The Moon Over Me escrita por _TheDarkMoon


Capítulo 1
Portal para Neverland


Notas iniciais do capítulo

Ideia repentina com duas das histórias que mais admiro no mundo. Boa leitura.



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“Mais depressa, mais depressa

Sua cauda estava quase dormente, mas ela precisava alcançar o portal antes que dessem por sua falta. Finalmente, adentrou naquele círculo que lhe parecia um espelho. Uma vez lá dentro, apresentava-se como um tubo de correnteza bela e azulada, com um brilho que imitava as estrelas. A correnteza lhe carregava furiosamente, quase como se fosse sugada. Por fim, foi lançada para fora do tubo como uma bola de canhão.

Ariel deu um grito e gargalhou como sempre fazia após ser lançada para o ar e voltar para a água. Ela sabia que poderia ser perigoso aparecer do nada sobre a água, pulando como um peixe, mas isso a divertia tanto que não conseguia resistir.

Os portais submarinos são conhecidos por atravessar universos e mundos, e mesmo sendo estritamente proibida por seu pai, o Rei Tritão, sempre que podia, explorava os portais e mundos.

– Neverland. – ela sorriu.

Era um dos seus lugares favoritos e também um dos mais proibidos. As sereias daquela ilha, nas noites de lua cheia mostravam-se perigosas e, por que não, carniceiras. Nos outros dias elas eram adoráveis, falsas e violentas. Entretanto, Ariel não estava ali por causa das sereias, mas porque era um lugar bom de se observar: fadas, meninos vestidos de bichos, belas florestas, um navio pirata e um menino que trazia meninas as quais chamava de Mãe.

– Pois eu não quero isto! Eu quero o sangue daquele demônio! – uma voz forte e predominante ribombou por todo o navio.

A sereia aproximou-se do navio para ouvir melhor. Ela espantou-se com a forma em que se sentira assustada com aquela voz, mas também como se sentia quase magnetizada por ela.

– Mas Capitão, é um rum maravilhoso, por que não bebe um pouco e tenta se acalmar? – outra voz gaguejou.

– Não! – exclamou de uma forma que ecoou por toda a ilha.

O coração da sereia disparava quando ela encostou no navio, temendo que fosse vista. E então, uma pequena garrafa negra caiu a seu lado, o que quase a fez gritar de susto, mas então, guardou-a em sua bolsa e pôs-se a nadar ligeiramente.

Ariel encontrou uma pedra para poder repousar e riu com a pequena aventura. Mesmo como observadora e exploradora, conseguia se aventurar, mesmo que apenas em sua mente.

– Se me vissem arrancariam-me o pescoço. – suspirou. – Ou me jogariam da prancha.

Riu mais de si mesma, para logo se sentir só de novo. Afinal, era isso que era, uma grande solitária. Balançou a cabeça para afastar o pensamento e analisou o recipiente. Tinha uma textura confortável e ela revirava e revirava. Analisou, cheirou e até mordeu, mas não conseguia reconhecer. Tinha um cheiro forte e quando movimentava-o ouvia algo líquido chacoalhar. Depois de torcer e remexer, conseguiu abrir. Cheirou novamente e encostou o líquido nos lábios vermelhos, para logo fazer uma careta.

Será que seria o rum que tinham citado? Pois mais parecia o sangue de demônio que o Capitão queria. Talvez devesse devolver, afinal, se fosse, ele o queria.

– Ei, você aí! – uma sereia loira gritou, acompanhada de algumas outras que se aproximavam. – Quem é você?!

Ariel escondeu o frasco dentro da bolsa novamente, e começou a pensar rapidamente no que faria.

– Uma sereia, se é que não pode ver. – optou por farsar.

– Vejo claramente, mas não sei quem você é. Nunca a vi.

– Então acho que não pode ver mesmo. Sempre estive aqui.

– E você tem nome, mejera?

– Ariel.

– Ainda tem cara de Mejera.

Ela apertou-lhe o rosto com os dedos magricelos e Ariel usou sua cauda para afastá-la. A outra mostrou-lhe dentes afiados de lua cheia e afastou-se. Apesar dos dentes, Ariel sabia que ainda não havia chegado na lua perigosa, era apenas uma ameaça em vão. As outras olharam-lhe estranhamente, um olhar que a ruiva não soube classificar entre desafio e admiração, e partiram.

O que ela mais gostava em Neverland era que ali, ela também podia viver as aventuras, não só observá-las.

