Um Cupido (quase) Flechado escrita por Gaby Molina
Serena
Eu contei a história à Audrey por mensagem pensando que ela ia achar engraçado, mas em vez disso ela disse:
AudreyYourDearQueen diz: Como seu irmão sabe?! Vocês fazem com ele em casa, Serena Victoria Argent?!
E então eu me pus a explicar calmamente que...
AudreyYourDearQueen diz: COMO ASSIM vocês nunca afogaram o ganso? Trocaram o óleo?
Poderia ter acabado ali, mas não acabou.
AudreyYourDearQueen diz: Gratinaram o canelone? Deram ré no kibe? Jogaram um pokemón? Descabelaram o palhaço? Queimaram a mandioca? Molharam o biscoito?
ArgentMissesTonyStonem* diz: Já deu.
AudreyYourDearQueen diz: Concordo, o que estão esperando?! Vocês se pegam há quase um ano que eu sei. Nunca nem falaram disso?
ArgentMissesTonyStonem diz: Claro que já falamos disso. Mas minha mãe e Thomas estão sempre em casa, e a gente se sente desconfortável planejando. Então decidimos que vamos simplesmente deixar acontecer.
AudreyYourDearQueen diz: Parece estar funcionando muuuuito bem.
Eu estava prestes a dizer a Audrey que eu poderia muito bem lidar com sexo sem os pitacos dela quando ouvi uma batida na janela. Era só por educação, porque eu nunca trancava.
ArgentMissesTonyStonem diz: Tenho que ir, o Seeler está aqui.
E então ela soltou seu clássico:
AudreyYourDearQueen diz: ABRACE SUA VADIA INTERIOR, S.!
ArgentMissesTonyStonem diz: Minha mãe está em casa, Drey.
AudreyYourDearQueen diz: Bem, sua vadia interior não precisa ser barulhenta. Patricia nunca vai saber!
Eu ri.
ArgentMissesTonyStonem diz: Tchau, Drey! ♥
E então sorri para Heath, que se sentara ao meu lado na cama.
— Oi — ele sussurrou.
— Oi — sussurrei de volta. — Seu pai não liga que esteja aqui?
Heath deu de ombros.
— Não. Ele fica bebendo cerveja e assistindo reprise do futebol à noite, não liga para muita coisa.
Eu ri. Frederick Seeler nunca seria do tipo paternal, mas eu sabia que ele amava Heath e Fred para caralho.
— Contei para a minha mãe que Thomas bate punheta — falei.
Heath fingiu estar surpreso.
— Ah, meu Deus! E ninguém ligou para a CNN para entregar essa notícia em primeira mão?
Eu sorri.
— E como foi o seu dia?
— O de sempre.
Heath conseguira um emprego no Starbucks de uns tempos para lá. Não era muito rentável. Mas pagava a gasolina do carro. Além do mais, ele ganhava café de graça e podia desenhar nos copos, então ficava feliz.
—... É tão legal ficar vendo as pessoas tirando foto dos meus desenhos nos copos — contou ele. — Hoje eu desenhei super-heróis nos copos.
— Por quê? — Não sei. Mas foi incrível.
Eu sorri. Adorava ver a animação de Heath quanto a desenhar.
—... Hoje foi o primeiro dia do seu irmão no colegial, não foi?
Eu nem sequer perguntara a Thomas sobre isso. Tal fato fazia de mim uma irmã de merda? Provavelmente.
— Certo, hora de interrogar o maninho — levantei-me indo até a parede do lado leste do quarto. E então apenas soquei-a algumas vezes. — Thomas! Venha aqui!
— Quer que eu...? — Heath apontou para a janela.
— Não, fique. Ele não vai contar à minha mãe. E mesmo que conte, você pula a janela e fica tudo certo. Ela não vai acreditar nele.
— Hã... Ok.
Thomas entrou no meu quarto logo depois.
— Sim?
Sorri.
— Senta aí! — apontei para um espaço livre em minha cama.
Ele franziu o cenho.
— Serena, o que...?
Heath assumiu a dianteira do diálogo. Thomas simpatizava com ele, por algum motivo.
— Como foi o primeiro dia do colegial?
Thomas se sentou, ainda parecendo prever uma pegadinha.
— Legal.
— Fez amigos? — perguntei.
— Sei lá.
