Irremediavelmente Grávida escrita por PepitaPocket


Capítulo 38
O Poder da Mais Calorosa das Rezas


Notas iniciais do capítulo

Ola, sejam bem vindos.
Façam uma boa leitura.



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— O que está fazendo? – Soifon recuara automaticamente assim que ouvira uma voz, não muito diferente da sua, embora as palavras tenham sido impregnadas por uma articulação que ela nunca teria sido capaz.

Num movimento automático movera sua espada para frente do seu corpo. Apontando-a para a recém-chegada. Tudo para identificar uma garota que deveria ter mais ou menos sua idade. Apesar de ela ser muitos centímetros, mais alta.

Parecia uma boneca de porcelana de tão bonita. São madeixas loiras modelavam-se em cachos que caiam por sobre os ombros. Tinha olhos azuis límpidos como um dia claro. E seu sorriso parecera encantador para a desajeitada herdeira da casa Feng.

Apesar de Soifon estar com uma espada apontada na sua direção à garotinha não se intimidou.

Continuou encarando-a com curiosidade. Trazia arrastado pelo chão um ursinho surrado de pelúcia.

— Por que o tio está caído no chão? – Ela indagara num misto de inocência e curiosidade.

Soifon pressentiu a presença de seu tio nos arredores e tampou a boca da menina empurrando-a de volta ao seu quarto.

E fechando a porta.

Se por um acaso ele entrasse ali no quarto, e encontrasse a garotinha seria fim da linha para ela.

Por isso, com agilidade a empurrou para dentro do armário.

E, torceu para que o homem mais velho e experiente, não notasse sua presença.

Quando pisara no quarto, Aez Feng imediatamente percebera o que sua sobrinha havia feito.

Mas, apenas não interferira.

Fechando a porta como se não tivesse acontecido.

Soifon, não tinha como saber disto. Em sua opinião, ela havia sido bem-sucedida em esconder sua reiatsu, do mesmo modo que seu sensei havia lhe ensinado.

— Quem é você? O que está fazendo aqui? E por que suas mãos estão sujas de sangue? – Os olhos cinzentos da menina arregalaram-se, quando ela puxara suas mãos e notara que de fato, elas estavam sujas de sangue.

Engolira em seco, diante da constatação que havia cometido seu primeiro assassinato.

Um feito que tradicionalmente era realizado com quinze anos, pelos iniciados.

Sendo que ela havia realizado com oito anos.

Não sabia se sentia orgulhosa ou assustada.

Mas, a segunda opção não permitira que ela se movesse. Já a primeira opção a faria ir adiante.

Decidiu ficar orgulhosa.

Vira a menina se movimentar, com o intuito de sair do armário.

Mas, Shaolin a puxara pela cintura, tendo facilidade em dominá-la.

— Você não pode sair daqui... – Ela sussurrara como se aquilo fosse um segredo terrível.

— Porque, não? – A outra perguntou com certa altivez.

— Porque se sair, você vai morrer. – Shaolin dissera após hesitar por um momento.

— Como eu posso mo... – As palavras morreram na garganta da menina, quando olhara para as mãos de Shaolin, a compreensão a fez calar, e paralisar momentaneamente.

— Papai... Mamãe... – Quando retornara do torpor, ela fizera a pior coisa que poderia ter feito nesse momento.

Não muito longe dali.

Furagu que terminava de degolar um homem, percebera a movimentação no último corredor resmungou:

— Mas, o que Shaolin acha que está fazendo? – Ele perguntara, enfiando a espada no estômago de um velho homem que gemera, ante a morte evidente.

— Ela é só uma pirralha, de oito anos... O que você esperava? – Seu sobrinho indagou sem sair da posição de alerta, avaliando cada canto da sala, notando que escondida no canto, havia uma jovem mulher, provavelmente mais uma empregada.

Suspirara, sentindo sobre seus ombros, o peso daquele ofício.

Caminhara, a passos vagarosos, na direção da mulher, que sabia que morreria, dentro de segundos.

Quando Furagu abrira a porta do quarto, percebera que sua filha literalmente rolava no chão com a garotinha.

— Por Kami-sama, Shaolin... Ela tem seu tamanho e sua idade, e um décimo do seu treinamento... Mate-a agora... – Ambas crianças estancaram, cada qual por seus motivos.

Shaolin, se sentiu mal. Não conseguira segurar a menina dentro do armário por tempo o bastante.

Não entendia por que, mas havia simpatizado com ela. Não poderia salvar seus pais, nem ninguém daquela casa.

Mas, precisava fazer algo por aquela menina.

Por sorte, quando seu pai chegara ao quarto, ela estava de costas para a porta.

— Se quiser viver, finja que desmaiou. – Shaolin falara apenas movimentando seus lábios.

Ela dissera para a menina loira, que naquele momento não conseguiu fazer outra coisa a não ser fazer xixi nas calças de tanto pavor.

Mas, obedientemente ela fizera. Sempre foi muito boa nisso. Ela sempre usava esse truque para fazer com que seu pai cedesse as suas vontades.

