Yu-Gi-Oh! Destiny Changer – The Sanders Academy escrita por Greed the Ambitious


Capítulo 3
Conhecendo os companheiros – A história de cada um


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas...

Mas nada, só demorei mesmo.

Bloqueio maldito.

Enfim, eu tenho as coisas mais bem planejadas, pelo menos pros primeiros 10 ou 11 capítulos de TSA, então eu ESPERO que os próximos capítulos saiam mais rápido.

Quem diria que seria tão trabalhoso escrever algo que já está pronto há mais de dois anos...



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Shunsuke Shiraishi—_______________________________________

Droga... Fui praticamente colocado contra a parede... Fico feliz por ter reencontrado meu irmão mais novo que não vejo há tanto tempo, é claro. Mas tinha que ser justo nessas circunstâncias? Tinha que ser justamente num momento em que estou tentando fugir do meu passado? Por que eu tenho que revivê-lo nesse momento?

Não... Não posso revelar nada. Meus segredos continuarão secretos, Hatsuharu, me perdoe.

—E então, Shunsuke? Não vai começar a falar o que quero saber? – insiste meu irmão, às minhas costas.

—Não tenho nada pra dizer. – limito-me a responder, e continuo a caminhar até minha cama.

—Se isso foi uma piada, eu não tô rindo.

—Se não foi, você continua não rindo, então qual é exatamente o ponto dessa frase?

—Ora, não teste minha paciência, Shunsuke! – finalmente me viro, e encaro meu irmão nos olhos pela primeira vez desde que nos reconhecemos. Consigo enxergar vários sentimentos em seu olhar: raiva, ansiedade, tristeza, alegria, tudo misturado. Posso imaginar o que aconteceu com a minha família nesses três anos em que estive fora... Devem ter sofrido... Mas não adianta. Não posso dizer nada. Não ainda. O que aconteceu comigo parece coisa saída da cabeça de algum escritor maluco. Eu não seria compreendido.

—Afinal de contas, o que há entre vocês dois, hein? – pergunta Taiki, aparentemente irritado com o fato de não estar entendendo nada.

—Oh, você quer saber, veterano idiota? Muito bem. – responde Hatsuharu – Se você vai ficar calado, Shunsuke, espero que não se incomode se eu resolver contar para nossos colegas de quarto a nossa história. Ou pelo menos o meu lado dela, não é? A parte que eu conheço.

O que eu posso fazer? Não vou conseguir calá-lo. Droga, quantas inconveniências... Eu pensei que não teria problemas aqui na Sanders, eu tinha tudo calculado... Mas não podia prever o meu irmão estudando aqui... Aliás, o que ele faz aqui? Por que não tá no Japão, com a nossa família? Talvez deixar que ele conte sua história me esclareça alguns pontos... Mas vejo que ele não tá realmente pedindo a minha permissão. Vai falar de qualquer maneira.

—Bem, me deixem começar. – anuncia Hatsuharu. Os outros quatro se sentam, no chão ou em alguma cama, e parecem bastante curiosos – Shunsuke e eu somos filhos de um casal de duelistas. Os japoneses aqui já devem ter ouvido falar do nosso pai, Stanley Shiraishi. – os rostos de Taiki e Ayumu mostraram espanto ao ouvirem o nome daquele homem. O meu mostrou desprezo.

—Espera, Stanley Shiraishi? Aquele Stanley Shiraishi? – pergunta Ayumu.

—O Mestre dos Heróis? O homem que ganhou o Campeonato Japonês por três anos seguidos? – continua Taiki – Eu nunca vi o cara duelar, eu era muito novo naquela época, mas todo mundo no Japão conhece a fama dele como um duelista excepcional!

—Duelista excepcional uma ova! – retruco, nervoso. Não estou pensando muito bem, eu acho. Mas que se dane. A mera menção a esse homem me dá nos nervos – Ele nos abandonou! Abandonou a nossa mãe, a mim e ao Hatsuharu! Um homem que não dá valor à própria família não pode ser chamado de duelista excepcional! Ele inclusive desapareceu até mesmo do mundo dos duelos desde então!

Sim, é verdade. O “grande” Stanley Shiraishi desapareceu nove anos atrás, no auge da carreira, deixando pra trás a família, o sucesso e tudo o mais. Ninguém sabe o porquê, e nem o seu paradeiro. E nada disso me interessa nem um pouco.

