Safe and Sound escrita por Aline Martins


Capítulo 5
Capítulo 5 - Annie


Notas iniciais do capítulo

Maldito suor em meus olhos! hahaha Foi difícil escrever um capítulo tão intenso assim. Acho que eu mesma estou me odiando por me fazer chorar. ¬¬
Mas enfim, esse capítulo precisava acontecer...
Sem mais delongas, preparem os lenços.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468357/chapter/5

A noite descia escura e pesarosa na Cidade 4. O mar não dava trégua e sua brisa levantava areia por todos os cantos que tocava. Uma casa de vidro, completamente límpida e moderna jazia próxima as areias mais brancas da Praia Mockingjay. Nome dado por políticos da região após a grande revolução chamada Guerra dos Tordos.

A lua estava clareando seu quarto, mas isso não era o que atrapalhava seu sono. Memórias a respeito de seu falecido marido emanavam em sua mente como flashes de luz. Imagens lindas formavam em sua cabeça, fotografias que jamais poderiam ser registradas. Ela possuía em sua gaveta somente uma foto do seu casamento, o que suficientemente, a permitia sonhar.

Annie se lembrava do sorriso de Finnick ao proferir lindas e sinceras palavras no dia de seu casamento. Aquele dia, sem dúvidas, foi mais mágico do que pudera lembrar. Cada atitude que Finnick tomava eram suficientes para ter a certeza de que pularia com tudo nesse amor. O toque suave e quente em seu rosto a fazia relembrar de como as mãos dele eram firmes e deliciosas. O romantismo que seus olhos sedutores transpareciam transformava qualquer inocência em um desejo urgente. Aquele homem era quem iria passar o resto da sua vida, quem ia se entregar de corpo e alma, quem construiria uma família ao lado e lindos filhos cujos rostos só deveriam puxar ao pai. Tudo o que eles queriam era poder viver em repleta paz e felicidade.

Finnick não era lindo, era estupidamente perfeito. Annie se lembrava de como já foi fonte de disputas e desejos por todas as mulheres da Capital, mas não era de sua beleza que sentia mais saudade. O que fazia falta eram suas palavras de conforto, sua prudência e respeito, o calor de seu abraço, toque de seus lábios, sua amizade e seu eterno amor. Desde de o primeiro dia que se viram, Annie tinha a absoluta certeza de que o amaria para sempre. "Por que você foi embora, Finnick?" Pensava pesarosamente ao lembrar de sua promessa "Annie Cresta, vou permanecer eternamente ao seu lado." Como consequência de suas lembranças, desatou a chorar fazendo o silêncio de seu quarto quebrar. Sem ter muita noção de seus instintos, sentou-se na cama fria e vazia, agarrou seus joelhos e os abraçou acomodando seu queixo sobre ambos. Uma forma de se proteger do que estava lá fora, mesmo sabendo que a bagunça era dentro de seu coração.

Não sabia quanto tempo estava ali, parada, intacta, sem perspectiva de seguir em frente, perdendo a vontade de viver e desejando se entregar a loucura. Secretamente uma resposta de que ela não podia desistir quebrou seu choro, Finnick Júnior pôs se a gritar em alto e bom tom. Annie teve que erguer todas as forças que claramente não tinha e se levantar da cama. Passos apressados de uma mãe preocupada foram acolhidos com um lindo sorriso de neném.

– A mamadeira já está pronta, meu amor. - Disse Annie ainda secando algumas lágrimas. Enquanto preparava o leite do pequeno menino, perdera o foco algumas vezes por tantas lágrimas que saíam de seus olhos. Quase não conseguia enxergar, mas aprendeu a se recompor rapidamente.

O bebê ainda não sabia falar, era muito pequenino ainda, mas deu a sua mãe um sorriso desdentado e envolvente.

– Igualzinho seu pai, né bonitão? - Annie o acolheu em seus braços. - Querendo encantar a mamãe com sorrisos! - A criancinha minúscula parecia ter entendido o recado e deu uma gargalhada longa e gostosa.

Annie prontamente o ajeitou mais confortável e colocou o bico da mamadeira em sua boca. Ela daria tudo para poder amamenta-lo em seu peito, mas estava tomando medicamentos fortíssimos e o médico foi bem claro ao dizer que prejudicaria em demasia a saúde do bebê. Olhando para aquela criança linda com características evidentes de Finnick, decidiu brincar com ele.

– Cadê o bebê da mamãe? Cadê?! - Annie fechava fortemente os cílios e os abria novamente. Júnior parecia amar a brincadeira e pronunciava palavras inteligíveis.

