The Moon Over Me escrita por _TheDarkMoon


Capítulo 2
Salve-me




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Agora que Neverland seria sua casa, Ariel começara a refletir em como se infiltraria no meio das outras sereias, o que não seria muito difícil, já que algumas já sabiam de sua existência e, se fosse como elas, não seria nada impossível convencê-las. Ela teria apenas que dar um jeito de sair da água nos períodos de lua cheia, quando as outras tornavam-se carniceiras e destruíam todos os humanos ou coisa parecida que ali se encontravam.

A sereia nadou até a praia para olhar o horizonte, quando ouviu um “cocorocó” e um menino rodopiou sobre sua cabeça:

– Sangue novo na ilha. Quem é você? – ele falava com um tom de acusação, empinando ainda mais seu nariz arrebitado.

– Por favor, fale baixo. Meu nome é Ariel, e eu gostaria muito de viver aqui, pois não sou bem vinda em meu próprio reino.

– Uma princesa? – ele sentou-se numa pedra do lugar e olhou-a de cima. – Deve ter boas histórias para contar.

– Na verdade... – sorriu. – Eu vim vivê-las.

– Então lhe desejo boa sorte. - voltou a flutuar. - Seja bem vinda, princesa.

Quando ele levantou voo, Ariel lembrou-se de um detalhe importante:

– Menino, qual é o seu nome?! – gritou.

– Peter! – revidou. – Peter Pan!

****

“Tic Toc; Tic Toc”

O som parecia ecoar por toda a ilha. A ruiva aguçou os ouvidos para descobrir de onde estava vindo o som, mas assim que o fez, ouviu um rebuliço ainda maior vindo do tal navio pirata. Ariel nadou até um lugar onde pudesse ver o que estava acontecendo.

– Crocodilo! – gritou o tripulante, levando todos os outros ao desespero.

– Esconda-se, Capitão, iremos cuidar disso pra você! – o roliço enxotou seu próprio capitão.

Ariel ficou surpresa ao ver aquele homem tão pálido e sem reação. O coração da sereia palpitou, ela não sabia como se sentir ao ver, mesmo de tão longe, aqueles olhos azuis acinzentarem de pavor.

O Capitão recuou lentamente, quando no mínimo uma dúzia de seus tripulantes passou correndo por ele procurando pelo crocodilo.

“Tic Toc; Tic Toc”

E caiu ao mar.

“Tic Toc; Tic Toc”

Uma risada predominante e, até mesmo contagiante se não fosse uma situação tão cortante para a pequena sereia. Não havia crocodilo nenhum, apenas um menino risonho voando direto para as árvores.

– Tic toc, Hook! Tic toc! – gargalhava.

Ariel pouco entendera de toda aquela debandada, apenas pôs se a nadar velozmente, não acreditando que ficara parada somente assistindo por tanto tempo. Mergulhou e achou o homem em suas roupas negras, desacordado e com os lábios arroxeados. Com a rapidez com que tudo acontecera, quando caiu na água, ele ainda estava em choque e afundou.

Ela nadou até a praia, que parecia tão longe quando se estava numa emergência como aquela e colocou-o na areia. Ele não abria seus olhos e não se movimentava, o que a deixou alarmada. Ariel sentou-se a seu lado e ajeitou os cabelos nervosamente, olhando para seu corpo.

– Por favor, Capitão, acorde. – passou seus dedos finos nos cabelos negros dele.

Pôs as mãos sobre seu peito e olhou para seu rosto. Era tão belo que teve vontade de cantar, o que fez, doce e gentilmente. Canção que, mesmo inconsciente, adentrou os ouvidos do capitão e envolveu sua mente de forma suave.

Quando terminou sua canção, forçou suas mãos em seu peito, debruçando-se ainda mais, cada segundo mais tensa. Ela sentiu o coração dele bater sobre suas mãos e pressionou mais, como se quisesse tomá-lo de vez, como os objetos que colecionara. Seus olhos já começavam a marejar de preocupação.

A pressão das mãos da sereia e o peso de seu corpo, fez com que os pulmões do Capitão expelissem a água, fazendo-o tossir e soltar o líquido pelos lábios. Ariel assustou-se, mas logo encostou o ouvido em seu peito e verificou que seu coração ainda batia. Ela ergueu-se e aproximou-se de seu rosto, tentada por seus lábios que começavam a colorir-se novamente. Então, os olhos já novamente azuis começaram a aparecer sob as pestanas. Ariel sorriu e disse com voz baixa em meio a seu sorriso:

– Eu tenho algo que é seu...

– Capitão! Oh, meu capitão, eu sinto muito! – ouviu gritos.

A sereia saltou para a água imediatamente e escondeu-se em um lugar onde pudesse ver os acontecimentos.

– Ah, mas que diabos... – ele sentou-se pondo a mão na cabeça, mas logo ergueu-se olhando ao redor. – Onde ela está?! Onde ela está?!

– Quem?

