Safe and Sound escrita por Aline Martins


Capítulo 32
Capítulo 32 - Peeta


Notas iniciais do capítulo

LEIAM LEIAM LEIAAAAAAAM D:

Katniss Everdeen Prior e Tainá Prior que indicaram minha fic, OBRIGADA! EU AMEI DE PAIXÃO! É muito bom ler recomendações, gente, dá uma motivação. Esse capítulo é pra vocês!

Pessoal, como previsto o capítulo ficou um pouco grande. 14 páginas de Word! Leiam com calma e com um chocolatinho do lado 💛
Eu queria agradecer a TODOS vocês, meus leitores, LINDOS E MARAVILHOSOS que me apoiaram, me mimaram e disseram tudo o que eu precisava ouvir para me incentivar!
Já disse que são perfeitos? Ok ok, vocês são!

E esse capítulo é pra vocês!

Obrigada por tudo!!
Não vou me prolongar muito...
Boa leitura.



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Os três percorriam a casa calmamente, atentos a todo e qualquer detalhe que pudesse levar a Johanna Mason e Enzzo Snow. Peeta, Gale e Katniss começaram a sua busca implacável pelo incerto, mas o grupo tinha fé que a qualquer momento pudessem ser encontradas pistas.

Gale estava no andar de cima, buscando primeiramente um vestígio de quem havia sido assassinado na Cabana. Peeta não pôde esconder sua preocupação. Será sangue de Johanna? Será de algum de seus seguranças? Será de Enzzo? Por mais imoral que fosse Peeta suspirou tranquilo ao pensar que algo pudesse ter acontecido a Enzzo. Todos os problemas estariam resolvidos. A verdade é que, o garoto do pão nunca desejou mal a ninguém, mas entre a segurança de pessoas que ama e um assassino qualquer, não haveria ponderações.

Katniss apresentava uma linha dura em seu rosto, com o cenho franzido e pequenas rugas de expressão. Ela realmente estava tensa, com os músculos rijos e a ansiedade transmitida em uma respiração intercalada. Peeta estava preocupado em excesso, pois era inevitável protegê-la. Não havia ninguém mais esse mundo que Peeta sentia a necessidade contínua de assegurar, somente ela.

Katniss precisava dele, era visível. Ela era intensa e isso era inquebrável, mas por todas as vezes que ela o protegeu, por todas as ocasiões que sua vida estava por um fio e ela daria tudo em troca de sua proteção, ele possuía uma dívida impagável.

Peeta a amava com todas as células vivas de seu corpo, com toda a sua ânsia para permanecer vivo, contudo sabia que as forças da sua garota haviam se esgotado. Katniss havia esgotado. Cansada de ser forte mesmo que ela quisesse, se esforçasse e tentasse arduamente ser uma supermulher, o fato é que suas forças estavam a baixo de zero.

O psicológico daquela menina-mulher fora tratado pelo Doutor Aurelius, entretanto ele havia sido muito claro com Peeta a respeito dos vestígios permanentes. Ela se lembraria das arenas pelo resto da vida, teria pesadelos constantes e intermitentes quase todas as noites, apresentaria dias em que tentaria reviver uma ou outra situação para compreender o que fez de errado e o que deveria ter feito certo, repassaria a morte de Primrose centenas de vezes em sua mente, lidaria sempre negativamente com a morte de seu pai e o afastamento de sua mãe, se culparia incansavelmente pelo falecimento dos seus colegas de equipe. Mas isso tudo Peeta sabia bem, ele também tinha sinais de seus traumas passados. Seu telessequestro, a violência que fez com Katniss, o fato de se sentir praticamente inútil na última arena, ter se machucado logo e não poder protegê-la como deveria, a morte de sua família. A si, de fato, Peeta não se importava, o seu altruísmo era uma qualidade invicta, porém, a respeito de Katniss Everdeen o assunto era outro.

Com certeza, aquela situação aglomerada para com a Johanna estava fazendo Katniss relembrar todos os acontecimentos, com mais veracidade, com mais cores. Estava estampado em seu delicado rosto, em seus olhos, as pequenas imagens de seu fatídico passado. Katniss estava com um pequeno tique, suas pálpebras abriam e fechavam rapidamente para tentar se livrar dos pensamentos.

Katniss não o fitava, ficava presa em seu mundo sombrio lutando contra sua memória. Ele sabia bem como era isso, afinal, os flashbacks dele eram terríveis. Katniss não sabia e não mensurava, mas muitas vezes ele se trancava no banho e agarra firmemente a toalha, colocava em sua boca e gritava para espantar a terrível dor de cabeça e suas desprezíveis recordações.

