Celeste

As coisas no Céu estavam ficando cada vez piores para os Nefilim. Muito obrigada, Heath Seeler. Valeu mesmo. Agora tínhamos palestras semanais, que nada mais eram do que ameaças constantes sobre como o mundo lá embaixo era terrível e sobre como éramos sortudos por morar no Paraíso. Eu meio que acreditava nisso. Não estava planejando deixar o Céu.

Heath estava — costumava estar, pelo menos — em minha aula de Música. Mas eu o conhecia um pouco melhor pelos momentos de entendimento e preocupação que compartilhávamos no Corredor das Indulgências.

Depois da queda do Seeler, tornou-se proibido chamar aquele corredor de Corredor do Heath. Eu ainda o fazia em segredo, por costume ou por cinismo.

Os anjos adoravam gritar por semanas sobre como um Nefilim havia sido chutado para fora do Céu. Mas quando ele se jogava lá embaixo por escolha própria... Era como se o Nefilim nunca houvesse existido. Eu repudiava tal prática, a coisa de apenas retirar os "frutos podres" da linda árvore celeste.

O único anjo que ousava falar o nome de Heath era Caius, que também era meu supervisor. Era estranho imaginar aquele garoto lindo e delinquente que eu mal conhecia naquele mesmo corredor, esperando a que seria sua última tarefa. Será que ele imaginava o que ia acontecer? Provavelmente não. Eu gostaria de perguntar a ele, mas é claro que não ia acontecer.

Ouvira trechos da história. Boatos sobre a menina loura, linda e de temperamento difícil, e sobre como eles se odiavam a princípio. Pareceu-me uma boa história de amor, mas era realmente difícil encontrar alguém aqui que estivesse disposto a quebrar o tabu e me contar o que realmente acontecera. Eu era uma romântica incorrigível, e é claro que uma parte de mim achava a atitude de Heath extremamente digna de suspiros. Mas não cabia a mim.

— Celeste Dumont — ouvi a voz grave de Caius. E lá estava eu novamente...

Sentei-me na cadeira em frente ao anjo.

— Suponho que saiba por que está aqui — ele estreitou os olhos, calmo.

— Está bem — suspirei, encostando as costas na cadeira. Afastei uma mecha de meu cabelo ruivo do rosto. — Eu posso ter dito que Shakespeare era um pervertido, mas ele realmente...

— Espere. Sobre o que está falando?

Minha voz morreu.

— Sobre o que o senhor está falando?!

— Estou falando sobre a sua tarefa — ele abriu um leve sorriso.

Abri o maior dos sorrisos e comecei a soltar pequenos gritinhos.

— Está falando sério?! Sério mesmo?! — fitei-o, esperançosa.

Ele assentiu.

— Parabéns, srta. Dumont, conseguiu seu posto de Cupido.

— Ai. Meu. Deus. Obrigada, muito obrigada! — levantei-me, feliz. — Não vou decepcioná-lo!

— Espero que não. A senhorita cuidará de um caso em Nottingham, Inglaterra. Um rapaz e uma moça de colegial. Aqui estão os dados — ele me entregou uma ficha. — Terá um supervisor, é claro. Temos um especialista nessa coisa de supervisão para você.

No mesmo momento, bateram na porta.

— Mandou me chamar? — ouvi uma voz masculina. Damien Gull entrou na sala, silencioso. Os cabelos louros estavam penteados para trás, e os olhos verdes se estreitaram ao me ver. — Ah, não. De novo, não — suspirou, já prevendo o que viria a seguir.