Safe and Sound escrita por Aline Martins


Capítulo 42
Capítulo Final


Notas iniciais do capítulo

Demorei. Eu sei. Fiquei em "hiatus" todo esse tempo pelo bloqueio criativo, mas aqui trago para vocês o final da Safe and Sound. Espero que gostem! Para acesso as minhas outras fanfics, acesse o meu perfil do Nyah! s2

Agradeço a vocês pela paciência e por terem me esperado. Peço muitas desculpas mesmo, mas eu não conseguia forçar a minha mente a trabalhar em S&S. Mas, acho que vou compensa-los com o final da história ^^

Um grande beijo e vejo vocês por aí. :)



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Tempos depois

Katniss estava muito mais do que ansiosa. Seu coração açoitava contra o peito de uma forma que mal conseguia captar as batidas; ainda que estivessem lá, lembrando que por mais que ansiasse morrer junto às pessoas que se foram, a vida lutava para mantê-la respirando. E, diferente das emoções costumeiras referentes ao seu passado como a dor, perda, angustia e temor, hoje ela se sentia surpreendentemente feliz. Uma emoção que só podia ser causada pelo amor, redenção e vivência de novos momentos. Uma emoção que só poderia advir de Peeta Mellark.

Era certo que a garota em chamas, em seu passado, não poderia sonhar com um futuro promissor. A única coisa que passava na mente era a certeza iminente da sua morte e a ansiedade de salvar a sua irmã. A luta, a razão de tudo, tornou-se preservar as pessoas que amava, algo lógico e contra a própria sobrevivência. Embora não tivesse sido suficiente a sua guerra (acerca do seu ponto de vista) e isso a atormentasse bruscamente até os dias de hoje, Katniss tentava, após sua batalha psicológica, encarar a situação com outra perspectiva. Era difícil. Ela se cobrava todos os dias para não falhar e encontrar a perfeição. Os traumas existiam e os pesadelos estavam lá, contudo a menina das flechas acreditava e sabia que não era apenas ela que possuía essas cicatrizes. Peeta também as tinha, assim como todos os envolvidos com o passado obscuro da Panem. Ela sabia em seu interior que todos sofriam. Porém havia algo muito maior no ambiente, que conseguia, de sua forma, cobrir essas cicatrizes e mascarar o sofrimento. A felicidade estava lá e era palpável.

A cerimônia era para ser algo simples em sua essência. Mas, Effie Trinket Abernathy havia dado o seu toque mesmo que a Everdeen insistisse para manter o roteiro dos casamentos do distrito doze. Agora, a cidade doze, tinha outro padrão cerimonial, repleto de floreios e grandes realizações. Fora dito a Effie que este processo complexo não era necessário e ela havia acatado, em partes. A esposa do prefeito queria algo a mais para os amantes desafortunados, que em sua mente chamava-os ocultamente de amantes afortunados, e ela não poderia fazer isso “mantendo o simples. Haymitch alertou que escutaria bons xingamentos da noiva, contudo, ela sabia que por mais cética que Katniss fosse não deixaria de se emocionar com o que havia preparado.

Annie estava mais comovida do que deixava transparecer. Finnick estava em seu colo e arriscava algumas palavras novas e completas, inovando também sua opinião sobre os brinquedos, deixando a atenção para os mais coloridos. Ele parecia desenvolver muito bem e era esperto demasiado. Sobre sua aparência, a cada dia a semelhança ao seu eterno esposo tornava-se mais evidente. Os cachos loiros eram a identidade que não poderia faltar e os lábios estavam carnudos igualmente. Era incrível como alguém poderia se parecer tanto com seu pai e trazer quase nenhuma característica da mãe. Quando Annie o olhava, chegava a pensar que Finnick vivia em uma parte do Júnior e quando os olhos verdes do pequeno ser brilhavam, ela compreendia que cinquenta por cento de quem seu marido era, sempre estaria lá.