Suspirou e mergulhou, nadando de volta para o navio pirata, decidida a devolver. Chegando lá, esticou-se até as janelas da embarcação, procurando o possível dono do frasco, ou, o possível dono da voz.

Entretanto, ouviu apenas o som de um piano, e guiada pela curiosidade, olhou de janela em janela até ver o músico que o fazia. Parecia talentoso e concentrado, embora de costas para onde ela estava. A música soava tão bela a seus ouvidos que sentiu vontade de cantar, mas conteve-se e contentou-se em observar as costas largas, os cabelos negros, a postura perfeita, as mãos... A mão. Seus olhos se arregalaram ao perceber que no lugar da mão direita havia um gancho. Um gancho tão intimidador e atrativo quanto...

– Eu não quero ser incomodado. – vociferou para a porta que não parava de bater, depois que socou as teclas do piano.

Um gancho tão intimidador e atrativo quanto sua voz.

Quando ele levantou-se, Ariel abaixou sua cabeça, de forma que não pudesse ser vista se ele olhasse para a janela. Porém, permaneceu dando espiadelas.

– Capitão, é que eu pensei que você quisesse fazer sua barba.

– Sim, seria adequado. – seu tom de voz parecia educado, para logo depois ser rude novamente: - Mas não me interrompa quando eu estiver ao piano, entendeu?!

A sereia espiou novamente e viu o Capitão erguer o outro com seu gancho para soltá-lo novamente e suspirar, ajeitando os cabelos.

– A menos que aquela peste apareça.

O pirata roliço começou a revirar rapidamente as gavetas, e o Capitão sentou-se numa cadeira, esperando o outro. E, finalmente, Ariel conseguiu ver seu rosto. Olhos azuis, incrivelmente belos refletiam uma maldade e uma astúcia inigualável, os traços fortes e firmes, a pele levemente morena devido ao sol, porém até clara para um pirata, os lábios cerrados e as sobrancelhas davam-lhe firmeza no olhar. Ele era tão belo que assemelhava-se mais a um príncipe. E o gancho no lugar da mão lhe parecia ideal, era como se a hipótese de ter duas mãos lhe parecesse incompleta.

– Estamos sendo observados. – ergueu-se.

Ariel, jogou-se na água instantaneamente e afastou-se um pouco, submergindo-se.

– Deve ter sido apenas uma gaivota, Capitão.

– Uma gaivota muito bisbilhoteira. – rosnou.

Ariel arfou e pensou em como fora, realmente, bisbilhoteira, quando na verdade deveria apenas ter devolvido o que não lhe pertencia. Entretanto, quase não deu tempo para culpar-se, pois logo ouviu uma gritaria do navio.

– Três graus a estibordo! Preparar! Apontar! – ela sabia o que viria a seguir e estava quase tremendo de ansiedade. – Fogo!

Ela avistou no céu um menino fazendo peripécias, desviando das bolas de canhão e distraindo os piratas, enquanto dois meninos e uma menina, voavam desajeitadamente, tentando se refugiar. A menina, sem dúvidas, era a Mamãe da vez.

Ariel nadou seguindo a menina, e acenou para ela, enquanto gritava:

– Olá, Mamãe! Olá!

Ela adorava a ideia de escolher meninas e chamá-las de Mãe. A sereia perdera a sua muito cedo e chegou a invejar o menino que arrumava mães. Ele lhe parecia muito esperto.

A Mamãe sorriu e parecia encantada, acenou de volta, mas logo voltou a voar para seu destino. Era mesmo encantador chamar uma menina mais nova do que você de Mamãe, é algo surreal.

Logo depois, Ariel começou a boiar olhando para o céu. Quantas coisas aconteciam na superfície... Ela espionara navios, achara e bebera sangue de demônio, farsara ser uma sereia da ilha, vira uma luta entre canhões e um menino que voa, falara com uma menina chamada Mamãe e... E não conseguia parar de pensar no intimidador Capitão.

Tantas aventuras para tão pouco tempo... Tão pouco tempo? Quanto tempo ficara ali?!

Ariel nadou velozmente para o portal por onde veio. Seu pai iria castigá-la para sempre. Esquecera de seu recital. Esquecera. Esquecera.

Dessa vez ser lançada não foi tão divertido, pois em nenhum segundo deixou de nadar. Quando chegou ao palácio, seu pai já a esperava com uma expressão rígida. Jogou sua bolsa para trás das costas e disse:

– Papai, eu sinto muito! O senhor sabe como sou esquecida, eu realmente não quis decepcionar o senhor e...

