Pequena Maria escrita por Ryskalla


Capítulo 11
Capítulo 11 - O Espinho de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer as recomendações divas e maravilhosas da Noire (UDSHUAHUSADHUSDUHSDA poisé q) e da Venus



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Era verdade que era uma boneca muito bem feita, tão perfeita que era uma pena que seu criador fosse morrer por ter feito uma obra tão maravilhosa.

— Um desperdício de talento... — A rainha Charlotte murmurava para si mesma enquanto fitava a falsa prisioneira. Os guardas a observavam e tentavam disfarçar os sussurros. Ela sabia o que falavam sobre ela. Tinha pleno conhecimento do questionamento geral quanto a sua sanidade. Isso quando não falavam sobre seus cacheados cabelos cor de sangue. Muitas eram as lendas e a mulher não as ignorava, até mesmo as achava divertidas. Sua favorita era como diziam que seu cabelo era uma tentativa de imitar ao ruivo tão conhecido da família Floral... Da sua tentativa de pertencer mais à realeza. Era tocante e de certa forma verdadeiro. No entanto, a parte que mais gostava da lenda era a explicação para que ela nunca conseguisse acertar o tom de ruivo, a razão para que seus cabelos tivessem cor de sangue era bem... Um sinal de que um destino sanguinário a aguardava.

— Vossa Majestade, encontramos o artesão. — Dois guardas se aproximaram segurando um homem alto, de aparência jovial. Possuia lisos cabelos da cor acaju que mediam até seu queixo fino... Se separassem sua cabeça do corpo, a rainha pensava, de certo acreditariam que ela pertenceu a uma mulher.

Já passou do tempo, não é? Não entendo a razão para tanta demora em encontrar um homem tão... singular. — Os olhos do estranho, que possuíam um incomum tom de castanho-avermelhado, encaravam os olhos azuis de Charlotte pacificamente. Não havia medo naqueles olhos. — Vejo muita coragem para um homem à beira da morte, senhor...?

— Maike, Vossa Majestade. — respondeu com sua voz tranquila. Aquilo atraia a sua atenção, sem dúvidas. Uma criatura curiosa... O que aquele homem tinha na cabeça? — E, se me permite dizer, acho que lhe sou mais útil vivo, majestade.

— Por que pensa dessa forma, senhor Maike? — questionou, embora sua mente estivesse preenchida por outra pergunta. Saberia aquele plebeu a forma correta de se dirigir à rainha ou ele apenas imitara o tratamento dos guardas?

— Veja, sei que acredita que tenho algum envolvimento com a fuga da prisioneira, afinal, eu fiz essa boneca. Ainda assim é uma crença no mínimo errada. — O artesão parecia ligeiramente perturbado, não pela acusação, mas pelo fato de seus braços estarem presos. Era notável suas tentativas inúteis de gesticular suas palavras. Ela poderia reconhecer, conviveu muitos anos de sua vida com alguém que possuía o mesmo vício. Após alguma consideração, Charlotte permitiu que os guardas o liberassem. Tal como seu pai, Maike era um homem que apreciava movimentar suas mãos com liberdade. — Fui alvo de uma chantagem para que meu segredo permanecesse comigo.

— Continuo não entendendo sua utilidade. — Talvez o homem fosse apenas um louco desesperado por sua vida. O que era uma pena para ele, pois loucos não sabem inventar histórias plausíveis. Era justamente por essa crença que Charlotte acreditava que sua sanidade estava absolutamente perfeita.

— Vê aquela jovem de cabelos castanhos? Ela está usando um vestido azul de mangas compridas. Seu nome é Dulce, ela é minha... irmã. — Ainda não compreendia as palavras do homem. Aonde ele queria chegar com toda aquela história? Estaria ele querendo fazer um apelo para sua família? Que deveria ser poupado para que sua bela irmã não ficasse sem sustento? Que pedisse isso para uma rainha mais tola e de fato estava para dizer essas palavras quando ele tornou a falar. — Por favor, peço-lhe que olhe para os punhos de minha irmã.