— Eu preciso verificar a Katniss. — Johanna disse a Gale.

O moreno estava usando a sua farda social de melhor porte. O exército da Panem havia deixado que ele se aposentasse precocemente, ele havia passado por muito nos últimos meses e queria sossegar ao lado da mulher que estava apaixonado. Johanna não pretendia ficar, talvez, o resto do tempo na cidade doze, e eles haviam se planejado para a mudança após o casamento da Katniss com o Peeta. Parecia promissor começar em um lugar novo, verificando pessoas diferentes e sentindo-se renovado. Johanna já não pensava mais em Enzzo e Gale não encontrava motivos para ciúmes, ainda que se experimentasse duplamente cauteloso. Gale cuidava as saídas de Johanna, temendo um contato do filho de Snow, preocupava-se com a segurança dela e sua namorada não reclamava. Estava tudo bem, enfim. E parecia que tudo ficaria bem por um longo tempo.

— Você acha que ela está nervosa? — perguntou Gale.

— Acho que ela está bem. — sorriu. — Garanto que está, mas ainda sim quero vê-la.

Quando Johanna foi para a pequena sala onde Katniss aguardava a autorização da sua entrada, Annie, Delly e Effie estavam lá, empolgadas com a perspectiva. A noiva estava incrivelmente linda, com um modelo de Cinna guardado a setes chaves na Aldeia dos Vitoriosos. Johanna sentiu-se emocionar quando notou a peça. Embora não conhecesse a fundo o estilista, sabia que para Katniss ele fora uma pessoa importante.

Gale havia prometido que veria como Peeta estava enquanto Haymitch encontrava-se em algum ponto da entrada, conversando e socializando com pouquíssimos convidados. Alguns amigos de Peeta e clientes da padaria, outros conhecidos de Haymitch. Para Katniss, apenas a sua mãe havia vindo. Não havia a necessidade de muitas pessoas a cerimônia era bem privada.

O vestido da morena de olhos cinzentos não poderia narrar melhor a sua personalidade. Dentre tantos modelos, Cinna havia feito alguns não tão influentes sobre a moda da Capital antiga, descrevendo melhor as características de Katniss do que a própria ansiedade dos telespectadores. Um dos vestidos que Katniss tinha em seu corpo era exatamente como ela poderia sonhar. O tecido era leve e cobria as cicatrizes que ainda adornavam seu corpo; poucas, no entanto. A Capital teve o seu trabalho para cobri-las, as restantes eram apenas as remanescentes a guerra. O grande e branco tecido prendia-se em sua cintura e o corpete deixava justo o seu corpo diminuto, que atualmente não era tão fora das curvas como em sua adolescência. Observando o reflexo no espelho, Katniss sabia que Effie tivera um ótimo trabalho na sua trança e a maquiagem deixava apenas um pouco mais bonita, porém suficientemente apresentável.

— Você fará a cerimônia do pão? — perguntou Annie, referindo-se a tradição da cidade.

— Sim. Peeta fizera pela manhã. — disse ela, com um sorriso no rosto. — Ele gostaria que fossem especialmente feitos por ele.

— Isso diz muito sobre a personalidade do nosso garoto. — Effie consentiu, emocionada. — Estou tão feliz.

— Todas nós vemos a personalidade doce de Peeta, Effie. — sibilou Johanna, rolando os olhos.

Elas riram um pouco.

Em um terno elegante feito pelo costureiro do prefeito, Peeta estava impecável. Era bem verdade que suas mãos tremiam, audaciosas demais para acompanharem o que sua mente buscava encontrar: A tranquilidade. As memórias sobre a sua infância e adolescência vieram seguidamente nos últimos dias, relembrando-o das vezes em que vira a garota das traças embutidas caminhar pelas miseráveis ruas do doze. Mas, agora, a presença viva das lembranças dava-lhe vontade de sorrir.