– Mas decepcionou, Ariel. Você saiu do castelo sem permissão e faltou ao recital que tanto esperei para ver. Onde você esteve?!

– Eu? Eu estive apenas distraída, nadando e...

– Ariel, você esteve fora do mar?!

– Não, papai.

– Não minta para mim! – ele estendeu a mão e puxou uma pequena planta do cabelo da filha. – Esta planta não é aquática.

– Deve ter caído na água e...

Ariel pensou nas desculpas mais rápidas que podia. Mas na realidade, deveria ser uma planta que estava sobre a pedra.

– Você está estritamente proibida de ir à superfície e sabe disso! Estritamente proibida de sair deste reino! Eu estou te protegendo e tudo o que você faz é bancar a adolescente! Não me obrigue a fazer algo pior! Entendeu?

– Sim, papai.

Ela abaixou a cabeça e escondeu-se no único refúgio que tinha dentro daquele reino. Uma caverna cheia de coisas que não pertenciam ao seu mundo. Ariel pensou em colocar ali o frasco, porém, ainda insistia na ideia de devolver. Entretanto, ela não poderia desobedecer as ordens de seu pai de forma tão clara e óbvia. Então lembrou-se a forma como atuara com as sereias e pensou que se talvez atuasse com seu próprio pai, talvez ela pudesse continuar viajando entre os mundos e ele nem ao menos desconfiasse.

****

No dia seguinte, Ariel procurou seu pai para reforçar suas “desculpas”.

– Papai, eu só queria me desculpar novamente. Eu compreendo que o senhor só quer me proteger e me manter bem. Prometo que nunca mais voltarei à superfície.

– Que bom que entende, Ariel.

– De qualquer forma, obrigada. – sorriu e abraçou-o. – Bom dia, papai!

Ele surpreendeu-se com a atitude da filha mas ficou satisfeito. Observou-a, saudar as irmãs e colocar flores no cabelo de cada uma, que pareciam tão surpresas quanto ele. O Rei Tritão, então perguntou a mais velha de suas filhas:

– O que há com ela?

– Papai, temo em dizer, mas... Acho que ela está apaixonada.

– Apaixonada? – ele ergueu as sobrancelhas alvas. – Um casamento seria bom para ela.

****

– Ariel, minha filha, fico contente que esteja feliz com sua decisão.

– Decisão?

– Sim, compreendo que esteja apaixonada e estou providenciando tudo o que precisar. Será o casamento mais bonito em séculos.

– Casamento? Papai, não estou apaixonada.

– Não precisa negar, minha filha. Eu lhe apoiarei. Agora diga-me, quem é o tritão que tomou-lhe o coração?

– Papai, não é um tritão. – ela pôs as mão sobre a boca, como se não acreditasse no que acabara de dizer.

– O quê?! Você está insinuando que está apaixonada por um humano?! – o rei ficara vermelho de raiva.

– Não, papai! Não é verdade!

– Ariel, eu lhe avisei! Eu cansei de lhe avisar!

– Não estou apaixonada!

– Eu disse para não mentir para mim. Agora é tarde demais!

Um dos maiores defeitos do Rei Tritão era que tomava decisões precipitadas, sem consultar envolvidos, não ouvira uma palavra do que a filha disse depois de “não é um tritão”.

A sereia estava assustada, tanto por ter dito que não estava apaixonada por um tritão, como por não saber o que seu pai faria. Para sua surpresa, seu pai nadou diretamente para o lugar que mais gostava no reino, lugar o qual ela pensava ser a única a saber, e assistiu seu pai destruir todo o seu refúgio com seu tridente.

– Eu até mesmo suportei que você tivesse essas coisas, mas falar com humano, que dirá estar apaixonada por ele, não! – ele disse, após destruir tudo.

Ariel olhou-o sentindo muita raiva, mas não aguentou, e logo pôs-se a chorar. Seu lugar favorito, sua coleção que demorara tanto tempo para juntar.

Porém, quando seu pai foi embora, ela levou as mãos a sua bolsa e tomou um gole do rum que insistia em chamar em sangue do demônio. Até chamaria Ariel de coitadinha, mas ela não era. Com aquele golinho teve certeza de que aquele não era seu lugar favorito. Seu lugar favorito era Neverland. E de lá, ela não voltaria para seu reino nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha sido agradável, até o próximo capítulo.