—Já terminou o seu showzinho de raiva pelo papai, Shunsuke? Você não mudou nada nesses três anos, não é?

—Ele não é meu pai. Ele não é nada meu. – respondo, e me calo. Meu ataque de raiva acabou atrasando a história de Hatsuharu.

—Nossa mãe se chama Isis Shiraishi. – continua ele – Nossos pais são japoneses, mas ele tem ascendência americana, e minha mãe tem ascendência egípcia. O melhor amigo dos dois era Tales Sugiura, o dono da maior loja de cards da nossa cidade. Ele sempre separava alguns cards especiais pra gente, e é por isso que temos cards tão exóticos como Toons e Espíritos.

—Tsh... Eu sabia que tinha algum esquema como esse por trás desses Decks... – comenta Taiki.

—Enfim, a gente aprendeu a duelar com os nossos pais... – continua Hatsuharu, ignorando o comentário de Taiki – E bem, depois que nosso pai saiu de casa, Shunsuke decidiu começar uma carreira no profissional.

—Tsh, que precoce, garoto! Você tinha o que, dez anos? – pergunta-me Taiki.

—Sete. – respondo. Tenho 16 anos agora. Devo ser o mais velho daqui, na verdade.

—Tsh... – Taiki parece cada vez mais incomodado com a nossa história. Quantas vezes mais ele vai fazer esse “tsh”?

—E você conseguiu alguma coisa, Shunsuke? – pergunta Cirano. Pra pessoa errada. Não sou eu quem tá contando a história. Hatsuharu percebe e responde ele mesmo.

—Shunsuke conseguiu a própria fama. Ele nunca participou de torneios grandes, é lógico, a idade era um problema. Mas ele acabou se sagrando o campeão regional na categoria infantil, e manteve o título por um bom tempo. Mas parece que mesmo isso não bastava, não é irmão? Você queria mais.

Hatsuharu fala num tom agressivo e inquisidor. Não respondo. Apenas viro o rosto, encarando o chão.

—O que aconteceu?

—Um dia, Shunsuke estava a caminho de mais um campeonato. Como tinha fama, tinha sido convidado pra participar de um torneio na nossa cidade. Mas ele nunca chegou ao estádio. Pouco depois de ter saído de casa e se dirigido ao estádio, Shunsuke simplesmente pegou o caminho de volta pra casa. Ele disse que perdeu um duelo de rua no caminho pra arena e que tinha desistido de participar desse torneio. E a gente não viu ele duelando por quase um mês depois disso.

—Mas que tipo de duelo você poderia ter perdido pra desistir de um campeonato e ficar longe dos duelos por tanto tempo? – Adolf me encara enquanto pergunta. Continuo sem olhar nos olhos de ninguém.

—Isso... Eu não posso contar.

—Sim, foi a partir daí que você começou a ficar misterioso. – comenta meu irmão, num tom não muito feliz – Tava tudo muito estranho. Mesmo sem duelar, Shunsuke não parava de ir à loja de cards do Tales, tentando conseguir cards novos quase como se quisesse montar um Deck inteiramente novo. E aí, algumas semanas depois do campeonato que Shunsuke perdeu, “eles” apareceram.

Engoli em seco. O quanto Hatsuharu se lembra “deles”?

—“Eles”? – perguntam nossos colegas de quarto, em uníssono.

—Eu não me lembro direto de como eles eram. Não cheguei a ver nenhum direito, só pude ver o rosto de um deles de relance enquanto ele conversava com a nossa mãe. Mas pelo que ela me contou depois, eles se diziam “caçadores de cards raros”. Pelas roupas que usavam e pelo jeito que tinham, tava na cara que era gente do submundo dos duelos. Eles disseram que o talento de Shunsuke seria extremamente útil em seu grupo, e pediram para levá-lo com eles. É lógico que nossa mãe não permitiu. Mas mesmo assim, Shunsuke não pensou duas vezes antes de fugir de casa e se unir ao grupo.

É, ele parece lembrar bem do que aconteceu. Tudo que Hatsuharu falou agora é verdade. Exceto pelo fato de que, apesar de que eles disseram, eles não eram “caçadores de cards raros”... Eram coisa muito pior... E eu me uni a eles sabendo disso. Mas não quero mais envolvimento com aquela gente, nem com as coisas que passei nos últimos três anos... Eu entrei na Sanders pra fugir de tudo isso.

Hum...