Dias atrás, Peeta ligou para o Doutor Aurelius e contou sobre a piora significativa de suas visões, ele disse que talvez fosse melhor se afastar de Katniss para não machuca-la, mas Peeta tinha controle, ele conseguia saber quando as memórias iam passar dolorosamente em seus olhos e sempre pôde se afastar sorrateiramente sem Katniss perceber.

Peeta intuiu o quanto Katniss estava tensa, forçando o maxilar fortemente e segurando um grito contido. Ele precisava se aproximar, necessitava ajuda-la.

– Katniss. – disse Peeta já bem próximo, acariciando a maçã do rosto com seu polegar. – Ei, olha pra mim.

– E-eu... – sussurrou encarando o chão.

– Olhe pra mim. – falou o rapaz levemente.

Os olhos cinzentos de Katniss encontraram os seus. Peeta nunca iria esquecer esse olhar, essa profundidade, a névoa brilhante que insistia em fazer seu coração saltar descompassado.

– Eu estou relembrando. – a dor estava estampada em sua íris.

– Eu sei. – respondeu Peeta. – Preciso que você me diga o que está vendo.

Ele não sabia ao certo o que fazer, mas decidiu usar a técnica do Dr. Aurelius.

– Estou vendo Johanna, ela está me contando de como sofreu na Capital. – suspirou pesarosamente. – Vejo Prim.

– Vê Prim? – perguntou inseguro. – Como a vê?

– Morta. – disse simplesmente. – Ela morta, Peeta. Sem um corpo para sepultar.

A angústia em sua voz era tanta que Peeta não sabia como reagir, óbvio que ela estava sofrendo e claramente ter que vivenciar uma ameaça em sua vida e na de todos que estão ao seu redor era tremendamente doloroso.

– Vem cá. – ele aconchegou o rosto de Katniss em seu peito, abraçou-a pela cintura e ela correspondeu o seu afago com carinho e brutas lágrimas.

Peeta avistou Gale descendo as escadas. Seus olhares se encontraram e ele pôde entender o Major somente por aquele rápido contato. Em resposta, Peeta meneou sua cabeça negativamente para afirmar sua suspeita. Ela não estava bem e Gale havia notado.

O moreno assentiu positivamente, como se entendesse o recado. Indicou a si para o lado de Katniss, como se estivesse perguntando se era necessário ele estar lá. Peeta deu de ombros, não sabendo se a presença de Gale a ajudaria ou não.

O Major ponderou um pouco, mas decidiu descer as escadas. Katniss ouviu seus passos, mas não se desvencilhou do abraço de Peeta, somente virou seu rosto para a direção do barulho.

– Você está bem? – perguntou Gale se aproximando.

– Não. – disse simplesmente, ainda acolhida por Peeta. – Essa situação toda é horrível.

– Eu sei. – Gale acariciou os cabelos de Katniss suavemente.

Aquilo era inteiramente estranho para Peeta. Ele abraçado a Katniss e Gale acariciando seus cabelos enquanto isso. Não que ele estivesse com ciúmes, pelo contrário, mas ele pôde ver uma pequena paz entre ele e Gale, como se aquilo fosse uma trégua, como se demonstrasse que Gale estaria para Katniss somente como seu suporte, como um amigo.

Não havia como negar, o fato de Katniss não se afastar de seu abraço era muito empolgante. Ela já havia demonstrado publicamente e para Gale sobre seu carinho com Peeta, mas o fato dela estar ali, presa no calor de seu corpo não só mostrava que ela o amava, mostrava que ela se sentia protegia com ele. Ele era seu porto seguro, ele era seu chão.

– Vai passar isso tudo? Vamos achar Johanna? – Katniss cogitou a Gale.

– Sim, vamos acha-la. – disse veementemente parando de acaricia-la. – Aquele sangue não é dela e encontrei algumas provas, ainda não vasculhei tudo, mas vou encontrar o que procuramos. Eu prometo.

– Como você sabe que não é sangue dela? – perguntou Peeta curioso.

– É de um de seus capangas. Tenho marcas dos pés e são todas botinas com o número dos calçados maior do que 42. Johanna não é alta o suficiente para calçar 42 e ela estava descalça. – Gale agora apontou para o chão em que estavam, no porão. – Olhem essas marcas.

Peeta olhou atentamente, mas em um primeiro momento não avistou nada. Decidiu agachar próximo a umas manchas no chão e rapidamente tudo ficou claro - marcas de pés. Decisivamente eram de uma mulher. Ela deveria ter pisado na floresta porque havia vestígios de terra, lama, água e pequenas folhas. A marca era discreta, mas com um bom ângulo era muito visível.

