Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 40
A visão de Rudy


Notas iniciais do capítulo

Meu Deus, esse capítulo foi um parto pra sair, sério.
Mas eu consegui! 0//

É uma retrospectiva dos melhores momentos, todos sob o ponto de vista do Rudy ;3

~~enjoy



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Tudo começara há muitos anos. Naquele tempo era apenas um adolescente, nada além. Um adolescente cheio de sonhos e expectativas que conheceu uma garota bonita. Não era realmente sua culpa se apaixonar por Misty Waterflower, porque muitos homens passaram pela mesma situação depois dele. Simplesmente aconteceu.

Estava em seu ginásio, cuidando da sua vida, quando sua irmã ficou em perigo. Estava pronto para ajudá-la, mas quem fez isso foi uma garota. A mais linda de todo o mundo. Quando colocou os olhos nela pela primeira vez, o mundo inteiro congelou, o coração acelerou e ele sentiu que podia simplesmente morrer de amor. Foi assim, um amor à primeira vista. E ela dançou com ele, riu de suas piadas e… uau… foi simplesmente incrível. Rudy sentira como se fosse o mais sortudo de todos os homens, como se absolutamente tudo pudesse dar certo.

E então ela defendera o amigo babaca. Aquilo doera muito, porque ele soube que Misty amava Ash. Ela o defendeu, ela lutou por ele e Rudy quebrou. Quebrou porque ela era a garota mais linda que já o havia olhado, porque ele se apaixonara por ela e porque ela amava outro.

Mas tudo bem, não podia ser egoísta ou mesquinho. Gostava muito dela e achava que o babaca de cabelos negros – Ash – retribuía aos sentimentos daquela garota linda. Por isso disse que ele era um garoto de sorte e desejou, internamente, encontrar alguém como ela um dia.

E a vida seguiu normal. Eventualmente pensava naquela menina linda que viera com o melhor amigo. Ainda doía perceber como seu primeiro amor platônico nunca retribuiria seus sentimentos. Doía pensar que ela agora estava com o outro, que ela e Ash estavam sendo felizes para sempre.

Seus pensamentos, é claro, não podiam estar mais corretos. Encontrou-os já na adolescência. Os dois se abraçavam, contentes, quando Ash o viu ao longe e sorriu. Rudy ficou sem reação, perdido. Estava em Kanto, visitando sua prima, quando percebeu o casal. Eles estavam realmente muito felizes. Aproximou-se, mas tudo o que queria fazer era fugir. Misty sorriu e ficou com o rosto levemente avermelhado, o que fez com que uma pontinha de esperança se formasse em seu peito. Talvez, bem lá no fundo, ela também gostasse dele. Talvez, se ela não amasse Ash, Misty pudesse amá-lo.

Mas afastou o pensamento, porque ele era cruel demais. Não queria separá-los, não queria que Ash se machucasse para ficar com Misty. Gostava muito dela, continuava apaixonado, mas não desejava nada de ruim ao namorado dela. Não ainda.

— Rudy, há quanto tempo!

— Sim, faz muito tempo mesmo…

Mas ele só tinha olhos para Misty. E Ash, apesar de tapado, deve ter percebido isso, porque abraçou a cintura dela de maneira protetora.

— Como está sua irmã?

Misty a salvara, afinal. Sua maninha também gostava muito da ruiva.

— Bem, bem. Não precisou mais de salvamentos, afinal.

Misty riu, Ash os acompanhou. E Rudy sentiu que o mundo girava diferente, que o sol brilhava mais intensamente. Kami-sama, como podia a risada dela ser tão linda?

— Isso é realmente muito bom. O que veio fazer aqui?

A pergunta era de Ash. Foi engraçado pensar que o namorado ciumento, talvez, achasse que ele os estava perseguindo. Não faria algo como aquilo. Era apenas o destino unindo seus caminhos novamente, dizendo que, talvez, Misty fosse ser mais feliz com ele.

— Visitar uma prima. Ela acabou de ter um nenê. Ele é adorável, mas eu não tenho muita paciência.

