Irremediavelmente Grávida escrita por PepitaPocket


Capítulo 36
No Cemitério das Lembranças Esquecidas


Notas iniciais do capítulo

Ola sejam bem vindos.
Façam uma boa leitura.



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As primeiras folhas começavam a se precipitar das árvores, marcando o inicio do outono. Havia sido uma temporada relativamente estafante, onde a Onmitsu Kidou era constantemente chamada para a execução de missões que envolviam constantemente o assassinato de pessoas.

Naquele tempo Soifon já sabia disto. Mas, no auge de seus oito anos de idade, ela ainda não entendia o que implicava o fardo terrível de ganhar a vida ceifando vidas. Para ela vida e morte não tinha nenhum significado especial, ela apenas vivia os seus dias, ansiosa pelo momento em que enfim poderia impressionar seus pais.

“Papai e mamãe são fortes. Eu quero ser tão forte quanto eles. Quero que eles tenham orgulho de mim.”

Foi com este pensamento que com o incentivo de seu sensei particular ela iniciara uma intensa sessão de meditação na esperança de enfim despertar o espirito de sua Asaugi.

“Por favor, apareça, apareça, apareça.”

Soifon começar a murmurar em meio a sua ansiedade.

— Shaolin. – O homem que estava sentado a seu lado chamou a sua atenção assim que ouviu os primeiros murmúrios.

— Pequena, nada de bom acontecerá se sua zanpakutou nascer no meio do caos espiritual. Por isto, acalme-se. – O homem com pele morena, cabelos brancos, e longa barbicha dissera em um tom de voz inabalável.

— Hai, Tsuro-sensei.

Soifon dissera em meio a uma expressão que demonstrava aborrecimento.

— Não entendo o senhor disse que eu já estou graduada no combate corpo-a-corpo, o que é mais do que os veteranos da academia alcançam. Por que a lâmina da minha espada não desperta? Ela não quer ser minha amiga?

O homem lhe dera um sorriso indolente, coisa que ele nunca fazia. Mas, para ele era algo terrível que uma criança tão pura e inocente tivesse nascido num clã sanguinário como aquele.

— Por que os shinigamis existem? – Tsuro perguntara repentinamente.

— É para manter o equilíbrio espiritual. – Soifon dissera com um sorriso largo, adorava quando seu sensei fazia perguntas fáceis por que assim, ela respondia-as com facilidade e por isso, se sentia mais inteligente.

— E como eles fazem isto? – Tsuro perguntara dirigindo-lhe um olhar assertivo.

Mas, a julgar pela expressão embasbacada que a menina fizera, ela não havia entendido o sentido da sua pergunta, por isto fizera um sinal para que ela não dissesse nada.

— Você acha que um guerreiro poderá manter o equilíbrio se ele não estiver em desequilíbrio? – Tsuro quis saber. – Isto se aplica em todos os sentidos, inclusive ao que condizem suas habilidades. Seu corpo esta forte, mas seu espírito não. É preciso que ambos estejam fortes.

— E como faço isto? Como eu treino meu espírito? – Soifon questionara com ansiedade.

— Senhor Tsuro, Furagu-sama deseja vê-lo imediatamente. – Um mensageiro aparecera de repente o que imediatamente deixara o velho senhor com uma expressão séria, e Soifon não gostava disto, porque ninguém naquela família sorria.

— Obrigado, Quon-san. – Tsuro erguera-se com uma agilidade surpreendente para a sua idade.

— Hã, meu pai, ele voltou? – Soifon quis saber exultante. – Eu posso vê-lo, posso? – Ela quis saber cheia de expectativa, nem se quer percebia o olhar feio que recebia do mensageiro.

— Seu pai é um homem ocupado, pequena... – Tsuro pausara uma mão sobre sua cabeça encobrindo um de seus olhos.

— Mesmo assim, ele deveria dar-me um pouco de sua atenção, afinal eu sou sua filha. – Ela dissera com os olhos brilhando de um jeito que fez o coração de Tsuro quase doer. Ela ainda era muito pequena para entender a concepção que seu pai tinha das mulheres, mas o dia que isto acontecesse provavelmente aquele brilho de seus olhos desapareceria para sempre.

— Tudo ao seu tempo, pequenina... Agora continue, com seu treinamento. – Tsuro dissera antes de desaparecer por completo puxando o mensageiro consigo.

Soifon sentara-se no chão da caverna úmida, indiferente as gotículas de água que ensopavam suas roupas.

— Se eu pudesse ser mais forte, aposto que meu pai me daria mais atenção. – Nisto ela olhara para a lâmina branquicenta da Asaugi. – Vai ficar dormindo até quando? – Ele indagara a lâmina da espada e vendo que não teria resposta começara a bater com a mesma numa pedra.

— Acorda, acorda, acorda. – Batia com tanta força que no fim o item acabara se a partindo em dois.

— Ah? – Ela olhara o ocorrido com os olhos do tamanho de um prato. – De novo não. – Aquela era a décima quinta lamina que ela quebrava, se continuasse daquele jeito nunca teria seu zanpakutou e nunca poderia ser uma integrante da milícia de execução da Gotei.

Se isto acontecesse seria o equivalente a morrer.

Um arrepio passara pelo espírito da menina como um mau presságio.

(...)

— Como está indo seu progresso Shaolin? – A voz de seu pai soara tão ríspida como sempre fora, aquilo já não mais fazia o corpo da pequena garotinha estremecer.

— Er... – Ela tentara dizer algo inteligível, mas não conseguia organizar seus feitos.

— Senhor, como sensei de Shaolin eu tenho a felicidade de dizer que sua filha fizera grandes progressos no combate corpo-a-corpo, comparado a muitos de sua faixa etária posso lhe assegurar que você concebera um prodígio. – Tsuro tomara a palavra de um jeito inabalável, a menina não conseguiu evitar lançar um olhar de cumplicidade para seu sensei que lhe dera uma piscadela discreta em sinal de cumplicidade.

— Mas e sua zanpakutou? – O homem perguntou sem esboçar nenhum tipo de emoção quanto às palavras de Tsuro.

— Er... – Novamente ela perdera a palavra e seu pai a paciência.

— Eu fiz uma pergunta! – Ele esbravejara inconformada com a posição nada assertiva de sua filha, aquilo serviu apenas para assustá-la ainda mais, sobretudo, quando ele socara com força a mesa que estava bem ao seu lado partindo-a em centenas de pedaços. Se dissesse alguma coisa errada ela tinha certeza que teria o mesmo destino daquele móvel.

— Er... Bem... Eu... Hum... – Ela tentava organizar as palavras, mas tudo que vinha era a imagem da Asaugi quebrada, mais uma vez.

E sua aflição só aumentara quando a sombra de seu pai a alcançou. Seus olhos negros recaíram sobre ela com a mesma potencia de mil trovões, só que os efeitos não eram físicos e sim numa parte mais difícil de cicatrizar.

— Olhe-me nos olhos quando eu falar com você... – O homem exigira, mas ela não tivera coragem de encará-lo nos olhos, pois não queria ver sua decepção refletida neles.

— Apenas os covardes abaixam a cabeça dessa maneira. – O homem dissera erguendo a pele, seus reflexos pressentiram o chute, mas não sentira ânimo para fazer nenhuma manobra defensiva, até por que a desvantagem de tamanho e força era desproporcional.

Entretanto, o impacto do golpe nunca viera, ele fora neutralizado por Tsuro, que segurara a perna de seu pai apenas com o polegar e o indicador, como se fosse um graveto.

— Guarde suas forças para confrontar o inimigo meu senhor. – O velho dissera com uma calma inabalável, mas havia algo em seu olhar que fizera o líder do Clã Fong recuar.

#

— Por que papai me odeia? – Soifon perguntara mais tarde já acomodada em sua cama enquanto olhava para a Asaugi quebrada.

— Ele não odeia você, pequenina. – O homem dissera com uma expressão serena. Mas, seus olhos pareciam um tanto tristes.

— Ele faz tudo isto para o seu bem. – Soifon bufara irritada.

— É verdade! – O homem tentara soar com mais convicção. – Ele se preocupa tanto com você que ele quer que você fique forte e seja capaz de cuidar de si mesmo.

— Assim como meus irmãos? – Soifon indagara esperançosa sem se dar conta da sombra que surgia nos olhos do velho homem.

— Você será diferente de seus irmãos. E mais forte também. – Apressou-se em remendar. Mas, a menina estava quase caindo de sono que nem prestou mais sentido em suas palavras,

— Agora durma pequenina e, por favor, não tem pressa de crescer.

#

— Acorde! – Seus sonhos foram interrompidos por um puxão brusco das cobertas que a levara ao chão.

Acabara deparando-se com os olhos severos de seu irmão, que a encarava como se ela fosse um lixo.

— Hã, Shengdi é você? – Ela indagara ainda dominada pelo sono.

— Lerda como sempre– O rapaz que beirava seus dezoito anos dissera com frieza. Fisicamente ele era muito parecido com seu pai, cabelos negros e cumpridos, olhos oblíquos e negros, pele morena por conta da exposição constante ao sol. Usava um quimono vermelho com detalhes em vermelho com detalhes em dourados, era alto e musculoso, diferente dela que sempre fora tão pequena e frágil.

— Levante-se garota! – Ele falara com impaciência.

— Onde esta o Tsuro-sensei? – Ela perguntara um pouco emburrada, seu irmão mais velho nunca iria causar nela o mesmo pavor que seu pai causava.

— Papai o mandou para uma missão, enquanto ele estiver fora você esta sobre minha responsabilidade. – Ele dissera dando um sorriso um tanto perverso.

— Levanta biscuit. – Shengdi dissera sentado na árvore indiferente ao olhar irritado que a menina lhe dirigia.

Mas, ela gemia, balançava os braços, bufava e simplesmente não conseguia sair do lugar. Tudo por que seu onii-san tivera a brilhante ideia de amarrar em cada perna, pesos de cem quilos.

— Falar isto é fácil. – Ela murmurara, mas ele ouvira.

— Quem manda ter nascido com este corpo magrelo? – Ele dissera colocando o pé sobre o peito dela que tentara em vão se levantar do chão.

— Ai, Shengdi você esta me machucando. – Ela dissera chorosa, mas aquilo não abrandara a expressão dele…

— Você é fraca, irmãzinha. Dolorosamente fraca. – As palavras dele penetraram seu ouvido. E aquilo fez seu sangue ferver.

— Não sou não. – Ela defendera-se fazendo uma expressão zangada, mas isto era tudo o que ela podia fazer enquanto estivesse sob o efeito dos pesos.

Tudo que seu irmão fizera fora baixar-se na sua altura e dizer em tom desafio.

— Prova-me o contrário. – Ele dissera ainda sério.

— Se até a noite você conseguir subir aquela árvore e ir até o meu quarto eu lhe dou uma recompensa. – Ele dissera apontando para uma ameixeira que ficava bem rente a janela do quarto de Shengdi.

Dito isto ele se afastara deixando para trás uma determinada criança.

Passava da meia noite quando ela toda esfolada e dolorida pelas inúmeras tentativas e quedas enfim alcançara a janela de seu irmão o qual ela imaginou encontrar sentado na escrivaninha do outro lado do quarto lendo pergaminhos antigos.

No entanto, ele não estava lá. Ela resolvera esperar ansiosa pela recompensa que nunca veio. Ela nunca mais veria o seu irmão.

#

A morte de Shengdi fora um duro golpe para o Clã Fong.

Como primogênito e herdeiro natural da casa, ele era junto à de seus pais o alicerce da família. Quando ele se fora restara apenas seu pai que por sua vez ficara cada vez mais severo e intransigente.

— Aonde vamos? – Soifon atrevera-se a quebrar o silencio sepulcral que havia se instaurado no quarto.

— Hoje seu pai anunciara quem será seu sucesso. – Sua mãe dissera tão inexpressiva que lembrava uma boneca de porcelana.

— Mas, por quê? Papai é forte, ele não vai morrer tão cedo. – A garotinha dissera com determinação, recebendo um olhar desdenhoso de sua mãe.

— Em nosso mundo força não é tudo Shaolin. – Ela dissera sem demonstrar nenhuma emoção. – Até mesmo seu pai terá de compreender isto.

A garotinha abrira a boca para fazer mais uma pergunta, mas uma das servas de sua mãe fizera um movimento para que ela se calasse.

— Ijin Shisei será o meu sucessor. – Depois de um longo cerimonial que aos olhos da criança parecera interminável, seu pai fizera o tão aguardado anuncio.

A notícia não fora bem recebida. Vários murmúrios tomaram conta do salão onde estavam reunidas todas as ramificações do Clã. Aquele era um evento muito raro no qual os integrantes do seio mais inferior da família, reuniam-se com a ramificação principal.

— Shisei? – Murmurara alguém logo atrás de Soifon. – Mas, ele é um beberrão, sem talento, que fizera o nome à custa do pai.