– Nossa, são da Johanna! – disse Peeta surpreso. – Isso é ótimo.

Gale sorriu orgulhoso.

– Sim, ele matou algum capanga, provavelmente o cara deve ter feito merda. – deu de ombros. – Eu achei várias coisas interessantes lá em cima. Encontrei notas de compras, mercados, loja de roupas, mecânica. Se eu achar a localização desses lugares e triangular um perímetro, pode ser que eu ache uma zona de maior probabilidade.

– Exatamente. – respondeu Katniss ainda um pouco abalada. – Se você perceber as zonas mais comuns usadas por eles e utilizarmos a dica da Johanna, a casa azul, podemos encontra-la mais rápido.

– Isso é fantástico. Quer ajuda lá em cima, Gale? – perguntou Peeta.

– Vamos lá. – respondeu.

Katniss segurou firmemente a mão de Peeta enquanto subia as escadas, ela estava ansiosa e com medo, mas era de se esperar. Seus olhos acinzentados ainda refletiam dor e desespero. Ela ainda não se recuperou das memórias ruins, mas Peeta estaria lá, de mãos dadas, transmitindo toda a segurança que podia.

As horas seguintes foram tediosas, mas produtivas. Gale encontrou mais algumas notas de compra e Peeta encontrou um mapa com algumas zonas circuladas. Ali continham à casa da Katniss e do Gale, marcadas com um canetão vermelho vivo. Enzzo havia marcado algumas rotas e Gale disse que são referentes a uma possível fuga.

– Gente, preciso dar uma ligada para Annie para ver como está. – lembrou-se Peeta.

– Ok. – disseram os dois no mesmo tom.

Peeta não demorou muito para voltar da ligação, seu semblante representava certa preocupação.

– Está tudo bem Peeta? – perguntou Katniss.

– Sim. – disse ele confuso. – Na verdade, achei estranho. Falei com a Annie e Delly foi nos visitar, pelo que parece.

– Nossa. – Katniss disse surpresa.

– Eu avisei Annie que provavelmente chegaremos tarde e que ela poderá passar lá outro dia.

– Provavelmente vamos demorar a chegar. – confirmou Gale.

– É. – Katniss parecia estranha ao citar Delly. Um pouco estranho em vista de que ela era melhor amiga de Peeta e ajudou em sua recuperação. Katniss gostava dela no 13.

– Katniss, você está estranha. – dessa vez Gale tomou a dianteira.

– Não é nada. – deu de ombros.

Peeta se sentiu um pouco desconfiado, mas seguiu seus afazeres. Constatando tudo, calmamente e com atenção.

Enquanto o Gale e Katniss procuravam por diversos locais, Peeta distraidamente pisou em um lugar que parecia ser um fundo falso. Inquieto, bateu o pé para confirmar a sua suspeita.

– Gente, tem algo aqui. – disse para os dois.

Peeta tateou o chão até encontrar uma brecha, levantou calmamente.

– Nossa! Quanto dinheiro. – disse Gale surpreso.

– Vamos vasculhar, deve ter alguma coisa além de dinheiro aqui. É muito fundo. – cogitou Katniss.

Quando eles começaram a tirar as notas para fora, ouviram um veículo se aproximando da Cabana. Os três prenderam a respiração, mas não perderam o foco. Rapidamente colocaram tudo para dentro de volta, e se esconderam dentro de um armário grande de madeira, possivelmente um guarda roupa.

Katniss, como era menor, ficou no meio. Peeta e Gale couberam espremidos nas pontas. A sorte que tinham era que havia pequenas frestas falhas na madeira, fazendo com que tivessem uma pequena visão da sala.

Os homens estavam rindo e dizendo coisas inteligíveis ao se aproximar, quando subitamente pararam. Estavam a poucos metros da porta e viram ela arrombada. Afinal, Gale havia dado uma pesada forte para abri-la.

– Cara, olha isso. – disse um homem apontando para a porta.

– Vamos chamar Enzzo por rádio. – disse o outro.

Gale encostou o dedo indicador em seus lábios, dando sinal para ambos fazerem silêncio. Tanto Peeta quanto Katniss menearam a cabeça positivamente.

– Enzzo, aqui é o Will. Câmbio. – disse o mais alto.

– O que houve? – Uma voz grossa e rouca disse do outro lado.

– A Cabana, está arrombada.

– Você tem certeza?

– Sim, a porta está no chão, quer dizer... Não tem como ter dúvidas.