— O que achou dos professores?
— Babacas.
Suspirei.
— Bem, então vou contar como foi o meu primeiro dia — cruzei as pernas, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Eu consegui a última vaga para a eletiva de Música na terça, o que me deixou animada. Consegui não ir parar na detenção, o que também me deixou animada. Ah, e fiquei conversando com uma garota do segundo ano, Celeste Dumont.
— A francesa, não é? — perguntou Thomas. — Ela é gostosa.
Heath riu quando percebeu que eu havia fechado a cara.
— Não diga isso perto da sua irmã.
— Não vou nem perguntar — Thomas ergueu as mãos, parecendo compartilhar uma conexão bromance ou sei lá com o meu namorado. — Bem... Meu primeiro dia. Vamos ver. Tive dois tempos de Matemática, o que foi um saco. Me inscrevi para o time de futebol. Até conversei com o Jacobs, o capitão, que disse que vai votar a meu favor se eu não for uma porcaria total — ele deu de ombros. — E também não acabei na detenção.
Heath
—... E quase certeza que Eleanor Bynes me lançou o olhar hoje — contou Thomas, mais para mim do que para Serena.
Abri um leve sorriso malicioso, como um código secreto masculino para dizer que a garota era gata.
— Que olhar? — perguntou Serena, perdida. Ergui uma sobrancelha. — Ah... Ah! Mas... Mas...
— Aê, garoto! — demos um high-five enquanto a loura nos encarava.
— Acabamos de falar sobre nossos primeiros dias? — perguntou Thomas. — Ótimo, vou voltar para o meu quarto e deixar vocês se agarrarem em paz.
Serena ainda parecia completamente fora de órbita quando o irmão bateu a porta atrás de si.
— Tudo bem? — fitei-a.
— Quando exatamente Thomas começou a se interessar por garotas, e futebol, e...? — ela parou de falar.
— Você está parecendo uma mãe nostálgica, Serena.
Ela abraçou as próprias pernas, mordendo o lábio.
— Eu sempre o vi como uma criança. Mas, poxa, ele já vai fazer quatorze anos.
— Quatorze? — repeti, confuso. — Mas ele não tem doze?
— Não, ele fez treze em Novembro do ano passado.
— E você não me disse nada?
— Pense comigo: Novembro foi um pouco depois do nosso primeiro beijo. Eu não estava exatamente no clima fraternal.
Eu me lembrava daquele período. De todo o tempo desde que eu chegara a Nottingham, aqueles dias provavelmente foram os que mais giraram em torno de Serena para mim e vice-versa.
Sorri.
— É...
— Não sei se estou pronta para ter Thomas trazendo garotas aqui para casa ou sei lá — ela admitiu.
— Tenho certeza de que você nem vai se lembrar disso.
— Como posso não lembrar?
Do mesmo jeito que você não se lembrou do aniversário dele, talvez?, pensei.
— Bem, porque eu vou estar aqui — sorri. — E eu vou mantê-la ocupada — beijei-a nos lábios, deitando por cima dela na cama.
Vínhamos nos beijando muito desde que começáramos a namorar, simplesmente porque podíamos. Mas, sem nossa consciência batendo na porta para falar sobre Céu e Inferno e tal, vinha ficando mais complicado recuar.
Quando percebemos, eu já estava sem camisa e ela tentava tirar a própria blusa. Encaramo-nos por um minuto, enquanto eu tentava não desviar o olhar para os seios dela. Não precisamos dizer nada. Já passáramos por aquilo algumas vezes. Sentamo-nos um ao lado do outro e ficamos em silêncio por um momento.
— Sua mãe nunca sai de casa? — ergui uma sobrancelha.
— Ela está com poucos casos — Serena suspirou. — Mas, pelo menos, Thomas logo deve arrumar alguns amigos no colegial e dar o fora daqui.
Eu gostava do fato de que ela não se sentia desconfortável falando comigo sobre isso. Acho que era mais porque, devido à minha criação, eu provavelmente era mais paranoico com a coisa toda do que ela.
Celeste
Eu estava morando com uma família que fazia intercâmbios ou sei lá, mas eles não pareciam apreciar muito a minha companhia. Nenhum dos Watson olhava na minha cara, então eu tentava não puxar conversa.