– A garota, seu palerma! Onde está a garota?

– Não há nenhuma garota, Capitão. Você estava sozinho quando lhe encontramos.

– Ms. Smee, houve uma garota. Ela me salvou e tinha uma voz... Eu quero ver a garota agora.

– O Capitão salvo por uma garota? Deve estar delirando... – o pirata forte de bandana vermelha comentou.

Imediatamente, o Capitão ajeitou a postura e pôs um olhar severo no rosto:

– De fato, devo ter delirado. Eu nadei até a praia e a água que bebi mexeu com meus sentidos. Uma garota nunca poderá me salvar. – riu sarcasticamente.

Ariel bufou, incrédula, e mergulhou com raiva. Todo aquele trabalho e nenhum reconhecimento. Ao menos se aqueles piratas não aparecessem, ela poderia ter falado com ele e até devolvido seu frasco.

– Pois também não devolvo mais!

****

– Uma sereia! Oh, meu Deus! Olá! Olá! – uma menina acenava de uma das costeiras.

Ariel riu ao ver o quanto ela parecia animada, pulando em sua camisola, os cabelos castanhos claros saltando. Nadou até a costa para falar com ela.

– Oh, foi você que falou comigo quando cheguei! – a menina uniu as mãos com doçura. – E que cabelo bonito!

– Obrigada. O seu também é muito bonito com esta fita azul. – sorriu e sentou-se naquela margem. – Você é a Mamãe, não é? Como é se chamar assim?

– Ora, esse não é meu nome. – ela sorriu, mexendo em sua fita, contente pelo elogio. – Meu nome é Wendy. É que eu sou a mãe dos meninos. Pelo menos no faz de conta, é claro.

– Que nome original. O meu é Ariel. Ah, então você é mãe, mas não se chama Mamãe... Você entende muito de mães, não é?

– Bem, eu faço meu melhor. – ela sentou-se também. – Tentei aprender com a minha.

– Ah, você tem uma mãe! Que maravilhoso! - Você não? – Ariel negou tristemente com a cabeça, e Wendy pôs as mãos sobre os lábios. – Eu sinto muito. Bem, se você quiser posso ser sua mãe também.

– Pode?! – os olhos da sereia se iluminaram, e a menina assentiu. – Que maravilha!

Elas se abraçaram. Era algo bonito de se ver, uma menina ser mãe de uma sereia com mais anos de vida do que ela própria. De maneira peculiar, uma amizade começara.

– É realmente muito bom conhecer uma sereia, uma sereia de Neverland! – Wendy suspirou.

– Oh, mas não se engane. Eu não sou daqui. Bem... Na verdade, agora sou. Eu era de Atlântida, mas vim para cá. As sereias de Neverland não são tão boazinhas assim...

– Mas eu pedi para Peter para conhecê-las! E como podem não ser?

– Elas são meio rudes, e às noites de lua cheia são perigosas. Melhor evitá-las. Mas por favor não conte a elas que não sou daqui.

– Não contarei, não contarei. De qualquer maneira, a vida no mar deve ser magnífica!

– É muito bonito sim... Mas, a vida na terra, caminhar, ver todas essas coisas que não podemos ver daqui, isso sim deve ser magnífico. Porque, se quiserem, os humanos podem mergulhar, mas, pelo menos as sereias da minha espécie, não podemos simplesmente sair andando.

– Então você veio por aventuras?

– Sim! – Ariel sorriu. – Há tantas coisas para ver! E viver! É uma pena que eu não possa fazer tudo.

– Escute bem: hoje eu irei até o Lago das Sereias com Peter logo ao pôr do sol. Seria bom se você estivesse lá. Mas agora tenho que ir preparar a janta dos meus meninos.

– Estarei lá, mamãe!

Elas se abraçaram mais uma vez e Ariel viu a menina partir floresta adentro. A sereia suspirou ao olhar sua cauda, entretanto pensou em como aquilo tudo estava sendo divertido e sorriu mais uma vez antes de voltar ao mar.

****

Apesar de dizer ser apenas tudo uma ilusão, Hook sabia que não era, pois a voz suave ainda ressoava em sua mente. Ainda mais quando aquela frase lhe vinha à cabeça:

“Eu tenho algo que é seu...”

Não bastara deixar-lhe a ponto da loucura, ainda lhe roubara algo. E o pior: ele não sabia o que era. Mas tinha plena noção de que algo lhe faltara.

Ele se lembrava pouco do rosto da garota, pois esta estava contra a luz do sol antes de desaparecer completamente. Mas lembrava-se de uma luz vermelha que lhe fazia sentir confortável, traços leves e olhos incrivelmente azuis. Não azuis como os seus: gélidos e rígidos. Mas doces e gentis. Calorosos e de uma suavidade que, apenas de pensar em seus olhos era possível ouvir sua melodia.

– Eu estava bêbado, não é possível! – socou a mesa de sua cabine.

