Safe and Sound escrita por Aline Martins


Capítulo 40
Capítulo 40 - Johanna


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO 40! EM TRÊS MESES :O
Depois vocês reclamam que eu demoro pra postar rs.

Como vocês estão, meus amores? Eu estou bem, tirando alguns problemas pessoais! Mas a vida é assim, sempre perturbada.
Queria agradecer a todas as reviews que recebi, vocês são uns amores! Isso só me incentiva a escrever mais e mais.

Lara F
Lynn Fernandes

Esse capítulo é dedicado a vocês. MUITO obrigada pela recomendação da Fic. É muito importante para mim e vocês me fazem ter forças para continuar.

Sobre alguns leitores: Eu sei que vocês tem outras coisas para fazer e etc, mas eu apreciaria MUITO se vocês me dessem um feedback dos capítulos. Por quê? Bom, meramente porque um dia eu sonho em sair das fanfics e partir para o meu mundo. Quem sabe lançar algo em uma editora? Não sei, é um sonho. Nós podemos sonhar, certo? Eu preciso que me digam se estou no caminho certo para que eu tenha esse respaldo de vocês. Agradeço se puderem comentar (:

Nos vemos nas notas finais.



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– Gale!

Johanna acorda sobressaltada sentindo seu coração acelerado golpear para fora do peito por conta de algum pesadelo insustentável relacionado à tormenta das águas; possivelmente pela chuva incessante que atormenta o lado de fora. Gotas vorazes buscam adentrar a janela através do vidro, mas quando seu objetivo se torna falho, escorrega pelo mesmo, tendo o batente como destino certo.

Seus olhos logo se acostumam com a escuridão, a pequena mulher acredita que o real motivo são os lampejos de luz que adentram o quarto fazendo-a ter a noção dos objetos que decoram sua volta.

Suficientemente acordada, encara pela primeira vez os lados e sabe, subitamente, que ele não está ali.

Novamente seu peito se aperta e tateia o lado para ter certeza que o calor do corpo largo do moreno já se fora do lado do seu. Decide se erguer em um rompante – após protestos incansáveis da mente – e retira as cobertas em seguida, revelando as suas pernas nuas pela camisa larga de Gale que envolve seu diminuto corpo; o cheiro de pinho e natureza é inebriante e intermitente, como se ele jamais tivesse saído da floresta.

Com os cabelos ainda úmidos pelo suor do pesadelo, ela calça as pequenas pantufas cor creme em formato de chinelos e estica seu corpo buscando diminuir a tensão dos ombros.

Acordei como se estivesse sido atropelada por um trem. Ela pensa consigo.

– Gale? – Johanna chama novamente ao ver uma luz acesa, mas não recebe uma resposta.

4h35. Marca o relógio do corredor sem badaladas, fazendo-a praguejar baixinho por ter poucas horas de sono – as que tivera foram interrompidas por sonhos ruins.

Descendo as escadas a passos incertos, atendo a cada barulho que pudesse ouvir que não fossem os trovões e a água da chuva, Johanna não sabia ao certo o que a esperava. A sensação de perda e ansiedade invadiu o seu organismo.

– Vamos lá, Johanna. Não há motivos para temer. Está tudo bem. Desde quando você é uma mulherzinha medrosa? – ela murmurou para si mesma golpeando o ar; forçando-o para entrar em seus pulmões.

Desde quando Johanna passou pelos Jogos e perdera todos que amava, nunca mais fora a mesma. Aquela Johanna – que acreditava em um mundo doce, mesmo estando cercada pelo inferno – não vivia mais.

O medo de dar mais alguns passos e se arrepender, a ansiedade em meio à incerteza; sentimentos diversos e complexos que nunca mais foram tão presentes. Agora, pareciam inevitáveis. Johanna se encolheu por um momento, pelo medo fora de hora que sentia.

