The Moon Over Me escrita por _TheDarkMoon


Capítulo 4
Eric e Dill


Notas iniciais do capítulo

Quando eu terminei este capítulo, percebi que tinha muitos furos com as duas histórias e tive que reescrevê-lo todinho! Por isso a demora.
Mas aí está ele, espero que gostem.



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Hook acordara com um ânimo que não possuía há muito tempo, tinha uma sensação boa de que seus planos dariam certo hoje. Fizera sua higiene e vestira seu sobretudo negro favorito. Passara seu gancho sobre as teclas de seu piano displicentemente, como um anúncio de sua boa sorte. Saiu da cabine e Mr. Smee correu com sua bandeja:

– Seu rum matinal, capitão.

Ganho virou o copo rapidamente e sorriu:

– Ah, hoje será um longo dia! Estão todos prontos?

– Sim, será um longo dia, capitão! Estão todos prontos sim, mas tenho uma notícia ruim...

– Dificilmente irá abalar-me. Diga.

– A vela do mastro dianteiro foi pe-perdida, capitão... Os ventos da noite e o desgaste romperam as cordas e ela foi levada.

Como se esperasse algum tipo de agressão o pirata abaixou a cabeça e aguardou. Mas o capitão apenas suspirou fundo e falou em voz clara:

– Quero todos prontos para a prática do plano imediatamente. Tigrinha estará saindo para caçar em uma hora! – abaixou o tom de voz e falou diretamente para Smee: - Depois resolvemos algo sobre a vela, agora faremos o que já estava planejado.

– Sim, capitão.

Inicialmente, Hook sentira-se bastante pomposo em ser chamado de capitão, mas a frequência que Smee e os outros piratas usavam a palavra começara a irritá-lo. Aliás, Smee o irritava, sua voz, sua postura desajeitada e a forma como era bem educado naturalmente, e como todos gostavam de Smee facilmente e simplesmente detestavam o próprio Hook. Normalmente isso lhe tomava horas de reflexão e pura raiva, mas hoje tudo iria correr bem e ele não se preocupava com isso.

Desembarcaram e Hook contabilizou os marujos entrando na floresta e encaminhando-se para a tribo dos índios para capturar a princesa. Tal feito certamente atrairia a atenção de Peter Pan e em troca da menina, Hook tomaria sua vida. O plano era certeiro e levara uma semana para ser bem desenvolvido com espiões para a menina e para Pan, e agora finalmente se concretizaria.

O capitão analisou seus últimos piratas adentrando na mata e observou a bela praia e suas pedras e sentiu uma movimentação atrás dela. Quando olhou de longe novamente viu uma cabeleira vermelha à mostra.

– Smee, vá na frente com os outros. Tragam-me Tigrinha e depois prosseguiremos com o plano.

– Mas, Ca...

– Vá!

O pirata correu desajeitadamente seguindo os outros companheiros e Hook caminhou sorrateiramente até a grande pedra. Quando o espião percebeu a presença do pirata pôs-se a correr, mas o capitão foi mais rápido e puxou os longos cabelos vermelhos, apertando o corpo esguio contra o seu e fechando suas mãos em torno da garganta fina. Encaixou seu gancho no rosto desconhecido e sorriu:

– Estava apreciando a vista? Que estava fazendo aqui?

Sem resposta e desconfiando do espião que não gritara diante ao forte puxão de cabelo que lhe dera, Hook virou-lhe o rosto para si, e segurou-lhe pelo pulso. Ao olhar seu rosto, seu estômago comprimiu seu rum matinal.

– Você. Foi você que cantou para mim...

Os olhos azuis da garota eram brilhantes e encaravam diretamente os seus. Os lábios eram fartos e avermelhados. Era incrivelmente bela, mas não respondia.

– Responda-me. – mesmo após a ordem ela hesitou e pôs as mãos na garganta. – Você não pode falar?

Ela negou com a cabeça, e Hook refletiu que se ela não podia falar, não podia cantar, e logo não podia ser a garota que lhe salvara. Se a mais semelhante das garotas não era quem ele pensava ser, talvez nunca mais a encontrasse.

