Terra, "o ato era comum entre duas pessoas que realmente se amavam", como o próprio Dick bem disse, quando explicava a ela todos os costumes e "estranhezas" da Terra. Então, seria essa a mulher que ele amava? Ela tentava entender e assimilar tudo o que sabia e sentia com a cena que estava vendo naquele momento, mas não conseguia. Tudo o que lhe ocorria eram lágrimas e lágrimas, que viam sem parar e que afetavam seus sentimentos violentamente de modo com que ela não conseguia ao menos voar. Naquele momento se sentiu em desvantagem por seus poderes serem movidos à emoção.

6 Horas depois na Torre T ...

– Está à toa de novo, Rayray? - Mutano provocava Ravena enquanto pegava um copo d'água.

– Na verdade não. - ela respondia calmamente em seu casual tom sarcástico - Ao contrário de você não é mesmo?! Achei que não tinha se recuperado da surra...

– Que eu me lembre não apanhei sozinho. - ele a encarava sorrindo.

– Mas foi o que apanhou mais.

– Dá um tempo Ravena...

Rapidamente um vulto atravessa a sala principal da Torre, um vulto claramente triste e abalado. Não demorou para que Mutano e Ravena percebesse que era Estelar, e através de seus poderes, Ravena pôde sentir que havia alguma coisa errada.

Um dos poderes da moça de olhos violetas, era a percepção dos sentimentos alheios. Nada passava despercebido. Se alguém à sua volta, estava muito feliz, triste, decepcionado, confuso, com medo, não importava o quanto disfarçasse, a moça podia sentir. Inclusive podia entrar na mente das pessoas, mas raramente fazia isso, pois julgava como falta de respeito, a menos que a pessoa permitisse ou fosse um caso de emergência. Seus amigos insistiam em dizer que ela fora presenteada com um dom mais que especial e que era muito sortuda, mas ela pensava o contrário, uma vez que mesmo sabendo o que se passava no íntimo de cada um, nunca sabia usar as palavras certas para um possível consolo. Mas naquela manhã resolveu tentar.

– Estelar? - ela batia na porta do quarto da amiga - Quer conversar?

– Não - dizia a ruiva entre soluços.

– Tem certeza?

– Sim... - sussurou.

–Ok - Disse e virou-se para ir embora.

– Ravena espera!

A porta se abriu revelando uma chorosa Estelar. Seus rosto estava vermelho e os olhos inchados de tanto chorar, os ombros estavam tensos e ela se encolhia ao máximo, mas ao ver Ravena, aproximou-se e lhe deu um abraço apertado. Quanto mais apertava o abraço mais lágrimas caiam em rosto.

– Fica calma, quer me contar o que aconteceu? - Ravena dizia num semblante sereno, esse era o seu normal e transmitia tranquilidade.

– É que...

De repente o alarme toca, e os Titãs correm para sala.

–Um incêndio! Vamos - diz Cyborg ao pegar seu comunicador - Robin está na escuta? Incêndio no restaurante La Belle!!!

–To indo pra lá!

Chegando no local, o caos se instaurava, pessoas corriam para todos os lados, e algumas foram atingidas pelo fogo. Os bombeiros já tentavam controlar a situação, mas ainda haviam muitas pessoas presas num lugar reservado do restaurante, em que a porta havia ficado presa por uma parte do telhado que caiu em sua frente.

–Robin, eu vou entrar! - Gritou Ravena enquanto já levantava voô e projetava uma barreira protetora em volta de si.

– Tudo bem! Cyborg e Mutano, vocês ficam aqui dando assistência aos bombeiros e ajudando as vítimas que conseguirmos tirar! Estelar venha comigo!!!

Logo o líder e a tamareana adentraram o local, Ravena se esforçava usando magia para tirar a barreira que impedia a porta, mas a fumaça a deixava cada vez mais fraca. Levantou a barreira uma última vez e quando estava prestes a deixá-la cair novamente, Robin segurou Ravena e Estelar carregou a parte do telhado que impedia as pessoas de saírem do local. Logo Robin também foi ficando fraco e mal respirava, Estelar estava bem, devido à sua genética alienígena, mas ficava cada vez mais preocupada com os amigos e com as vítimas.

– Vamos, saiam depressa! - Robin tentava com muito esforço gritar para os clientes, mas alguns já estavam estirados no chão, não se sabia se ainda estavam vivos, mas Ravena cuidou de levá-los para fora do local com alguma dificuldade. Alguns bombeiros entraram e também carregavam vítimas, enquanto os outros tentavam conter o fogo.

De repente algo curioso chamou a atenção de Robin, um rapaz corpulento e forte parecia aturdido, mas não pelo fogo e pelo caos, parecia procurar alguém. O líder dos Titãs não conseguia ver direito por causa da fumaça, mas o homem estava determinado.

–Ei, você tem que sair daqui! Vamos!! -Robin disse entre tosses tentando segurá-lo pelo braço.

– Me solta, tem alguém que não está aqui! Não consigo achar. - disse o rapaz.

–Já devem ter socorrido, vamos, esse lugar pode desmoronar a qualquer instante!!!

– Não vou embora!!! - nesse instante um pedaço da construção caiu por cima do rapaz desacordando-o e Estelar veio em apoio e ajudou Robin a levar o homem para fora do restaurante.

– Ei Robin, não tem mais ninguém - Cyborg disse enquanto segurava uma senhora nos braços.

–Não... Tem alguém lá dentro.

O líder saiu correndo restaurante adentro à procura de mais alguém. Outras partes do telhado começavam a cair e a fumaça estava quase o asfixiando, mas avistou alguém deitado perto das chamas, tentou chegar perto, mas teve o mesmo destino do rapaz determinado e ficou desacordado. Logo em seguida Estelar entrou voando pelo local procurou por Robin por alguns minutos e ao achá-lo levou-o para fora novamente...

Pouco a pouco a situação ficava mais calma e algum tempo depois os Titãs se encontravam na Torre. O clima era o pior possível, salvaram quase todas as pessoas do incêndio exceto uma. Não disseram uma só palavra um ao outro apenas Estelar tentava consolar seus amigos que não demoraram muito a ir para seus quartos.

Robin olhava pela janela de vidro, na sala principal, pensativo. Provavelmente teria uma péssima noite...

–Ei Robin... - disse Estelar pesarosa. Ainda era estranho para ela falar com ele devido aos acontecimentos da manhã, mas em sua cabeça sentia que devia falar algo - O que aconteceu... Não foi nossa culpa, não foi sua culpa...

– Se eu tivesse conseguido chegar até ele... Se eu... eu falhei.-disse o moço sem tirar os olhos da janela.

–Heróis também falham Robin e...

– Eu não fico horas treinando, trabalhando e estudando fatos, pra falhar, eu tenho um compromisso comigo mesmo de ajudar as pessoas, salvá-las. Eu não posso falhar!!!

–Mas... -ela pegou em seu braço.

–Estelar escuta - ele se virou para ela, estava com a cabeça enfaixada e seu olhar era bastante sério - obrigada pelas palavras, mas nada do que disser vai mudar algo, então é melhor você descansar... Eu vou tentar fazer o mesmo...

Ao dizer isso, Richard saíra da sala. Estelar mirava a vista pela janela e a lua estava linda, a brisa corria e era possível ver alguns vagalumes, apesar de ser um grandioso motivo para a tamareana se sentir revigorada e com extrema felicidade, tudo o que lhe ocorria eram lágrimas e lágrimas.