Sentada num sofá branco de um leito hospitalar Reyna fitava o nada, ela nunca pensara que seria assim que passaria o natal daquele ano. Meses antes ela pedira a mãe sapatilhas de sapateado novas no natal como sempre fazia todo ano e agora ela vigiava o sono turbulento e frágil da sua progenitora.

Reyna tinha 16 anos, não acreditava mais em Papai Noel desde os 10, mas ela mesmo assim insistia que alguém lá em cima realmente não queria que a morena fosse feliz. O tempo arrancara seu pai quando ela não passava de uma simples criança que estava aprendendo a ler e agora no auge de sua adolescência tentava roubar sua mão para sempre. Era isso justo? O que viria depois? A garota realmente não queria pensar nisso ou talvez o destino lhe deixasse sem Hylla também, e então toda a sua real família chegaria ao fim. Uma lágrima triste lhe escapou dos olhos marejados e ela se virou subitamente para a irmã sonolenta ao seu lado a abraçando fortemente.

– Eu te amo. – ela disse tentando evitar com a voz embargada e por um milagre conseguiu. Hylla deu um suspiro sonolento se virando para a mais nova.

– Eu também te amo, maninha. – sussurrou, o dia fora dura para Hylla e Reyna sabia disso, os olhos da irmã mais velha pesou com mais intensidade e ela fechou os olhos embarcando num sono profundo – Feliz natal.

Os olhos de obsidiana de Reyna focaram na janela e ela tomou coragem para andar até ali. Da janela meio embaçada por conta da temperatura era possível ver o Central Park e mais à frente a Madison Square Garden iluminada. Mais lágrimas escaparam de seus olhos sem permissão ensopando o rosto dela. Até o ano passado em todo natal Reyna, Hylla e Belona iam à igreja rezar pelo patriarca da família já morto e depois visita-lo no cemitério. Quando voltavam pra casa seu tio e seus primos já estavam ali. Clarisse sentada junto ao tio, Ares, assistindo a reprise de um especial de MMA enquanto Frank convencia um dos amigos ao telefone a ajuda-lo com uma menina pela qual era apaixonado. Parecia tão distante agora, quase como uma vida atrás. Reyna queria voltar para aquela vida e fugir desse novo pesadelo.

A barriga dela roncou alto e a garota decidiu se alimentar de apenas uma daquelas barrinhas feitos de casca de lápis que as pessoas insistiam em achar ser barra de cereais. Ela não iria pôr em sua barriga nada que estivesse relacionado ao natal porque não era natal se sua mãe estava em observação no hospital estadual com um problema no coração e sua irmã permanecia embalada em pesadelos proporcionados pela mente assim como acontecia com Reyna quando a menina se deixava deixar pelo sonho.

O celular vibrou três vezes, e depois mais duas e por fim mais cinco, sem parar. Ela se perguntou quem era o infeliz que estava lhe ligando agora, afinal, precisava ser um tanto disso para decidir liga-la em plena hora de ceia de natal. Mesmo pensando assim ela checou o Android.

Ela não recebera ligação nenhuma, todas aquelas vibrações de celular eram apenas mensagens no WhatsAap e no Snapchat. Ela viu primeiro as do WhatsAap, seria menos dolor na cabeça dela. Três mensagens: uma de Piper, uma de Leo e uma de Gwen.

FELIZ NATAL, REY!!! PAPAI NOEL TE AMA... COMO ESTÃO AS COISAS?

Gwen mandara. Gwen era dois anos mais velha, uma amiga da faculdade de Hylla que fizera amizade com Reyna logo de cara, a menina tinha uma personalidade doce e batalhadora, quando soube da notícia por Hyll começou a dar todo o apoio que podia. Reyna quase sorriu ao ver que a universitária se preocupara em dar apoio moral na data tão infeliz, mas logo depois se sentiu culpada, pois Gwen era só uma amiga, não era da sua família e portanto não deveria estar sofrendo e sim curtindo com a família. Reyna imaginou Gwen sem se divertir na data que mais esperava por culpa de amigas que a faziam se preocupar com a saúde da mãe internada.

Ela respondeu algo como “Feliz natal” cheio de emojis de carinha feliz, corações e cornetas seguidos de “Não se preocupe” e “Vá se divertir, está tudo bem”. O sofrimento era da família de Hylla e Reyna e a morena não desejava partilhar com ninguém a dor da agonia que sentia. Ela então abriu a mensagem de Piper.

Você dança? Ele pergunta

A garota faz que sim rapidamente

Quem dança deixa o sorriso preencher o rosto, está mentindo pra mim?

A menina continua triste fazendo que não com a cabeça

Então deixe-me ver seu sorriso, ele pede.

Não posso. Ela fala pela primeira vez

O homem olha incrédulo pra ela

Já tentou? Ele argumenta arrancando um sorriso tímido dela

Não

Com um passe de mágica a menina começa a dançar com o homem e seu sorriso ilumina a

Pista

Se você também dança e conhece pessoas que precisam sorrir envie isso para 3 grupos

Não mande pra ninguém, Reyna!!! Feliz natal!!!

Reyna quase chorou rindo ao ler aquilo, desde o início do recesso a menina ficou em tristeza total e Piper tentava fazer de tudo pra anima-la e dia após dia arrancava pequenos sorrisos da amiga se dando por satisfeita.

Reyna respondeu a Piper “Feliz Natal” com vários pinheirinhos de natal e um Papai Noel e, logo depois, acrescentou um “Eu te amo. Obrigada” cercado por corações vermelhos. A mensagem não fora visualizada, Reyna sabia que Piper só iria ver aquilo no dia seguinte mas o pequeno ato a fez sorrir e ela era grata por isso. Fechou a mensagem da melhor amiga e abriu a última mandada por Leo.

Rosas são vermelhas

Violetas são azuis

E eu fiz nachos

Vc quer?

Ela quase riu da mensagem de Leo. O moreno insistira em ajudar Piper a fazer Reyna sorrir e até agora nenhum dos dois parara com o “Projeto Reyna Feliz”. Reyna ficou finalmente feliz por não receber mais uma daquelas mensagens de feliz natal com um quê de preocupado que fazia ela se sentir mal estragando o natal das pessoas com seus problemas mesmo que eles não admitissem.

Nachos? No natal?

Vc é doido, Valdez!!

Leo Gostosão Mozão da Minha Vida Valdez está digitando...

Ela quase teve um infarto quando viu que ele a estava respondendo. Ele tinha feito nachos então que fosse come-los e deixasse ela se remoendo em insônia e dor. Ela encarou de novo o nome que Leo gravara em seu celular, tal fato só afirmava ainda mais que ele era doido. Ou talvez ele só estivesse no tédio e fazendo o que todos os adolescentes da sua família estavam fazendo naquele momento, ela deduziu tentando não se sentir culpada.

Se vc quiser aki em ksa tem peru

Mas to te oferecendo nachos pq eu odeio peru

Mas é a tradição

Vc ta comendo nachos com o q?

Com arroz branco infestado de uva passa

E vc?

Reyna quase se sentiu uma mendiga de rua por ter que dizer que estava no hospital admirando o sono incrustado de pesadelos de Hylla e sua mãe. Ele iria imagina-la sofrendo e sentiria pena, ela não queria a pena de ninguém naquela noite e jogaria na cara de qualquer um que esse era seu pedido de natal atual.

No hospital.

O Q VC ESTA FAZENDO NO HOSPITAL?

É NATAL!!

O dia n importa Valdez

Eu so quero ficar com minha família neste natal

E neste natal nós nos reunimos no hospital

Reyna observou a mensagem ser enviada. Ser aberta. Ser visualizada. E ela jurava que a próxima viria carregada de pena, se fosse enviada porque era claro que depois daquele corte ela ficaria no vácuo.

Leo Gostosão Mozão da Minha Vida Valdez está digitando...

Tô indo prai... vc vai me ajudra a comer esses nachos

*ajudar

Chego em vinte minutos

O q?!

N!!!

N quero q faça isso por pena

N é pena

VC esta me fzndo o favor

Minha mãe vai começar a mostrar minhas fts de qndo eu era bb

Preciso fugir daki ou serei a humilhação do ano

Reyna se odiou pela mensagem que iria mandar, se odiava com todas as forças existentes dentro dela. Mas ela se sentia sozinha e sem ninguém além da dor, seria seu novo presente de natal a dadiva de um sorriso sinceros em semanas?

Venha

Estou esperando