Pessoas que passaram a fazer parte da sua vida nos dias atuais derrubaram a casca grossa e armadura tremeluzente que insistia em perdurar. Hoje, diferente de ontem, ela tinha pessoas para perder, atentar e se preocupar. A vida mudara e ela, consecutivamente, mudara junto.

Agora há espaço para ser quem eu era.

Não, isso é tolice. Johanna sabia que jamais poderia ter a inocência e pureza da sua infância e adolescência. O mundo estava melhor, mas os machucados que jaziam nas pessoas não eram analisados do lado de fora. As piores cicatrizes não são vistas a olho nu.

– Gale? – Johanna questionou pela terceira vez com os últimos passos na escada, saindo de seus devaneios. Diferente das chamadas anteriores, agora a visão do homem na sala admirando o crepitar da lareira – quase como se estivesse hipnotizado – a faz dar um passo à frente.

Os músculos de Gale estão relaxados sobre a poltrona de couro marrom. Ele não se vira para olha-la. Sua mão direita segura firmemente o copo de vidro quadrado com alguma substância alcoólica, é possível perceber certa ansiedade pela falta de circulação em seus dedos – indicando que ele apertava o objeto com força. – Johanna poderia jurar que pelo cheiro, poderia ser uísque ou rum.

– O que faz acordada? – ele pergunta diretamente com sua voz rouca e impiedosa. Johanna se retrai por um instante, pela primeira vez, em meses.

– Apenas acordei. – ela dá de ombros tentando não se preocupar com o comportamento intenso e diferente do moreno. Johanna omite a parte dos sonhos malignos. – E você, o que faz pela madrugada tão sinistramente analisando o fogo?

– Algumas coisas do Exército, somente. – sua voz ameniza e Johanna suspira aliviada.

Todavia é possível perceber que algumas coisas não mudam. Gale pode ter inúmeras qualidades e alguns defeitos também, mas a sua falha está quando decide mentir. Sua voz automaticamente perde dois tons – como se estivesse buscando esconder algo em si – e subitamente Johanna sabe, ele está mentindo.

– Uhm. – soltou uma palavra, que mais soara como um gemido ruim. Caminhou até a outra poltrona marrom imposta próxima à lareira. Jogou seu peso leve e acolheu suas pernas até ficar com os joelhos postos embaixo do seu queixo fino.

Os olhos cinzentos e tempestuosos de Gale repousaram sobre Johanna por uns instantes, antes que ele pudesse fechar as pálpebras cansadas e recostar o pescoço no assento. Por um momento, Johanna apenas o encara capturando qualquer resquício de verdade que puder encontrar.

– Temos algumas horas até o dia começar. Você não querer se deitar mais um pouco? – a pergunta paira no ar e Johanna acompanha uma sensação diferente no corpo.

Gale estava diferente. Frio? Talvez. Mas havia algo em si que a deixou intrigada. Os dias passados haviam sido belos e livres, até demais. Ela estava desconhecendo o seu comportamento perante a ele, principalmente por deixa-lo entrar em sua vida de forma tão rápida e inédita. Não havia nada errado na equação. Ele somava a ela matematicamente. Sem erro.

O que há agora?

– Quero ficar com você. – diz quase inaudível-mente.

– Eu estou com você. – ele abriu os olhos encarando-a atentamente. Um sorriso esticou cada canto de sua boca e ela retribuiu.

– Sim, está. – as mãos se tocaram e Johanna sentiu a eletricidade, que já era conhecida, em sua pele.

– O que está havendo, Gale? – a pergunta saiu de sua mente antes mesmo que pudesse controlar.

O silêncio perdurou longos minutos.

– Não sei se devo lhe contar. – antes confortável, mas não mais, Gale passou a se mexer inquietamente.

– Você sabe que pode me contar tudo. Fizemos uma promessa. – os olhos amendoados da morena encararam os cinzentos. Ele parecia não ter o que dizer.

– O que quer que eu diga afetará nós dois. O ponto é: eu não estou preparado para identificar a sua reação e não estou disposto a lidar com essa situação novamente. Nós já enfrentamos isso há meses.