– Você é a coisa mais incrível que já fiz, sabia? - sussurrou Annie.

Após uma longa mamada, choramingas vieram a seguir mas logo Finnick dormiu.

Annie caminhou sobre leves passos até a cama. Sabendo que no instante em que deitasse iria lembrar de tudo novamente, hesitou ao chegar em seu quarto. Lembrou de seus comprimidos na mesinha e aliviou-se. A fim de bloquear seus pensamentos e também ciente que o bebê não iria mais acordar até o nascer do dia, tomou dois comprimidos e caiu em um sono pesado e sem sonhos.

Ao acordar, olhou pela janela e viu as ondas do mar se quebrando calmamente. A cor da água estava particularmente familiar. "Os olhos de Finnick. Pelo visto você está em todo o lugar, inclusive no mar." Segurando suas lágrimas, foi lentamente preparar o café. O efeito colateral dos remédios era algo sobrenatural, seus músculos não aceitavam ordens diretas do cérebro, sua fala ficava um pouco afetada e seus reflexos jaziam lentos. Aquilo iria passar logo após uma boa dose de cafeína.

Enquanto Annie dava longos goles em sua xícara aquecida pelo café, escutou a campainha tocar.

– Johanna? - Annie não esperava sua visita tão cedo.

– Annie, olha só, você está ótima! Super bem! - Johanna quis parecer o mais amigável possível. - Desculpe aparecer assim, de supetão. Faz mais um menos uma semana que os médicos deram alta pra você e para o Júnior, não é? - Respirou fundo. - Bem, você sabe que eu sou impulsiva, precisava vir aqui e descobrir como vocês estavam. - Johanna demonstrava piedade em seus olhos acolhedores.

– Não, Johanna. Claro, tudo bem. Obrigada por se preocupar. Ele ainda está dormindo, mas dá para dar uma espiadinha. - Annie se animara ao ver que a casa se agitaria com a presença hiperativa de Johanna. - Entre, fique a vontade, por favor.

– Obrigada Annie. Vim aqui dar uma espiadinha e cuidar de vocês. - Johanna piscou para Annie e entrou observado a incrível vista ao seu dispor.

– Linda vista, não? - Annie completou, percebendo o quanto Johanna estava boquiaberta.

– Meu Deus, isso é incrível! Eu só vejo floresta e mato na minha cidade. - Disse Johanna.

– O mar está da cor dos olhos do Finnick. - Annie dissera mais como um pensamento alto do que para complementar o diálogo.

– Oh, Annie. Isso deve estar sendo tão difícil pra você. - Annie podia jurar que Johanna estava com lágrimas nos olhos.

– É, Johanna. Só eu sei como é. - Suspirou a viúva, dolorosamente.

– Mas então deixa eu preparar um sanduíche para nós e conversamos.- Johanna foi logo adentrando a cozinha, pegando pães de forma e geleia de amendoim. - Mas então, você está tomando os medicamentos?

– Sim, mas é complicado Johanna. Esses remédios tem efeitos colaterais e me deixam grogue. Fico triste e depressiva a maior parte do tempo. Me preocupo com o que eu possa estar transmitindo ao bebê. - Annie expirou fundo e continuou. - Tem momentos em que eu quero surtar, colocar as roupas do Finnick em meu corpo para sentir seu cheiro, ouvir alto suas músicas preferidas e cantar, gritar e chorar. Fingir que ele ainda está aqui. - Lágrimas percorriam o rosto da jovem mãe.

– Eu entendo. - Johanna segurou uma das mãos de Annie. - O que você acha de fazermos isso? Eu estou aqui, posso cuidar do Finnick Júnior. Posso deixar você pirar que não vai ter problema. O que me diz?

– Não, Johanna. - Annie secou as lágrimas. - Foi só um modo de falar mesmo.

– Que isso, Annie. Você precisa liberar essas emoções! Vamos! Onde estão as músicas que o Finnick escutava?

– Não Johanna, não é uma boa idéia. Vai acordar o bebê.

– Para com isso Annie, me diz, onde está? De qualquer forma Finnick vai ter que precisar trocar a fralda uma hora ou outra e tomar um banho. Daqui a pouco ele vai acordar.

– Ali. - Apontou Annie, sabendo que não conseguiria fazer Johanna mudar de idéia.

– Ótimo! Cadê as roupas dele? - Johanna se animava ao tentar ajudar.