Apesar disso, ela não deixava de ser algum tipo de espiã e ele não poderia deixá-la ir e prejudicar-lhe tardiamente. E ainda mais: ela poderia ter-lhe utilidade. Se era alguma espiã de Pan, talvez poderia usar o golpe ao reverso convencendo a garota. Mais ainda poderia entregar-lhe seu esconderijo. Ela seria seu plano B. Se seu plano falhasse, ele usaria a garota para obter a cabeça de Pan.

– Queira me desculpar pelos meus maus modos. – ele curvou-se, ainda sem soltar seu pulso. – Meu nome é James Hook.

Percebeu o quanto era arriscado dar seu nome, mas agora estava feito. Pensou rapidamente em um jeito de mudar a situação e disse:

– Mas me chame de Eric. É meu nome do meio. E nunca me chame ou pense em mim como capitão, estamos entendidos?

Ela assentiu e imitou seu gesto de se curvar, fazendo o pirata divertir-se com a cena.

– Não se curve. Apenas um cavalheiro se curva pra uma dama e não ao contrário. – ela parecia bem confusa, mas aos poucos assimilava o que lhe era falado. Hook percebeu que ainda segurava seu pulso e disse: - Se eu soltá-la, me promete que não fugirá?

Mais uma vez ela acenou positivamente e ele soltou-a. Por um momento, sentiu-se desconfortável em soltá-la e não conseguia compreender o porquê. Olhou-a com mais atenção e percebeu que a garota estava enrolada em sua vela e amarrada com suas cordas.

– Desculpe se for indelicado, mas suas vestes me pertencem. – ele fincou o gancho em uma das cordas e puxou-a para mais perto. – Creio que terá que devolvê-las.

Ele observou o engolir em seco da ruiva: o suave movimento em sua garganta. E ficou impressionado com a beleza e simplicidade daquele gesto.

Retirou o gancho das cordas, deixando-a livre novamente.

– A senhorita não me parece daqui. Teria vindo talvez de Porto Vermelho? De qualquer forma, a senhorita tem algum lugar para ficar? – quando ela negou, ele prosseguiu. – Se importaria de ficar no meu navio? Encarregar-me-ia pessoalmente de manter-lhe confortável e arrumar-lhe vestes adequadas. Viria comigo?

Hook deu-lhe o braço e ela o aceitou, e a sensação de conforto e segurança voltou a ele.

– Deve estar faminta... Se me permite. – ele voltou-se para trás e gritou: - Mr. Smee!

Ariel deu um pulo, sobressaltada com a voz intensa e capaz de lhe dar tremedeiras. Eric deu um leve sorriso, mas logo retornou a sua carranca habitual quando o velho pirata que mais parecia uma barrica apareceu correndo desastradamente:

– Sim, Capitão!

– Avise os outros piratas para procrastinarem até que o primeiro sol esteja no auge. O plano terá procedimento após isso. Depois, retorne imediatamente e prepare uma refeição para a senhorita.

– Mas capitão, está muito cedo para o...

– Eu determino o horário. E é agora. – sua voz se suavizou. – Gostaria de comer peixe, senhorita? – Ariel negou freneticamente. – Certo. Smee, cace algo para a dama e visite plantações em busca de algo como salada. E não demore!

O pirata correu floresta adentro e Hook guiou-a até o navio, continuando a conversa que a princípio mais lhe parecia um monólogo, mas, para sua surpresa, foi fluindo tão bem como nenhuma conversa que tivera outrora. Ele quase conseguia escutar a voz da garota e ela transmitia suas emoções incrivelmente bem apenas com seus olhos.

Ele mostrou toda a parte de cima para ela e explicou que os demais “andares” não seriam interessantes para a moça, já que eram muito deselegantes para ela.