Sobre a realidade de Peeta, era certo muitas vezes que ele ansiara levar a garota fechada, do coração de pedra e melodiosa voz, para um altar no centro político da cidade. Era assim que as pessoas se casavam nos distritos e era assim que ele tinha intenção de fazê-lo. Por mais que em sua mente havia certa ansiedade com a cerimônia do pão, o garoto da padaria idealizava que dizer os votos à pessoa que ele amava seria muito mais gratificante do que o próprio ato em si. Ele sonhava em contar em voz alta o quanto amava Katniss. Dizer para todos que por mais que ela fosse uma pessoa fechada, tinha o coração bom, pois cuidava intensamente da irmã mesmo durante a depressão da mãe. Peeta via tudo sobre Katniss. Algo além da força em acertar um esquilo no olho ou saber fazer armadilhas decentes para salvar a família da fome. Ele via esperança. E se alguém que ele fosse apaixonado por tantos anos pudesse fazê-lo ver que a batalha não estava na guerra, mas sim na luta, ele poderia ensinar sobre o que sabia: O amor incondicional.

Seu humor autodepreciativo nunca deixou fazê-lo, embora. A situação piorou quando a assistia ao lado de Gale. Por mais que isso tudo fosse passado, ainda sentia-se estranhamente mexido. E, bem, tiveram tantas brincadeiras sobre o casamento com Katniss — em apenas uma figura mal feita de uma vassoura com um pano preto sinalizando o cabelo trançado —, que sua amiga Delly havia cansado de casa-lo inúmeras vezes. Quando Peeta se sentia estranhamente enciumado, Delly lembrava-se das peripécias infantis e dizia: Sobre Gale e Katniss... Você já está casado com ela, lembra?

Isso era o bastante para fazê-lo rir e sentir-se mais aliviado. Afinal, ele já fizera isso tantas vezes no passado que havia perdido as contas. Agora, no entanto, seria para valer. A menina do canto dos pássaros seria finalmente sua.

Haymitch entrou na sala de Peeta e chamou-o para conversar com o juiz de paz. Embora o prefeito se sentisse orgulhoso do rumo do relacionamento de Peeta e Katniss, sempre temia por Peeta. Ele era um rapaz muito doce e se magoava facilmente. Claro que havia se acostumado com as verdades nas palavras de Katniss, mas ainda sim, o homem temia por seu garoto. Haymitch havia se apegado demasiadamente a ambos e não parecia encontrar uma forma de trata-los se não como seus próprios filhos.

— Você precisa ficar mais tranquilo, Haymitch. — garantiu-lhe Peeta, como se lesse os seus pensamentos. — Posso afirmar com toda a certeza que ela me ama. Katniss, dessa vez, sabe que o que temos é real.

O velho homem sorriu e o abraçou com toda a força que lhe restava.

===

A manhã estava quente aquele dia, mas nada parecia abordar uma temperatura tão elevada quanto o coração das duas pessoas que selariam finalmente seus sentimentos. A cidade tinha cheiro de flores e a primavera dava a cara em estação gloriosa, lembrando Katniss das frutas que colhia com a época e as flores onde encontrava os mais deliciosos tipos de chá. Os animais pareciam crescidos e melhor alimentados nesse tempo e era o verdadeiro o sentimento de paz e calmaria que se sentia. Além do amor exercido pelas duas pessoas presentes na cerimônia, nada parecia tão bonito quanto a primavera.

As próximas a Katniss levantaram a parte de trás do vestido e ergueram para que ela pudesse caminhar. Suas mãos subitamente ficaram ansiosas e as prímulas que ela carregava como buquê entre os dedos trêmulos estavam cumprindo seu trabalho com a fragrância mais doce.

— Pronta? — perguntou Effie.

Ela se sentia honestamente preparada.

