Yu-Gi-Oh! Destiny Changer – The Sanders Academy escrita por Greed the Ambitious


Capítulo 4
Batalha no primeiro dia de aula – A insolência do prodígio


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, o quarto capítulo de TSA!

Espero conseguir manter esse ritmo e publicar mais um ou dois capítulos até o final de janeiro.

Espero que gostem!



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Shunsuke Shiraishi—_______________________________________

A cama era bastante confortável. No entanto, o nervosismo não me deixou dormir bem. Não porque esse é o primeiro dia de aula na Academia, mas por causa do garoto de ontem. Não faço ideia de quem seja, mas é certo de que ele controla poderes de duelo... E por pouco eu não fiquei no mesmo quarto que ele...

Será que ele tem alguma relação com “eles”? A probabilidade não é zero... Mas a vibração que sinto dele é diferente da “deles”... Mesmo não sendo impossível, não acho que esteja trabalhando praqueles caras...

De um jeito ou de outro, eu decidi que não vou me segurar só por causa dele. Se ele for algo a se temer, só preciso tirá-lo do meu caminho. Vou agir como já tinha planejado fazer desde que entrei nessa Academia. E algo me diz que esse primeiro dia de aula vai ser muito importante para esses meus objetivos...

—Anda, Ayumu, a gente vai acabar perdendo a hora do café da manhã! E você também, albino! – grita Taiki do corredor, nos chamando. Todos estão esperando. Como dormi mal, demorei a me levantar e sou o único que ainda não terminou de se arrumar. Além, é claro, de Ayumu, que está saindo do banheiro nesse momento.

—Deixa de ser barulhento, Taiki! Eu já tô indo! – a garota sai do banheiro com uma escova na mão, a tempo de me ver colocando a blusa branca de mangas azuis do Dormitório Branco – Olha, Orochi, por falar nisso, eu posso conviver com uma ou outra ocorrência de ver vocês sem camisa, mas qualquer coisa abaixo disso, e vocês vão preferir nunca terem nascido homens, me ouviu? – ameaça ela com um sorriso maléfico no rosto – Eu espero que vocês entendam a responsabilidade de ter uma garota como colega de quarto.

Wakarimashita, Ayumu-ojou-sama.— respondo, tirando sarro dela.

—Não me chame de ojou-sama! – reclama ela, atirando a escova na minha direção com uma falsa raiva no rosto – Aliás, quem é que tava me dando sermão sobre falar japonês ontem, hein?

—Ora, não aguenta uma brincadeira, herdeira do Clã dos Pássaros? – respondo.

—Não sou herdeira de nada. Eu cortei relações com o Clã assim que saí de lá. Além disso, a única forma de “herdar” o Clã seria se meus pais me casassem com alguém de outra família da ilha, e eu não tô nem um pouco interessada nisso.

—Então é assim?

—Shunsuke, Ayumu! Vamos logo, por favor! – dessa vez é a voz de Cirano.

—Estamos indo! – respondo, encerrando minha conversa com Ayumu por aqui.

São 7h14min. As aulas do turno da manhã, que são aulas de instrução de duelos, começam às 7h30min (as aulas da tarde, de educação convencional, começavam às 14h). Temos quatro aulas de manhã, cada uma com uma hora de duração, com um intervalo de meia hora entre a segunda e a terceira aula.

Estamos nos dirigindo ao refeitório da Academia, onde as refeições dos alunos são servidas, para tomarmos o café da manhã. Logo depois de comprarmos algumas comidas e lanches – a “moeda” eram Pontos de Duelo, que ganhávamos (obviamente) por duelar, e que já era oferecida em pequena quantidade aos calouros –, nos dirigimos a uma das mesas, e sentamos os seis juntos.

—Então, quais são as aulas de vocês hoje? – pergunta Cirano depois que começamos a comer. Os alunos da Academia Sanders não eram divididos em classes. Cada professor tinha sua própria sala, onde ele dava sua matéria durante a manhã, e cada estudante montava seu próprio horário com as matérias disponíveis da forma que melhor desejasse.

—Eu tenho Matéria Básica na primeira aula, Blefe na segunda, Cards de Magia na terceira, e História de Monstros de Duelo na quarta. – responde meu irmão, comendo um doce enquanto olhava para uma mesa vizinha, onde três Alunos Vermelhos dividiam um enorme pão doce recheado. Parecia ser um lanche limitado ou algo assim.

—A gente se encontra na segunda aula e na quarta aula, ruivinho. – avisa Ayumu – Eu tenho uma aula de Cards de Armadilha, uma de Blefe, uma de Matéria Básica e uma de HMD.