Correndo desesperadamente, Smee chegou com pedaços de carne fresca e ensanguentada, correndo para a cozinha. Ariel colocou as mãos na boca nauseada, e divertindo-se com a forma pela qual tudo parecia-lhe novidade, o Capitão riu e disse:

– Fica bem mais apetitoso depois de cozido.

Após isso, lembrou-se de um detalhe importante:

– Estou sendo bastante rude com a senhorita. Qual seria seu nome?

Ela movimentou seus lábios, mas Hook teve muita dificuldade para compreender, captando apenas que, provavelmente seu nome terminaria com u ou com l.

– Perdoe-me mas não compreendo. Poderia chamá-la de Dill? – seu olhos se iluminaram e ela sorriu. – Então está certo.

Finalmente Smee saiu com uma bandeja, correndo para os aposentos do Capitão e colocando a refeição sobre a mesa de jantar, arrumando improvisadamente, acendendo velas, colocando uma flor única flor vermelha no centro da mesa e ajeitando os talheres.

A moça parecia maravilhada com o quarto do capitão que era grande e parecia ter tudo que uma casa precisava. Ao mesmo tempo, também estava impressionada com os gestos rápidos e desajeitados de Barrica.

Hook puxou uma cadeira para ela e esta se sentou, com os olhos brilhando. O outro pirata serviu o vinho e ficou parado.

– Fora, Barrica.

E ele se retirou, batendo a porta sem querer e gritando um “desculpe” desafinado. Ariel encarou Eric esperando um conselho ou uma dica sobre o que fazer, mas ele apenas pegou um cachimbo na gaveta e sentou-se de frente para ela, acendendo-o. Quando se deu conta dos olhos arregalados da garota, sentiu-se muito mal educado por fumar à mesa. Quando ia se desculpar, ela se levantou e esticou sobre a mesa, sorrindo e apontando para o objeto:

– Ah, você fuma? – ele ergueu uma sobrancelha, muito surpreso. – Tudo bem.

Ariel reconhecera o objeto de sua coleção e sabia que aquilo fazia lindas bolhas. Colocou o objeto na boca, ainda esticada sobre a mesa, encarando os olhos azuis de Eric com alegria e soprou.

Para sua insatisfação, não saíram bolhas, mas sim um pó negro que sujou todo o rosto de Hook. Ariel ergueu-se, colocou o cachimbo na mesa e deu um pulo para trás, pondo as mãos sobre a boca. Hook levantou-se bruscamente e encarou-a, e sob a face suja um sorriso surgiu e transformou-se em gargalhada. Ariel riu também silenciosamente enquanto ele limpava o rosto com uma toalha e a água de uma pequena bacia.

– Tudo bem, não é tão fácil quanto aprece. Talvez devamos comer agora.

Eles se sentaram novamente, e ao ver que ela não começava a comer, incentivou-a:

– Está mal passada, mas assim é deliciosa. Vamos, comece.

Sem saber bem o que fazer, Ariel olhou os talheres e reconheceu um deles. Sorriu e pegou o que tinha três extremidades finas, passando-o pelo cabelo.

– Não, não, não. – ele tomou o garfo de suas mão delicadamente, limpando-o em um guardanapo e devolvendo-o, pegando o seu e usando a faca em conjunto para cortar sua carne e comer. – De onde você vem? Parece que não sabe de nada. – a menina abaixou a cabeça e corou. – E isso é adorável.

Ela ergueu os olhos, que se encontraram com os deles de forma confortável. Depois de alguns momentos, ela voltou-se para a comida e obsevando bem os movimentos do Capitão, conseguiu se sair bem cortando sua carne. E então, finalmente levou um pedaço à boca.

Hook quase temeu o brilho no olhar de Ariel. Foi rápido, mas vermelho e doentio, assim como os dele ficavam em momentos de fúria.

Era a primeira vez que Ariel comia qualquer tipo de carne, e seria uma experiência normal se em seu íntimo ela não fosse agora uma sereia de Neverland. O impulso foi tão forte que ela devorou a carne como nunca devorara nada. Com tamanha voracidade, que assustou-se quando reparou que já tinha acabado.