– Johanna... acha mesmo que isso vai ajudar? Eu não sei, quero ficar em paz, mas isso não parece certo.

– Annie, cada pessoa age sobre essas coisas de uma forma. Você está falando com a expert em perder pessoas amadas, lembra? Você só vai saber se tentar.

Johanna recolheu as músicas de Finnick e suas roupas do armário. Algumas vestes estavam ainda com seu perfume. Ela não quis se abater. Não agora, naquele momento. Precisava ser forte para Annie e ajuda-la a superar isso.

Ao trazer as roupas de Finnick, o coração apertado de Annie encolheu. Desde que se mudara para lá, não tinha tocado em suas coisas e foi tão difícil vê-las que lágrimas formavam linhas tortas em seu rosto, mesmo sem terem autorização de caírem, se desmanchavam no chão.

Rapidamente Annie tirou as lágrimas de seu rosto e disse a Johanna que poderia jogar tudo fora, menos seu moletom preferido. Finnick amava aquele moletom, mais pelo o que significava do que pela sua estética. Annie tinha o presenteado.

10 anos atrás.

– Como você acertou? - Finnick sorria para o presente. O media de cima a baixo como se fosse o objeto mais lindo que vira em toda sua vida.

– Ah Finnick, não sei bem. Você sempre me diz que adora o inverno e que mal podemos senti-lo aqui no nosso distrito. Quis dar algo para se lembrar de mim quando vierem os raros dias frios.. - Annie esboçava um sorriso tímido e bochechas coradas.

– Que linda, obrigado! - Finnick, em um impulso abraçou Annie, encostou seu rosto próximo ao dela que ao respirar a fazia sentir cócegas. Sem timidez da parte do menino, um beijo rápido e secreto foi selado nas quentes bochechas de Annie.

– Então tá, pegue o moletom. - Disse Johanna a trazendo para a realidade.

Annie colocou a confortável vestimenta, sentindo por um momento a pele e o perfume de Finnick. A sensação era mágica como seu abraço e toque. Queria chorar, mas não estava pronta ainda.

– Liga a música, Johanna. E me dê algo forte para beber.

– Mas e os remédios? - Johanna contrapôs.

– Não me importo, eu preciso disso hoje. - Exasperou Annie. Prontamente Johanna a atendeu.

A música era alta e inebriante. Annie permitiu se esquecer de tudo. Johanna a deixou sozinha e foi banhar Júnior.

A menina mulher cantava e dançava, lembrando de todos os momentos que Finnick estava lá para pular ao seu lado. Lembrou de sua infância, adolescência, os jogos e a guerra. Chorou lágrimas que tinha e não tinha. Olhou para o grande espelho da sala e só conseguiu sentir pena de si mesma ao ver o tamanho do moletom em seu corpo, aquilo a cobria até os joelhos. Seu cabelo estava com um aspecto bagunçado a seu rosto estava o dobro do tamanho. Seus olhos aparentavam estar inchados e vermelhos e sua voz estava indescritível de tão rouca. Mas em nenhum momento, quis desistir. Aquilo a estava libertando e deixando Finnick ir.

A sala parecia girar. Annie olhou para a garrafa de bebida e viu que tinha tomado metade sozinha. Se deixou cair pela exaustão e deitou no tapete felpudo e branco da sala. Passara horas, provavelmente, cantando, dançando, chorando e imaginando Finnick ali.

Sem conseguir pensar em mais memórias, pode jurar que ouvira a voz dele dizendo que a amava. Uma última lágrima caiu, deslizando em seu rosto, sem pressa. Juntamente a ela veio a promessa de que seria a derradeira crise de abstinência por seu amado. Chega de lágrimas. Não havia mais nada que pudesse partilhar sua dor. Não queria deixar mais o luto e a tristeza adentrar sua vida, queria se esforçar para cuidar de seu filho e não deixar a depressão tomar conta de todo seu ser. Sabia que seria difícil, afinal, conhece Finnick sua vida toda. Isso era muito mais do que perder o marido, isso era perder seu grande amor, seu amigo, seu confidente e amante.

Annie sabia que chorar sua falta não o traria de volta infelizmente. "Vou ser forte." Faria isso pelo amor de sua vida e pelo amor que Finnick sentiu por ela. "O eterno amor da minha vida." Pensando em suas últimas promessas e ciente de um novo amanhã, Annie adormeceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? *-*
Gente, não deixa de comentar pra eu ter o feedback de vocês, ok?
Beijos,
Line.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Safe and Sound" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.