A verdade absoluta sobre o amor nunca poderia ser narrada. Não em um romance como os quais Peeta e Katniss viveram. Um rapaz que a amava desde jovem teria o seu momento feliz, finalmente, após uma luta pelo amor, pela sobrevivência, sua identidade e força. Pelo lado de Peeta Mellark a coisa fora nublada, enegrecida e dolorosa. Ainda sim, gratificante. Katniss mesmo o amando agora, não enfrentou todos os porquês de anos de paixão platônica, mas isso não a fazia menos apaixonada. Ela sabia, embora seus sentimentos estivessem finalmente equivalentes, que Peeta tinha vantagem sobre o amor. A única forma de amor que a garota em chamas conhecia era por sua irmã e, esse sentimento, enraizado para sempre em seu coração, seria quase tão profundo quanto o que Peeta estava disponibilizando a ela. No fundo de sua alma, compreendia que não haveria nada que transpasse algo que fora tão sofrido para ser conquistado e ela encontrava-se feliz pela batalha, finalmente feliz, quando saiu das portas da pequena sala e ambas abriram-se para que ela entrasse.

Apesar de ainda sentir que grande parte de si estava vazia, ao olhar Peeta esperançoso por ela do outro lado, soube que o coração havia se completado. Como um fluído viscoso e profundamente complexo, sentiu-se cheia de amor, cheia de vida e subitamente agradecida pelo fato de ter escolhido o seu dente-de-leão. Era ele, por que ela sequer havia duvidado disso?

Os cabelos volumosos e os cachos loiros cobrindo boa parte da testa de Peeta diziam que ele deveria ter se preocupado com o corte antes de se casar, mas a verdade pura acerca disso era que apenas ele não pensara em si próprio. Pensara oposto a isso, na beleza que Katniss iria estar com o vestido de noiva que, de fato, havia apontado que Cinna não errara. Para o garoto — que agora já não poderia ser caracterizado tanto assim —, Katniss era a pessoa mais incrível que poderia sonhar e não havia nada tão interessante, surpreendente e encantador quanto vê-la pronta para adquirir seu sobrenome. Ele, lembrando-se dos seus sonhos infantis, deixou que uma lágrima caísse.

Sentiu que sua mente, por mais que lutasse, também carregava imagens ruins de Katniss e seus momentos equivocados como bestante, porém ele lutava contra isso e conseguia clareá-las, tonando tudo mais real quando a encarava de verdade. Ela era ainda a garota das tranças, do canto dos tordos e das trocas na padaria. Para Peeta, evidente que ia além disso tudo, seu coração acelerava e suas mãos suavam frias, mas a sensação boa e ruim conflitantes em seu âmago o deixavam inteiramente ciente. A Capital não havia tirado o seu amor. Tentou, entretanto, mas ainda batia fortemente em todos os pontos do seu corpo.

O juiz de paz manteve a cerimônia simples, como Katniss havia pedido. Porém, ainda sim, ela reparou que a decoração estava exagerada para os padrões que ansiara, mas, assim que Effie havia piscado em sua direção discretamente, não necessitava de muito para compreender que tudo honrara o seu toque ali. Fossem as flores azuis claras fazendo um caminho ao chão onde a noiva pisava, os detalhes do salão com os quadros de Peeta, incluindo o que ele fizera pensando no passado de ambos e no futuro, a história deles sendo tocada por uma pequena orquestra em uma música sem voz, a postura intricada de Haymitch. Gale e Johanna sentados à frente enquanto Annie somada a eles serviria de testemunha. Toda a elegância do ato a deixava notar que toda a vez que pedisse ajuda a Effie, ela não seguiria a risca os seus contentamentos.

Com a mão firme a de Katniss, Peeta a guiou até o seu lado.

— Você está espetacular, Katniss.

Ela sorriu em resposta.