Estranho, me sinto incomodado. O que será?

Ah, entendi. Estão todos me encarando, meio me julgando, meio esperando que eu explique algo.

—O que foi? Não ficou claro que eu não vou falar nada sobre isso? – respondo, rispidamente. Eu não quero arrumar problemas com esse pessoal (e muito menos com meu irmão), mas eu já tinha deixado claro que não diria nada.

—Eu não esperava mesmo que fosse mudar de opinião... Deve ter se divertido muito esses três anos, não é? No submundo dos duelos, quero dizer. – acusa Hatsuharu. Não tenho cara pra me defender – Mas bem, uma hora eu vou fazer você me contar tudo. Eu esperei três anos por isso, não é? Posso esperar mais algum tempo.

—Me desculpe, Hatsuharu... Eu imagino que você deve me odiar por isso, mas...

Eu não o odeio!— grita meu irmão, me interrompendo e me assustando, assim como assustando aos outros no quarto ao mesmo tempo – Você é meu irmão, droga... Como eu posso odiá-lo? Eu... Nós só ficamos muito tristes quando você saiu de casa... Primeiro o papai, e depois você...

Não gostei nem um pouco de ouvir isso. Primeiro, por saber que minha família sofreu com a minha partida, mas disso eu já podia ter certeza. O que realmente me incomodou é ter sido comparado com Stanley. Eu não sou como ele. Eu tinha um motivo pra fazer o que fiz, um motivo extremamente importante.

—Sabia que nossa mãe ficou quatro dias sem comer nada depois que você sumiu? – continua ele, tentando, sem muito sucesso, não mostrar tristeza na voz – Você sabe que a saúde dela é fraca... Não deve fazer ideia de como Tales e eu ficamos preocupados... Você... Você nos odeia, Shunsuke?

—É claro que não! – respondo imediatamente – Só... Só espere um tempo. Um dia eu vou poder contar tudo que aconteceu, mas... Por enquanto, eu preciso ficar calado.

—Hump...

Pelo menos ele concordou com meu silêncio, ainda que a contragosto. Mas eu ainda estou curioso... O que ele faz aqui nos Estados Unidos? A história até aqui eu conheço, mas o que aconteceu com a minha família depois da minha partida? Eu não tenho o direito de perguntar nada, já que fiquei calado o tempo inteiro...

—Mas e você, Hatsuharu? O que você fez depois que o Orochi saiu de casa? – pergunta Ayumu, como se pudesse ler meus pensamentos. Ainda bem que não pode, mas obrigado mesmo assim, garota.

—Bom, nos últimos três anos, eu resolvi entrar no profissional. Eu ganhei alguns torneios regionais também, e depois que minha mãe e Tales se casaram, eles resolver...

—Espera, espera, o quê?! – não consigo ficar calado – Como assim?! A mamãe se casou com o Tales?!

—Você ainda se acha no direito de me perguntar alguma coisa? – retruca Hatsuharu. Ele tem toda a razão, mas... – Sim, os dois se casaram um ano e meio depois de você ter ido embora. Até que demorou muito, se me perguntar.

Sim, é verdade... Pelo que sabemos, Stanley e Tales eram amigos de infância, e ambos se apaixonaram pela mesma mulher, Isis. Stanley “venceu a disputa” e casou com a nossa mãe, mas Tales, apesar de respeitar a relação dos dois, sempre demonstrou ainda sentir algo por ela. Depois que Stanley nos deixou, Hatsuharu e eu costumávamos brincar com Tales, encorajando-o a se tornar o nosso novo pai...

Mas hoje em dia, eu não esperava que isso fosse acontecer de verdade.

Meu rosto com certeza está demonstrando toda a surpresa que estou sentindo. Hatsuharu, no entanto, não parou o discurso pra me esperar digerir aquela informação.

—Bom, como eu dizia, depois que os dois se casaram, eles decidiram que eu devia ter uma instrução melhor em duelos. Ficamos sabendo da boa fama da Academia Sanders, e então eu passei os últimos 18 meses me preparando pros testes de admissão.

—Caramba, se você se preparou por 18 meses, como diabos veio parar no Dormitório Branco?! – questiona Taiki.

—Bom... Eu dormi demais no dia do teste escrito... E não cheguei a tempo de responder...

Todos caímos pra trás no mesmo instante. Como alguém poderia ser tão irresponsável?

