Every Life escrita por Kaline Bogard


Capítulo 2
Parte 02


Notas iniciais do capítulo

Vou tentar postar toda segunda-feira.

Boa semana!!



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Every Life

Kaline Bogard

Parte 02

A estrada era longa. E se estendia a perder de vista. Mas não assustava Ed. Pelo contrário. O rapaz acostumara-se a vida mambembe, sem parada definitiva por muito tempo. E gostava de estar numa constante aventura.

Ajeitou a grande e pesada mochila nas costas. Eita coisa difícil de carregar...

Suspirou. Era naqueles longos períodos de solidão que conseguia colocar o pensamento em ordem quando, em via de regra, fazia uma retrospectiva de sua vida, de fatos marcantes que passara.

Não fora fácil, chegar até ali. Por vezes acreditara que não venceria a tragédia sofrida. Em vários momentos acreditou no que os psicólogos e psiquiatras falavam: que era doente, que não tinha cura.

Claro que a atitude desinteressada não ajudava. Pouco se importava com tudo depois de perder o que restara de sua família. Não fazia esforço algum para ser adotado e nem tinha esperança. Conformara-se em alcançar a maioridade naquele abrigo para órfãos.

Riu com a lembrança. Ed sabia que fora um adolescente complicado. Às vezes se perguntava como sobrevivera aqueles longos dez anos. As duras penas, claro, mas sobrevivera. Agora era livre.

Sabia o que era certo e o que não era. O que era real e o que não era. Se fortalecera a ponto de ganhar o mundo, num caminho sem destino certo, indo aonde os pés o levassem...

Olhou para o céu. O sol forte fazia com que suasse, e apesar da proteção do boné, tinha que apertar os olhos para diminuir o incômodo dos raios ultravioleta.

Ao longe avistou uma árvore, finalmente. Pensou se devia parar e descansar um pouco. Achou melhor não. Não fazia idéia de quanto teria que andar até o próximo vilarejo. Queria encontrar civilização antes do anoitecer. Aquela era uma das desvantagens de desbravar o interior do pais. Longos e solitários cenários se revelavam. De tal forma que por vezes Ed fantasiava ser a última pessoa viva na face da Terra ou que retornara no tempo e fora parar na antiguidade.

Foi se aproximando, sempre em passos moderados. Não tinha pressa.

Apenas ao chegar bem próximo notou o rapaz sentado, quase oculto, encostado no tronco grosso, mirando a direção em quem Ed se dirigia.

Sem parar de andar, deu uma olhadinha rápida para o desconhecido, um jovem negro de olhos profundos também negros, cabelos muito curtos, com pequenos caracóis. Vestia uma roupa esfarrapada e suja. Parecia tão alto quanto Ed, só que muito mais forte.

O rapaz sentado no chão olhou para o viajante, acompanhando seu avançar com algum interesse.

Sentindo a mirada fixa em suas costas, Ed foi diminuindo o passo, diminuindo, diminuindo até que parou de avançar. Virou o rosto e espiou por sobre o pescoço, flagrando o jovem negro a espiá-lo.

Deixou os ombros caírem, em sinal de derrota. Virou-se e retornou para junto da árvore. Estacou em frente ao desconhecido que continuava olhando pra si. Sem preocupar-se com educação, Ed estendeu o braço e apontou para o rosto do outro.

– Quebraram o seu nariz! – exclamou – Foi um senhor estrago.

–...

Ed suspirou, estivera andando sem rumo até agora. Pelo visto acabara de encontrar um novo objetivo, uma nova viagem. Um novo destino.

Tirou a mochila das costas derrubando-a no chão. Foi sentar-se ao lado do negro ferido, que ainda olhava pra ele, sem sorrir ou demonstrar outra coisa que não um interesse muito sutil.

– Eu não tenho pressa. – Revelou, cruzando as mãos atrás da cabeça. Ficou incomodado com o casco grosso que lhe arranhava as costas. Repetiu baixinho – Não tenho pressa...

–...

Um pássaro levantou vôo do ninho escondido na copa da árvore. Algumas folhas caíram lentamente aos pés dos rapazes que observaram a queda como se fosse algo muito fascinante. Uma brisa leve soprou, forte apenas para levantar alguma poeira da estrada de terra. Sinais quase insignificantes, mas que Ed descobrira ser a natureza falando.

Em momentos assim era essencial saber ouvir. E isso ele sabia fazer. Aprendera, no decorrer dos anos, a ser um ouvinte soberbo. Parecendo distraído, pegou uma das folhas do chão e começou a girá-la entre os dedos. Estava verde. Primavera... Uma folha que não deveria cair ainda, porém jazia aos pés deles, ceifada da vida prematuramente.

– Não tenho mesmo pressa alguma...

Então Ed fechou os olhos de leve, e as lágrimas começaram a rolar.

oOo

– Conseguimos!! – Tarika exclamou ao descer do ônibus, seguida por Erik.

– Finalmente – o mais jovem reclamou – Não agüentava mais ficar sentado.

A garota olhou em volta. Estavam em um vilarejo pequeno, com poucas casas, todas ainda mantinham parcialmente a arquitetura do século XVIII. Parecia uma fotografia tirada no passado, um lugar onde o progresso chegava devagar, contra a vontade dos moradores.