Algo em seu peito fizera o seu coração palpitar audivelmente. Johanna não era boa em charadas, mas aquela estava clara como um dia de verão.

– É sobre nós dois então. – ela afirmou agarrando-se com um dos braços cada vez mais aos joelhos sem soltar a mão que pendia para o lado do encosto, entrelaçada com os dedos do seu namorado. – O que está acontecendo?

Gale encheu seus pulmões de ar, bebericou mais dois goles seguidos da sua bebida até esvaziar e seguidamente depositou o copo sobre a mesa de centro.

– Hoje eu cheguei mais cedo do trabalho, como você sabe. – seu suspiro pesado ecoou. – Bom, eu encontrei uma carta presa na nossa porta.

– Uma carta? – Johanna perguntou erguendo uma sobrancelha.

– Sim. É direcionada a você, mas eu li. – um sorriso triste se figura. – Enzzo enviou.

Johanna automaticamente perde a cor do seu rosto. Suas mãos, antes firmes, agora tremem incessantemente e ela se pergunta se aguentará não sofrer algum tipo de arritmia pela resposta direta de Gale. Ela subitamente solta-se do aperto dos seus dedos aos dela.

– Você ficou nervosa com essa notícia. – ele diz com a fisionomia decepcionada.

– E não era para ficar? – Johanna exalta-se exasperada. – Você queria que eu desse pulos de alegria?

– Eu não quis dizer isso. Droga, Johanna. – Gale se levanta em um movimento.

A onda de tranquilidade existente no dia anterior se esvai. Johanna retira a sua posição retraída e encara Gale com seus olhos atentos aos passos pesados que ele dá. Ela não esperava uma carta de Enzzo e muito menos a reação de Gale, como se ela estivesse envolvida nisso, ou pior, como se tivesse alguma culpa.

– Você age como se eu tivesse ido atrás dele. – suas mãos espalmam no estofado fazendo um barulho alto e exagerado. Ela se levanta. – Eu não permito você me tratar dessa forma, Gale. Como se eu ficasse feliz em ter notícias. Caramba, o cara me sequestrou!

– É, mas você acabou se deixando levar por um sentimento estranho e imoral. – a voz de Gale eleva duas oitavas. – Ele deixou bem claro que o que tiveram fora mais do que somente um sentimento platônico da parte dele. Qual é Johanna? Você acha que eu não iria descobrir.

– Eu me lembro muito bem do dia em que você me trouxe de volta! O dia em que você acordou no hospital também. Se eu não me engano, você disse que superaria o que quer que tenha existido entre mim e Enzzo. Você disse que estava bem com tudo isso. De repente, não está mais?

Uma linha fina e tensa forma em seus lábios. A respiração descontrolada faz Gale aumentar a velocidade do ar que inspira e Johanna sem cautela o analisa de maneira incrédula.

Seus pensamentos correm como se ela estivesse surfando pelos canais de televisão, tendo em mente imagens de Enzzo e Gale. Os momentos felizes que passara com Gale e principalmente o fato de ter se entregado de corpo e alma para ele. Aquilo parecia ser certo, mas imediatamente parecia errado.

– Não é o suficiente, não é? – ela retruca após o silêncio e a ira dominarem o ambiente. – Você me ter, todos os dias na sua cama, quando eu faço promessas de amor e digo que ficarei contigo pra sempre. Isso nunca vai ser o suficiente.

– Você não percebe, certo? – ele mordisca seu lábio inferior; quase como um tique. – Você passou tempos com esse cara, vivendo ao lado dele, tendo experiências novas e desfrutando coisas que eu ainda não tinha experimentado ao seu lado. Demorou para libertar toda a mágoa que tinha e finalmente aceitar que eu estava apaixonado por você, mas quando tudo começou a andar para frente, você dava para trás. Eu realmente lutei por você, perdi noites de sono para identificar um enigma na minha frente, fui atrás do pior terrorista que existia na Panem, para quê? Para você selar seus lábios aos dele e cair de amores!