– Não deve ser nada, existem algumas pessoas que ainda não tem condições boas de vida no 12, então, devem estar buscando comida ou algo assim. Esse lugar não é conhecido por ninguém.

– Tem certeza, senhor?

– Claro. Seja quem for, já deve ter saído dai mesmo.

Peeta respirou aliviado, Katniss segurou sua mão com força indicando que estava com medo, ele a acariciou com o polegar e disse com os lábios mudos, mimicamente que tudo ia ficar bem.

– Se o senhor diz. Então, vou pegar as coisas e dar o fora daqui.

– Não se esqueça de queimar a Cabana.

Gale olhou para os dois apreensivo, logo entendendo o recado. Fez sinal com as mãos de que teriam que sair dali rapidamente.

Os dois homens entraram com galões de gasolina e fósforos. Pegaram todo o dinheiro e alguns documentos e velozmente começaram a derramar o líquido pelo lugar.

Peeta fez um sinal para Gale, querendo dizer a ele se não seria melhor atacarem os homens. Gale deu de ombros e Katniss apreensivamente fez uma negativa com sua cabeça, indicando que seria perigoso. Peeta acariciou seu rosto e selou seus lábios lentamente.

– Vai ficar tudo bem. – sussurrou no seu ouvido.

Katniss ainda atordoada sacudia a cabeça negativamente.

Gale olhou para Peeta e fez sinal com a mão direita apontando com o indicador 1, com o médio 2 e anular 3.

Seguindo a contagem de Gale, os dois bruscamente abriram o guarda roupa com uma pesada firme. Os homens se entreolharam assustados ainda atônitos a tudo.

Peeta e Gale aproveitaram seu susto inicial e bateram na cabeça dos dois com os galões pesados de gasolina. Como se fosse planejado, os dois caíram na mesma hora com a pancada forte.

– MEU DEUS, VOCÊS SÃO LOUCOS! – Katniss gritava desesperada. – ELES TÊM ARMAS! SE FOSSEM ESPERTOS TERIAM ATIRADO EM VOCÊS!

– Katniss, calma, deu certo. – disse Gale pacientemente.

– É DEU! MAS PODERIA NÃO TER DADO! – disse ela segurando as lágrimas.

– Amor. Shh, tá tudo bem. – Peeta a abraçou com cuidado. – Eu e Gale somos fortes, eles não tinham chances.

– Seu idiota, os caras são o dobro de vocês! – disse indignada, mas aceitando o abraço.

– Claro que não. – disse Gale brincalhão. – Eu e o Peeta já lutamos em uma Guerra, esses caras são fichinha.

– Viu Katniss? – disse Peeta tentando acalma-la. – Nós conseguimos e é isso que importa.

– Ainda estou brava. – disse se desvencilhando do abraço.

– Bom, esses idiotas só estão desacordados. – disse Gale chutando o pé de um. – O que vamos fazer?

– Vamos colocar fogo na Cabana. – disse Katniss friamente adquirindo muito rápido a força em sua voz e um semblante duro no rosto.

– Katniss... você...- falou Peeta com a boca aberta de surpresa.

– Esses capangas estão mantendo Johanna em cativeiro. – Katniss o interrompeu. – Não quero saber quem são. Enzzo quer a Cabana queimada? Então ele terá.

– Sou a favor do plano da Katniss. – concordou Gale colocando o peso do corpo em um dos pés.

– Mas, não é meio brutal isso? – perguntou Peeta.

– E não é brutal o que estão fazendo com Johanna? Peeta, você já matou pessoas. Como pôde ter dúvida disso? – questionou o Major.

– Não sei, parece errado. – deu de ombros.

– Dois votos contra um. – disse Katniss mensurando. – Desculpa amor.

Peeta totalmente contrariado começou a jogar o líquido pela Cabana tentando não pensar se aqueles dois homens tinham ou não uma família, se são ou não boas pessoas. A angústia estava tomando conta dele, mas em parte ele sabia que Gale e Katniss estavam certos. Era difícil admitir, mas pessimamente eles não tinham escolha.

Gale fez sinal para os dois, dizendo para começarem a sair da Cabana que ele faria uma trilha com a gasolina. Katniss segurou no braço de Peeta firme escorregando para sua mão. Ele sabia que ela estava decidida a fazer aquilo, mas ela não era uma pessoa ruim, Katniss estava tão insegura da decisão quanto Peeta.

– Hey, estou aqui contigo. – disse entrelaçando os dedos aos dela.

– Você está certo quanto a essas pessoas Peeta, mas não temos escolha. – sua voz estava tremelicando.