— Silencio. A senhora está logo à frente.

— Argh. – O outro gemera.

Soifon olhara atentamente para a sua mãe, mas esta parecia ter ouvido nada o que era impossível, pois até ela ouvira.

Automaticamente seus olhos foram até o seu irmão que apenas para provocar a multidão entornara a garrafa de gin de uma só vez.

Ele era o mais baixo dos irmãos, porém tão musculoso quanto. Tinha a pele alva, os olhos oblíquos e negros como os de seu pai. Os cabelos eram azul muito escuro, quase preto. A pele era alva, era muito musculoso. Usava uma cota de couro justa e um colete preto que deixava a mostra o dorso bem torneado, presente da natureza, já que ele era o que menos treinava.

— Ouçam. – Furagu fizera um movimento com os braços em tom severo. – Shisei é meu segundo filho, diante das circunstâncias, nada mais natural do que ele ser meu sucessor. – Furagu dissera com tenacidade, embora suas palavras não tenham surtido muito efeito nos ouvintes.

Até que golpeando com força a cabeça contra a cabeça fizera um barulho estridente chamando assim a atenção e seus familiares.

— Então faremos assim! Aquele que não esta contente com a decisão de Furagu-sama, me desafie aqui e agora... Se conseguir quebrar o meu pescoço aqui e agora, eu deixo como herança o direito de sucessão. Mas, aviso que se não for capaz eu devolverei a cortesia quebrando as medulas de vocês.

Ele dissera lançando um olhar feroz para a multidão. Quatro ou cinco rebeldes se levantaram, mas Soifon não pudera acompanhar os desdobramentos, tudo por que sua mãe acompanhada pelo restante das mulheres do Clã se retirou do recinto.

— Mamãe eu quero ficar. – A pequena protestou numa típica atitude de birra. Uma serva iria interferir, mas a mulher fizera um sinal para que esta nada fizesse. A mulher olhara abaixara-se na altura da criança.

Olhando diretamente para a mulher Soifon percebera que herdara a maior parte de seus traços. O formato dos olhos, do nariz, da boca, o tipo de cabelo, o porte esbelto e elegante, apesar de muitos centímetros a menos. Mas, sua mãe transmitia uma austeridade que ela nunca conseguiria, dado seu temperamento.

— Diga uma coisa Shaolin, você quer ser forte? – A mulher perguntara encarando-a no fundo de seus olhos.

— H-Hai. – Ela dissera colocando toda sua convicção naquelas palavras.

— Então, eu lhe digo que não há nada para você aprender naquela sala. – A mulher dissera simplesmente.

— Mas, o onii-san vai lutar com todos aqueles homens. – A pequena argumentara com os olhos inflamados pela curiosidade infantil.

— Por isto mesmo. – A mulher dissera de um jeito que encerrava a discussão. Soifon bem que tentara dizer o contrário, mas sua mãe já não escutara mais.

#

— Por que eu tenho que sair do meu quarto? – Soifon perguntara emburrada para a garota que era um pouco mais alta que ela e estava ajudando-a em seu quarto.

— Acho que Shisei quer usá-lo para guardar suas armas. – A garota que era pouco mais alta que a própria Soifon, com cabelos curtos, na cor azul, olhos na mesma coloração. Tinha um tapa-olho em um de seus olhos.

— Hã? Mas, aquele baka luta com as mãos nuas, ele nem aprendeu o nome de seu zanpakutou. – A garota ia responder algo, mas ela fora tomada por uma súbita expressão de medo.

— Eu ouvi isto, pirralha. – O homem dissera fazendo pressão sobre a cabeça da jovem. A garota fizera uma expressão de desagrado, para o cheiro de álcool que ele exalava.

— Onii-san eu não quero sair do meu quarto. – A garota falara emburrada.

— Mas, terá que sair por que eu tenho planos para ele. – Shisei falara esfregando uma mão na outra como se pensasse em grandes possibilidades.

— Demo... – Ela tentara argumentar, mas fora calada por um olhar severo de seu irmão.

— Por que esta discutindo comigo? Mulheres devem ficar caladas quando estão perto dos homens. – Mas, vendo a expressão de paisagem que ela lhe fazia. – Mas, você terá tempo de aprender isto até chegar à idade de casar.

— Casar? Mas, eu não quero me casar. – Soifon falara fechando com força os dois punhos.