—Mas espera... Se mesmo sem a nota do teste escrito, você ainda conseguiu a admissão na Academia, isso quer dizer que...

—Sim. Meu rendimento no teste prático foi excelente. Um FTK.

—U-um First Turn Kill... – comenta Taiki, espantado.

—Pois é. Com esse desempenho, eu consegui entrar na Academia, apesar de ser obrigado a ficar no Dormitório Branco. E agora, mamãe e Tales estão pagando as mensalidades da Academia e... – meu irmão me encara subitamente – O que me lembra... Quem diabos tá pagando as suas mensalidades, Shunsuke?!

Todos novamente me encaram, curiosidade expressa no olhar. Acho que não tem problema em dizer a eles.

—Ninguém. Arnold Sanders me concedeu uma bolsa integral aqui, com a condição de participar de algumas atividades extraclasses.

O olhar de curiosidade nos olhos deles não desapareceu. Pelo contrário, aumentou ainda mais.

—Como assim? – pergunta Taiki – Eles só concedem bolsas pros estudantes que tiram notas altíssimas! E se você tivesse notas altas assim, certamente estaria no Dormitório Laranja ou no Vermelho!

—A minha situação é parecida com a de Hatsuharu. Por causa de... alguns motivos, eu não pude comparecer ao teste prático. – meus “motivos” são na verdade o fato de eu estar me escondendo dos “caçadores de cards raros” e não querer ser visto duelando em público, mas eu não vou dizer isso a eles – Mas eu consegui tirar a nota máxima no teste teórico. Isso seria o suficiente pra me catapultar com uma bolsa para o Dormitório Vermelho, mas sem a nota prática, não dava pra fazer isso. Então Sanders fez um acordo comigo, e me deu a bolsa com a condição de eu ficar no Dormitório Branco.

Isso tudo, na verdade, foi uma coincidência muito feliz pra mim. Eu imaginei que fosse conseguir entrar mesmo sem o teste prático se tirasse a nota máxima no teste teórico, mas eu não esperava que Sanders fosse me dar uma bolsa. O fato é que eu tenho algum dinheiro comigo, que atualmente está nas mãos de um “amigo” meu que vive nesta cidade, e eu estava preparado para pagar as mensalidades (embora eu certamente não tivesse dinheiro para me manter aqui por quatro anos). Sorte minha que as coisas aconteceram desse jeito.

—Esses dois devem ser a coisa mais estranha que já vi nessa Academia... – comenta Taiki – Bom, tudo isso foi até interessante, mas no final das contas, não me importa nem um pouco. Tudo que eu preciso saber é se vocês são fortes ou não, pra saber se vale a pena derrotar vocês. E eu já vi que vocês são fortes, então apenas se preparem pra perder pro grande Taiki Gouto no futuro.

—E você, Taiki? De onde vem toda essa pose? – questiona Ayumu. Eu até que gostaria de saber também.

—O que, querem que eu conte a minha história agora? Por que você não fala primeiro, Ayumu? O que a filha do Clã dos Pássaros tá fazendo fora do Japão? Vocês não são ultrarrígidos com esse tipo de coisa? – pergunta o veterano.

—É verdade, vocês mencionaram esse negócio de “Clã dos Pássaros” antes... O que é isso? – inquire Adolf. Como ele não é japonês, não deve saber mesmo. Cirano tem a mesma curiosidade nos olhos.

—Bom, já que querem tanto saber... – Ayumu consente em contar sua história – Lá no Japão, algumas famílias de duelistas se unem formando Clãs. Esses Clãs às vezes viram verdadeiras sociedades separadas do resto do Japão, e o Clã dos Pássaros é um desses. Nós vivemos em uma pequena ilha no oeste do Japão. Os Yamada são a família mais importante do Clã, e o líder dele geralmente vem de lá. O atual líder é meu pai, Haruto Yamada. Eu sou a filha única da família principal do Clã.

—Nossa, impressionante... – comenta Cirano – Aliás, eu acho que conheço esse nome... Haruto Yamada, Haruto Yamada...

—Ele e a esposa, Tamako Yamada, são os campeões mundiais de Duelos em Dupla. Essa é a especialidade do Clã dos Pássaros. – respondo.

—Exatamente. – confirma Ayumu. Eu não esperava que ela fosse filha justamente dos líderes da família.

—O quê?! Você é a filha dos campeões mundiais?!

—Isso não é lá grande coisa, sabe... O fato de eu ser uma mulher “estragou tudo”. – Ayumu fez as aspas com os dedos – Eu sou filha única. Isso faz de mim a mais velha, logicamente, mas eu não posso liderar o Clã por não ser um homem. E o pior é que minha mãe adoeceu e acabou ficando estéril, então eles não podem ter outros filhos. Aí vocês conseguem imaginar, não é? Todas as conversas que eu tive que ouvir, as reclamações sobre ter que passar a liderança do Clã pra uma das famílias secundárias... Como se a “culpa” de eu ter nascido mulher fosse minha.

—Que machista... – comenta Adolf.

—Não é? Eu simplesmente fiquei de saco cheio daquilo! O Clã dos Pássaros não permite que as pessoas deixem a ilha antes de completarmos 21 anos, mas eu simplesmente disse que não ligava pra nada daquilo. Afinal, eu não poderia ser a líder do Clã de qualquer forma, certo?

—Hehe, que garota corajosa. – elogio.

—Obrigada, Orochi. Enfim, meus avós me apoiaram na minha “rebelião”. Com a ajuda deles, meus pais se convenceram a me deixar conhecer o mundo fora da ilha pessoalmente. Então, eu fiquei sabendo sobre as Academias de Duelo, e como a Sanders tinha uma boa fama, eu vim pra cá. Meus avós bancaram tudo, e estão pagando as mensalidades. Só que eu me dei mal na prova escrita... Conhecimento teórico nunca foi meu forte. Sabe como é, passei a vida inteira numa ilha isolada do mundo...

—E é por isso que está agora no Dormitório Branco.

—Isso mesmo. E agora que estou aqui, pretendo melhorar as minhas habilidades, principalmente em duelos em equipe. Não porque essa é a especialidade do meu Clã, mas porque é o que eu quero por mim mesma. Nem levou muito tempo pra contar minha história, não é? – conclui ela com um sorriso – E então, quem é o próximo a falar? Isso até que tá divertido. Adolf?

—Minha história é muito mais curta e desinteressante... Meu irmão mais velho era o campeão alemão de Monstros de Duelo. Ele me disse que eu deveria perseguir meus sonhos com afinco. E eu só tenho um sonho, me tornar o maior duelista de todo o mundo. É por causa desse sonho que estou na Sanders agora. Isso é tudo.

Todos encaramos Adolf por alguns instantes, ignorando solenemente o “isso é tudo” que ele disse.

—Ei, você com certeza deixou essa história mais curta de propósito! – reclama Taiki – Como assim, seu irmão “era” o campeão alemão? Quem diabos é seu irmão?

—É o que eu disse. Klaus era o campeão alemão de Monstros de Duelo e manteve o título por quatro anos. Até dois anos atrás, quando ele simplesmente largou os duelos profissionais e se mudou pro Brasil.

—Pro Brasil? Mas nada de importante no mundo dos duelos acontece por lá. O que um campeão nacional foi fazer no Brasil? – pergunta Cirano. Não posso deixar de notar a semelhança entre esse tal de Klaus e o Stanley. A diferença é que ao menos Adolf sabe onde o irmão está. Mas não digo nada disso em voz alta.

—Não sei, Taiki. Ele não mantém muito contato com a nossa família. Só sei que eu estou aqui seguindo as últimas palavras que ele me disse antes de partir.

—São seus pais que estão pagando as suas mensalidades? – questiona Hatsuharu.

—Sim. Eles não são duelistas, mas sempre suportaram o Klaus na carreira dele, e agora que eu resolvi seguir o mesmo caminho, eles continuam me dando apoio.

—Ah, que inveja... – murmura Ayumu, suspirando.

—Então, você quer se tornar o melhor duelista do mundo... Seu irmão não te disse pra manter os pés no chão, não é? – provoca o veterano.

—Você não me parece necessariamente um modelo de humildade. Por que você não conta a sua história também, Taiki? – desafia o alemão.

—Hump! Não tenho muito que contar. Na verdade, minha história é muito parecida com a sua. Só que no lugar de um irmão, eu tenho é uma irmã mais velha, Miyuki.

—Miyuki? Miyuki Gouto... Eu reconheço esse nome. – comento.

—Deveria. Ela perdeu na final pro seu pai, Stanley, no último torneio nacional em que ele participou, e então foi campeã japonesa no ano seguinte.