—Que coincidência, eu também tenho HMD na quarta aula... – comento – E Matéria Básica na primeira aula, Estratégias Simples na segunda e Blefe na terceira. Hatsuharu, a gente também tá junto na primeira aula.

—Hum. – ele parecia um bocado desinteressado. Quer tanto assim aquele doce? Parece algo caro...

—Eu tenho Zona de Magias & Armadilhas, Matéria Básica, Zona de Campo, e HMD. Parece que somos nós quatro juntos na quarta aula. – diz Cirano, sorrindo.

—Somos cinco. Eu tenho Custos, Matéria Básica, Blefe, e HMD. Também tô junto com o Cirano na segunda aula e Shunsuke na terceira. – completa Adolf.

—Mas vejam só... Então tá todo mundo junto na quarta aula, tirando o veterano idiota.

—Eu por acaso já falei o meu horário, ruivo maldito? – responde Taiki, nervoso com o apelido que Hatsuharu resolveu “oficializar” – Eu tenho Estratégias Avançadas na primeira aula, Rituais na segunda, Blefe na terceira e HMD na quarta. Alemão e albino, eu tô com vocês na terceira também.

—Hã? Você tem Blefe e HMD no segundo ano? – pergunto.

—Vai ver ele é tão burro que repetiu essas matérias? – provoca meu irmão.

—Vá se ferrar, ruivo maldito! – responde ele, com raiva, se acalmando em seguida pra me responder – No ano passado eu resolvi adiantar Invocação-Tributo e Cards Banidos da grade do segundo ano. HMD é opcional até o terceiro ano, e Blefe é opcional no primeiro ano. O que é uma droga, já que eu vou ter que ir nas aulas de Blefe agora... Pelo menos assim eu me livro de uma vez daquele professor...

—“Aquele professor”? – pergunto.

—Julian Rocks, cara. O professor de Blefe. Ainda não tive aula com ele, mas já ouvi os rumores e já vi o cara fora das salas de aula. E o Presto já pagou a matéria dele também. – comenta ele, mencionando o garoto que trocou de quarto comigo na noite anterior – Rocks é um tremendo carrasco pros Alunos Brancos, e mesmo pros Laranjas ele não dá mole. É um baba-ovo sem tamanho dos Vermelhos. Não preciso dizer nada, você vai ver.

Faço uma nota mental na minha cabeça. Esse Julian Rocks pode ser alguém que vai me causar problemas...

O sinal toca pela primeira vez. Isso significava que as aulas começariam em menos de dois minutos. Nós seis nos apressamos em pôr pra dentro o resto da comida que compramos, e corremos pelos corredores, utilizando os mapas nas telas de nossos Discos de Duelo para acharmos as salas onde teríamos a primeira aula. Hatsuharu e eu conseguimos chegar na nossa sala no mesmo instante em que o segundo sinal bateu, anunciando o início da aula.

Para nossa sorte, o professor também não parecia alguém pontual, visto que ainda não estava presente. Eu e meu irmão procuramos com os olhos por um bom lugar de onde poderíamos assistir à aula (tarefa difícil, já que a sala estava quase cheia). Logo depois de acharmos cadeiras (em lados opostos da sala), o professor aparece com uma corridinha, carregando uma grossa pasta que quase deixa cair ao tropeçar perto de sua mesa.

O atrapalhado professor pediu desculpas pelo atraso e se apresentou como Scott Wagner. Os Alunos Vermelhos o olharam com desdém, como se o reprovassem por ter chegado atrasado. Apesar de parecer encabulado pela falha logo no primeiro dia de aula, ele foi bastante simpático ao se introduzir e ao falar um pouco sobre a Academia Sanders e como seriam nossos quatro anos estudando ali.

Depois daquilo, ele começou a dar a sua aula. Parecia um professor bastante atencioso. Por várias vezes ele repetiu o que estava dizendo pra permitir que os Alunos Brancos, que pareciam desesperados para conseguir extrair o máximo possível da aula, pudessem copiar a matéria. Os Laranjas, por outro lado, pareciam um pouco entediados em terem que frequentar aulas de Matéria Básica. Já os Vermelhos... Esses não faziam a menor questão de prestar atenção. Alguns estudantes responsáveis pelo menos procuravam não atrapalhar a aula, mas a maioria deles estava conversando ou enviando mensagens de texto através dos Discos de Duelo.

Exatamente como eu previ que seria...