– Sim, eu sei. Vamos lidar com isso, tá bom? Gale é do Exército, se ele aprova essa decisão, ele com certeza sabe o que faz. – disse mostrando segurança em sua voz.

– Gale está atordoado com essa situação, Peeta. Ele gosta da Johanna é por isso que age impulsivamente.

– Todos nós gostamos. – falou sem entender.

– Não, Peeta. Gosta a ponto de, talvez, estar apaixonado. – deu de ombros.

Como a última peça que faltava para completar o quebra-cabeça, agora tudo fazia sentido. Gale acariciando os cabelos de Katniss com ternura, mas sem segundas intenções. Olhando para ela como se fosse uma irmã. Brincando com Peeta na Cabana como se fossem velhos amigos. Ele estava deixando o território livre por estar interessado em outra pessoa.

Apesar dos acontecimentos horríveis daquele momento, Peeta sorriu. Ele não odiava Gale, nunca odiara. Na verdade, eles não haviam tido problemas até aquela enxurrada de cartas. Peeta torcia pelo Major. Ele merecia ser feliz afinal ele era uma pessoa boa e de ótimo coração. Foi ele quem cuidou da Katniss quando Peeta era covarde demais para se aproximar, ele a ajudou a não passar fome. Enquanto Peeta, bom, ele só jogou dois pães queimados quando ela sofria de inanição.

Ele nunca se perdoou pela forma que deu alimento para Katniss aquele dia. Ele havia se arriscado, sim. Havia queimado os pães de propósito para não vê-la morrer de fome, sim, mas não custava leva-lhe os pães. Atear assim, na chuva, sem pretensão era algo muito mesquinho a fazer. É claro que sua mãe não permitiu ele fornecer os pães a ela aquele dia, mas ele tomaria só mais uma bofetada na cara e ficaria de castigo para sempre, pelo jeito, contudo Katniss merecia receber aquele alimento com dignidade, não como se fosse um animal.

– Peeta, você está bem? – disse Katniss o fitando preocupada.

– Sim, só estou pensando no passado. – falou angustiado.

– Não pense no passado. O que aconteceu é para ficar lá e não voltar mais.

– É, pode até ser. – deu de ombros. – Vamos?

Katniss e Peeta saíram da Cabana e Gale apareceu alguns minutos em seguida. Ele preparava um rastro de gasolina pela mata.

– Bom, acho que deu. – disse o Major se direcionando aos dois. – Estão prontos?

– Sim. – disseram em um uníssono.

Pensativo, Gale riscou o fósforo com força na caixinha preta acendendo uma pequena chama tremeluzente. Olhou novamente para os dois e jogou o fósforo sem ter mais como voltar atrás.

O caminho percorrido pela chama foi rápido, os três já estavam bem distantes do fogaréu, no entanto dava para ver a grande labareda engolindo tudo a sua volta. O local não tinha muitas árvores, apesar de ser a floresta tanto conhecida por Katniss e Gale, a Cabana ficava localizada em uma área quase sem plantas e árvores por ter sido construída em um barranco.

Dando as costas para tudo, eles começaram a subir o morro e Peeta estava tendo uma tremenda dificuldade de subir. Katniss não estava dando conta de apoia-lo. Gale, então, se prontificou a ajuda-lo a subir e Peeta não pôde deixar seu orgulho reinar, ele precisava mesmo de ajuda.

– Peeta, eu te ajudo. – disse Gale prontamente.

– Tá bem. – disse após ponderar um tempo.

Gale usou toda a força que tinha apoiando Peeta. A parte em que sua perna se unia a prótese estava dolorida demais hoje. Talvez por ele ter esquecido de tomar seu remédio antes de sair de casa.

– Você não é nada leve, hein? – disse Gale pingando suor. – Era mais fácil eu ter te pego no colo e outra, essa subida é complicada.

– Você pegando Peeta no colo? – debochou Katniss. – Essa eu queria ver.

– Não sou um inválido, tá legal? – vociferou Peeta. – Eu consigo.

– É, estou vendo. – provocou Gale. – Vamos, só mais um empurrãozinho.

Os três conseguiram chegar à parte plana e partiam caminhando lentamente por causa da dor que Peeta sentia. Katniss estava de mãos dadas com ele e Gale ia à frente, mostrando o caminho da volta.

Demorou um bom tempo, mas eles chegaram ao local onde tinha a antiga cerca. Gale olhou para Katniss com nostalgia nos olhos, ela sorriu ao entender o recado.