—Ah! Aquela garota! Eu me lembro vagamente do duelo dela... Então foi a campeã japonesa de oito anos atrás...

—É. Ela também saiu de casa, meio ano atrás, enquanto eu estudava aqui na Sanders. Ela não tem mantido contato com nossos pais, mas de vez em quando manda um cartão postal pra mostrar que ainda tá viva. Parece que ela tá viajando o mundo. Bom, como campeã japonesa, é óbvio que a minha irmã era uma duelista excelente. Eu simplesmente não queria perder pra ela. Eu tenho tanto potencial quanto ela, ou até mais! É por isso que estou determinado a brilhar como eu mereço!

—Talvez você devesse começar tendo umas lições de humildade, veterano idiota.

—Eu também estou determinado a acabar com a sua raça, ruivo maldito... Apenas me aguarde...

—Talvez você devesse falar mais do seu “potencial” quando as mangas do seu uniforme forem laranjas ou vermelhas. – alfineta novamente meu irmão.

—E-eu sou um duelista melhor hoje do que era um ano atrás! E mais, durante todo o ano passado, eu consegui informações sobre a maior parte dos estudantes dessa Academia!

—É, você tinha mencionado algo assim antes do Shunsuke chegar... – lembra Cirano. Apesar de eu não entender exatamente em que isso torna Taiki um duelista melhor.

—É! E além disso... – Taiki subitamente faz uma expressão de surpresa, como se tivesse se lembrado de algo – Ei, quer dizer que todos aqui nesse quarto têm um campeão no mínimo a nível nacional na família?

Agora que ele mencionou esse fato... Ele tem a irmã, Miyuki, que já foi campeã japonesa. Adolf tem o irmão Klaus, antigo campeão alemão. Os pais de Ayumu são do Clã dos Pássaros, vencedores do torneio mundial de duplas... E Hatsuharu e eu temos o Stanley, que também já foi campeão japonês...

—Bom, a gente ainda tem uma pessoa aqui que não falou. Quer dizer, tirando o Orochi, né... – nós cinco voltamos nossos rostos para Cirano. Ele foi o único que não falou de sua história.

—E-eu? – Cirano parece incomodado.

—Tem mais alguém aqui, Shihano? – pergunta Ayumu, pronunciando o nome errado.

—É Ci. Ha. No! – responde o garoto, parecendo se soltar mais. Me pergunto se Ayumu errou a pronúncia de propósito pra motivá-lo, ou só porque ela é ruim mesmo no inglês (ou francês, no caso) – Se vocês querem mesmo saber... Assim como vocês, eu tenho um campeão na família. Embora ele fosse apenas um campeão municipal, meu irmão mais velho, Cyrille, era um duelista profissional também.

—Espera, familiares de campeões tem algum laço do destino os unindo ou o quê? Não é possível que uma coincidência dessas aconteça! – disse Taiki.

—E não se esqueçam que o Orochi não tava no quarto antes. Ele pegou o lugar do tal Presto. – lembra Ayumu.

—Seu irmão nunca passou além do nível municipal? – pergunta Hatsuharu, voltando à história de Cirano – Campeões municipais são convidados como participantes pros torneios regionais. Ele não conseguiu ir mais além do que isso?

—Não é que ele não tenha conseguido... Ele foi assassinado antes disso...

—...

—...

...

—COMO É?! – perguntamos todos ao mesmo tempo, sem parar pra pensar muito. Podíamos estar cutucando uma ferida, mas não nos tocamos na hora.

—Pois é... – continua o francês, coçando o nariz e olhando pro chão, parecendo mais incomodado com a atenção que estava recebendo do que com a história que contava – Foi 10 anos atrás, quando eu tinha 5 anos. Eu tava fora da cidade numa excursão escolar, então não sei dos detalhes, já que ninguém quis me contar... Na verdade, não me lembro nem mesmo do meu irmão com clareza, mas ele parece ter encontrado gente do submundo dos duelos... E vocês sabem, não dá pra saber o que acontece quando você se mete com essa gente... – Cirano vasculha o porta-Deck na cintura, removendo seu conteúdo – Como eu já tinha dito antes, esse Deck é o que pertencia a ele. Claro, com as alterações que fui fazendo ao longo do tempo...

—Nossa... – Ayumu finalmente parece ter caído na real – Olha, nós sentimos muito por ter feito você falar sobre isso...

