Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 7
Sentimentos esquecidos


Notas iniciais do capítulo

meu cap preferido até agoraa *.*



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ASH P.O.V

Abro meus olhos devagar; minha cabeça dói. Por incrível que pareça, não é ressaca. Podia ser. Talvez assim eu não me lembrasse do que vi hoje. De quem vi hoje. Com algum esforço abro meus olhos e vejo que já é meio dia.

Talvez eu deva levantar. Talvez. Faz algum tempo desde que dormi até essa hora sem estar de ressaca. Alguns anos, provavelmente. Não importa. Não de verdade. Não importa porque eu sei que não vou conseguir me concentrar em nada além da garota do carro. A quem quero enganar? Eu sei o nome dela. Conheço cada parte daquele corpo, conheço sim. Ou não, sei lá. Há muitas ruivas por aí, certo? Talvez. A garota do carro era linda. Mas por que ruiva? Detesto ruivas. Elas sempre me lembram dela. Não, não direi o nome porque nem lembro mais. Talvez eu lembre. Talvez.

Que bosta! Que merda de assombração! Na minha opinião, mortos devem permanecer mortos e namoradas traidoras devem ficar bem longe com seus maridinhos amigos da onça. Sim, porque ela tinha que estar com o maridinho perfeitinho dela. Mas ela chorava. Ou seja, talvez o paraíso tenha acabado e um divórcio esteja se aproximando. Talvez ela volte a ser solteira. Não que eu me importe, é claro que não. Não é como se eu tivesse ficado feliz quando a vi. Nem como se outras partes do meu corpo também tivessem. Partes mais baixas. Enfim, é claro que não. Ela me enlouquecia, mas isso quando eu era uma criança. Não mais, claro que não. O desconforto que senti hoje foi puro sono, é claro. Por que, afinal, quem sente fome às oito da manhã? Isso é horário de ir dormir, não de pensar: “poxa, estou com fome, vou ao mercado comprar um hambúrguer!”. Por que, diabos, eu tinha que comprar a bosta do hambúrguer?

E puta que pariu, como ela tá linda. Não do jeito malicioso… desse também, mas nossa. Ela sempre foi linda, mas, sei lá. Não é só porque eu a acho bonita que eu goste dela. A odeio, claro. Sempre a odiarei. Com ou sem peitos grandes. E cabelos bons de apertar. E pele macia. Enfim, a odiarei pra sempre. Bonita ou feia. Chorando ou sorrindo. O que me faz voltar ao motivo do choro. Porque aquele rosto branquinho só fica daquele jeito depois de muitas lágrimas. E sim, eu sei como ela chora. Mas não, eu não me importo. É só curiosidade, claro. Surpresa. Pensei que nunca mais a veria e então pimba. Ela está num carro me olhando com aqueles olhos verdes do tamanho do mundo, brilhantes de lágrimas. Por que tinha que chorar? Todos sabem como odeio vê-la chorando. Não que eu tenha visto, é claro. Pode ter sido uma garota ruiva de olhos cor de esmeralda e pela macia que me deixa… animado só com um olhar qualquer. Deve haver muitas delas por aí. Portanto eu apenas me assustei. E eu usei a palavra “portanto” em pensamentos. Que bugado. Sim, eu tenho mais de vinte e ainda penso “bugado” e falo comigo mesmo em pensamentos.

VIVA A INFANTILIDADE!

E sim, essa foi a tentativa mais frustrada de todas de tirar essa Miltank da minha cabeça. Não que ela seja uma Miltank, mas pensei isso na força do momento e… a quem quero enganar? É Mltank sim. E isso é ofensa pros Pokémons com tetas grandes que dão leite! Tadinhos, chamei eles de traidores.

É uma Miltank cruel, ainda por cima. Porque não me deixa levantar e nem dormir. Porque invade meus pesadelos e sonhos bons e, quando eu penso que tá tudo ficando de boa, aparece chorando num carro com o maridinho perfeito.

AAAAAAAAAAAH! Eu to tão confuso! Por que ela tem que aparecer? Como essa vadia consegue mexer com a minha cabeça desse jeito? Namoramos há sete anos atrás, porra! Não, pera… seis e alguma coisa. Não lembro. Não importa. Não quero saber. Quero… quero esquecer que ela existe. Quero esquecer o sorriso bobo, a forma como conseguia me fazer rir de tudo. Quero esquecer o quanto a gente foi feliz. Já tentei de várias formas. Serena é apenas uma das muitas que já tive depois de… bem, dela. E é diferente. Pra ser bem honesto, eu nem me lembro direito como era. Estar com ela. Eu só sei que era bom. E que eu sinto saudade. Não, eu não pensei isso. Saudade? Nah! Ela é passado. E é hora de parar de pensar em quem não presta. Tipo… eu preciso comer meu hambúrguer. Que eu comprei depois de vê-la. Pois é… cérebro idiota, pensa em algo que não tenha a ver com aqueles olhos lacrimejantes! E eu conheço a palavra “lacrimejante”. Meu vocabulário é foda!

Mas o dela era melhor. To com a mente toda embaralhada com tantos “ela” e “dela”. Mas… sei lá. O nome vai tornar tudo mais real. E não pode ser real, porque eu não quero acreditar que realmente a vi, porque… sei lá. Só não quero. Ah… ela tá tão linda… e podia ser minha. Imagina que louco? Eu e ela, juntos de novo. Comendo, treinando, rindo e… hm… nos amando. Seria tão bom. Só nós dois. Teríamos cinco filhos e… ASH! Para de pensar merda. Ela é uma droga. Má, cruel, destruidora de corações e relacionamentos – porque a Serena não vai me aguentar muito tempo, ou eu não vou aguentar ela, sei lá –, ardilosa… e viciante.

Que bosta, Ash. Tira essa ruiva desgraçada da cabeça! Ela é casada e, obviamente, não quer mais nada com você! E eu to pensando em mim mesmo como se fala com “ele”. Não prestei atenção nas aulas de português, não lembro como que se diz isso de se referir a si mesmo como outra pessoa. Ela saberia. Muito inteligente, a minha ruiva. Minha não, do Rudy. Bastardo filho da puta! Nossa, como eu detesto esse cara. Ele podia morrer. Talvez não morrer, mas, sei lá, se mudar pra bem longe de mim. E da minha ruiva. MINHA NÃO, CARALHO!

Não é mais minha desde que brigamos. Foi feia, aquela briga. Gritamos coisas que eu me arrependo até hoje, eu tentava humilhá-la e ela fazia o mesmo comigo. Eu chorei, eu lembro. Ela também. Conseguimos gritar, xingar e chorar ao mesmo tempo. Uma tonga, aquela ruiva. A cena foi tão óbvia! Não tinha o que discutir. Ela criava historinhas idiotas pra se defender, mas todo mundo sabe que a vadia tava me traindo. Eu sei.

Foi a única vez que a vi realmente triste. Além de hoje, claro. Tão estranho ver ela chorando. Sempre foi tão forte. Mais do que eu, provavelmente. A mais forte de todas as garotas de quinze anos que eu já conheci. Por que ela tava chorando hoje? Algo ruim deve ter acontecido. Acho que ela e o maridinho lindo lá brigaram. Não que eu queira isso… talvez um pouco. Mas isso não tem nada a ver com querer ela solteira e livre para que eu possa chegar nela, nada a ver. É só porque eu não gosto do Rudy mesmo. E é uma idiotice não pensar no nome dela, mas é tipo em Harry Potter. Todo mundo sabe quem é “Você-Sabe-Quem”, mas ninguém diz o nome dele. Ela e Você-Sabe-Quem são bem parecidos. Tirando que ela é gostosa e ele é feio. Assim como ele, ela é cruel, sádica e eu não consigo odiá-la. Porque ninguém odeia Você-Sabe-Quem e eu também não consigo odiar… Ela. Eu detesto, mas não odeio. A Miltank consegue fazer isso com as pessoas. E sim, vou continuar chamando ela de Miltank!

Devia estar feliz pela Miltank estar sofrendo, mas não dá. Não gosto quando ela chora. É… estranho. Constrangedor, quase. Sabe aquelas pessoas que não podem chorar? Minha Miltank é assim. Sempre vai ser. Ela combina com a água, mas não com lágrimas. Não sei explicar… tinha um tempo em que eu pensava que ela nem era capaz de chorar. Queria que fosse assim.

É incrível! Eu não consegui parar de pensar nela durante mais de um ano, sofri muito por um erro dela, por eu não ter sido um bom namorado, ou simplesmente por ela não me amar; e eu a vejo por menos de cinco minutos e todo esse meu esforço vai por água abaixo! Menos de cinco minutos conseguiram fazer lembranças que eu pensei ter esquecido voltarem de uma única vez. É tão injusto! Tão injusto eu continuar apaixonado. É, foda-se, ainda amo minha Miltank. E são meus pensamentos, então aqui ela é minha. Só minha. Nossa, que saudade daquela tonga!

O pior é que eu nem posso dizer que eu quero que ela suma. Acho que o que eu realmente quero é que ela invada minha casa, se jogue na minha cama, e me abrace o mais forte que conseguir. Acho que to precisando disso. Dum abraço. Dela, claro. Sempre dela. E o mais legal é que eu consigo imaginar a cena todinha. Ela chegando com o rebolar lento que só minha ruiva tem, os cabelos balançando e o brilho de criança nos olhos que eu tanto gosto. Então ela começaria a correr e se jogaria sobre mim, me abraçando o mais forte que conseguisse. E então, só pra me fazer suspirar de alegria, ela sussurraria: “senti tantas saudades” no meu ouvido.

Mas não vai acontecer nada disso, eu sei. Ela tá bem casada. Daqui a pouco vai ter filhos – será que já tem? – e eu não passo de uma memória esquecida de um passado distante. Sei que ela ainda lembra o meu nome, mas talvez não passe disso. Talvez nem mesmo olhar para Brock a lembre que eu existo. Tento não pedir a Brock informações sobre ela, mas acho que depois eu vou ligar pra ele. Só pra saber por que ela tava chorando. Só pra me torturar de novo, como sempre. Tento negar, mas todos sabem que já vi todos os shows dela. Pela internet, é claro. Não a vejo pessoalmente desde o dia em que brigamos. Queria poder simplesmente seguir em frente, me apaixonar por outra mulher, criar uma família. Acho que isso não vai acontecer enquanto eu não desistir de achar alguém igual a ela. Porque eu sempre tento sentir aquele frio na barriga e a ansiedade que eu sentia quando adolescente. E eu sei que era por ela. Senti hoje de manhã, quando a vi. Foi quando eu percebi a saudade que eu sentia. Nossa, como aquela sensação foi boa! E ter ela em meus braços? Será que consigo? Acho que eu morria de felicidade. Ver aquele sorriso só meu, os olhos brilhando ao me ver. Ela sempre vai ser uma criança por dentro. Será que ainda me ama?

Acho que não. Parecia estar saindo em viagem com o babaca. Ah… ela é casada. Não posso me esquecer disso. Mas seria tão bom acordar com quinze anos de novo, depois de ter dormido num motel qualquer de beira de estrada com ela. Acordar com sono, sentir o corpo que eu tanto gosto ao lado do meu… abrir os olhos e perceber que ela estava me olhando dormir… mas isso não vai acontecer, é claro. O tempo passou e ela casou. Ou seja… vou acordar sozinho pro resto da minha vida. Ou com a Serena, ou outra garota qualquer que venha depois dela. Vida boa, a minha. Minha única sorte é que a Sê não lê mentes. Se descobrisse que eu ainda tenho uma queda boba pela minha ex, ela ia querer me matar. Não que fosse conseguir, mas detesto lidar com os ataques de ciúmes exagerados dela. Chegou até a discutir com a May e com a Dawn, vê se pode uma coisa dessas?! May e Dawn! Elas são minhas irmãs chatas e incompetentes, praticamente. E irritantes, não posso me esquecer. Mas Drew e Paul são piores. Aqueles dois me irritam demais. Honestamente, nem sei o porquê de eu ainda estar com ela. O Yuri a chama de perua, acho que eu concordo! Acho que estou com ela apenas para me esquecer dela, mas pelo visto, depois de hoje, posso terminar o nosso namoro, não tem como eu esquecer essa ruiva nem a base de choque. Que bosta.

Não. Não vou terminar com a Serena. Muita mão. Não hoje, pelo menos. Hoje eu realmente preciso de uma mulher do meu lado. Vai que um milagre aconteça e eu passe a gostar de morenas?

“Você é um garoto de sorte”.

Rudy me disse isso quando nos conhecemos. Muita sorte, a minha. Quase trinta anos, sem filhos ou um relacionamento amoroso estável ou qualquer outra baboseira que deixaria minha mãe orgulhosa. Ela ficou quando eu consegui me tornar um mestre Pokémon, mas eu sei que ela sempre quis um neto. Eu sempre quis dar um pra ela também. A prova disso é o quarto que eu nunca deixei Serena entrar. Mas, né. Pra ter um filho eu preciso de uma namorada, esposa, ou o que for. Só não adoto porque não quero criar uma criança sem uma mãe. E porque ninguém em sã consciência me deixaria cuidar de um bebê sem supervisão de uma carrasca. Tipo ela, ninguém é mais carrasca que ela. BOSTA, ASH! Para de pensar nela.

Fecho meus olhos e visualizo a minha memória mais recente da única garota que realmente amei. Ela chorava. E seus braços estavam avermelhados. Será que havia se machucado e Rudy a estava levando para o hospital? Não… ela não se machucaria assim… né? Desistindo, fecho os olhos e narro a cena em minha mente.

Eram quase sete e meia da manhã quando abri meus olhos, nunca havia acordado tão cedo na minha vida! Nem sei o porquê de eu acordar, pra ser sincero. Mas aí a minha linda barriga roncou e eu lembrei.

Fome. Quem mandou quase nem jantar na noite anterior? Fome! Apenas isso pra me fazer acordar de madrugada! Corri pra cozinha, abri a geladeira; vazia. Os armários, vazios. A dispensa, apenas uma lata de ervilha.

Foi então que eu percebi que falta a coisa mais importante que aquela casa poderia ter depois dos meus Pokémons: comida.

A única coisa a fazer era ir ao supermercado! Que ficava do outro lado da cidade! Quem foi que me mandou vir aqui? Morar tão longe do lugar onde se vende a coisa mais importante que eu posso querer? Ah, lembrei, é pra eu ficar o mais longe possível da população, pra não topar com ninguém. Agora percebo que já pressentia que a veria. Agora percebo que pensei nela mesmo antes de vê-la. Que estranho isso. Será que penso assim tão frequentemente nessa ruiva que nem mesmo percebo mais?

Começar o dia já pensando nisso foi horroroso! Esse provavelmente seria um dia péssimo! Mal eu sabia como estava certo… Quando eu já começo o dia pensando em meus pesadelos, é porque a coisa ta feia.

Pensei seriamente em nem ir ao mercado, isso poderia ser um aviso de que uma assombração estava por vir, mas aí a minha linda barriga roncou novamente e eu desisti. A fome vence tudo, é claro.

Troquei-me em tal velocidade que até mesmo eu me surpreendi, mas, afinal, às oito e dez, eu fiquei pronto para sair. Sendo que apenas tinha trocado de roupa, porque o meu cabelo é só passar a mão e deu.

Saí de casa e deixei o Pikachu no comando. Meus Pokémons sabem se cuidar e duvido que alguém vá invadir minha casa. É simples, mas confortável. E o Charizard gosta de ficar voando ao redor pra colocar medo nos vizinhos. Então, se alguém tentar invadir, tenho pena da alma do coitado. Pikachu sabe ser bem cruel quando quer. E eu acho que a Chikorita tá de TPM.

Entrei no meu carro azul escuro, quase preto, e fui. Fiquei parado em um monte de sinaleiras; quando fiquei preso em mais um congestionamento e me perguntei como tanta gente podia estar acordada de madrugada, um carro preto parou ao meu lado. Os vidros eram claros, mas o carro era completamente negro e parecia que havia sido limpo há pouquíssimo tempo. Olhei para ele, estava mesmo a fim de trocar de carro. Mas o pensamento não ficou na minha mente por muito tempo. Quando olhei para o banco de trás, todo o resto desapareceu.

Meu coração acelerou como não acelerava há muito tempo, e eu não entendi o porquê de imediato. Havia uma linda mulher, ela não era completamente branca, mas não podia se chamar de morena; tinha um leve bronzeado. As curvas eram bem definidas; magra, mas, assim que olhei mais pra cima, percebi os longos cabelos ruivos. Tinham de ser ruivos. Se ela ainda fosse loira, morena, tivesse o cabelo colorido, tanto faz, mas ruiva não! Olhei para o seu rosto, quanto mais eu a olhava, mais me lembrava de uma velha amiga que eu prefiro esquecer. O rosto era angelical, mas ela exagerou na maquiagem e suas bochechas estavam vermelhas demais, ufa! Pelo menos eu podia ter certeza de que ela não passava nem perto de ser aquela minha “amiga”, porque ela não usava essas coisas. Não precisava.

Não pude ver seus olhos, estavam fechados, mas assim que ela abriu, eu tive certeza, era ela, Misty Waterflower. O nome veio como uma bala. Não havia nem mesmo um pingo de dúvida, era ela. Eu soube, assim que a vi. Não importa o quanto eu tenha negado depois, eu soube. Ela havia mudado tanto…

“Não. É só uma ruiva linda, com curvas bem definidas e olhos verdes. Nem consegui ver os olhos dela para ter certeza, além disso, tem vidros que podem distorcer um pouco!” Lembro que foi o que pensei, porém continuei olhando para ela, tentando me convencer de que não podia ser a Misty que eu conheci há tanto tempo. Minha Misty não passa maquiagem sem motivo algum. Ela é diferente das outras. É melhor. Era. Era. Ash, era!

Meus olhos desceram para os braços dela, pois ela os estava massageando; estavam muito vermelhos, ou ela tinha pegado muito sol, ou alguém a havia machucado. A simples possibilidade de alguém machucá-la me fez ficar com muita raiva, naquele momento nada do que havia acontecido de ruim entre nós estava em minha mente. Apenas os bons momentos. Algo caiu dos olhos dela, algo brilhante, como água. Então entendi o porquê de seu rosto estar tão vermelho, ela estava chorando! Mas nunca chora, pelo menos não em publico! Minha Misty não chora.

Vi ela encolhendo-se mais no banco, e chegando mais perto da janela. Ela apoiou-se, como se estivesse escondendo-se. Sempre orgulhosa, tinha medo de alguém, assim como eu, estar vendo ela chorar, portanto estava escondendo-se. Então, finalmente, ela olhou para mim, olhou-me nos olhos. Pude ver aquelas esmeraldas brilharem. Ela não sorriu, mas ficou encarando-me, para ter certeza de que era eu. E, novamente, eu soube. Era ela. As lágrimas teimosas ainda caiam dos olhos dela, mas sempre que percebia ela limpava, mas não tirava os olhos de mim, assim como eu nem pensava em tirar os olhos dela.

Vê-la chorando era como presenciar novamente nossa briga, era como ver nós dois chorando e gritando no quarto de hotel que a gente tinha reservado. Contando com hoje, apenas vi Misty chorando duas vezes na minha vida.

Tirei as mãos do volante e fiz um sinal de não com os dedos, depois fingi que estava chorando e, para finalizar, juntei as mãos para parecer que eu estava implorando, dando um belo “não chora, por favor”.

Ela limpou o resto das lágrimas que estavam em seus olhos e soltou um leve risinho. Meu coração pulou quando eu vi novamente o sorriso que me fazia sorrir junto. Aquele que iluminava meu dia, e pelo visto continua iluminando. Mas não era o sorriso que eu gostava de ver, o que eu gostava era cheio de alegria! Ela sorria e me fazia ganhar o dia. O que eu não daria para ver esse sorriso novamente…

Ela colocou suas mãos nos vidros. Eu fui um pouco para o lado dela, não podia soltar o volante. Eu estava de óculos escuros, boné, e com uma roupa completamente diferente da que eu usava quando a gente viajava junto, mas eu tinha certeza de que ela me reconheceu, mas assim como eu, nem se lembrou da nossa briga, apenas me via como um velho amigo. Acho que quando ela riu atraiu a atenção do cara que estava na frente, acho que era o Rudy, não tenho certeza se ouvi certo o que ele disse, mas acho que sim.

— Por que está rindo? – perguntou, parecia meio… desconfiado.

— Nada, só pensei em algo divertido – ouvir aquela voz doce, gentil e que me fazia ficar nas nuvens, foi maravilhoso.

Ela me lançou um olhar com o canto dos olhos, como que para ter certeza que eu continuava ali. Rudy percebeu e não ficou nada feliz, vindo falar comigo.

— Você está dando em cima da minha mulher? – perguntou com muita raiva.

— Claro que não! Deixa de ser bobo cara, tenho namorada! – disse depois dele não acreditar muito nas minhas boas intenções. Me surpreendi quando ele não me reconheceu, mas talvez não devesse.

Voltei a olhá-la. Nem parecia a mesma pessoa que eu conheci há onze anos. O brilho de felicidade que sempre esteve em seu olhar havia sumido. Eu apenas havia visto esse olhar, quase sem brilho, seis anos atrás, quando nós brigamos, quando o meu mundo desabou. O sorriso que eu havia colocado no rosto da minha ruiva sumiu; quando o sinal abriu ela acenou, mas os olhos diziam algo como “adeus” ou, se ela falasse, seria assim: “adeus Ash Ketchum da cidade de Pallet.”

Eu não entendi o porquê de adeus! Tive a sensação de que nunca mais iria vê-la, e aquilo doeu, eu procurei o carro, para ir atrás, mas havia sumido. Fui ao mercado, mas acabei comprando apenas o hambúrguer que está em cima da mesa até agora.

Coloquei o sanduíche em cima da mesa e vim pro meu quarto. Segundo os meus cálculos estou aqui há mais ou menos três ou quatro horas, e nem pretendo sair daqui. A fome passou depois que vi ela novamente.

Misty Waterflower… eu não devia pensar nesse nome. Um nome que me magoou, me traiu e me amaldiçoou. Todos sabem que não se pode nem pensar no nome de Você-Sabe-Quem, mas sempre acabam dizendo ele no final. Misty, Voldemort. Tudo igual, pra mim. Por que ela teve que me trair? Não estaria chorando se não tivesse feito isso. Eu a faria a mulher mais feliz do mundo. Mas, é claro, ela não vale nada e eu sou completamente apaixonado por uma vadia. Uma Miltank.

Eu já jurei pra mim mesmo que a esqueceria, mas, né, não tem como. Não com essa Miltank dos infernos me olhando com os olhos verdes brilhando e me lançando sorrisinhos que me fazem sorrir junto. Só me resta esquecê-la. Afinal, não há nada que nos una.

Agora, é levantar, acordar, tomar banho e comer!

Ai, que preguiça!

Continua...


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Notas finais do capítulo

oooooiiiiieeee
 
gente, esse é um dos meus caps preferidos *.*
 
Num sei se vcs gostaram, mas adoooooro fazer o Ash sofrer XD
 
espero q tenham gostaduuuuuuu!!!!!!!!
 
Bjs e teh + /