Pensar em seu pai, lhe provocara um nó na garganta.

Mas, o instinto de sobrevivência, a fizera suprimir o choro.

Mas, a dor continuava dilacerando seu peito impiedosamente.

— Esta feito, otou-san. – Shaolin tinha esperança de que apenas aquilo fosse o bastante.

— Rasgue seu coração. – Ele dissera com desdém. E nunca ela odiara tanto aquele homem como naquele instante. Aquela menina deveria ter mais ou menos sua mesma idade.

— Caso, não o faço, eu rasgarei o coração dela e o seu. – Ele disse tão ameaçadoramente, que algo quebrara na mente de Shaolin.

Que erguera automaticamente a faca, sua vontade era girar o instrumento, e atacar o homem que havia a concebido.

Mas, Tsuro-sensei havia lhe ensinado, a lutar apenas batalhas que sabia que iria ganhar. E aquela definitivamente ela iria perder.

Por isto, sem hesitar ela erguera a faca e afundara na carne, fazendo dela vazar o sangue. E não foi apenas um golpe, e sim três golpes.

O corpo da garotinha, chocalhara, e suas mãos caíram sem vida.

— Encontramos, o alvo principal senhor... – Furagu escutara a voz de Aez, e dera as costas indiferente ao buraco profundo que ele acabara de fazer na mente de sua filha.

Que mordia os lábios com tanta força que sentiu os dentes tirar um filete de sangue, mas nada comparado ao estado deplorável que estava sua mão esquerda, a qual ela havia perfurado, apenas para extrair o sangue.

Por sorte, Furagu não se aproximara para checar seu trabalho.

— Achei que fosse morrer... – A dor em sua mãozinha a fazia querer chorar, mas quando vira os olhos da menina, cheios de vida e com um lampejo mínimo de esperança, ela sentiu que havia feito a coisa certa.

— Você precisa ir embora daqui... – Shaolin sussurrara para a outra, que correra até a gaveta de seu bidê cor de rosa.

Só então a herdeira dos Fong notara o quão bonito era seu quarto. Um quarto com paredes de rosa, uma cama com dossel, e um monte de ursinhos de pelúcia, para poder viver uma infância tranquila e despreocupada.

Perfuraria cada órgão de seu corpo, exatamente como fizera com sua mão, se com isso, ela pudesse ter uma parte disso também.

— Não, sem meu papai. Nem minha mamãe. Nem... – Calara-se com a mão de Shaolin sobre seus lábios.

— Infelizmente, todos eles morreram. – Shaolin dissera, sabendo que suas palavras eram cruéis. – E eu sinto muito por isso... Eu...

Calara-se ao perceber que a garotinha começara a chorar.

— Are, se continuar chorando como uma criancinha, eu vou mudar de ideia e matar você. – Shaolin tentou parecer a mais maldosa possível.

Mas, a outra apenas olhou com incredulidade.

— Mas é exatamente o que eu sou... – Ela disse ainda com as lágrimas correndo pela bochecha. – E é exatamente isso que você é.

Shaolin a encarara com seus olhos cinzentos.

— Crianças não arriscam sua vida, para salvar outras crianças.

Shaolin lhe estendera sua mão.

— Então, diga-me que quer viver...

Novamente aqueles grandes orbes azuis pousaram sobre ela, e suas mão se entrelaçaram fisicamente, mas nada comparado ao laço criado em suas almas.

— Fique ao meu lado, onegai... – Ela murmurou com os olhos marejados.

— Agora e sempre. – Shaolin lhe falara sem saber que toda promessa que envolva o sempre, dificilmente será cumprida.

#

Shaolin pegara Mariko nos braços, e com agilidade saltara da janela de seu quarto, após observar muito bem o jardim abaixo delas.

Foi um pouco difícil, mas elas chegaram em segurança.

A outra trazia uma pequena trouxa de pertences, que consistia em um urso de pelúcia, uma caixinha de música, um livro e um quebra cabeça.

Shaolin não entendia o que raios ela iria fazer com aquilo, mas entendia que a pobre menina tinha sobrevivido ao massacre de sua família.

Ela merecia algum desconto.

Embora seu zanpakutou, lhe alertasse que “essa criança não deve sobreviver”.

Mas, desde aquela época Shaolin, começara ignorar Suzumebachi por achá-la simplesmente irritante.

Uma vez que seus pés alcançaram a grama.

Ela pretendia apenas correr o máximo que as pernas mal treinadas de sua recém descoberta amiga conseguissem.

— Onegai, espere.

— Hm. – Shaolin a encarou como se ela fosse louca. Ela não havia entendido que cada segundo que elas ficassem paradas ali, diminuía potencialmente as chances de aquilo dar certo.

— Se possível, eu queria pegar apenas mais uma coisa. – A outra falara juntando as mãos como numa prece e a encarando com olhos suplicante.

Shaolin considerou a possibilidade de dizer não, mas quando escutara o que a garotinha queria, nem ela resistira a ideia...

E assim elas alcançaram o canil, que ficava numa parte surpreendentemente mais afastada da casa.