Bom, aquela não era uma solicitação que recebia todo dia. Fez sinal para que a jovem se aproximasse e ela lhe obedeceu prontamente. Quando estava próxima, lhe estendeu a mão, como se já soubesse o que deveria fazer. A mulher assistiu a isso com desconfiança e levou sua mão direita ao seu chicote. Mas não foi apenas isso que lhe deixou receosa e sim a falta de expressão da plebeia ao vê-la. Nenhuma mulher deixaria de ficar no mínimo espantada ao ver que a rainha Charlotte usava vestidos que também eram armaduras, como se estivesse pronta para a guerra a qualquer momento.

Ainda assim, fez o que lhe foi solicitado. Puxou a manga do vestido da estranha e deu um passo para trás. Não podia ser.

— Ela é... Ela é... — Não conseguiu deixar de exclamar debilmente. Quanto ao seu susto, Maike apenas fez um pedido de silêncio com a mão, havia uma nesga de sorriso em seu rosto. Após se recuperar, pensou nas possibilidades e deixou que aquele estranho lhe arrancasse a mais adorável das gargalhadas. — Agora eu vejo sua utilidade, senhor.

— E há mais, Vossa Majestade. Eu sei quem levou a ladra de almas. — Estava cada vez mais gostando daquele sujeito. De fato suas palavras se provaram surpreendentemente verdadeiras: ele era mais útil vivo. — Além do exército que posso lhe oferecer. Mas para isso preciso da minha vida, não acha? Temos um acordo?

— Imagino que seja seu dia de sorte, caro Maike. O acordo está fechado. — Os guardas podiam finalmente relaxar. Mesmo que o assunto não estivesse acabado. Ainda faltava o nome... — Quem libertou minha prisioneira?

— Devo alertá-la que ele pode ter dito um nome falso, embora eu duvide seriamente disso. De todo modo, o rapaz se nomeou Ethan. — Evidentemente um nome não era o suficiente para a rainha. Não poderia mandar que fizessem cartazes de Procurado apenas com um nome. — Era magro demais, seus cabelos eram castanhos, havia uma grande ferida em seu rosto que parecia ser recente e seus olhos... Temo não saber a cor, Vossa Majestade.

— O que quer dizer? — perguntou a rainha com sua voz de veludo. O estranho não saberia, no entanto aquilo era um sinal de sua clara impaciência. Odiava trabalhos pela metade.

— Quero dizer que não acredito que os olhos daquele garoto sejam da cor que vi. Quando visitou minha loja, seus olhos eram rosados. — Pela expressão confusa no rosto da rainha, o artesão pode perceber que ela não sabia... — Ao que parece você não sabe sobre a criatura que acompanha a prisioneira... se soubesse a criatura estaria presa.

— Criatura? — Não tomara conhecimento de nenhuma criatura quando a ladra foi presa, apenas que ela carregava uma foice consigo.

— Quando encomendaram a boneca, eu vim até aqui observar o monstro para fazê-la o mais fiel possível. Foram cinco visitas e em duas delas havia um gato albino ao lado da mulher. — O homem sorriu levemente, como se aquilo significasse alguma coisa. — Animais albinos possuem os olhos rosados.

— Se estiver certo e a criatura pode assumir outras formas... Então imagino que esse garoto Ethan não exista. Ou não está diretamente relacionado com a ladra. — Imaginou que sua facilidade em aceitar coisas ditas impossíveis pudesse surpreender o plebeu. Se isso ocorreu, ele nada demonstrou. Apenas manteve seu sorriso leve e continuou a explicar sua teoria.

— Não creio que aquela criatura tenha conseguido libertar a prisioneira sozinha. Ela teve ajuda e, se o Ethan realmente existir, então o garoto foi estupidamente burro. Imagino que ele corra perigo, uma vez que a criatura sequer se preocupou em esconder a identidade do rapaz.

— Devemos supor que ele foi usado? — A pergunta era apenas retórica, pois Charlotte não se importava. Quem quer que estivesse envolvido seria devidamente punido.

— Isso importa? Só estou fazendo observações. — Conseguia imaginar uma firme e duradoura aliança com o artesão, mesmo que houvesse aquela incomoda impressão de que Maike sabia exatamente como agradá-la. — Se pudesse dar uma sugestão, iria buscar saber mais sobre esse Ethan. Ele é a única pista que possuímos.