Misty riu um pouco.

— Nem me fale. Acho que eu enlouqueceria se tivesse que cuidar de um bebê. Detesto choro de criança.

Engraçado como aquilo mudaria quando Yukira nascesse. Rudy sabia muito bem que o choro da garota não incomodava Misty como a ruiva pensara que incomodaria.

— Pois é… não tem nada pra fazer por aqui, tem?

— Estamos indo a uma ilha meio escondida que encontramos.

Não fora a intenção de Ash convidar Rudy, ele apenas queria dizer que já tinham um compromisso e que precisavam ir. Mas, é claro, o garoto apaixonado entendeu diferente. Para ele, era quase como se Ash quisesse que fosse junto. Não fazia muito sentido, mas Rudy não deixaria a oportunidade escapar. A saudade que sentira de Misty fora realmente muito grande – mesmo que ele não tivesse percebido isso antes.

— Parece bem legal.

O clima desconfortável foi ignorado por Rudy. A simples ideia de Misty e Ash terem planejado um dia a sós o incomodava. O casal acabou constrangido demais para evitar o convite.

— Quer vir junto?

— Claro, parece ser bem legal. Desde que eu não atrapalhe vocês.

Ele realmente não queria atrapalhar, mas também gostaria muito de ir. Era como se Misty o levasse a um lugar especial e, apesar de Ash ir junto, Rudy se sentia muito feliz.

— Nunca consegui te agradecer, Rudy.

Ele estranhou a frase. Encarou Ash, que exibia o sorriso mais lindo do mundo, e franziu o cenho, indicando que ele devia continuar.

— Foi você quem me fez perceber como eu sou sortudo. De certa forma, foi nosso cupido.

E eles trocaram um selinho.

Doeu. Doeu como o inferno, porque não era a sua boca na dela, era a de Ash. E ver aquele garoto abobalhado e imaturo beijando a boca da garota magnifica por quem se apaixonara era simplesmente ridículo. Por que não podia ser ele?

Apesar de tudo, o dia foi legal. Rudy conheceu muitos Pokémon, mas Misty não permitiu que fizesse capturas. De acordo com ela, aqueles eram Pokémon livres e selvagens e deviam permanecer assim. Togepi se divertiu muito naquele dia.

Foi doloroso ver os dois trocando carinhos. Ash a abraçava e beijava os lábios, a bochecha, a mão… era carinhoso e prestava atenção nela, porém continuava um babaca. Um idiota, uma criança. Não era merecedor de tudo o que tinha.

— Hoje o dia foi bom, não foi?

Voltavam para a cidade. Misty procurava a mão de Ash, mas o idiota estava distraído com o Lapras. Aparentemente haviam discutido baixinho enquanto ele não olhava. Havia problemas no paraíso, hein?

— Foi sim – respondeu ela.

Ash não parecia assim tão feliz, mas conversava animado com seu Pokémon. Em compensação, ignorava a namorada. Para Rudy, estava ótimo.

— A ilha é linda… por que Esmeralda?

— Ah…

— Já tinha esse nome quando a gente achou.

Rudy pensou que Misty diria outra coisa, porque ela abriu a boca, mas a ruiva desistiu no último momento.

— Ok…

E conversaram banalidades. Rudy sabia que a briga fora porque Ash sentira ciúmes. De certa forma, aquilo o enchia de esperança. Se Ash sentia ciúmes dele, então poderia, talvez, haver algum resquício de reciprocidade em Misty, certo? Se a ruiva fosse completamente indiferente, não haveria motivos para ciúmes. Assim, ele realmente se sentia feliz. O dia fora incrível – apesar dos momentos de trocas de carinho entre o casal; aquilo fora desconfortável.

Voltara para casa depois disso. Vira-os em mais algumas ocasiões, mas nunca por muito tempo. Não até voltar a Kanto, ao menos. Havia uma conferência de líderes de ginásio lá e Rudy simplesmente não podia deixar de comparecer. Por isso foi. Quando chegou, resolveu que gostaria muito de ir a um parque aquático. Gostava de parques desde pequeno, principalmente quando podia levar sua irmãzinha junto. Ela sempre se divertia tanto… Dessa vez estava sozinho, mas esperava conseguir se divertir.