– Eu entendo o seu lado, mas estou vendo que existe algo em você que nunca vai ausentar-se. – seus olhos não iriam derrubar lágrimas. Ela estava com muito ódio e demasiadamente irritada para dar esse gosto.

– Não me venha com suas filosofias. Eu não tenho paciência para elas agora.

– Você sempre vai refletir o seu relacionamento bizarro com Katniss para cima de mim. – a voz de Johanna estava calma. Ela tinha certeza do que dizia. – O problema todo é que você confiou nela e a confiança foi quebrada. Agora fica difícil confiar em mim, ainda mais pelo fato deu ter te decepcionado no começo. Mas você não deve me culpar, Gale. Eu não sabia dos sentimentos que tínhamos e era improvável relacionarmos. Enzzo foi gentil, mesmo em meio à loucura e eu deixei me levar por um par de olhos claros e atraentes, mas ele era uma pessoa ruim. Ele sempre vai ser uma pessoa ruim.

– E ai, já que eu não sou tudo o que ele é, você fica frustrada. – uma risada irônica sai de sua garganta e Johanna fecha seu rosto enojada.

– Você deveria lavar a sua boca com gasolina para parar de ser um tolo e um imbecil. – a acidez e o veneno percorrem seus lábios. – Se eu quisesse ficar com ele, teria simplesmente ficado. Só que eu escolhi você, um cara que agora me parece ter mais problemas do que Enzzo. – um ar pesado esvai dos pulmões. – Sua falta de confiança, seu problema em compreender que pertenço a você e a mais ninguém, faz-me iniciar um processo de afastamento. Eu preciso de pessoas que acreditem em mim e nas palavras que digo. Se não, de que vale se relacionar? Se você acredita que eu abrirei minhas pernas assim que ele cruzar por essa porta.

– Por quê? Você quer que ele cruze essa porta?

– E se ele cruzar, Gale? Huh? O que vai fazer? Prendê-lo? Provavelmente vá prendê-lo, mas antes ele irá me admirar e você ficará insano somente com uma troca de olhares e inevitavelmente vai cometer a maior burrada da sua vida. – ela se aproxima sem admitir receio pelos olhos chamejantes de Gale. – Você precisa parar de me imaginar como Katniss, parar de achar que vou tomar o mesmo rumo que ela tomou. Enzzo é um loiro bonito de olhos azuis assim como Peeta, mas ele não tem o meu coração. Você entende bem isso?

Os orbes incertos caem para os pés de ambos e Johanna decide transpassar seus braços magros pela cintura de Gale. Ele arfa em surpresa pelo contato, porém depois de alguns instantes ele a envolve com suas mãos firmes e calejadas a abraçando.

– Eu não imagino você como Katniss. Ela já saiu da minha mente faz tempo. – um sorriso inocente surge nos lábios de Johanna, mas ele não pode vê-lo. A cabeça da pequena mulher está encostada em seu peito com a bochecha ladeada no tecido fino da camisa de linho. – Eu fiquei insano quando vi a carta descarada de Enzzo e pensei na possibilidade de você aceitar seu pedido de desculpas. Ele disse várias coisas.

– O que ele disse? – Johanna posiciona seu queixo no tórax de Gale e olha para cima, analisando sua expressão confusa.

– Você pode ler a carta, Johanna. – há dor em seus olhos. – Eu achei que ele pudesse estar morto a essa altura, mas ele está bem vivo e possivelmente sendo protegido por algum grandão da Sede. Eu não quero me envolver mais nisso e assim que você decidir o que fazer com a carta, enviarei para algum Major Sênior do Exército e eles resolverão o que irão fazer com as provas. Eu estou cansado.

– Eu entendo. Você não precisava surtar, Gale. As coisas podem ser resolvidas com uma conversa amigável. Eu sei que você diz que não há resquícios da Katniss em nosso relacionamento, mas você opera em nós como se eu estivesse agindo da mesma forma que ela. Você precisa aprender a lidar com as coisas.