– Bom, sem cercas. – sorriu Gale. – Vocês querem que eu os acompanhe até a Aldeia dos Vitoriosos?

– Não precisa Gale. Daqui eu já tomo conta do Peeta. – disse Katniss. – Obrigada por tudo.

– Assim que eu triangular o local, eu ligo pra vocês ou passo lá. Por enquanto, descansem.

Ambos assentiram positivamente com a cabeça e seguiram seu caminho vendo Gale desaparecer pela rua.

O dia havia passado tão depressa, que nem se deram conta que não haviam se alimentado. O estômago de Peeta já estava proclamando sua fome e com certeza o de Katniss estava na mesma situação.

– Nossa, estou com fome. – disse Peeta. – Você quer comer em algum lugar antes de irmos para casa? Podemos passar no centro.

– Ah Peeta, eu estou exausta. Já está quase anoitecendo. – disse com pesar. – Queria muito sair com você, mas eu preciso de um banho. O dia foi cheio e eu estou grudada de suor.

– Eu entendo. – sorriu e depois depositou um leve beijo em sua testa. – Vamos pra casa.

A passos largos, Peeta e Katniss chegaram à Aldeia dos Vitoriosos, era impossível não se lembrar do passado ao olhar aquela região, mas era o único local que tinham para viver, não havia muito o que ser feito.

Quando chegaram em casa, viram as luzes acesas, provavelmente Annie estava cuidando do bebê.

Peeta tateou os bolsos e encontrou a chave de casa, abrindo-a lentamente.

– Vou preparar algo pra você comer. – disse Peeta ao fechar a porta em suas costas.

– Olá! – disse Annie se aproximando com o Finnick no colo. – Que bom que chegaram, estava ficando preocupada.

– Estamos bem. – disse Peeta.

Annie não pareceu se convencer muito, mas preferiu não perguntar.

– Vocês devem estar exaustos. Eu já preparei o jantar, espero que não se incomodem. Greasy Sae veio aqui de tarde e trouxe umas comprinhas.

– Nossa, eu havia me esquecido de fazer compras. – disse Peeta se culpando. – Eu prometi pra Greasy que não ia mais a deixar pegar tanto peso.

– Ah Peeta, larga de ser antiquado. – disse Annie debochando. – O supermercado entrega em casa!

– Vocês e esse negócio de entregar em casa. Nunca vi. – Peeta revirou os olhos. – Falando nisso, as coisas do Finn chegaram?

– Sim! Estou tão feliz. – disse Annie acarinhando seu bebê.

– Bom gente eu preciso tomar um banho. – disse Katniss exausta. – Peeta, você precisa tomar seu remédio.

– É mesmo. – Peeta já havia esquecido novamente. – Então vai lá, mas não demora se não vai desmaiar no banheiro de fome.

– Do jeito que estou, não duvido.

– Katniss, jante primeiro. – palpitou Annie. – Depois você toma banho.

– Não, deixa ela tomar banho primeiro Annie, depois pode fazer até mal se ela comer e for pra banheira.

– Eu hein. – disse Katniss rolando os olhos. – Vocês me tratam como se eu fosse filha de vocês.

– Você é o meu amor, Katniss. Vou cuidar de você a vida toda. – ele sorriu e beijou levemente seus lábios.

Quando ambos se soltaram, viram Annie secar uma lágrima, provavelmente se lembrando de momentos como esse ao lado de seu marido. Peeta se sentiu mal e consequentemente Katniss também. Em silêncio, Katniss subiu as escadas, deixando ele para conversar com Annie.

Peeta se aproximou lentamente e pegou Finn no colo, ela parecia à deriva da situação, soltando o bebê de seus braços focando o nada, como se lá, houvesse algo interessante.

Ele resolveu fazer um silêncio, esperar ela voltar a si de sua lembrança ou transe para falar o que estava em mente.

– Finnick costumava me dizer coisas assim. – ela disse agora encarando Peeta.

– Me desculpe por isso, Annie. – ele falou com pesar.

– Não, não. Isso não é culpa de vocês, eu que ultimamente estou emotiva demais. – deu de ombros. – Você vai querer jantar ou vai esperar a Katniss?

– Eu vou espera-la. Depois vou para o banho também. – Peeta a fitou mais seriamente. – Tem certeza que não quer conversar sobre isso?

– Absoluta. – ela sorriu tentando transparecer certeza em suas palavras. – Eu vou para o quarto, você precisa de algo?

– Na verdade, Annie eu quero saber sobre a Delly, como ela está? – perguntou curioso, mas ele tinha outro ponto em mente.