Geralmente eram apenas o senhor e a senhora Watson, mas naquela noite o filho deles de vinte e cinco anos apareceu bêbado em casa.
Coloquei os fones de ouvido e tentei ignorar o barraco no andar de baixo da casa. Não estava sendo muito fácil. Acabei cedendo ao inevitável e ouvindo a conversa. Aparentemente, Thai havia largado a faculdade. De novo. Ele não pagava o aluguel havia três meses e devia dinheiro para alguém da máfia mexicana ou algo do gênero.
Ficou ainda mais difícil de ignorar quando Thai invadiu meu quarto.
— Mããe! — ele gritou. — Por que tem uma garota gata no meu quarto?!
— Eu sou quase dez anos mais nova do que você — falei, horrorizada.
Ele revirou os olhos.
— Mããe! Por que tem uma pirralha gata no meu quarto?!
— Eu moro aqui — respondi. — O intercâmbio.
— Ah, sim. Celina, não é?
— Celeste — respondi.
— Conheci algumas strippers com esse nome.
— Hã... Obrigada?
— Você ao menos sabe o que é uma stripper?
Dizer a verdade me deixaria com cara de idiota. Mentir doeria.
— Dê o fora daqui — pedi. — Por favor.
— Comme M. veulent — ele fez uma reverência.
— Comme Mlle. veulent — corrigi com um leve sorriso entretido nos lábios.
— Belle dame — ele me fitou antes de sair do quarto.
— Arrêtez — pedi, séria.
Ele assentiu e se retirou.
Serena
Patricia invadiu o quarto. Imaginei que surtaria por causa de Heath, mas em vez disso jogou a chave do carro em mim.
— Vamos, você dirige.
— Hum, mãe, eu não sei muito bem como dir...
— Heath, você vem junto. Tem carta, não tem?
— Essa é uma história bem engraçada, eu... — Heath começou.
Patricia o encarou.
— Tem a carta ou não? — Ele assentiu. — Ótimo. Sigam-me.
Fomos até o carro dela, onde Heath sentou-se no banco do motorista e Patricia sentou-se ao lado dele, deixando-me com o banco de trás. O telefone dela tocou.
— Estou chegando — ela resmungou. — São quase dez da noite, vou querer hora extra por isso. Que seja, sra. Watson. Vou fazer o possível — depois se virou para Heath. — Sabe o caminho para a delegacia?
Ele assentiu, virando à direita. Minha mãe passou o caminho todo revirando uma papelada e fazendo anotações. Quando chegamos, ela nos encarou.
— Podem vir comigo, mas não atrapalhem.
Não era a primeira vez que algo assim acontecia. Virava e mexia alguém precisava de um advogado à noite, e não havia muitos advogados de defesa em Nottingham.
— Thai Watson? — minha mãe chamou um cara de uns vinte e cinco anos sentado numa das cadeiras na sala de espera. Ele se levantou e tudo o que eu conseguia pensar era que aquele era um nome muito estranho.
— Você é minha advogada?
Patricia assentiu.
— Onde estão seus pais e o delegado?
Thai apontou com a cabeça para três figuras no canto da sala.
—... Ótimo, sente-se aí que vou resolver tudo.
— Não quer ouvir o que tenho a dizer?
— Depois, garoto.
Thai soltou um longo suspiro e voltou a sentar-se na cadeira. Sentei-me ao lado dele.
— Serena Argent — apresentei-me. — Sou filha dela.
— Legal.
— O que aconteceu?
— A curiosidade não parece ser hereditária, pelo jeito.
— Qual é, o que tem a perder me contando?
Thai suspirou e começou:
— Saí com um amigo e ele parou no caminho para comprar maconha. Fomos pegos pelo tal delegado porque esse tal meu amigo começou a fumar.
— E esse seu amigo?
— Fugiu.
— E a maconha?
— Está com ele.
— Então, você está limpo?
— Sim — ele olhou para a cena de minha mãe discutindo com o delegado. — Não parece estar indo muito bem, parece?
Fiz que não com a cabeça e me levantei.
—... Aonde está indo?
— Vou tirar você daqui, Tailândia.
— Eu poderia ter ficado sem a piada.
— Eu não — caminhei até Patricia. — Mãe, tem um minuto?
Ela me encarou.
— Serena, estou um pouco ocupada, não vê?