Porém, com toda certeza do mundo, era um lugar maravilhoso, cercado pela grama verde, onde se desenrolava um tapete com as mais variadas, coloridas e belas flores. O sol estava se pondo no horizonte, ocultando-se atrás das montanhas, rasgando-as com os raios dourado-avermelhados, o tom do fim do dia.

– É lindo... – Tarika suspirou diante da paisagem. Sentiu-se dentro de um quadro.

– Hn – Erik concordou, surpreso com aquele pedaço do paraíso. Não combinava nada com Alex, seu irmão mais velho.

– E é bem sossegado.

A morena se referia aos poucos transeuntes que somados não chegavam a dez, circulando pela principal (e aparentemente única) rua da minúscula cidade.

– Qual é o endereço, Erik?

O loiro tirou o celular e procurou com calma.

– Tem apenas o nome da rua. Nenhuma referência.

– Então vamos perguntar por aí – Tarika colocou a mochila nova nas costas e foi se afastando.

Erik olhou do celular para a cidade, alguns metros afastada do ponto de ônibus. Usou o aparelho o celular e tirou uma foto rapidamente, afinal sua mãe não ia acreditar no lugar em que Alex estava morando. Depois correu para alcançar a companheira.

Os dois recém-chegados chamaram alguma atenção. Os moradores do lugar não estavam acostumados a forasteiros, principalmente tão jovens e peculiares. Tarika era morena e alta para uma garota, no rosto uma expressão de sarcasmo parecia sua marca registrada, assim como os olhos castanhos e marotos. Erik era mais baixo, loiro e de porte atlético e de maneiras ágeis. Os cabelos loiros eram curtos e os olhos castanhos.

– Com licença! – Tarika aproximou-se de uma senhora que lustrava o piso de madeira de sua residência – Pode nos ajudar?

– Claro – Sorriu – O que querem saber?

– Esse lugar... Onde fica? – repetiu o endereço.

A mulher parou de sorrir.

– Hn. É pra lá – indicou a oeste, seguindo pelo caminho contrário do que tinham chegado.

– Obrigada! – a garota sorriu e fez um gesto para Erik.

Os dois estavam se distanciando quando ouviram a voz da mulher.

– Ei... – chamou, parecendo vacilar em prosseguir a frase.

– O quê? – Erik perguntou, curioso.

– Hn. Nada não – a senhor desconversou, voltando a polir o chão.

Tarika e Erik se entreolharam. Tarika acabou dando de ombros.

– Medo de fantasmas? – brincou.

Erik rolou os olhos. Voltaram à estrada. Conforme avançavam, podiam admirar a paisagem tão peculiar. Em poucos minutos atravessaram a vila, um lugar realmente pequeno. À medida que saiam da cidadela, e iam se afastando, uma sombra tomava forma ao longe, do que parecia ser uma construção. Grande para uma simples casa.

– Deve ser lá – Erik exclamou empolgado, imaginando como seria bom rever o irmão depois de tanto tempo, mesmo que ele estivesse em alguma encrenca.

A distância era enganadora. Acabaram chegando muito mais rápido do que esperado. Um tanto cansados, pararam em frente à construção. Havia uma grande área na frente, circulada por uma cerca viva mal cuidada. A grama crescia meio alta. Ali, o cenário não era bonito. A mansão estava descuidada, descascava, era velha e feia.

– Que horror – Tarika resmungou – Isso é habitável?

A sensação ruim contagiou Erik. O caçula fitou aquele prédio, sentindo quase como se ele o fitasse de volta. Não era possível que Alex estivesse morando ali.

Fitou Tarika que avançava pela propriedade, inconseqüente e aventureira como sempre. Antes de acompanhá-la, um último pensamento lhe atravessou a mente e o fez compreender a atitude reticente daquela senhora. Aquele prédio não precisava ter um fantasma, para ser realmente assustador.

No que Alex teria se metido...?

Como se esperasse aqueles visitantes a porta se abriu e um rapaz saiu. Era um tanto parecido com Alex, também loiro, porém menos atlético e um pouco mais magro. Usava uma roupa simples e pareceu realmente feliz.

– Erik!

– Alex!

Os irmãos trocaram um abraço caloroso enquanto Tarika apenas observava. Em seguida o dono da casa votou-se para a garota e a abraçou também.

– Como vai, morena?

– Sobrevivendo e cuidando do seu irmãozinho.

– Ei! – Erik resmungou – Eu salvo mais o seu pescoço do que você o meu...

– Tem coisas que não mudam... – Alex riu – O que fazem por aqui?

– Oras... – o caçula deu de ombros – Você disse que estava com problemas. Viemos ver...

Alex fez um gesto para que entrassem na casa.

– Aff. Mamãe me disse que estavam metidos em trapaças com assombração. Eu preciso de gente séria me ajudando, não de dois tratantes. Agradeço terem vindo aqui, mas já arrumei ajuda especializada.

Tarika e Erik que estavam observando o interior da casa se entreolharam.

Continua...


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Notas finais do capítulo

O que será essa "ajuda especializada" que o Alex conseguiu? Talvez outro trambiqueiro? Ou não?

Respostas semana que vem!

Abraços.



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