– Nossa! Eu quase ia me esquecer! – ela exasperou. – Johanna ligou.

Peeta a olhara surpreso, meio alheio a aquilo tudo.

– Ligou?

– SIM! – Annie quase havia gritado o que fez o bebê se agitar de seu sono. – Shhh,. – ela disse acudindo o bebê, tirando do colo de Peeta e aninhando em seu peito.

– O que ela disse?

– Ela falou que o número da casa é 33, que era para avisa-los. Eu também tenho um recado dela para o Gale, é meio que particular. – disse Annie corando.

– Ih esses dois, hein? Vai dar muita novela ainda.

– Pelo visto sim. - sorriu Annie. – O que importa é que ela está bem e que agora vocês tem mais uma pista.

– Amanhã você liga para o Gale e passa as informações, aproveita e já dá o recado. – disse Peeta em meio a uma piscadela.

– Sim. – sorriu Annie. – E bom, quanto a Delly, ela estava preocupada com vocês. Queria saber notícias, eu contei sobre os acontecimentos e ela ficou apavorada.

– É, qualquer um ficaria.

– Ela me contou algumas novidades, que vai começar a trabalhar na Prefeitura e vai auxiliar Haymitch e Effie, disse também que está tomando uns comprimidos para insônia e que sente muita saudade da amizade de vocês. – disse Annie.

Peeta achou que estava ficando louco, mas pôde jurar que Annie enfatizou a palavra muita saudade e o olhou como culpado.

– Annie, o que foi? – perguntou cauteloso.

Às vezes existia algo que Annie sabia e ele poderia conectar a expressão confusa de Katniss hoje mais cedo.

– Você e Delly sempre foram só amigos? – Ela perguntou se rodeios.

– Claro. – Peeta nem precisou parar para pensar. – Ela até brincava que eu iria me casar com a Katniss na escola. Ela era a única que sempre soube dos meus sentimentos para com a Katniss. Ela falava que iriamos casar e ela seria a madrinha, que me ajudaria com a cerimônia do pão. – Peeta deu de ombros. – Ela sempre foi a minha melhor amiga.

– Entendo. – disse Annie. – Quando você ficou na Capital e a Katniss veio para cá antes de você, Delly ficou por lá, não ficou?

– Sim, claro. Ela me ajudou em algumas coisas, por quê?

– Não sei Peeta, a Delly parece ser uma pessoa muito boa, mas sempre que fala de você ela cora.

Peeta não pôde aguentar e caiu na gargalhada.

– Aquela garota é mais branca que tudo, Annie. Ela cora até de graça. Sempre foi assim.

– Eu achei tudo meio estranho.

– É paranoia sua Annie. – ele disse simplesmente. – Katniss também se sentiu estranha quando disse sobre Delly.

– Às vezes é ciúmes, bobo. – ela deu de ombros. – Muitas vezes é isso. O Finnick tinha uma amiga muito íntima chamada Aisha, ela tinha um nome exótico, era toda bonita, tinha cabelos loiros cacheados que caiam em cascata até a cintura, olhos verdes escuros como a esmeralda e um corpo dourado, característica do 4. Ela vivia conversando com ele e me deixando enciumada, mas com o tempo eu acabei digerindo bem a ideia, ela até se tornou minha amiga.

– Eu sei como é. – disse se lembrando de Gale. – Mas eu e Delly realmente não temos nada a ver. Ela é como uma irmã para mim.

– Bom, acredito em você. – sorriu. – Agora preciso levar Finnick para o bercinho. Depois você passa lá no quarto para olha-lo! É uma graça.

– Imagino que seja. – disse animado. – Depois, se você me permitir, quero te fazer uma surpresa.

– Uma surpresa? – ela questionou. – Quando verei?

– Assim que terminar. Não tive muito tempo, mas eu já havia começado só falta a conclusão, assim que der eu te entrego.

– Ok. – Annie depositou um beijo na bochecha de Peeta. – Até amanhã, não se esqueçam de jantar.

– Tá bom, mãe. – ele brincou.

Annie estava subindo as escadas e provavelmente esbarrou-se em Katniss. Elas conversaram algo inaudível, mas sua garota em chamas logo desceu as escadas.

Ela estava vestindo um pijama¹ tão delicado que era quase impossível conter a vontade de abraça-la. Ela foi descendo as escadas e Peeta naquele momento se lembrou, o quanto ambos eram jovens.

– Effie me mandou algumas coisas. Annie me disse que deixou em meio quarto, acabei encontro isso aqui. – ela falou apontando para seu corpo. – Pareço uma criança.