– Está tudo bem, Capitão? – Mr. Smee falou do outro lado da porta.

Será que estava perdendo seus bons modos? Fazendo escândalo por causa de uma garota que muito provavelmente era de sua imaginação? Por causa de uma maldita voz imaginária. Mas talvez se aqueles malditos de sua tripulação não aparecessem, ela não fugiria ou coisa parecida. Eram eles, sempre eles que o incomodavam e atrapalhavam as coisas.

Hook pegou sua espada e abriu a porta, apontando-lhe para o coração de Mr. Smee e fazendo-o andar de costas até o centro do navio, atraindo todos os olhares.

– De-desculpe, Ca-capitão...

– Calado! – o grito ecoou. – Vocês, malditos! Todos vocês! É uma ordem! Nunca mais me interrompam em nada! Só apareçam quando eu mandar, se eu mandar! Entenderam?! – apenas o eco de seus gritos foram ouvidos e ele ficou vermelho de fúria. – Entederam?!

– Sim, Capitão. – os piratas responderam gradativamente.

Hook embainhou sua espada e trancou-se em seus aposentos mais uma vez. Sentou-se e tocou o seu piano, reproduzindo a melodia que tanto ressoava em seus ouvidos. E assim ficou por toda aquela tarde, e toda aquela noite.

****

Quando Wendy chegou ao Lago das Sereias com Peter e ele a deixou na pedra chapada que havia ali, todas as sereias começaram a seguir, gritar e acenar para ele, ignorando Wendy completamente, enquanto ele sentava-se em uma pedra mais alta e conversava com elas. Aquelas sereias eram de fato rudes e não se pareciam nada com sua filha. Sorriu ao pensar que ela era sua “filha”. Wendy então tentou procurar Ariel entre elas mas não a via.

Ariel, entretanto, já a vira e estava escondida esperando um momento propício para falar com ela, sem que parecesse suspeito para as outras sereias.

Mas era inegável que Wendy estava, na verdade, com ciúmes das sereias que estavam fazendo gracinhas enquanto Peter contava histórias sobe si mesmo.

– Hum, Peter?! Peter! – ela acenou.

– Oh, Wendy! – ele ergueu-se no ar olhando para ela e acenando de volta.

Então, enfim as sereias repararam na menina e metade delas – e havia umas vinte naquele momento – avançou para cima de Wendy.

– Wendy? Quem é Wendy? – uma sereia com pequenas estrelas do mar no cabelo perguntou sarcasticamente.

– Que nome feio. – riu outra de cabelos negros.

– É uma menina! – a mesma loira que viera até Ariel observou. – E que menina feia! –riu.

– Ela está de camisola! – a morena riu, puxando-lhe as bordas da roupa.

E logo dez sereias estavam em torno da pedra perturbando Wendy. As outras dez estavam distraindo Peter novamente, que logo recomeçara as histórias, esquecendo-se de Wendy. Uma coisa que poucos sabem a respeito de Peter Pan é que ele tem uma memória péssima. E não é uma memória péssima como quando você esquece-se de tomar seus remédios, é uma memória terrivelmente ruim.

– Oh, parem!

Wendy esquivou-se delas que lhe jogavam água, puxavam os cabelos, tentavam rasgar-lhe a camisola, puxar-lhe para a água. Então pegou uma concha grande e rígida e ameaçou tacar-lhes. Mas logo outra sereia de cabelos castanhos saltou bem alto e tomou-lhe a concha das mãos. E logo elas mostravam-se mais mau educadas e começavam a puxá-la para água.

Até que uma delas derrubou-lhe e a loira começou a puxá-la para a água, tapando-lhe a boca com as mãos grandes e afundou-lhe o corpo.

Peter Pan nem ao menos notara, quando Ariel nadou aceleradamente até a situação para ajudar a menina. Depois de deixá-la tão cansada de se debater e sem poder respirar, elas a largaram, rindo e foram ouvir as histórias de Peter como se não tivessem feito nada.

A sereia segurou Wendy e começou a carregá-la até a margem, quando Peter chegou à parte da história em que finalmente se deu conta da falta da menina:

– E então, Wendy me contará o final da história hoje. Não é mesmo, Wendy? Wendy?!

Ele percebeu que uma sereia a carregava e que ela parecia mal. Adiantou-se até lá, deixando as outras sereias resmungando para trás, que logo esconderam-se em suas tocas.

Peter não podia acreditar que aquela sereia estava tentando afogar a mãe que tinha dado tanto trabalho para encontrar para seus meninos. Ele rangeu seus eternos dentes de leite, pegou sua adaga e foi até ela faltando muito pouco para chegar à margem. Juntou toda a sua raiva e preocupação com Wendy e partiu para cima.

– Largue a minha Wendy! – gritou.

E antes mesmo que pudesse se dar conta, Ariel tinha a adaga enfiada em seu coração.


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Notas finais do capítulo

Não percam as esperanças, no próximo capítulo tem mais. Até lá.



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