—Ah, não se preocupem. Eu sou mesmo meio introvertido, mas não é por causa desse incidente. – Cirano deu um sorriso sincero, embora ainda meio encabulado – Como eu disse, eu mal me lembro de como meu irmão era... É claro que eu preferiria tê-lo ao meu lado, e por tudo que já ouvi falarem dele, e pelo pouco que me lembro, ele era uma boa pessoa que não merecia um fim como esse... Mas não pude aproveitar a companhia dele por tempo suficiente pra sentir falta dela.

—E como você, que perdeu o irmão por causa dos duelos, está estudando numa Academia renomada do outro lado do Atlântico? – pergunta Adolf, tentando, assim como Hatsuharu, voltar o foco para a história de Cirano, que claramente teria algo além de um assassinato trágico.

—Ah, isso foi um problemão... Meus pais, é claro, tentaram a vida inteira me manter longe dos cards. Eu não posso culpá-los, já que eles tinham perdido um filho por causa disso...

—Tolice. Não foram os duelos que mataram seu irmão, foram os duelistas do submundo. – corta Hatsuharu – Eu posso entender até certo ponto a paranoia deles, mas generalizar como se Monstros de Duelo fosse um jogo perigoso por natureza já é demais...

—É, eu gostaria de ver você tentar convencê-los. – responde o francês com uma risadinha – No final das contas, foram sempre meus tios quem apoiaram minha vontade de me tornar um duelista... Eles sabiam que o que tinha acontecido com Cyrille não era algo que se podia prever, e que não fazia sentido me manter longe dos duelos por causa disso. E eu tanto insisti que meus pais resolveram que não adiantava tentar me impedir. Eu queria ser como meu irmão. E foi por isso que eu decidi entrar numa Academia de Duelos.

—Suponho que sejam seus tios que estejam pagando por isso.

—Isso mesmo, Ayumu. Meus pais disseram que não me impediriam, mas também não moveriam um dedo pra me ajudar. E como eu consegui notas não muito altas nos dois testes, aqui estou eu, no Dormitório Branco, ouvindo as histórias dos meus colegas de quarto.

—Colegas de quarto transgressores, diga-se de passagem. – comento – Não se esqueçam que a gente sequer devia estar nesse quarto conversando. Devíamos estar todos na cerimônia de abertura do ano letivo.

—Solenidades... Eu não tenho interesse por isso. No final das contas, pude duelar com vocês, e esse tempo foi muito melhor gasto. – declara Adolf, e os outros parecem concordar, com sorrisos no rosto (com exceção do sempre irritadiço Taiki).

—Sim, de fato. – assinto, também sorrindo. Nesse momento, ouço passos no corredor. Vários deles – Por falar na cerimônia, parece que ela acabou e estão todos voltando pros seus quartos...

—É, realmente.

...

O que é isso?

Eu sinto... Sinto uma presença no meio dessas pessoas!

Levanto e corro até a porta, abrindo-a para observar os vários Alunos Brancos que chegavam da cerimônia. Não pode ser! Eu não consigo sentir a presença de pessoas normais, o que significa que...

Alguém que controla poderes de duelo está nesse Dormitório Branco!

—Shunsuke? O que aconteceu? – pergunta Cirano.

—Que desespero todo é esse? Tá esperando alguém?

—N-não... Não é nada, pessoal. Pensei ter ouvido uma voz conhecida, mas foi só impressão.

Mesmo dizendo isso, não fecho a porta, e continuo a procurar na multidão pela pessoa que me chamou a atenção. Ela parece estar se aproximando... Acho que posso vê-la agora. Um garoto de cabelos loiros e curtos e olhos azuis está passando pela minha porta nesse momento. Não chamaria a atenção no meio de todos esses alunos, não fosse a energia que emana... E que só eu consigo sentir.

Ele... Ele está fazendo contato visual comigo?

—Boa noite. – me saúda o loiro, para minha surpresa. Então, ele também consegue perceber que não sou um duelista comum?

Não respondo, por estar ainda sem palavras, e ele também nada mais fala. Seguindo pelo corredor, ele para na porta do quarto número 12, e então entra.

Quarto 12.

Meu quarto, antes de trocar de lugar com Presto.

Não sei se fiz bem ou mal em não estar no mesmo quarto desse garoto... Mas espero descobrir logo...

 


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, temos o primeiro dia de aula desse pessoal. O que pode acontecer? As coisas podem ser um pouco diferentes do que pensam...