Os votos de ambos foram ditos tendo como plano de fundo algumas lágrimas, mas não composta pelos noivos. Ambos ressaltaram a guerra, as perdas, a dificuldade em poderem ser eles mesmos, a tristeza. Mas, também narraram à felicidade, a vitória, a ansiedade de resolverem-se tornando tudo mais real e descomplicado. Prometeram coisas um ao outro que as pessoas anseiam exorbitantemente em encontrar. Algo sobre o amor, os sentimentos, as verdades e o para sempre. Peeta fora muito melhor em seu discurso longo, porque suas palavras saíram com a naturalidade de alguém que treinara muito e sabia de cor. De fato, ele havia decorado a declaração doce e simples porque ele carregou a primeira declaração de amor ao altar — que havia decorado quando criança —, ele se sentia surpreendentemente acostumado a isso. Katniss não fazia ideia quantas vezes ele já havia dito aquelas longas e significativas palavras. Porém, como primeira ressalva da importância, ele citou ao final a idade em que escrevera aquilo e como foi apenas um dia antes de eles irem para os Jogos Vorazes.

A emoção tomou a pequena plateia, inclusive a mãe Everdeen. Ninguém conseguia conter as emoções sobre um texto decorado de Peeta no dia do seu casamento. Um texto que havia escrito e prometido lhe dizer independente da resposta, mas que fora fraco e, igualmente, não tivera tempo para ser o herói do seu coração.

Os anéis agarrados ao dedo anelar simbolizavam o caminho até o coração. Eram alianças bonitas, que poucas pessoas podiam comprar, mas Peeta prometera a si próprio que não deixaria algo que simbolizasse o eterno ser de pouca valia. Katniss, por sorte, não era em nada uma mulher que compreendia do valor de pedras preciosas. Ele suspeitou que pudesse ter dado algo como ferro para ela em um formato surpreendentemente bonito ou um diamante bruto, ela encontraria a emoção ali da mesma forma.

— Eu aceito. — disse Katniss, ao final da cerimônia.

Beijar os lábios de Peeta, para ela, ainda trazia um prazer difícil de mensurar em palavras. A boca, do seu agora marido, abalava suas estruturas e deixava-a embasbacada. A mistura surpreendentemente de suas línguas e fogo cruzado correndo como larvas em suas veias completavam a incoerência dos seus pensamentos, e Katniss deixava aquilo vir. Sabia, no entanto, que sempre teria essa reação ao beija-lo, do começo dos dias aos finais.

Johanna, naquela celebração de casamento disse a Gale, bem baixinho, que poderia estar grávida. A ideia de formar uma família já vinha na mente de Gale. Ele sempre quisera ter filhos, formar uma família e mostrar seus princípios, dividir a casa com uma mulher que ele amasse e que pudesse ama-lo de volta. Evidentemente que Johanna era um relacionamento ainda complicado, porém ele teria de lutar por três agora, se as afirmações confirmassem. De certa maneira, isso o deixou inacreditavelmente feliz. Johanna, pela reação do namorado, soube que ele a amava.

O bebê Finnick — já não tão bebê assim — queria circular pelo chão e ignorar sua mãe. Effie ajudara muito Annie porque teve sobrinhos no passado e cobria a atenção que lhe era necessária. Dera-lhe dicas para a fase da mudança de dentes e a permanência do caminhar, auxiliando-a em um todo. Annie via-se maravilhada por seu filho e nunca insistira tanto em medicações para controlar os seus problemas como a motivação da pequena criança que amava incondicionalmente. Ele era a sua vida e esperança também.

— Orgulhosa deles, boneca? — Haymitch perguntou a esposa enquanto dançavam uma valsa.

Era o orgulho de um todo, sentia. A evolução de cada um, o tempo que as pessoas levaram para sentirem que poderiam viver, a realização de estarem vivos e sem preocupações, a ciência de que era necessário tempo para um fim de capítulo. Effie via as pequenas coisas e reparava, sem sobra alguma de dúvida, que todas as cicatrizes se concertariam eventualmente.