– A realidade é que eu não sei lidar com sentimentos, Johanna. Eu sempre me sinto impossibilitado e meramente fraco depois do que passei. Dê-me um pouco de crédito, eu não sabia o que fazer com a notícia de Enzzo correndo atrás de você. Isso é agoniante.

– Ele não pode vir para a Cidade Doze e você sabe disso. – ela dá de ombros. – O Exército aqui preenche as ruas visivelmente e a foto dele ainda permanece na base de dados da Segurança. Se ele der as caras, será preso no mesmo instante.

– Eu não sei o que pensar. Posso chamar alguns seguranças para virem para cá e também avisar Katniss. Eu não quero o pesadelo novamente. Apesar de ele ter dado bandeira branca na carta.

– Não vamos nos preocupar com isso, eu sei que Enzzo mudou desde que...

– Desde que te conheceu. – ele interrompe e ela sorri sem humor.

– Sim, infelizmente é essa a verdade. – Johanna se desvencilha e Gale faz uma careta. – Você precisa dormir antes de ir para suas missões.

– Você não é de modificar o assunto muito sutilmente. – ele finalmente solta um sorriso.

– Eu não queria ser sutil, Gale. – uma piscada marota surge de suas pálpebras. Ela havia voltado a se sentir melhor.

– Eu vou tomar um banho e te deixar sozinha um pouco. – Gale direciona seus olhos para o centro da mesa e ela percebe subitamente. A carta estava ali. Ele sutilmente passou o sinal para verde, para que ela soubesse a verdade por trás de tudo.

Gale desaparece na escuridão das escadas e Johanna se aperta na poltrona encarando por uns instantes o pedaço de envelope branco que está em cima do objeto central. A lareira havia diminuído consideravelmente o fogo alto, fazendo o frio entrar pela fresta da janela. Fora de época a frente fria que veio.

– O que há de mal em ler? – Johanna inquiriu para si mesma, afastando a pedra decorativa que estava sendo usada como peso de papel.

O seu coração bateu fortemente acelerado contra o peito, tamanha a ansiedade que estava. Não era algo surpreendente, já que ela estava frente-a-frente pela primeira vez com uma lembrança de Enzzo e seus dias ao lado dele. Ela ainda podia fechar seus olhos e imagina-lo tocando um violão acústico em uma sala qualquer, mas seus sentimentos que antes eram contraditórios, agora eram transparentes e lúcidos. Fora somente o momento que viveu ao lado dele que proporcionou emoções distintas. Ele não era um homem para se relacionar, longe também de manter uma convivência.

A curiosidade gritou-lhe o peito e ela, finalmente, abriu o notório envelope cor de gelo.

Querida Johanna

Eu poderia passar horas dos meus dias tentando fazê-la compreender os meus motivos para ter feito o que fiz. Poderia também justificar os meios para o entendimento do fim, mas nenhuma palavra que eu proferir ou escrever será o suficiente para me desculpar com você.

Uma época muito conturbada da minha vida eu vivi naqueles meses. Eu posso dizer que estava fora de mim. Cego pelas ilusões ao meu pai e ainda buscando sua aprovação, mesmo após sua morte. De fato, eu estava. Aquele maldito velho era alguém importante insuportável e controlador –, mas ele fazia parte de mim.

Sua negação perante as minhas atitudes e o arrependimento que exalava em seu olhar cada vez que ele me visualizava me matava. Sim. De uma forma doentia eu precisava da atenção do meu pai e ele não soube me dar.

Talvez, isso não exemplifique o meu temperamento doente e alucinado, mas pelo menos eu consegui alcançar e abarcar mais a fundo a razão de toda a minha raiva.

Eu descobri a mim mesmo.

Não quero que se preocupe, ou tenha pesadelos a noite referente ao sequestro. Saiba que eu nunca quis te machucar. Por Deus, eu preferiria cortar um braço a deixa-la com um arranhão. Eu não queria que você tivesse uma má memória de nós, mas sei que é demais pedir ao contrário.

