Um Cupido (quase) Flechado escrita por Gaby Molina


Capítulo 4
Capítulo 4 - Law & Argent




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Serena

Eu contei a história à Audrey por mensagem pensando que ela ia achar engraçado, mas em vez disso ela disse:

AudreyYourDearQueen diz: Como seu irmão sabe?! Vocês fazem com ele em casa, Serena Victoria Argent?!

E então eu me pus a explicar calmamente que...

AudreyYourDearQueen diz: COMO ASSIM vocês nunca afogaram o ganso? Trocaram o óleo?

Poderia ter acabado ali, mas não acabou.

AudreyYourDearQueen diz: Gratinaram o canelone? Deram ré no kibe? Jogaram um pokemón? Descabelaram o palhaço? Queimaram a mandioca? Molharam o biscoito?

ArgentMissesTonyStonem* diz: Já deu.

AudreyYourDearQueen diz: Concordo, o que estão esperando?! Vocês se pegam há quase um ano que eu sei. Nunca nem falaram disso?

ArgentMissesTonyStonem diz: Claro que já falamos disso. Mas minha mãe e Thomas estão sempre em casa, e a gente se sente desconfortável planejando. Então decidimos que vamos simplesmente deixar acontecer.

AudreyYourDearQueen diz: Parece estar funcionando muuuuito bem.

Eu estava prestes a dizer a Audrey que eu poderia muito bem lidar com sexo sem os pitacos dela quando ouvi uma batida na janela. Era só por educação, porque eu nunca trancava.

ArgentMissesTonyStonem diz: Tenho que ir, o Seeler está aqui.

E então ela soltou seu clássico:

AudreyYourDearQueen diz: ABRACE SUA VADIA INTERIOR, S.!

ArgentMissesTonyStonem diz: Minha mãe está em casa, Drey.

AudreyYourDearQueen diz: Bem, sua vadia interior não precisa ser barulhenta. Patricia nunca vai saber!

Eu ri.

ArgentMissesTonyStonem diz: Tchau, Drey! ♥

E então sorri para Heath, que se sentara ao meu lado na cama.

— Oi — ele sussurrou.

— Oi — sussurrei de volta. — Seu pai não liga que esteja aqui?

Heath deu de ombros.

— Não. Ele fica bebendo cerveja e assistindo reprise do futebol à noite, não liga para muita coisa.

Eu ri. Frederick Seeler nunca seria do tipo paternal, mas eu sabia que ele amava Heath e Fred para caralho.

— Contei para a minha mãe que Thomas bate punheta — falei.

Heath fingiu estar surpreso.

— Ah, meu Deus! E ninguém ligou para a CNN para entregar essa notícia em primeira mão?

Eu sorri.

— E como foi o seu dia?

— O de sempre.

Heath conseguira um emprego no Starbucks de uns tempos para lá. Não era muito rentável. Mas pagava a gasolina do carro. Além do mais, ele ganhava café de graça e podia desenhar nos copos, então ficava feliz.

—... É tão legal ficar vendo as pessoas tirando foto dos meus desenhos nos copos — contou ele. — Hoje eu desenhei super-heróis nos copos.

— Por quê? — Não sei. Mas foi incrível.

Eu sorri. Adorava ver a animação de Heath quanto a desenhar.

—... Hoje foi o primeiro dia do seu irmão no colegial, não foi?

Eu nem sequer perguntara a Thomas sobre isso. Tal fato fazia de mim uma irmã de merda? Provavelmente.

— Certo, hora de interrogar o maninho — levantei-me indo até a parede do lado leste do quarto. E então apenas soquei-a algumas vezes. — Thomas! Venha aqui!

— Quer que eu...? — Heath apontou para a janela.

— Não, fique. Ele não vai contar à minha mãe. E mesmo que conte, você pula a janela e fica tudo certo. Ela não vai acreditar nele.

— Hã... Ok.

Thomas entrou no meu quarto logo depois.

— Sim?

Sorri.

— Senta aí! — apontei para um espaço livre em minha cama.

Ele franziu o cenho.

— Serena, o que...?

Heath assumiu a dianteira do diálogo. Thomas simpatizava com ele, por algum motivo.

— Como foi o primeiro dia do colegial?

Thomas se sentou, ainda parecendo prever uma pegadinha.

— Legal.