— Mas é exatamente sobre isso. Eles deveriam estar atrás do outro cara, e não...
— Olha, filha, eu não sei o que o garoto te disse, mas...
— Eu sei! — suspirei e me virei para o delegado. — O garoto estava fumando quando o senhor o viu?
— Não — respondeu ele, parecendo insatisfeito por estar sendo questionado por uma garota de 17 anos.
— Ele estava em posse da maconha?
— Não.
— Então, sob qual acusação o rapaz foi mantido?
— O rapaz sem nenhum antecedente criminal — acrescentou Patricia.
— Vadiagem e desacato à autoridade — respondeu o delegado.
Encarei Thai.
— Você não me falou sobre isso.
— Não foi desacato, eu só me recusei a falar. É um direito meu.
Patricia fitou o delegado.
— É um direito dele — concordou.
— Além do mais, vadiagem? — ergui uma sobrancelha. — Isso não é o suficiente para um caso no tribunal. Essa mulher é uma das melhores advogadas da região. E, apesar de parabenizá-lo por estar fazendo seu trabalho, oficial, a única coisa que a Lei pode tirar daquele rapaz é um retrato falado do cara que o acompanhava.
Minha mãe apenas concordou com a cabeça.
— Nada mau, mocinha — o delegado reconheceu. — Planejando seguir a tradição da família?
Fiquei sem resposta. Carreira de Direito? Eu nunca havia pensado naquilo.
— Quem sabe? — abri um leve sorriso.
— E então? — Patricia fitou o delegado.
— O rapaz pode ir.
— Então podemos ir para casa? — ouvi uma voz doce e conhecida atrás de mim. Celeste Dumont sorriu. — Ah, olá Serena.
— O que você...? — franzi o cenho.
— Eu moro com os Watson.
— Ah — falei, inspirando fundo. Seja gentil, Serena. Seja gentil. — Mãe, podemos ir?
Patricia assentiu, mas se virou para Celeste.
— Patricia Argent. É um prazer — ela sorriu.
— Sra. Argent! — Celeste abriu um grande sorriso. — É um grande prazer conhecê-la! Celeste Dumont. Sou amiga de Heath e da sua filha.
— É mesmo? — minha mãe parecia animada. Além de Audrey, eu não tinha muitas amigas.
— Tchau, Celeste! — forcei um sorriso e empurrei minha mãe para fora da delegacia. Puxei Heath também.
— Você foi incrível lá dentro — ele sorriu, entrelaçando os dedos da mão nos meus.
— Não fui, não.
— Não foi nada mau, Serena — disse Patricia. — Eu deveria ter dado mais atenção ao rapaz. Talvez você leve jeito para a coisa. Quer ser minha assistente no próximo caso?
Meus olhos brilharam. Eu tinha de admitir, me sentira bem fazendo aquilo na delegacia.
— Claro, por que não?
Heath beijou minha bochecha.
— Sempre achei que você tinha jeito, considerando que tem argumento para tudo.
— Isso é verdade.
* * *
Quando chegamos em casa, me despedi de Heath e Patricia me encarou.
— Vamos conversar sobre o seu namorado aqui em casa, mocinha.
E lá vinha.
— Eles estavam estudando — disse Thomas, descendo a escada. — Na verdade, não estudaram muito, porque eu fiquei com eles a maior parte do tempo. Ficamos conversando sobre meu primeiro dia de aula.
— E como ele entrou em casa?
— Eu o deixei entrar.
Patricia me encarou e eu concordei com a cabeça.
— Muito bem, então — seu olhar continuava cravado em mim. — Mas sem Heath depois das oito. Entendido? — ela ergueu uma sobrancelha. Assenti. — Exceto sexta e sábado, que ele pode ficar até as nove.
Sorri e beijei a bochecha dela.
— Você é a melhor.
— Eu sei. Vamos, cama.
— Sim, senhora — subi as escadas correndo e arrastei Thomas comigo.
Encarei-o por um longo minuto.
— Posso precisar desse favor de volta qualquer hora — meu irmão piscou, com um leve sorriso travesso no rosto, e foi para o próprio quarto.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Thomas mostrando que pertence à família, hue. O que será que o Argent mais novo vai aprontar?
*Faço das palavras da Argent as minhas. PRIMEIRA GERAÇÃO DE SKINS