– Você tá linda assim. – Peeta se aproximou e logo a abraçou. – Você fica parecendo uma boneca.

Katniss estava com os cabelos soltos, formando uma leve ondulação nas pontas. Algumas partes de seu cabelo ainda não haviam crescido direito por causa da explosão da Capital. Provavelmente essas mechas nunca iriam se regenerar novamente, mas não importava, ela estava linda. Seu cabelo brilhando e cacheado como sempre. Fazendo grandes ondas contínuas caírem sobre seu rosto, que mesmo escondido, era possível ver suas maçãs coradas.

– Não estou. – ela disse firme.

– Não discuta comigo, Kat. – ele sorriu levantando o queixo da garota com o indicador. – Agora você está toda cheirosa e eu preciso de um banho para nós jantarmos.

– É você tem razão. – ela disse. – Não demore porque estou faminta.

– Não precisa me esperar...

– Não! Eu vou te esperar. – disse o interrompendo.

– Tá bom. – Peeta encostou seus lábios nos de Katniss e percorreu um caminho até seu pescoço. Os pelos do delicado braço de sua amada estavam arrepiados, causando uma grande satisfação a Peeta. Ele ficava feliz em saber que causava reações a ela, reações que ambos desconheciam.

– Não me arrepia. – ela disse irritada, mas com as bochechas bem coradas. – Vai pro banho, vai!

– Tá bom, eu vou antes que tenha que me encaminhar até lá a pontapés.

Peeta subiu as escadas vagarosamente, se lembrando de que assim que chegara ao quarto, tinha que tomar seus comprimidos.

Como previsto, ele engoliu o medicamento e separou sua roupa para o banheiro.

O banho foi tranquilo e leve, as impurezas externas e de sua alma pareciam ter sido completamente lavadas, ficando somente o que há de bom. Seus músculos estavam relaxados e sua mente livre para não pensar em mais nada.

Peeta se lembrou de que já deveria ter ficado demasiado tempo na banheira e logo saiu às pressas, vestiu uma calça de moletom preta e a regata branca.

Quase não deu muito tempo para se secar então ele estava com a pele um pouco úmida, mas pouco importava. O rapaz desceu as escadas depressa, já sentindo o efeito do remédio adentrar em seu corpo. Sua perna estava bem melhor.

– Katniss, desculpa a demora. – disse chegando à cozinha.

– Não, que nada. Eu esquentei o jantar porque já estava frio. Vamos jantar?

Ambos comeram apressadamente, famintos para dizer a verdade. A comida acalentou seus estômagos. Os dois estavam tão cheios que mal havia espaço para respirar.

– Vamos para a sala, eu acendo a lareira se quiser.

– Mas não está frio a esse ponto. Tá até calor. – ela disse.

– Então ficamos lá, conversando até ficarmos com sono.

O casal caminhou sem pressa para a sala, ficando assim horas a fio conversando. Lembrando-se de memórias e pessoas que já não eram mais presentes. Permitindo um ou outro sorriso apesar da dor.

Peeta estava deitado no tapete da sala e Katniss estava com a cabeça em sua barriga, ambos olhavam para o teto, com detalhes em gesso e uma coloração nude. Ele acariciava seus cabelos enquanto sentia a respiração dela diminuindo o ritmo. Ela subitamente havia pego no sono.

Peeta pegou-a carinhosamente, subindo as escadas sem fazer barulho e levando ela para a cama. Ela se movimentou um pouco, mas não acordou. Seu semblante enquanto dormia era tão tranquilo e perfeito, que Peeta passou vários minutos deitado ao seu lado observando ela dormir.

Katniss tinha as expressões duras, mas quando repousava, parecia mesmo uma menina. Quase inocente quase absolvida de todos os problemas.

Ele acariciou seu rosto e a abraçou com todo o amor que tinha, pensando e repensando como conseguiu conquistar a mulher de seus sonhos, como chegara tão longe e tão perto de uma história afortunada.

Consequentemente, com o tempo esvaecendo o seu sono chegou, junto à promessa de dias melhores e um futuro, quem sabe, feliz.


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Notas finais do capítulo

SE O LINK DO PIJAMA NÃO ABRIR, CLIQUE AQUI: http://data2.whicdn.com/images/102292508/large.jpg
Gostaram? Melhorando as coisas? Espero que logo achem a Johanna!
Não vai demorar muito pra eu encerrar essa temporada pessoal, então, vou informa-los que estamos chegando a reta final!
Espero que estejam gostando e que acompanhem a segunda temporada quando surgir!

Bom, isso é tudo! Nos vemos no domingo!
Amo vocês :D



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