— Fez amigos? — perguntei.

— Sei lá.

— O que achou dos professores?

— Babacas.

Suspirei.

— Bem, então vou contar como foi o meu primeiro dia — cruzei as pernas, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Eu consegui a última vaga para a eletiva de Música na terça, o que me deixou animada. Consegui não ir parar na detenção, o que também me deixou animada. Ah, e fiquei conversando com uma garota do segundo ano, Celeste Dumont.

— A francesa, não é? — perguntou Thomas. — Ela é gostosa.

Heath riu quando percebeu que eu havia fechado a cara.

— Não diga isso perto da sua irmã.

— Não vou nem perguntar — Thomas ergueu as mãos, parecendo compartilhar uma conexão bromance ou sei lá com o meu namorado. — Bem... Meu primeiro dia. Vamos ver. Tive dois tempos de Matemática, o que foi um saco. Me inscrevi para o time de futebol. Até conversei com o Jacobs, o capitão, que disse que vai votar a meu favor se eu não for uma porcaria total — ele deu de ombros. — E também não acabei na detenção.

Heath

—... E quase certeza que Eleanor Bynes me lançou o olhar hoje — contou Thomas, mais para mim do que para Serena.

Abri um leve sorriso malicioso, como um código secreto masculino para dizer que a garota era gata.

— Que olhar? — perguntou Serena, perdida. Ergui uma sobrancelha. — Ah... Ah! Mas... Mas...

— Aê, garoto! — demos um high-five enquanto a loura nos encarava.

— Acabamos de falar sobre nossos primeiros dias? — perguntou Thomas. — Ótimo, vou voltar para o meu quarto e deixar vocês se agarrarem em paz.

Serena ainda parecia completamente fora de órbita quando o irmão bateu a porta atrás de si.

— Tudo bem? — fitei-a.

— Quando exatamente Thomas começou a se interessar por garotas, e futebol, e...? — ela parou de falar.

— Você está parecendo uma mãe nostálgica, Serena.

Ela abraçou as próprias pernas, mordendo o lábio.

— Eu sempre o vi como uma criança. Mas, poxa, ele já vai fazer quatorze anos.

— Quatorze? — repeti, confuso. — Mas ele não tem doze?

— Não, ele fez treze em Novembro do ano passado.

— E você não me disse nada?

— Pense comigo: Novembro foi um pouco depois do nosso primeiro beijo. Eu não estava exatamente no clima fraternal.

Eu me lembrava daquele período. De todo o tempo desde que eu chegara a Nottingham, aqueles dias provavelmente foram os que mais giraram em torno de Serena para mim e vice-versa.

Sorri.

— É...

— Não sei se estou pronta para ter Thomas trazendo garotas aqui para casa ou sei lá — ela admitiu.

— Tenho certeza de que você nem vai se lembrar disso.

— Como posso não lembrar?

Do mesmo jeito que você não se lembrou do aniversário dele, talvez?, pensei.

— Bem, porque eu vou estar aqui — sorri. — E eu vou mantê-la ocupada — beijei-a nos lábios, deitando por cima dela na cama.

Vínhamos nos beijando muito desde que começáramos a namorar, simplesmente porque podíamos. Mas, sem nossa consciência batendo na porta para falar sobre Céu e Inferno e tal, vinha ficando mais complicado recuar.

Quando percebemos, eu já estava sem camisa e ela tentava tirar a própria blusa. Encaramo-nos por um minuto, enquanto eu tentava não desviar o olhar para os seios dela. Não precisamos dizer nada. Já passáramos por aquilo algumas vezes. Sentamo-nos um ao lado do outro e ficamos em silêncio por um momento.

— Sua mãe nunca sai de casa? — ergui uma sobrancelha.

— Ela está com poucos casos — Serena suspirou. — Mas, pelo menos, Thomas logo deve arrumar alguns amigos no colegial e dar o fora daqui.

Eu gostava do fato de que ela não se sentia desconfortável falando comigo sobre isso. Acho que era mais porque, devido à minha criação, eu provavelmente era mais paranoico com a coisa toda do que ela.

Celeste

Eu estava morando com uma família que fazia intercâmbios ou sei lá, mas eles não pareciam apreciar muito a minha companhia. Nenhum dos Watson olhava na minha cara, então eu tentava não puxar conversa.