Com agilidade, Shaolin abrira a tranca e se deparara com uma cadela da raça Akita, sem cabeça. Mais adiante, jazia mais três animais, todos numa situação ainda pior.

A imagem fizera com que a menina, começasse a vomitar em meio a um gemido de choro.

Era irritante como ela chorava com tanta facilidade.

— Eu sinto muito. – Shaolin dissera se arrependendo por tê-la trazido aqui.

— Eu pedi para Otou-san, ele teve trabalho de conseguir, mas jurou que logo teríamos filhotinhos... – A menina falara com a voz baixa.

— Hm. Filhotinhos. – Shaolin por instinto começara a olhar o ambiente.

E de seus olhos cinzentos, correram lágrimas. Nem os filhotes foram poupados.

— Cruel... – Logo atrás ela vira a sua amiga tremer. – Esse mundo é cruel.

Shaolin, secara as lágrimas.

No mesmo instante, que escutara um grunhido.

E para sua surpresa, dentre os seis filhotes, um deles misteriosamente havia sobrevivido.

— Oh, ao menos um... – A pequena pegou o animal como se fosse algo bem frágil.

Diante do calor, de seu colo, o gatinho aquietara-se.

— Shaolin, o que está fazendo aqui? – Para sua infelicidade, seu primo percebera a movimentação e viera.

Mas, ele não fora rápido o bastante para perceber a presença da filha dos donos da casa.

Que se escondera atrás de uma árvore próxima.

— Achei que escutara os cães latindo. – Shaolin falara trocando o pé de um outro.

Seu primo olhara na direção que se encontrava, um dos alvos, mas que pertencia a sua prima.

“Aquela menina tola”. – Ele pensara consigo.

— E o que ala faz aqui? – Kirito apontara na direção da garotinha loira. – Mariko Nagai deveria estar morta. – Ele falara com uma voz fria e sem emoção.

Ele caminhara até a menina, com passos firmes. Assustada, Mariko caíra sentada para trás, com os olhos arregalados.

Kirito, só não alcançara porque Shaolin se colocara a sua frente.

— Onegai, não faça nada com ela. – Ela disse com suas pernas finas tremendo de pavor. Era sua vez de estar quase fazendo xixi nas calças.

Por mais de uma vez, ela escutara o quanto Kirito era um soldado exemplar. O melhor assassino de sua geração. Seu pai em mais de uma vez, esfregara isso em sua cara.

Iniciado aos treze anos. Nunca falhara em uma única missão. Agora que todos os herdeiros homens da ramificação principal, haviam sido todos eliminados.

Ele era o próximo, na linha de sucessão. Já que pelas regras do clã, Shaolin por ser menina não poderia assumir o posto naturalmente.

Ele no momento tinha dezessete anos.

Era forte, com longos cabelos negros, e olhos cor de ônix.

Tinha uma cicatriz que ia da testa, passava pelo seu olho direito, indo direção a porção esquerda de seu queixo.

Mas, ainda assim continuava belo a sua maneira.

— Saia de minha frente.

— Para machucá-la, vai ter de machucar a mim também. – Ela firmara o queixo teimosamente, e o encarara no fundo dos olhos.

Ele arqueara a sobrancelha.

Seu pai, já havia lhe dito em mais de uma ocasião, que o caminho provável é que Shaolin se tornasse sua noiva.

Mas, francamente... O que ele faria com uma mulher tão teimosa e dona de si como aquela? Mulher? Pirralha?

Erguera a pequena pela gola de sua roupa.

— Tem ideia do que está me pedindo? – Ele perguntara encarando-a no fundo de seus olhos.

— Onegai, Kirito! – Ela segurara em seus ombros e quase o abraçando, pedira e insistira.

“Furagu, destruíra o sorriso de sua própria filha”.

Kirito, não poderia achar que estava mais louco. Mas, quando lembrara das palavras de seu pai, e a tristeza que havia em seus olhos, ele não conseguira tomar nenhuma atitude diferente de ajuda-la, por mais que estivesse violando as regras do clã...

O sorriso que Shaolin lhe dera, fizera valer a pena o risco.

#

Se não tivesse sido a ajuda de Kirito, elas nunca teriam despistado um clã de assassinos inteiro, numa floresta escura, com um filhote de cachorrinho grunhido ainda por cima.

— Por que mataram os filhotes? – Shaolin perguntara mais tarde.

— Eles não sobreviveriam sem os pais. – Kirito respondera.

— E porque tiveram de matar os pais, eram apenas animais irracionais.

— Mesmo irracionais, animais vivem por aqueles que eles são leais. O mesmo vale para a morte.

...

Shaolin não dissera nada, só ficara observando o luar enquanto agarrava-se aos fios negros de seu primo. Eles haviam deixado, Mariko e o cãozinho numa caverna, em segurança. Ao menos até o dia seguinte, seu primo prometeu que voltaria e a levaria para um lugar seguro.

Naquela época Shaolin viu que aquilo como algo bom a ser feito, mas o tempo lhe mostrou que sua piedade nada mais foi do que fraqueza.

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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura e até o próximo.



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