No final das contas, mesmo não precisando dessa matéria (afinal, tirei a nota máxima no teste escrito), pude gostar da aula por causa do professor. Ele parecia ser uma boa pessoa.

O primeiro sinal bateu novamente, e meu irmão e eu nos separamos para nossas respectivas salas. Desço um andar para chegar à minha próxima aula. O professor de Estratégias Simples, Nate Keehl, já estava na sala (o que era óbvio, já que ele tinha acabado de dar a primeira aula nesse mesmo lugar), e apenas esperou o segundo sinal pra começar sua aula.

Esse professor parecia um pouco menos preocupado que Wagner em passar bem a matéria dele. Não que fosse um mau professor, mas ele às vezes usava termos um pouco avançados, e os Alunos Brancos tinham alguma dificuldade em acompanhá-lo. Não parecia ser proposital: ele aparentemente tinha se acostumado a trabalhar assim. Eu absorvi bem o que ele ensinou, mas me pergunto o quanto os outros Brancos puderam entender...

E logo mais uma aula acabou. 9h30min, hora do intervalo. Deixo a sala do Prof. Keehl e me dirijo novamente ao refeitório, pensando em talvez pegar algo pra beber. No corredor, encontro Adolf, que descia as escadas vindo da aula do Prof. Wagner no andar de cima.

—Oh, Shunsuke. Vai no refeitório? – pergunta meu colega de quarto.

—Sim, acho que vou beber alguma coisa. – respondo.

—Pega algo pra mim também, por favor. – pede ele, mexendo em seu Disco de Duelo pra se conectar com o meu e transferir os Pontos de Duelo necessários para a compra – Depois você me devolve o troco, se tiver. Tenho que passar na secretaria por um instante, te encontro lá no refeitório mesmo.

—Beleza. – aceito a transmissão, e me dirijo ao refeitório enquanto ele parte na direção oposta.

Vou direto às máquinas de bebidas, que não demoro muito a localizar. E chegando lá, reconheço os dois veteranos que conheci na noite passada: meu atual colega de quarto e o cara que trocou de lugar comigo.

—Taiki, Presto. – chamo, parando a conversa “animada” que estavam tendo. De longe, pareciam estar trocando farpas, como os rivais que são, mas ao ouvirem minha voz, os dois se voltam para mim.

—Ah, é você, albino. O que quer?

—Bom, eu quero usar essa máquina aí atrás de você... – ele percebe que atrapalhava a passagem, e logo libera o uso do equipamento. Compro as duas latas de refrigerante, o que Presto estranha.

—Tá com tanta sede assim, cara? Aliás, como é seu nome mesmo?

—É Shunsuke. Shunsuke Shiraishi. E a segunda lata não é pra mim. O Adolf tá vindo aí, e me pediu pra comprar uma pra ele.

—Ah sim, nós três temos a terceira aula juntos, né... – comenta Taiki. Coloco a lata do Adolf numa mesa vazia perto das máquinas.

—O que é? Blefe? – pergunta Presto. Confirmo com a cabeça enquanto abro minha lata e tomo um gole – Ow... Se preparem, vocês. Eu já tive minha dose de Julian Rocks no ano passado. O sujeito vai infernizar a vida de vocês.

—Tô ligado... – respondo – Então você não tem Blefe nem HMD no segundo ano, ao contrário do Taiki, não?

—Ha! Era exatamente disso que a gente tava falando antes de você chegar, albino. Dessas duas, Presto só pagou a cadeira de Blefe no primeiro ano. Adivinha quem tá na aula de HMD com o resto do pessoal no quarto horário?

—Hehe... Nossa, que coincidência maluca... Imagino se os nossos horários vão bater desse jeito estranho nos outros dias de aula também.

—Pois é. E nem sou só eu. Um dos meus colegas de quarto também tem HMD no quarto horário de hoje. – comenta Presto.

—Ah é, quem? – tomo mais um gole do refrigerante.

—É um garoto loiro de olhos azuis. Japonês como vocês. Acho que o nome dele é Naru... Naruto... alguma coisa...

—Narumi. Narumi Matsui. – ouço a correção vinda de uma voz às minhas costas, e engasgo com minha bebida. Agora que está tão próximo, consigo novamente sentir sua presença. Bato no peito enquanto tusso, e enquanto Taiki e Presto me perguntavam se eu estava bem, viro meu corpo para trás para encarar o garoto.

É o mesmo menino loiro que eu vi ontem no corredor. O garoto que possui poderes de duelo. Ele me encara gentilmente com seus olhos azuis, mantendo um sorriso tranquilo no rosto, como se tentasse diminuir minha inquietude, mas ainda assim, não posso deixar de me colocar na defensiva perto dele. Não sei quem ele é, e não se pode ser cuidadoso demais.

—Foi você que trocou de lugar com o Presto, não foi? Ele me contou sobre você. Por pouco não fomos colegas de quarto. – ele estende a mão, oferecendo um aperto – Prazer em conhecê-lo... – e ele se interrompe, esperando que eu complete com meu nome.

—Shunsuke. Shunsuke Shiraishi. O prazer é todo meu. – aperto sua mão com a minha, só depois percebendo o que fiz: a mão estava um pouco melada do refrigerante que limpei da minha boca. Rapidamente puxo a mão de volta, me desculpando pelo vacilo.

—Haha... Não é nada de mais. Fui eu quem te assustou mesmo, não é? Enfim, a gente se vê por aí, Shiraishi. Até mais.

Ele acena, e nossos olhos se cruzam por alguns instantes, que pareceram misteriosamente longos. Esse Narumi não parece ser uma ameaça. Talvez isso signifique que eu não preciso estar com a guarda tão alta assim, mas isso pode simplesmente ser uma farsa. Argh, esse cara tá me deixando uma pilha de nervos...

Aparentemente, esses instantes foram tempo o suficiente pra Adolf aparecer por detrás do loiro, vindo da secretaria.

—Quem era aquele? – pergunta ele.

—Colega de quarto do Presto... – respondo, tentando terminar logo de beber meu refrigerante – A tua lata tá naquela mesa ali... A gente se vê na terceira aula, tenho que lavar as mãos antes que o sinal bata...

—Ok... Vai lá... – responde ele, enquanto olhava firmemente na direção que Narumi seguiu. Talvez o loiro também tenha chamado a atenção de Adolf de alguma maneira...

Jogo minha lata numa lixeira e lavo minhas mãos no banheiro, quando escuto o primeiro sinal pela terceira vez naquela manhã. O momento que eu estava esperando chegou: a aula de Blefe. Depois de ser tantas vezes alertado por Taiki e Presto, eu estava até que um tanto empolgado para conhecer o tal terrível professor Julian Rocks.

Antes não estivesse...

Taiki já estava na sala quando entrei, com alguns lugares vazios por perto, e foi até lá que eu me dirigi. Adolf entrou momentos antes do segundo sinal tocar, e também se sentou conosco. Demoraram-se ainda mais uns dois ou três minutos depois do sinal para que o famigerado professor entrasse na sala.

Dizer que Rocks não fazia questão de ser compreendido seria bondade com os seus métodos de “ensino”. Boa parte do tempo que usava pra falar era gasto com provocações aos Alunos Brancos (que ele fazia com uma expressão sorridente simplesmente nojenta, como se fosse um lobo faminto observando os cordeirinhos que forrariam seu estômago), que eram incapazes de responder suas questões absurdamente complexas que na maioria das vezes nada tinham a ver com a matéria de Blefe. Ele não queria um motivo pra implicar: ele queria uma desculpa. Pouco de sua atenção era dirigida aos Laranjas, e ele tratava os Alunos Vermelhos como se fossem faraós, com uma bajulação tão escrota que até mesmo os próprios Vermelhos ficavam enjoados.

—O que um homem como esses faz na Academia Sanders? – perguntei baixinho para Taiki, ignorando o perigo que era Rocks varrendo os assentos dos Alunos Brancos com seu olhar. Dito e feito: o professor notou que haviam alunos conversando, como já fez algumas vezes durante aquela mesma aula, e não pôde deixar de chamar a minha atenção.

—Você! De cabelos brancos! – chamou-me ele – De pé! Como você se chama?

—Ai, cara, você tá ferrado... – comentou Taiki, enquanto olhava pra baixo.

—Shunsuke Shiraishi, professor. – respondo, levantando-me.

—Shiraishi? Você é o tal Branco Prodígio... – comenta ele, parecendo pensativo por um momento. É, um Aluno Branco que tirou a nota máxima no teste escrito com certeza não passaria despercebido pelos professores... – Não ache que você ser um pouco mais esperto que a média significa que você pode parar de prestar atenção na minha aula. Sente-se e fique calado até que eu fale com você.

—Entendido, professor. – respondo, sem querer puxar briga com ele no momento, e me sento, torcendo um pouco a cara quando ele disse “um pouco mais esperto que a média”. Não deixo de pensar também “Mas que aula?” antes de sentar, mas não verbalizo nada disso.

Acabei atraindo um pouco de atenção ao ser chamado de “Branco Prodígio”, mas a terceira aula transcorreu sem novos incidentes relacionados a mim (não que Rocks tenha deixado de implicar com outros Alunos Brancos assim que visse a oportunidade). O primeiro sinal da quarta aula tocou, e o alívio sentido pelos estudantes (inclusive os Vermelhos) era visível pra qualquer um (exceto talvez pro próprio professor...).

—Sobrevivemos àquilo... – comentava Taiki, aliviado, enquanto eu, ele e Adolf caminhávamos juntos até a sala do professor de HMD.

—Eu não pensei que fosse ser tão ruim assim... – continuou Adolf.

—Hoho... Até o nosso companheiro frio e caladão sentiu a pressão daquela aula... – provoquei.

—Acha que eu sou uma máquina, Shunsuke?

—Que é isso, longe de mim... – respondo, sorrindo – Vamos lá, a sala é essa aqui.

Entramos juntos. O professor, assim como Keehl na segunda aula, já estava sentando ao birô, esperando apenas o fluxo de alunos se aquietar e o segundo sinal bater pra começar a aula. Conseguimos localizar Hatsuharu, Ayumu e Cirano, e arrumamos cadeiras próximas a eles. Demorei a achar Presto e Narumi, que se sentaram do outro lado da sala.

O professor se apresentou como Altair de Montferrat, e a aula dele... Bom, podia-se dizer que ele não fazia questão de ser entendido, mas de uma maneira diferente de Keehl ou Rocks. Parecia ser avoado ao invés de indiferente, falando pra si mesmo algumas vezes, mais ou menos como se estivesse fazendo reflexões sobre o que quer que fosse no meio da aula. Era engraçado vê-lo levantar os olhos e começar a falar baixo, se você conseguisse seguir a linha de pensamento dele, o que era difícil algumas vezes. A aula continuou estranha assim, até que o professor mencionou o Antigo Egito e os Espíritos de Monstros de Duelo brevemente enquanto listava os assuntos que aprenderíamos.

—Mas professor, o senhor realmente acredita em toda essa história de Espíritos de Monstros? – perguntou um Aluno Branco curioso. O professor sorriu.

—O que você tem a me dizer sobre isso? O que acha da existência dos Espíritos? – respondeu Montferrat, como se estivesse testando o garoto.

—Não sei... Não me parece algo real... – respondeu ele.

—São reais. – disse mais alguém na sala. Os olhares começaram a procurar quem teria dito aquilo, até que finalmente o encontram em Narumi Matsui – Os Espíritos de Duelo existem tanto quanto eu e você nesse momento.

—Ha! Eu duvido disso... – comentou uma nova voz, sentada mais acima na sala. Era um Aluno Laranja, de olhos negros e cabelo loiro que contrastava com sua pele escura – Esses Espíritos supostamente apareceriam para duelistas poderosos, não? Deveria haver vários desses ao meu redor, se fosse assim... – respondeu ele, sorrindo. Dava pra notar que ele estava brincando ao dizer aquilo, mas também que aquele orgulho não era falso, tampouco a sua descrença nos Espíritos.

—Talvez você não devesse limitar tanto assim a sua visão. – retruquei – O mundo é muito maior do que você pode imaginar... – resolvi terminar com uma provocação – E talvez, você ainda não seja tão forte quanto pensa...

—Ora seu! Quem você pensa que é, falando com o Watanabe-sama dessa forma! – reclamou outro Aluno Laranja, sentado perto do loiro a quem respondi.

—Ah? Eu sou Shunsuke Shiraishi. Quem é você?

—Ora seu...

—Quietos, os dois. Se tiverem algo a resolver, resolvam como cavalheiros, depois da aula. – intrometeu-se o professor. Depois disso, ele se voltou para mim – Shiraishi, o Branco Prodígio?

Confirmei com a cabeça. Não posso dizer que não gostei desse apelido que o corpo discente me deu. Talvez seja mais fácil do que pensei conseguir notoriedade nessa Academia. Alguns estudantes que vieram junto de nós da aula de Rocks já comentavam “Ele outra vez?” e “O que é isso de ‘Branco Prodígio’?”, enquanto Montferrat continuava a sua aula.

O último sinal da manhã bateu. Os alunos comemoravam o fim do primeiro dia de aula, alguns aparentando até um certo cansaço. Enquanto eu e meus colegas de quarto conversávamos sobre as aulas que tivemos, o Laranja que discutiu comigo se colocou em frente à porta, bloqueando a nossa saída.

—Você, do cabelo branco. Eu quero um duelo agora. – desafiou-me ele.

—Ora, ora... Ficou tão ofendido assim porque respondi ao tal Watanabe?

—Watanabe-sama é um ídolo! Um duelista excepcional, com um Deck esmagador! Quem você pensa que é pra falar dele, sendo do Dormitório Branco? Eu vou colocar você no seu lugar!

—Muito bem... Eu estava me perguntando quando a diversão iria começar por aqui... – respondo, com um sorriso provocador.

—Ei, albino! Esse é Kagami Tsukikage, um Laranja do segundo ano! Tem certeza de que vai querer duelar com ele? – pergunta Taiki, baixinho, enquanto caminhamos até as quadras de duelos.

—Ora, que é isso... Muito em breve, essas cores não vão significar absolutamente nada... – respondo, deixando-o pensativo.

Atraímos alguns olhares. Os alunos que estavam na mesma sala que nós percebiam o que aconteceria, e começavam a nos seguir até as quadras. Deixo minha mochila com Hatsuharu, e me posiciono junto com Kagami em lados opostos de uma das quadras vazias, com um certo número de expectadores ao redor.

—Vamos acabar com isso de uma vez pra que eu possa ir almoçar. Já é meio-dia e eu tô com fome. – provoco.

—Ah, pode deixar... Eu vou te esmagar num instante!

—Esse albino... Pegando um adversário como esse de cara... – comenta Taiki.

—E o infeliz ainda joga a bolsa em cima de mim, vejam só... – reclama meu irmão, ignorando o x da questão. Nesse momento, ele nota a bolsa entreaberta, percebendo um certo conjunto de cards lá dentro – Mas isso é... Shunsuke! Shunsuke, seus monstros de Nível alto que você tirou pro Duelo Relâmpago! Eles ainda estão aqui!

—Sim, sim, eu tô ligado! Sem problemas! – respondo.

—Como é? Você tá usando um Deck enfraquecido? – pergunta meu adversário, sentindo-se subestimado.

—Algum problema com isso? Ou tá com medo de ser esmagado por monstros de baixo Nível?

—Maldito... Vai ser perfeito te colocar no seu lugar... (Kagami: 4000 Pontos de Vida)

—Vamos nos divertir! (Shunsuke: 4000 Pontos de Vida)

Duelo!— dizemos em uníssono.

—Como você tá comendo meu tempo, eu vou primeiro. Meu turno! – compro meu sexto card – Eu jogo um monstro invertido, e em seguida, Baixo um card. Encerro meu turno!

—Essa não, não jogou nenhuma das cards curativas dele... – comenta Ayumu.

—Talvez aquele card Baixado seja a Divine Blessing... – especula Adolf.

—É melhor ficar de olhos bem abertos, ou vai perder de vista o que acabou com você! Meu turno! – Kagami compra seu card – Ótimo, vou arrancar um monte de vida de uma vez! Eu Invoco o Indomitable Fighter Lei Lei (Besta-Guerreira/Efeito/TERRA/Nível 4/ATK 2300/DEF 0)! – o guerreiro bestial aparece em campo.

—É como eu pensei! Kagami tá usando uma cópia do Deck do Watanabe! – constata Taiki.

—Mas que Deck é esse? – pergunta Cirano.

—Um Deck de Submissão... Ele usa monstros com ATK alto pra destruir o oponente rapidamente e causar dano massivo. – responde Adolf, entendendo o estilo do meu oponente.

—Mas então, ele tá com problemas usando só monstros de Nível baixo... Nenhum dos cards dele tem tanto ATK assim... – conclui Ayumu.

—Eu imaginei que um esquentadinho como você usasse apenas músculos e não tivesse muito cérebro... – provoco novamente, ignorando minha aparente desvantagem.

—Ah, é? Use seu cérebro pra parar isso aqui! Eu jogo Double Summon (Card de Magia Normal)! Agora eu posso fazer uma segunda Invocação-Normal nesse turno! Eu Invoco Goblin Attack Force (Guerreiro/Efeito/TERRA/Nível 4/ATK 2300/DEF 0)! – um exército de goblins se posiciona junto ao lutador indomável, portando seus porretes.

—Dois monstros com mais de 2000 ATK de uma vez! Não tem nenhum monstro Espírito com tanta DEF assim... Orochi vai sofrer muito dano! – diz Ayumu.

—Tenham mais calma. – aconselha Hatsuharu – Shunsuke pode estar em desvantagem, mas isso é uma situação comum pra um usuário de Espíritos. Ele sabe jogar seus efeitos a seu favor. Esperem e verão.

—E então, vai jogar esses brutamontes em cima de mim ou não?

—Não precisava pedir! É hora de esmigalhar essa defesa ridícula! Goblin Attack Force, ataquem o monstro invertido dele!

—Muito bem! Você atacou a minha Otohime (Mago/Espírito/Efeito/LUZ/Nível 3/ATK 0/DEF 100)! – uma mulher ruiva surge, sendo destruída pelos ogros.

—Um monstro Espírito? Você usa um Deck bem exótico pra um Aluno Branco...

—Espere só pra ver... O efeito da Otohime! Quando ela é virada para cima, eu posso alterar a posição de batalha de um monstro que o meu oponente controla! Eu escolho o seu Indomitable Fighter Lei Lei! – o espírito da ruiva retorna ao campo, lançando um encantamento que põe o guerreiro de joelhos – Agora que o seu lutador indomável foi domado, eu estou livre de danos até o fim do turno.

—Droga... No final da Fase de Batalha, Goblin Attack Force passa para a Posição de Defesa. Eu encerro meu turno!

—E agora, você deixou de ter dois monstros com 2300 de ATK para ter dois monstros com 0 de DEF.

—Kagami está com problemas. Ele devia ter Baixado algum card pra se defender. – constata Hatsuharu – Shunsuke pode causar um grande dano aos Pontos de Vida dele agora.

—Como assim? Os monstros dele têm 0 de DEF, mas o Kagami não vai sofrer dano se forem atacados nessa posição...

—Espere e verá, Cirano... Shunsuke tem um combo feito pra punir esse tipo de jogada descuidada...

—Meu turno! – anuncio – E chegou a hora de encerrar esse duelo! Eu Invoco o Asura (Fada/Espírito/Efeito/LUZ/Nível 4/ATK 1700/DEF 1200) por Invocação-Normal! – meu demônio guerreiro de seis braços surge em campo.

—Aquele monstro... Foi o que me derrotou no Duelo Relâmpago...

—Ele mesmo, Ayumu. E ele tem um efeito que vai permitir a Shunsuke virar o jogo agora. Isso é, se ele tiver um certo Card de Magia na mão nesse momento...

—Agora, eu ativo a Magia de Equipamento, Sword of Kusanagi (Card de Magia de Equipamento), e a equipo no Asura! Quando o monstro Espírito equipado com esse card ataca um monstro em Posição de Defesa com um ATK maior que a DEF, a diferença é subtraída dos seus Pontos de Vida! Em outras palavras...

—Dano perfurante. – conclui Adolf – Brilhante.

Os estudantes ao redor já se manifestavam a meu favor. Comentários como, “Vai lá, cara, acaba com ele!”, “Ele tá pressionando um segundanista do Dormitório Laranja!” e “Então esse é o poder do Branco Prodígio?” começavam a ser ouvidos, irritando ainda mais o meu adversário.

—Maldição...

—Asura, batalha! Ataque o Indomitable Fighter Lei Lei! Sword of Kusanagi! – o demônio abre seus braços, e em cada um deles surge uma Espada de Kusanagi, que são todas arremessadas na direção do monstro do meu adversário. (Kagami: 4000 → 2300 Pontos de Vida)

—Seu...

—Agora, minha Fase Principal 2!

—O quê?! – Hatsuharu parecia chocado – Ele não vai usar o efeito do Asura?

—Mas que efeito é esse, ruivo?

Multiple Attack. Enquanto houver um monstro no campo do oponente, Asura pode atacar cada um deles. Ele tá deixando de causar mais 1700 pontos de dano... No que você tá pensando, Shunsuke?

—Você vai entender agora mesmo, Hatsuharu!

—Ora, você tá pegando leve comigo? Absurdo! Eu vou esmagar você completamente no meu próximo turno!

—Não me ouviu quando eu comecei minha jogada? É hora de encerrar esse duelo, você não vai ter outro turno! Eu ativo a Armadilha, Nightmare Daemons (Card de Armadilha Normal)! Oferecendo meu Asura como Tributo, eu Invoco por Invocação-Especial 3 Nightmare Daemon Tokens (Demônio/TREVAS/Nível 6/ATK 2000/DEF 2000) para o seu lado do campo!

—Como é?! – exclamam todos, exceto Hatsuharu, que parece finalmente entender meu plano.

—Endoidou de vez, Aluno Branco? O que você tem na cabeça me dando três monstros com 2000 de ATK! Eu vou usar os três pra acabar com você!

—Você é burro, por acaso? Eu já disse que esse duelo vai acabar no meu turno! Eu ativo a Magia, Token Harvest Festival (Card de Magia Normal)! Isso destrói todas as Fichas em campo, e eu ganho 800 Pontos de Vida para cada Ficha destruída!

—Grande coisa! De que adianta aumentar a sua vida? São só mais pontos pra que eu tire!

—Nada disso, Kagami... Eu não lhe dei três monstros, eu lhe dei três bombas à margem de explodir. Quando um Nightmare Daemon Token é destruído, seu controlador toma 800 pontos de dano. E os três estão no seu campo.

—Quer dizer que eu vou receber 2400 pontos de dano!

—100 a mais do que você tem! Receba isso! – os três demônios explodem, levando com eles o resto dos Pontos de Vida do meu oponente, derrubando-o ao chão (Shunsuke: 4000 → 6400 Pontos de Vida) (Kagami: 2300 → 0 Pontos de Vida)— Então, acabou.

Os Alunos Brancos e os outros que me apoiavam nesse duelo comemoram, e eu me reúno aos meus colegas de quarto, que me recebem animados.

—Caramba, você derrotou um Aluno Laranja em um duelo de três turnos! – diz Ayumu.

—E não tomou nenhum dano! Aliás, terminou o duelo com mais Pontos do que começou! – completa Cirano.

—É como eu disse, amigos. Em breve, as cores desses uniformes não vão significar nada. – olho para a tela do meu Disco de Duelo, enquanto os Pontos de Duelo que ganhei com esse jogo eram computados – Bom, querem uma pizza pra comemorar? Eu pago. – ofereço.

—Você... Como isso é possível... Um Aluno Branco me derrotar... – resmungava Kagami, com um rosto raivoso, encarando o chão.

—Kagami Tsukikage, não é? – pergunta uma voz por detrás dele. Uma voz que ouvi uma vez na aula.

—Watanabe-sama! – reconheceu Kagami, olhando para trás enquanto ainda estava no chão.

—Você se diz meu fã, mas está oprimindo Alunos Brancos? Você por acaso sabe quem eu sou?

—M-mas, Watanabe-sama! Esse Aluno Branco lhe desrespeitou!

—Ele não fez nada de mais. Quem me desrespeitou foi você, usando uma cópia do meu Deck e perdendo tão miseravelmente. Está querendo me fazer parecer fraco?

—N-não! Perdoe-me, Watanabe-sama!

—Basta. Repense seus meios a partir de agora, se realmente quiser dizer que é meu “seguidor”.

—O-ok!

Meu adversário se levanta e sai correndo da quadra, como se tivesse visto um fantasma. Em seguida, seu “ídolo” se dirige até mim, com um sorriso no rosto. Não necessariamente um sorriso amigável... Estava entre isso e um sorriso desafiador.

—Perdoe aquele cara. Quando você é forte, começa a ganhar “seguidores” de todo tipo, inclusive babacas como esse...

—Ah, é assim? Espero que isso não aconteça comigo, então... – respondo, enquanto o sorriso dele se alarga.

—Você é interessante... Shunsuke Shiraishi, não é? – ele oferece a mão para um aperto – Eu sou Akira Watanabe. Provavelmente vamos nos cruzar outra vez.

—Imagino que sim. – aceito o aperto, e ele se vira para deixar o local.

—Até porque... – diz ele, ainda de costas, virando então o rosto na minha direção – você questionou as minhas habilidades. E isso não é algo muito educado quando você não conhece alguém.

Akira sai das quadras, e eu apenas o observo deixando o recinto antes de me voltar para Taiki.

—Taiki, quem exatamente é ele?

—Akira Watanabe, terceiranista do Dormitório Laranja. Ele é um membro do grupo chamado de “Laranjas Lendários”. São Alunos Laranjas que possuem habilidade suficiente para subir ao Dormitório Vermelho, mas se recusaram, pra servir como símbolo de que a cor do uniforme não importa.

Surpreendo-me. É o mesmo discurso que eu fiz momentos atrás. Então esses Laranjas Lendários podem servir bem ao meu objetivo... Viro-me para meus colegas de quarto nesse momento.

—Pessoal... Vocês me ajudariam no meu plano pra mudar essa Academia?


Adaptação dos nomes (Nome usado → Nome no TCG)
Divine Blessing → Solemn Wishes
Asura → Asura Priest
Nightmare Daemons → Nightmare Archfiends
Nightmare Daemon Token → Nightmare Archfiend Token
Token Harvest Festival → Token Thanksgiving

 


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