— Não quero... Não quero... Isto é tudo o que você sabe dizer? – Shisei dissera com certo ar de zombaria. – Acho que o Otou-san e Shengdi fazem muito as suas vontades.

— Isso não é verdade. – Ela dissera sentindo-se injustiçada. – Se tem uma coisa que nunca fazem nesta casa são minhas vontades.

— É eu sei bem como é isto. – Ele dissera ficando sério de repente.

— Onde esta o Tsuro-sensei? – A garota mudara de assunto porque estava cansada de ficar conversando com aquele idiota.

— Tsuro não será mais seu sensei. – O garoto dissera como se fosse uma coisa simples.

— Hã? Mas, por quê? – Ela tentara argumentar, mas seu irmão lhe dera as costas. – Por que como seu sucessor em treinamento papai me entregara à administração da casa principal, o que significa que eu tenho planos para você, irmãzinha.

 

#

— Desperte, desperte, desperte. – Soifon tentava fazer força para meditar, mas era impossível, por que o idiota de seu irmão mandara-a para a pior residência que tinha na propriedade Fong. Era aquela que ficava perto do galinheiro de onde ela sempre ouvia ruídos estranhos.

Além do mais o maldito a deixara apenas com duas servas. Uma delas era tão velha que vivia resmungando que sentia dor nas costas.

A outra era Shori a garota do tapa-olho. Ela acordara no meio da noite com uma trovoada irromper os céus. Contudo, por muito pouco não tivera a cabeça decapitada por um golpe facão.

— Ah, acalme-se Shori-san sou eu Shaolin.

— Por Kami-sama, o que a senhorita faz fora da cama?

— Não sei fiquei com sede.

Shori a pegara nos braços levara-a para cama, depois desaparecera no corredor retornando instantes depois com um copo de água.

— Agora durma! – Ela dissera quando mais um relâmpago irrompera os céus. Apavorada, Soifon segurara a menina mais velha pela mão.

— Obrigada, por cuidar de mim, Shori-chan. – Soifon dissera esboçando um sorriso que avermelhara as bochechas da menina.

— Certo. – A garota dissera ajeitando seu tapa-olho.

— Por que você usa isto? – A menina perguntara enquanto secavam louça.

A mais velha levara a mão até onde estava o acessório que não combinava nada com suas vestimentas.

— Você é sempre assim curiosa? – Ela perguntara fingindo irritação.

— Não sei, é que você tem cuidado tão bem de mim neste tempo todo... Mas, eu não sei nada sobre você.

— O Clã Fong serve o Clã Shihouin e o meu Clã serve o seu... Por isto que eu cuido de você.

— Só falta você dizer que seu Clã tem alguém que serve a eles também. – Soifon dissera fazendo uma careta.

— Você é jovem demais para entender. – A outra respondera arqueando a sobrancelha.

— Todo mundo vive me dizendo isto, só porque sou a filha mais nova. – Ela dissera com um ar inconformado.

— Você tem sorte de ser a filha mais nova. Não tem o peso da responsabilidade sobre si. – Ela dissera com naturalidade.

— Você tem irmãos? – Soifon voltara a perguntar curiosa.

— Eu tinha irmãos. Mas, estão todos mortos. – Ela dissera com frieza.

Mas, ao ver que a pequena ficara triste, ela dissera com frieza.

— A razão de eu usar o tapa-olho é por que eu nasci mulher e mesmo assim eu quis ir para o campo de batalho. Acho que isto. – Aponta para o acessório. – É para eu não esquecer o meu lugar. Então, por favor, senhorita não esqueça nunca você o seu também.

#

— SHISEI, ESTÁ MORTO. SHISEI ESTÁ MORTO. – Vocês entrecortavam a noite, espalhando o caos e o pânico pelos quatro cantos da propriedade.

A morte do mais um herdeiro de Furagu recaíra como uma multidão.

A morte do mesmo fora um duro golpe para o homem que ainda assim seguia entre os seus como se as reviravoltas do mundo não pudessem atingi-lo.

Soifon entendia isto erroneamente como força. Para ela seu pai era uma fortaleza. E ela queria seguir seus passos.

Com a morte de Shisei, ela pudera retornar aos treinamentos.

Tsuro lhe conseguira mais uma Asaugi assim ela retomara mais uma sessão de exaustivas seções de meditação.

Sem obtiver sucesso, no entanto.

— Isto é problemático. – O garoto alto, magro, de cabelos negros desgrenhados e olhos azuis soltara um bocejo de aborrecimento. De todas as crianças Fong ele era o mais parecido com sua mãe. Já seu espírito preguiçoso e indolente, fora uma herança de algum integrante desconhecido da família.

Logo, logo ele seria anunciado como o sucessor do Clã. Mas, aos quinze anos, ele não tinha pré-disposição para este tipo de coisa.

O que ele mais gostava de fazer era dormir. Não era a toa que os guerreiros mais experientes diziam que ele não iria passar nem mesmo da primeira missão.

No entanto, o garoto tinha uma inteligência acima da média. O clã nunca tivera nenhum estrategista como ele. O que lhe faltava em força ele compensava com o cérebro, isto quando a causa lhe interessava.

O que não era o caso.

— Está na hora meu filho. – Uma das anciãs cutucara o garoto que insistia em dormir na cadeira.

— Isto é mesmo necessário? – Ele quisera saber emburrado. Mas, o olhar impaciente de seu pai dizia tudo.

— Apresento-lhes meu sucessor. Nashi Fong. – Diferente de Shisei, a resistência para a escolha fora menor. Tudo porque muitos achavam que seu jeito indolente iria deixar muitas brechas na hierarquia de poder do Clã.

Diante de mais uma mudança Soifon, tentara com mais afinco despertar seu Zanpakutou. Mas, acabara revoltada quebrando a décima sexta lâmina.

— Are, are, desse jeito a única coisa que você vai despertar é um demônio raivoso, e ele vai devorar você, por tê-lo acordado desse jeito. – O garoto parara de falar quando vira a expressão que sua irmã lhe fazia. – Que foi? Eu faria isto é sério! – Ele dissera na defensiva.

— Isto porque você gosta de dormir. – Soifon falara como se aquele fosse um crime terrível.

— E tem coisa melhor na vida? – Ele dissera sentando-se ao seu lado enquanto espreguiçava-se.

— Baka, você é o futuro líder do Clã, precisa ter mais disposição para que sigamos o seu exemplo. – A menina dissera com determinação, por alguns instantes eles piscara surpreso por suas palavras, mas no fim acabara soltando um bufo de indignação.

— É por essas e outras que o nosso Clã está com as fileiras cada vez mais vazias.

— O que quer dizer com isto? – Soifon perguntara com o rosto tomado pela decisão.

— A rigidez de nossa tradição já não condiz com a realidade que vivemos. Prova disto é o Clã Shihouin que colocara uma mulher na liderança do Clã. Eles poderiam muito bem esperar o herdeiro menor alcançar a maioridade, ainda assim eles assumiram o risco. Nosso Clã, não faz isto. Otou-san e aqueles velhos se agarram a uma tradição que ao invés de perpetuar nosso sangue, tem o derramado com mais rapidez sobre a terra. Nossos irmãos estão indo cada vez mais cedo para o campo de batalha. Tudo para provar um valor que na verdade não existe. Tudo por que eles não têm tempo para amadurecer e só então de se tornar mais forte. Logo, eles caem em desgraça para aqueles que nunca lhes deram uma chance. Isso é ser um Fong atualmente. – Vendo que sua irmã ficara amuada ele abrandara suas palavras.

— Por isto que eu estou aqui. – Ele dissera dando mais um de seus famosos bocejos.

— Você pretende mudar as diretrizes do Clã? – A menina perguntara estarrecida pela ideia.

— É claro que não. – Ele dissera fechando os punhos. – Mas, irei bolar um jeito de deixar esta ideia para as próximas direções. A começar por você irmãzinha.

— Eu? – Soifon perguntara chocada por seu irmão estar pensando em alguém tão insignificante como ela.

— Sim de todos os integrantes de nossa família você é a que tem mais chance de voar mais alto. – Nashi dissera se espreguiçando. – Ah, e quanto a isto. – Ele apontara para Zanpakutou. – Você ainda não esta pronta, então, por favor, não seja como os outros, espere e sua hora chegará.

#

Aconteceu, três dias após a morte de Nashi.

Após dez horas seguidas de manifestação o espírito de sua zanpakutou manifestara-se.

Suzumebachi abrira os olhos ainda atordoada.

“Uma criança?” – A Zanpakutou murmurara diante de uma criança que deveria ter nove anos no máximo.

— Uma fada. Minha zanpakutou é uma fada. Uma fada. Uma fada. – Soifon saltitara de um lado para o outro, eufórica pela descoberta.

— Fada? – Ela vira seu reflexo no espelho, uma figura pequena, metade dourada e com asas. Tinha de admitir que a aparência lembrava-se a de uma fada.

— Seria esse seu nome? – Ela perguntara-se com ansiedade.

Mas, não houve tempo para a resposta gritos se fizeram ouvir por toda parte.

— Nashi Fong estava morto, ele fora envenenado. Alguém do Clã agira pelas costas do líder.

#

Kotori e Kuno Fong foram os últimos filhos restantes de Furagu.

Conhecidos como os dragões gêmeos do Clã, os dois eram considerados invencíveis. Mas, alguma coisa deu errada logo na primeira missão e os dois acabaram mortos.

Ainda assim, Soifon levara muito tempo para compreender que fora a última herdeira restante.

Entretanto, isto não a tornara mais amada por seu pai pelo contrário. Toda vez, que ele a olhava ela sentia sobre si a acusação silenciosa de que ele sobrevivera, seus irmãos, não.

Por isto quando seu pai a chamara em um fim de tarde ela entrara com o coração quase saindo pela boca.

— Mandou me chamar, otou-san? – Ela perguntara reclinando a cabeça para seu pai.

— Soube que despertou seu Zanpakutou. – O homem dissera sem nenhuma nota de emoção na voz. As constantes perdas pareciam ter lhe roubado uma parte do vigor dele, os seus olhos por sua vez estavam cada vez mais sombrios.

— H-Hai. – Ela dissera com a voz trêmula. “Mas, ainda não pude completar meu Shikai”. – Pensara ela com consternação.

— Partiremos ao anoitecer. – Ele anunciara repentinamente.

— C-Como? – Ela balbuciara sem mal acreditar naquelas palavras.

— Eu tenho uma missão para você. – Naquele tempo o inicio de uma nova e emocionante jornada, o que ela nunca imaginou é que ela perderia seu coração no decorrer dela.

#

Dessa vez ele não entregara a sucessão a eles. Os encaminhara diretamente para a Onmitsu Kidou, mas os meninos não sobreviveram.

Aquilo parecia um

#

Fazia muito tempo que abrir os olhos não era tão dolorido, mas ainda assim a mulher forçara-se a abri-los.

E se vira num quarto pequeno, mas limpo e bem arejado. Estava deitada numa cama de solteiro um pouco maior que o convencional.

Sentada ao seu lado numa poltrona reclinável, como se este fosse seu trono encontrava-se seu trono.

— Finalmente a princesa retornou de sua visita ao passado. – Amaranthine dissera em um tom de voz baixo. – Quantas coisas você gostaria de dizer para essas pessoas? É uma pena que a maioria delas já não pode mais lhe escutar.

E então diante dela de alguma maneira ela vira os corpos sem vida de seus cinco irmãos e também o de Shori que um dia ela considerara como uma irmã também.

Ela tentara alcançá-los com suas mãos. De algum modo fazê-los despertar, mas assim como quando estavam vivos eles não iriam lhe escutar.

Seus olhos encheram-se de água, mas as lágrimas simplesmente não desceram.

Naqueles anos todos, ela se quer visitara seus túmulos. Ela achava que se ela não o fizesse eles continuariam vivos, nem que fossem as suas lembranças.

Mas, agora ela se via diante do irrefutável fato de que eles estavam mortos, e não havia nenhuma desculpa que aliviasse a dor.

— Pergunto-me se você soubesse o quanto dói você teria feito as coisas diferentes? – Amaranthine fechara os seus olhos, e então Soifon virá pessoas correndo desesperadas e indefesas, enquanto seu pai as matava sem piedade, por mais que elas suplicassem, elas eram dilaceradas uma a uma, numa cena típica de filme de terror.

E o mais terrível é que ela não precisava daquela projeção, porque aquela cena estava em suas lembranças, porque ela estivera lá, ao lado dele, assistindo tudo de camarote, e não fizera nada.

Seria porque ela dor aquele tipo de perda causava? Não, é que não era para ter restado um sobrevivente. Isto acontecerá, por que ela não conseguira ir até o fim.

E agora, ela teria de lidar com seu primeiro e último ato de piedade, se quisesse que seu filho tivesse uma chance para nascer.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura e até a próxima.