— Guardas! Recolham a maior quantidade de informação possível sobre o suspeito. Imediatamente. — Os homens se afastaram e seu olhar recaiu por um momento sobre Dulce, a curiosidade florescendo aceleradamente. Quando finalmente decidiu fazer sua pergunta, ainda estava olhando para a irmã do artesão e a mesma agia como se aquilo não a incomodasse. — Como conseguiu criá-la?

— Há certas coisas, Vossa Majestade, que devem ser explicadas em locais mais... — Foram interrompidos por um jovem guarda que se aproximara timidamente, tinha o capacete em mãos e olhava para seus próprios pés.

— Perdão, Vossa Majestade, por interrompê-los. O senhor falou que o suspeito em questão tinha uma ferida no rosto... Acredito que sei o seu local de trabalho. — Charlotte se aproximou lentamente do soldado e com seu dedo indicador ergueu o seu rosto. Tal como a voz o denunciara, era bem jovem, porém forte. Provavelmente mais um órfão das ruas. Tinha obedientes olhos castanhos e cabelos da cor do trigo. Sua atitude pareceu assustá-lo, pois ele voltou a falar em um tom apressado. — E-ele trabalhava na biblioteca. Acho que foi o mesmo rapaz que defendeu a ladra enquanto ela era chicoteada.

— Diga-me, querido, qual o seu nome? — indagou com um belo sorriso, que pareceu relaxar o rapaz.

— Ronan, senhora... Digo, Vossa Majestade. Ronan D'Hannonia. — Charlotte bateu palmas diante daquilo.

— De Hannonia! Veio de tão longe e tão jovem. Diga-me, onde fica a biblioteca? — Quando o rapaz indicou, a mulher fez sinal para que ele a guiasse e para que o artesão e sua irmã os acompanhassem.

A biblioteca poderia estar em melhor estado. O prédio era velho e no mínimo perigoso. Na porta havia uma placa onde se lia: Procura-se por ajudante. Seus olhos azuis encontraram os de Maike e ambos sorriram. Encontraram a sua presa.

Ao abrirem a porta encontraram um homem particularmente velho sentado atrás do balcão que pareceu terrivelmente surpreso em vê-los ali.

— Mi... — O senhor Novack parou ao lembrar-se das palavras de seu filho. Não deveria se referir à rainha como Minha Senhora e sim como Vossa Majestade. — Mil lamentos, Vossa Majestade, por não poder prestar uma reverência... Temo que esteja velho demais para isso.

— Não há necessidade, senhor...? — Maike percebeu que aquela foi a única forma sutil que Charlotte encontrara de descobrir o nome dos outros. O motivo pelo qual ela não utilizou dessa sutileza para descobrir o nome do guarda... Bom, o homem tinha suas desconfianças.

— Novack, Majestade. — Os olhos azuis da mulher faiscaram. Ela o conhecia...

— Foi-me informado que um rapaz chamado Ethan, o qual ajudou a prisioneira, trabalhava com o senhor. Irei fazer uma pergunta simples... — Ela o interrompeu quando o velho fez menção de falar. — E espero que responda com a verdade, pelo bem desse lugar. Afinal, como você sustentará sua esposa doente sem um emprego? Ainda mais sem a ajuda de seu filho... Sabia que sou muito grata a ele, por ter dado a vida pelo meu falecido rei?

— Sim, Majestade... — Aquela guerra terrível que roubou a vida de seu filho... Novack nunca iria aceitá-la. Seu tão amado Frederick que não era muito mais velho que o jovem soldado que ali estava. Foi sua primeira e última guerra. — Como posso ajudá-la?

— Diga-me, de que cor eram os olhos de seu ajudante? E ele possuía algum amigo? Familiar?

— Seus olhos são verdes... E ele não possui família. Seus pais morreram quando Ethan tinha onze anos. — Após relutar por algum tempo, suspirou. Não há como te acobertar dessa vez, garoto inútil. — Ele possui uma amiga, o nome dela é Yui. Tem traços do povo que cruzou as Largas Águas.

— Imagino... Que seja informação o suficiente. — Porque agora o Espinho de Sangue sabia exatamente quem roubara a foice da prisioneira. Era uma questão de tempo até que eles encontrassem suas presas. Ao que parecia, tudo se resolveria com grande facilidade.


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