Eu não estou na Cidade Doze, estou bem longe de você e dos seus amigos. Uma pessoa de confiança fez essa entrega para mim, acho que isso deve te acalmar um pouco.

Eu queria poder saber se os cabelos permanecem emaranhados quando dorme e se seus sonhos intermitentes a faz acordar no meio da noite. Você ainda sonha com água? Eu queria poder tirar isso de você. Espero que Snow esteja pagando caro no momento.

Vou lhe dizer que os meus planos antigos afundaram assim como eu havia submergido junto a eles. Não sou mais o mesmo e até modifiquei o meu sobrenome. Quero acreditar que isso apague os vestígios do meu passado e faça-me planejar um futuro.

Sou procurado por todas as cidades como uma “ameaça terrorista”, eu daria tudo o que tenho se pudesse viver normalmente e anular o passado. Mas quando fizemos algo, as pessoas não esquecem, não é mesmo?

Peça desculpa para Katniss, Peeta e todas as pessoas envolvidas no incidente que eu elaborei. Se eu soubesse que meus problemas pessoais afetariam outras pessoas, eu teria me afastado. Porém, eu disse anteriormente, eu estava cego.

Obrigado por abrir os meus olhos, Johanna.

Por você eu decidi viver.

Jamais vou esquecê-la e muito menos o sabor dos seus lábios. É um atrevimento, eu sei, mas você fora a única mulher que conheci que valeria a pena passar por todas as etapas da vida. Conhecer, descobrir, namorar, noivar e casar. Eu faria isso com você se tivesse chance, entretanto não é assim que o mundo gira. Então, me contento com a espera de poder ama-la e ser retribuído em um universo paralelo.

Em outra vida nós nos amaríamos.

Fique bem.

Com carinho.

Enzzo Hoffmann.

Ela poderia dizer para si mesma que não estava abalada com as palavras ditas. Poderia até compreensivelmente abafar as emoções descontroladas que tomavam o seu coração, mas ela não se enganaria. Enzzo ainda mexia com uma parte estranha de seu corpo e sua mente girava com as lembranças. Porém Gale e seu sentimento por ele era mais forte que isso tudo. Enzzo deveria ir embora da sua vida. Ele já aceitara isso, agora, só faltava ela.

Sem titubear, ela jogou o pedaço de papel em direção ao fogo que estava em sua frente. As chamas pareciam se animar com o presente que as fazia faiscarem mais alto.

– Você leu? – a voz de Gale surge atrás. Ele ainda com a toalha escura presa em sua cintura, deposita cada mão nos ombros de Johanna e ela fecha os olhos, sentindo seu toque.

– Eu li e ateei para o fogo. – ela fala casualmente após uma pausa.

– Isso era uma prova para a perícia. – ele suspira cansado. – Você sabe disso, não sabe?

– Eu sei. – Johanna vira seu rosto para olha-lo. – Apenas vamos esquecer que isso ocorreu, está bem?

Gale pondera por uns minutos e assente positivamente para ela. Seu cenho aparentam uma expressão mais aliviada. Ele estava ficando mais tranquilo.

Os dois se aconchegam confortavelmente próximo ao fogo vendo-o diminuir a cada segundo até não existir mais chamas. O sol inicia a rotina de surgir no horizonte, clareando parte da sala lentamente, mas era visível que o dia seria nublado.

– Você está bem? – Gale pergunta beijando a testa aquecida de Johanna.

– Sim. – seu suspiro esvai. – Estou bem contanto que você esteja ao meu lado.

– Você ainda vai me enlouquecer. – ele ri sobre seus cabelos cheirosos.

– É esse o objetivo.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho outras fics de Jogos Vorazes, vocês conhecem?
http://fanfiction.com.br/u/426718/
É só visitar o meu perfil e ir para a abinha "Histórias".

Até a próxima, meus xuxus. (: