Um Cupido (quase) Flechado escrita por Gaby Molina


Capítulo 3
Capítulo 3 - Amour Vincit Omnia


Notas iniciais do capítulo

Alguém já leu algum livro de uma escritora chamada Maureen Johnson? Eu li um conto dela em Deixe a Neve Cair, e simplesmente estou apaixonada pelo jeito que ela escreve *----* Me lembrou muito o John Green, principalmente o humor dela (que também parece com o meu, que também não é exatamente politicamente correto, mas vocês já sabem disso). Então, tipo, preciso ler algum livro dela, ,a.dmeofmd,c
Se alguém tiver alguma dica... Please :3
Para quem nunca leu Deixe a Neve Cair, leia, é muito bom ^^ Eu comprei por motivos de John Green e pq vieram um milhão de pessoas me dizer que a Duke (uma das personagens do conto do Green) era basicamente eu versão Carolina do Norte, então sacomé. Mas enfim, me surpreendi bastante com os outros dois contos, são muito bons :3 Ainda não acabei o último, então sem spoilers, pls u-u



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Celeste

— Vai entrar para a equipe de torcida? — o garoto com quem eu havia conversado no dia anterior me perguntou antes de a aula começar.

— Pode ser divertido — sorri levemente, apesar de só ter entrado para a equipe porque Audrey estava nela. Eu estava andando pelo corredor, e ele já estava andando comigo há algum tempo. — Tenho que ir para a aula agora — falei, fitando-o. Não era como se eu achasse que ele tinha qualquer interesse em mim, mas eu não queria me aproximar de mortais. Depois de toda a agitação recente no Céu, era melhor não arriscar nada.

— Estou na mesma classe que você em Matemática — ele abriu um leve sorriso. Ergui uma sobrancelha. — O quê? Pode ser que eu tenha tomado a liberdade de checar o seu horário.

Eu estava dando meu máximo para não achar aquilo um pouco sociopata e fofo. Muito fofo.

—... Vamos? — ele apontou com a cabeça para a classe.

— Érrr... Claro.

Quando chegamos à classe, o sr. Timann nos encarou.

— Sr. Jacobs — ele encarou o garoto. — Quem é a sua amiga?

— Celeste Dumont — apresentei-me. — Estou nessa classe.

— Certo. É um prazer. Há dois lugares na segunda fileira, sintam-se à vontade para tomá-los.

— Obrigada — sorri levemente, caminhando rapidamente até a terceira carteira da segunda fileira. Virei-me para trás para fitar o garoto quando ele se sentou. — Jacobs... Como em Christopher Jacobs? — estreitei os olhos.

Ele ergueu uma sobrancelha, abrindo um leve sorriso.

— Parece que não sou só eu que andou fazendo a lição de casa.

Droga.

— Ouvi umas garotas falarem.

— É? E o que elas disseram?

— Que você estava no time de futebol.

Não era exatamente mentira — a Loira havia mesmo me dito que ele era atleta —, mas senti uma pequena queimação na ponta dos dedos. Anjos, mesmo Nefilim, não deveriam mentir. Mentiras maiores ardiam mais, mas qualquer mentirinha branca era desconfortável.

— Srta. Dupont — chamou o professor. — Eu não ligo para de onde você é ou há quanto tempo está aqui. O que eu ligo é se você vai prestar atenção no que estou dizendo ou se vou ter que mandá-la prestar atenção no que a diretora tem a dizer.

Bem, eu não sabia que prestar atenção era obrigatório. Humanos são estranhos.

— Dumont — corrigi. — Dupond e Dupont são os detetives de As Aventuras de Tintim.

— E eu não dou a mínima.

Assenti.

— Vou prestar atenção.

— Espero que sim.

Tentei com afinco entender tudo o que ele dizia, mas não fazia nenhum sentido na minha cabeça. Olhei para o lado a fim de ver se mais alguém estava boiando, mas ao invés disso encontrei um par de olhos escuros cravados furiosamente em mim.

A garota sentada na quarta carteira da fileira ao lado da minha parecia bem capaz de pular em mim e rasgar minha garganta ali mesmo. Possuía cabelos louros bem-tingidos e pele bem clara, com lábios naturalmente rosados contrastantes. Ela era muito bonita.

Acenei levemente e me encolhi na carteira. Deixei meus pensamentos vagarem um pouco por aí, tentando não pensar na tal garota. Quando a aula terminou, Christopher correu até mim no corredor.

— Você realmente viajou a aula toda, hein?

Enrubesci.

— Eu me perdi um pouco na explicação.

— Não é tão difícil. Posso ajudá-la a estudar, se quiser.

— Bem...

No mesmo momento, a garota que me fuzilara a aula inteira se aproximou de nós. Bem... Não exatamente de nós.

— Oi — ela sorriu para Christopher, e então tascou-lhe um belo beijo francês.

Deus, eles estavam em público! Qual era o problema dos humanos com demonstrações de afeto?!

— Oh — Christopher pareceu se lembrar de minha existência quando acabou de devorar a garota. — Layla, esta é a Celeste. Ela é novata. Celeste, esta é a Layla, minha namorada. Sinto muito que tenham se conhecido assim.

Minha mente se esvaziou quando eu abri a boca. O que eu deveria dizer?

— Prazer — abri um leve sorriso.

— Nhé — resmungou Layla. Depois fitou o namorado. — Está a fim de dar o fora daqui?

— Tenho aula de História agora.

— E quem precisa de História?!

— Eu, se quiser passar de ano.

— Ah, cale a boca, suas médias são ótimas.

Desista, Sonencler, ninguém quer passar mais tempo do que o necessário com você — provocou a Loira, que passava por ali na hora.

— Ah, como se você não matasse metade das aulas ano passado para se agarrar com o seu namorado americano delinquente.

— E, surpreendentemente, conseguimos passar de ano direto. Olha só como o destino é engraçado — ela soltou uma risada alta. — Ah, e aí, Ruiva? Já se aliando à nobreza de Nottingham High?

— Isso foi sarcasmo? — Layla ergueu uma sobrancelha.

— Claro que não — a Loira sorriu, fazendo uma reverência debochada. Depois me encarou. — Vamos, eu vou resgatar você. Mas só dessa vez.

Eu queria explicar que não precisava ser resgatada, mas algo em seu olhar me deu a certeza de que era inútil. Além do mais, se eu virasse amiga da Loira, talvez conseguisse me aproximar mais de Audrey.

Assustei-me com a graciosidade nata da Loira. Apesar da língua lasciva e da falta de bons modos, ela caminhava como uma rainha o faria. Sem olhar para baixo. Decidida. Cada passo era como um passo de ballet espontâneo, mesmo que suas botas de salto fossem bem altas.

— Você costumava mesmo matar aula? — perguntei, curiosa.

Pensei que ela fosse me xingar, mas, por algum motivo, respondeu.

— Não tanto quanto aquela vaca fez parecer. E nunca sem um bom motivo. Meu namorado matava mais aulas do que eu, mas não é como se ele tivesse muita escolha.

Amour Vincit Omnia — comentei, sonhadora.

A Loira franziu o cenho.

— Isso é de Virgílio, não é? Você fala Latim?

Hesitei.

— Sim, aprendi meio que por necessidade.

Serena

Acho que Celeste — perguntei seu nome a Christopher no dia anterior — percebeu meus olhos arregalados e minha inquietação. Eu provavelmente estava louca e paranoica. Depois de tudo o que acontecera, talvez tivesse perdido um pouco de meu bom senso. Ou talvez não.

Estudante de intercâmbio. Falava Latim. Não sabia nada sobre os costumes adolescentes. Era como se tudo estivesse acontecendo de novo e de novo.

Por um momento imaginei que ela fosse meu novo anjo da guarda, mas ela não parecia interessada em me perseguir ou algo do tipo. Se ela não fosse Nefilim, eu não daria a mínima se ela achasse que eu era pirada. Então disse:

— Ruiva, nós precisamos conversar. Muito sério — arrastei-a até a arquibancada. Seus olhos cinzentos carregados de confusão me observavam atentamente. Suspirei. — Nos últimos meses, aconteceram algumas coisas um pouco... Divinas? É, divinas seria a palavra. Comigo. E eu não sei direito como falar disso com você, mas o Seeler com certeza deve ter alguma ideia.

Deus, aquela garota estava perdida. Heath pelo menos era rebelde e não dava a mínima para bons modos, mas aquela garota era simplesmente boazinha demais. Ela não tinha noção nenhuma de como os humanos geralmente se comportavam.

— Espere... Seeler? — Celeste franziu o cenho, confusa.

— Meu namorado.

— Ah, meu Deus! — ela gritou, se levantando. Um brilho de animação e autorealização surgiu em seus olhos como se ela estivesse diante da Oprah. — Você é Serena Argent!

Bem, esse era um jeito de introduzir a conversa.

* * *

— Eu ouvi tuuudo sobre vocês! Bem, não exatamente tudo, porque a história de vocês é meio que proibida no Céu. Isso é tão Romeu e Julieta!

Era a minha vez de ficar confusa.

— Hã... Claro.

— Ah, meu Deus, você não sabe, não é? Você é famosa!

— De um jeito... bom?

Amour Vincit Omnia!

— Já basta o Seeler falando em Latim na minha cabeça. Minha língua, por favor.

— "O amor conquista tudo"! Foi o que Virgílio disse quando eu falei com ele sobre vocês.

— Tudo bem, isso é assustador. Deus. Eu não quero saber o que os mortos acham de mim, tudo bem? Não quero.

— Certo. Desculpe. Eu só... me empolguei. Maldição, sinto-me tão tola! Eu deveria ter sabido que estava diante de Serena Victoria Argent. E talvez, um dia... Serena Victoria Argent Seeler!

Eu jamais admitiria que aquilo, na verdade, soava muito bem.

—... A moça dos cabelos de sol, da pele de porcelana e dos lábios de fogo! Eu deveria ter...

— Espere. Como é que é?

— Ah, Virgílio escreveu um poema sobre você.

Franzi o cenho. Depois que descobri que aquele garoto babaca de meu colégio era meu anjo da guarda, pensei que nada podia piorar. Eu estava errada. Depois que me apaixonei pelo meu anjo da guarda, tive certeza de que nada podia piorar. Eu estava completamente errada.

Que surpresa.

* * *

Depois da aula, eu arrastei Celeste até o estacionamento, onde logo vi a picape azul-marinho de Heath, e ele sentado no capô. Virei-me para a garota a fim de dizer:

— Então, aquele...

Mas nem precisei terminar a frase.

— HEATH! — ela gritou e saiu correndo.

E, devo dizer, meus planos em ajudar Celeste não incluíam aquela francesa santinha agarrando meu namorado. Heath não a reconheceu de imediato, mas a abraçou. Quando eles se separaram, fitaram-se por um longo momento e ele gritou:

— Ai meu Deus, você conseguiu, não foi? — ele abriu um grande sorriso e abraçou-a novamente. — Eu sabia que ia conseguir o posto! Caius seria totalmente mané se não te enviasse logo para uma missão.

Pigarreei, fingindo estar interessada em minha unha.

Heath

— Ah, olá, querida — sorri. Serena odiava quando eu a chamava de querida. — Já conhece a Celeste?

— Não tão bem quanto você, pelo visto — Tentei não parecer muito satisfeito com o ciúme evidente em sua voz.

— Fazíamos aula de música juntos — contou Celeste animada, sem parecer se dar conta do olhar assassino de Serena.

Celeste não conseguia ver o mal nas pessoas, mesmo que o mal em questão fosse muito adorável.

— Podemos ir? — Serena ergueu uma sobrancelha. — Ou as duas moças querem por a conversa em dia?

— Você tem como voltar para casa? — indaguei Celeste.

— Ela tem asas, não tem? — Serena franziu o cenho. — Tenho certeza de que esse é um ótimo meio de voltar para casa.

— Sinto muito pelas suas asas, falando nisso — disse Celeste a mim.

Eu ri.

— Eu não sinto. As camisas duram bem mais agora.

— Ótimo, vamos logo — Serena me arrastou até o carro. — Tchau, Ruiva.

— Tchau, Serena! Foi um prazer! E tchau, Heath!

— Tchau! — sorri, acenando. Quando liguei o carro e saímos do estacionamento, quebrei o silêncio: — Vamos falar sobre isso?

— Dirija — foi a resposta dela. Os olhos azuis estavam cravados na avenida.

— Não acredito que está com ciúme da Celeste.

— Vocês pareciam bem próximos — ela murmurou.

Eu ri.

— Argent, aquela garota é como uma versão humana de um bichinho de pelúcia, eu não consigo pensar nela desse jeito.

— Então... Nunca aconteceu nada entre vocês?

— No Céu? Está brincando comigo? Nada. Eu juro.

— Tá.

— Tá?

— Tá!

Suspirei e encostei o carro num lugar onde provavelmente era proibido, mas eu não ligava. Fitei-a por um momento, com um leve sorriso malicioso no rosto.

— Adoro quando está brava comigo.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— É? Por quê?

— Porque beija melhor quando está irritada.

— Vá à merda.

— Eu amo seus beijos, Argent.

— Problema seu.

Sorri.

— Não pode me impedir — e então beijei-a.

Serena

Ele estava completamente certo. Eu não conseguia afastá-lo, nunca teria força de vontade o suficiente. Então apenas o beijei de volta. Acabamos deitados por cima do câmbio e dos bancos, enquanto eu sentia as mãos de Heath descendo por minhas costas enquanto me beijava. Só nos separamos quando abri os olhos enquanto Heath beijava meu pescoço e me deparei com um carro de polícia encostando atrás de nós.

— Seeler, acelere o carro.

— O quê?

— Acelere!

Ele não precisava de mais explicações. Sentou-se rapidamente e meteu o pé no acelerador. Logo estávamos longe dali e o policial não fez questão de nos seguir.

Deus abençoe os guardas preguiçosos.

* * *

Continuamos os beijos na porta de minha casa, até que percebi que Thomas — meu irmão de treze anos ("Quase quatorze", ele acrescentaria) — nos observava como se estivesse vendo um filme pornô.

— Até amanhã? — fitei-o, deixando claro que só estava fazendo aquilo por causa de Thomas.

— Claro — ele beijou minha testa. — Posso passar no seu quarto mais tarde? — sussurrou.

— Como se eu pudesse te impedir.

— Que bom que estamos de acordo — ele abriu um leve sorriso e, depois de selar nossos lábios mais uma vez, se afastou.

Entrei em casa já berrando:

— MÃE, O THOMAS ESTÁ FODENDO MEU NAMORO DE NOVO!

— EU ESTAVA IMPEDINDO MINHA IRMÃZINHA DE TER UM FILHO NA CALÇADA! — ele defendeu, correndo para a cozinha.

Puxei-o pela gola da camiseta.

—... E ela está me ensinando palavrões de novo! — acrescentou ele.

Filii canis! — continuei xingando. Ter um namorado meio-anjo que falava Latim tinha que ter alguma vantagem.

Patricia apareceu na sala, semicerrando os olhos:

— Você — ela apontou para Thomas. — Quarto. E cuide de sua própria vida. E você — ela apontou para mim. — Mantenha o bom exemplo para o seu irmão.

— Bom exemplo?! Ele tem treze anos! Ele não precisa da irmã dele beijando um cara para ter desculpa para bater punheta!

— Serena!

— Qual é, o que você acha que ele faz trancado no quarto? — ergui uma sobrancelha.

— Ele faz as lições de casa!

Soltei um riso alto.

— De Anatomia, só se for.

COMO SE VOCÊ NÃO AMASSE ESTUDAR ANATOMIA COM O HEATH O TEMPO TODO! — berrou Thomas do andar de cima.

— Cale a boca!

Você que começou!

Patricia me encarou por um minuto, como se estivesse tentando entender a piada ainda. Subi para meu quarto antes que ela entendesse.


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Notas finais do capítulo

FAQ:
"O Heath e a Serena vão ficar se pegando a cada dois parágrafos a fic toda mesmo?"
O que você acha? u-u Obviously que não.
"Um anjo chamado Celeste"
Não é exatamente uma pergunta, mas psé. VOCÊS VÃO ENTENDER POR QUE ELA CHAMA CELESTE, parem de elogiar minha criatividade (porém não), HAUSHAUSH
"O Liam e o Damien vão se pegar?"
Vai saber, né.
"Posso casar com o Thomas?"
E você pergunta pra mim?