Para os recém-casados, a expectativa ia além de um final feliz. Não que fosse ser flores. Peeta ainda teria de lidar com pequenos surtos causados pelos venenos das teleguiadas e manter um tratamento com o Dr. Aurelius. E, Katniss com seus pesadelos. Mas, ambos encontrariam forças um no outro e, sem titubeios, poderiam firmar-se em uma nova etapa de suas vidas; acalentando um sentimento grande e forte, conjurando o verdadeiro em toda a forma que essa palavra poderia surgir.

Estava na hora de ambos provarem para si mesmos que a calmaria poderia vir sim após uma tempestade. Desde que Peeta fora chamado para a septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes e Katniss abalou a todos se voluntariando como tributo, não tiveram paz. Porém, era preciso muito mais do que um presidente com sede de ordem, uma população com cabelos coloridos e uma líder subterrânea da revolução para pará-los. Os sentimentos, evidentemente, demoraram a serem percebidos, mas estavam lá. A guerra foi ganha, as cicatrizes permanentes, mas nada que juntos não pudessem lidar.

Peeta sabia, com todo o seu coração, que daria a sua vida a Katniss e ela também compreendia o oposto a isso, que daria a sua vida a Peeta. A certeza de algo assim demonstra a absoluta de um amor que vai além do que qualquer pessoa possa mensurar. Para eles, o casamento era apenas uma formalidade, os destinos já haviam sido selados desde o dia em que o pequeno garotinho dos cachos loiros ouvira a voz da morena das trancinhas cantar. Eles já pertenciam um ao outro e agora, poderiam dizer que seria assim até o fim de suas vidas.

===

O homem viu a garota e sorriu. Os cabelos dela eram em um tom acastanhado e lindamente ordenado, os olhos verdes atentos aos seus passos. Ele não poderia dizer a ela quem era, mas estava feliz em estar com Julie. Sem poder sair de casa depois de muitos meses presos em confinamento, não parecia ter mais vida, embora agora tivesse uma.

Os cabelos loiros de Enzzo não eram mais loiros. Ele havia pintado de preto para disfarçar a sua identidade antiga, mas ainda continuava um homem muito belo. O hábito de deixar a barba por fazer saíra, mas Julie gostava. Ela se sentia indescritivelmente encantada por aquele homem, mesmo sendo misterioso com tudo. Enzzo, no entanto, havia prometido que diria a ela sobre quem era, eventualmente.

Ele esperava que isso não a fizesse deixar de ama-lo.

— Está tendo um casamento na prefeitura. — disse ela. — Você sabe de quem são?

Enzzo sorriu e abraçou Julie. Seus lábios se tocaram, mas afastaram brevemente.

— Sim, mas soube que é uma cerimônia privada. Trata-se de Peeta e Katniss.

Julie assustou-se.

— Sério?

— Sim.

— Nossa. — ela resfolegou, abraçando Enzzo mais forte. — O relacionamento deles passou por tanto, queria eu ter um amor que transcendesse a guerra, a perda e a afronta.

— Acredite em mim, Julie. — garantiu Enzzo. — Ninguém gostaria de passar pelo o que eles passaram. Independente de ganharem um amor eterno como prêmio final.

— Pois eu estou feliz por eles. — animou-se Julie. — Agora podem e devem ficar efetivamente juntos. Você acha que algo a mais pode acontecer para perturbar a paz?

Os olhos azuis de Enzzo correram pela praça da cidade e caíram nas crianças brincando no parquinho. Elas estavam sorrindo e tranquilas ao lado dos seus pais e coleguinhas. Nada parecia perturbá-las e Enzzo compreendia que nada o faria, embora. A cidade estava em paz tanto política quanto emocionalmente. As coisas ficariam bem, no final das contas.

— Acho que eles vão ser felizes, July. — disse ele, brincando com seu apelido. — Acho que nós também vamos ser felizes.

— Você acredita?

Ele suspirou.

— Tenho que acreditar.


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