Ele viu seus lábios sujos com o sangue da carne mal passada, e refletiu que se fosse qualquer outra pessoa, acharia infame e terrível pelos maus modos. Mas com Dill, era quase revigorante. Ainda mais quando reparou no seu rosto ficando vermelho e na delicadeza com a qual limpou seus lábios com o guardanapo.

– Bem, você estava mesmo com fome. – sorriu. – Deguste ao menos o vinho com calma.

E assim o fez enquanto Eric terminava de comer. Após isso, eles recolheram os pratos e ele os levou para a cozinha – coisa que o Capitão nunca fazia, mas Smee não estava mais no navio. Quando retornou aos seus aposentos disse:

– A senhorita ficará em meus aposentos. Providenciarei outro para mim, não se preocupe. Também não permitirei que ninguém lhe incomode. Fique bem à vontade. – encarou-a. - Amanhã mostrarei a você a ilha. Creio que você adorará ver as belezas naturais da Terra do Nunca. Por enquanto procure relaxar e tomar um banho quente.

O capitão sorrira pensando na sorte em que tivera em não ter tomado banho pela manhã. As vantagens de ser um pirata. Agora poderia oferecer seu conforto à Dill.

Lembrou-se que há muito tempo atrás, ordenara a Smee a fazer belos vestidos para uma madame distinta que serviu para tentarem persuadir uma das meninas que Peter Pan levara a ilha a abandoná-lo e ir morar em seu navio, sendo a mãe de seus piratas. O plano deu errado, pois Smee fizera um vestido para uma lady de verdade, e não para uma criança que fingiria ser. Logo apresentou-se muito grande e a menina rejeitou.

Por um momento, cogitou se Dill não seria uma das mães que Peter buscara, mas descartou a ideia ao levar em consideração que ela era mais do que uma criança e que ela não falava, logo não podia contar histórias. Além disso, ele ainda tinha Wendy, que já estava com o garoto há cerca de um ano, bem mais do que as outras costumavam ficar.

De qualquer forma, finalmente o vestido teria serventia. Pegou um deles de um baú e estendeu-o na cama.

– Creio que este vestido lhe ficará muito bonito no corpo. Bem mais do que esta vela. – e então ele viu que, mesmo amarrada em uma vela, ela estava incrivelmente bonita. Bem mais do que qualquer outra pessoa que vestisse o mesmo. – Apesar disso, esta vela lhe cai bem. Ainda assim vista-o. Irei cumprir umas obrigações. Demorarei um pouco, mas voltarei à noite se tudo der certo. Peço que não saia.

Ela assentiu e Hook observou-a mais uma vez, tendo dificuldade em abandonar aqueles olhos tão expressivos na solidão de seu aposento:

– Voltarei em breve, Dill.

****

Ariel estava incrédula com sua sorte. Tomou seu banho de espuma e brincou com as bolhas repassando toda a sua manhã e início de tarde maravilhosa. Até os vexames lhe pareciam agradáveis perto de Eric e ela se sentia incrivelmente feliz com isso.

Ela pôs o belo vestido rosa longo, com mangas e detalhes brancos. Tinha as mangas próximas aos ombros bufantes e ela divertiu-se com isso por uns momentos. E pôs-se a girar, entretida com o movimento do vestido. Riu e dançou, mas quando tentou cantar, quase se sentiu triste.

Para tirar o pensamento da cabeça, pulou na cama e por fim deixou-se cair nela, suspirando ao lembrar-se dos olhos azuis. Ergueu-se, disposta a ver se ele já estava de volta e ver a bela vista.

Mas então por um momento, os mesmos olhos azuis profundos e cativantes, tornaram-se intensos e impetuosos em seus pensamentos. A porta estava trancada.

Ela não era sua convidada. Era sua prisioneira.


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Notas finais do capítulo

Nesse cap eu explorei um pouco mais a relação Hook-Ariel / Eric-Dill ou vice versa.
Manifestem-se! Até o próximo capítulo.



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