Geralmente eram apenas o senhor e a senhora Watson, mas naquela noite o filho deles de vinte e cinco anos apareceu bêbado em casa.

Coloquei os fones de ouvido e tentei ignorar o barraco no andar de baixo da casa. Não estava sendo muito fácil. Acabei cedendo ao inevitável e ouvindo a conversa. Aparentemente, Thai havia largado a faculdade. De novo. Ele não pagava o aluguel havia três meses e devia dinheiro para alguém da máfia mexicana ou algo do gênero.

Ficou ainda mais difícil de ignorar quando Thai invadiu meu quarto.

— Mããe! — ele gritou. — Por que tem uma garota gata no meu quarto?!

— Eu sou quase dez anos mais nova do que você — falei, horrorizada.

Ele revirou os olhos.

— Mããe! Por que tem uma pirralha gata no meu quarto?!

— Eu moro aqui — respondi. — O intercâmbio.

— Ah, sim. Celina, não é?

— Celeste — respondi.

— Conheci algumas strippers com esse nome.

— Hã... Obrigada?

— Você ao menos sabe o que é uma stripper?

Dizer a verdade me deixaria com cara de idiota. Mentir doeria.

— Dê o fora daqui — pedi. — Por favor.

Comme M. veulent — ele fez uma reverência.

Comme Mlle. veulent — corrigi com um leve sorriso entretido nos lábios.

Belle dame — ele me fitou antes de sair do quarto.

Arrêtez — pedi, séria.

Ele assentiu e se retirou.

Serena

Patricia invadiu o quarto. Imaginei que surtaria por causa de Heath, mas em vez disso jogou a chave do carro em mim.

— Vamos, você dirige.

— Hum, mãe, eu não sei muito bem como dir...

— Heath, você vem junto. Tem carta, não tem?

— Essa é uma história bem engraçada, eu... — Heath começou.

Patricia o encarou.

— Tem a carta ou não? — Ele assentiu. — Ótimo. Sigam-me.

Fomos até o carro dela, onde Heath sentou-se no banco do motorista e Patricia sentou-se ao lado dele, deixando-me com o banco de trás. O telefone dela tocou.

— Estou chegando — ela resmungou. — São quase dez da noite, vou querer hora extra por isso. Que seja, sra. Watson. Vou fazer o possível — depois se virou para Heath. — Sabe o caminho para a delegacia?

Ele assentiu, virando à direita. Minha mãe passou o caminho todo revirando uma papelada e fazendo anotações. Quando chegamos, ela nos encarou.

— Podem vir comigo, mas não atrapalhem.

Não era a primeira vez que algo assim acontecia. Virava e mexia alguém precisava de um advogado à noite, e não havia muitos advogados de defesa em Nottingham.

— Thai Watson? — minha mãe chamou um cara de uns vinte e cinco anos sentado numa das cadeiras na sala de espera. Ele se levantou e tudo o que eu conseguia pensar era que aquele era um nome muito estranho.

— Você é minha advogada?

Patricia assentiu.

— Onde estão seus pais e o delegado?

Thai apontou com a cabeça para três figuras no canto da sala.

—... Ótimo, sente-se aí que vou resolver tudo.

— Não quer ouvir o que tenho a dizer?

— Depois, garoto.

Thai soltou um longo suspiro e voltou a sentar-se na cadeira. Sentei-me ao lado dele.

— Serena Argent — apresentei-me. — Sou filha dela.

— Legal.

— O que aconteceu?

— A curiosidade não parece ser hereditária, pelo jeito.

— Qual é, o que tem a perder me contando?

Thai suspirou e começou:

— Saí com um amigo e ele parou no caminho para comprar maconha. Fomos pegos pelo tal delegado porque esse tal meu amigo começou a fumar.

— E esse seu amigo?

— Fugiu.

— E a maconha?

— Está com ele.

— Então, você está limpo?

— Sim — ele olhou para a cena de minha mãe discutindo com o delegado. — Não parece estar indo muito bem, parece?

Fiz que não com a cabeça e me levantei.

—... Aonde está indo?

— Vou tirar você daqui, Tailândia.

— Eu poderia ter ficado sem a piada.

— Eu não — caminhei até Patricia. — Mãe, tem um minuto?

Ela me encarou.

— Serena, estou um pouco ocupada, não vê?

— Mas é exatamente sobre isso. Eles deveriam estar atrás do outro cara, e não...

— Olha, filha, eu não sei o que o garoto te disse, mas...

— Eu sei! — suspirei e me virei para o delegado. — O garoto estava fumando quando o senhor o viu?

— Não — respondeu ele, parecendo insatisfeito por estar sendo questionado por uma garota de 17 anos.

— Ele estava em posse da maconha?

— Não.

— Então, sob qual acusação o rapaz foi mantido?

— O rapaz sem nenhum antecedente criminal — acrescentou Patricia.

— Vadiagem e desacato à autoridade — respondeu o delegado.

Encarei Thai.

— Você não me falou sobre isso.

— Não foi desacato, eu só me recusei a falar. É um direito meu.

Patricia fitou o delegado.

— É um direito dele — concordou.

— Além do mais, vadiagem? — ergui uma sobrancelha. — Isso não é o suficiente para um caso no tribunal. Essa mulher é uma das melhores advogadas da região. E, apesar de parabenizá-lo por estar fazendo seu trabalho, oficial, a única coisa que a Lei pode tirar daquele rapaz é um retrato falado do cara que o acompanhava.

Minha mãe apenas concordou com a cabeça.

— Nada mau, mocinha — o delegado reconheceu. — Planejando seguir a tradição da família?

Fiquei sem resposta. Carreira de Direito? Eu nunca havia pensado naquilo.

— Quem sabe? — abri um leve sorriso.

— E então? — Patricia fitou o delegado.

— O rapaz pode ir.

Então podemos ir para casa? — ouvi uma voz doce e conhecida atrás de mim. Celeste Dumont sorriu. — Ah, olá Serena.

— O que você...? — franzi o cenho.

— Eu moro com os Watson.

— Ah — falei, inspirando fundo. Seja gentil, Serena. Seja gentil. — Mãe, podemos ir?

Patricia assentiu, mas se virou para Celeste.

— Patricia Argent. É um prazer — ela sorriu.

— Sra. Argent! — Celeste abriu um grande sorriso. — É um grande prazer conhecê-la! Celeste Dumont. Sou amiga de Heath e da sua filha.

— É mesmo? — minha mãe parecia animada. Além de Audrey, eu não tinha muitas amigas.

— Tchau, Celeste! — forcei um sorriso e empurrei minha mãe para fora da delegacia. Puxei Heath também.

— Você foi incrível lá dentro — ele sorriu, entrelaçando os dedos da mão nos meus.

— Não fui, não.

— Não foi nada mau, Serena — disse Patricia. — Eu deveria ter dado mais atenção ao rapaz. Talvez você leve jeito para a coisa. Quer ser minha assistente no próximo caso?

Meus olhos brilharam. Eu tinha de admitir, me sentira bem fazendo aquilo na delegacia.

— Claro, por que não?

Heath beijou minha bochecha.

— Sempre achei que você tinha jeito, considerando que tem argumento para tudo.

— Isso é verdade.

* * *

Quando chegamos em casa, me despedi de Heath e Patricia me encarou.

— Vamos conversar sobre o seu namorado aqui em casa, mocinha.

E lá vinha.

— Eles estavam estudando — disse Thomas, descendo a escada. — Na verdade, não estudaram muito, porque eu fiquei com eles a maior parte do tempo. Ficamos conversando sobre meu primeiro dia de aula.

— E como ele entrou em casa?

— Eu o deixei entrar.

Patricia me encarou e eu concordei com a cabeça.

— Muito bem, então — seu olhar continuava cravado em mim. — Mas sem Heath depois das oito. Entendido? — ela ergueu uma sobrancelha. Assenti. — Exceto sexta e sábado, que ele pode ficar até as nove.

Sorri e beijei a bochecha dela.

— Você é a melhor.

— Eu sei. Vamos, cama.

— Sim, senhora — subi as escadas correndo e arrastei Thomas comigo.

Encarei-o por um longo minuto.

— Posso precisar desse favor de volta qualquer hora — meu irmão piscou, com um leve sorriso travesso no rosto, e foi para o próprio quarto.


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Notas finais do capítulo

Thomas mostrando que pertence à família, hue. O que será que o Argent mais novo vai aprontar?

*Faço das palavras da Argent as minhas. PRIMEIRA GERAÇÃO DE SKINS