Foi na montanha russa porque gostava de aventuras e de velocidade (e porque estava quente). Foi no tobogã porque fazia tempo desde que se sentira tão criança. Estava indo comprar uma maça do amor quando a viu. Ela estava linda. Ainda mais maravilhosa do que quando era jovem – e ele não achava que fosse possível ver Misty mais maravilhosa.

Seu coração acelerou, as mãos suaram e ele colocou seu sorriso mais galanteador em seu rosto. Estava sozinha – teria terminado com Ash? –, sentada em um banco. Mantinha um sorriso distraído nos lábios. Rudy não conseguiu pensar muito antes de se aproximar, simplesmente caminhou até ela e se sentou ao seu lado. Misty foi pega de surpresa pela presença dele.

— Rudy!

— Oi.

Ele sorriu. Ela sorriu de volta. Foi mágico ver aquele sorriso tão lindo só pra si, sem Ash para incomodá-los.

— O que faz aqui?

— Vim pra uma conferência, mas você sabe como eu sou. Não resisto à chance de ver um Pokémon aquático. Te encontrar aqui foi pura sorte.

“Ou destino”.

— Ah, parece interessante. Eu e Ash…

Ele não queria saber.

— Você está realmente linda hoje.

Ela corou. Rudy não era homem de esperar, ele simplesmente agia. Detestava quem não fazia o que queria e depois passava a vida inteira se arrependendo, por isso agiu de uma vez. Beijou-a. Ela foi pega de surpresa, arregalou os olhos, ficou confusa.

Ele foi ao paraíso. Aqueles lábios doces e levemente melados – ela comera algo doce há pouco tempo – fizeram seu coração pular. Ele sentia que estava voando. E então ela tocou em seus ombros, mas foi para afastá-lo. Rudy jamais a forçaria a alguma coisa, mas ficou um segundinho a mais – precisava tanto daquele toque que queria ficar ali para sempre.

Afastou-se cheio de expectativa. Esperava que Misty largasse Ash para ficar com ele, esperava que ela dissesse que esperara por aquilo por muito tempo. Mas havia apenas mágoa nos olhos dela.

E o momento foi quebrado antes que ele pudesse dizer o quanto a amava. Ash chegou gritando impropérios, furioso com ela. Era quase como se Rudy não existisse.

— MAS QUE MERDA É ESSA?!

— Ash, calma, eu posso explicar, eu posso mesmo, cal…

— EXPLICAR O QUÊ?! COMO PODE EXPLICAR ESSA VAGABUNDICE?! MEU DEUS, MISTY, POR QUÊ?!

— Ash, por favor, eu posso…

— EU TE DEI TUDO! COMO PODE SER TÃO VADIA?!

E aquilo o irritou profundamente. Como aquele babaca podia chamá-la assim, ofendê-la daquele jeito? Como podia agir de maneira tão imatura?! Não era culpa de Misty, era sua! Ela ainda se afastara, tentando preservar a fidelidade que mantinha com aquele energúmeno.

— Ash, olha…

— NÃO FALA COMIGO, MEU DEUS, SAI DAQUI! NÃO FALA NADA!

Misty tocou seu braço.

— Por favor, vai embora. A gente conversa em outro momento, ok?

Rudy baixou o olhar, triste, mas obedeceu. Não queria ter causado problemas a ela, queria apenas demonstrar seu amor. Queria que ela soubesse como se sentia, que ela pudesse escolher entre ele e Ash. Mas o Ketchum desgraçado interrompera o momento e impedira Misty de fazer sua escolha. Na época realmente achava que tinha chances com ela, que ela poderia escolhê-lo. Hoje já sabia que não era bem assim.

— Eu to com fome.

Foi tirado de seus pensamentos pela voz infantil e irritante. Tentara amá-la, tentara mesmo. Mas toda vez que a olhava via Ash. Sempre que encarava aqueles cabelos negros, aquela postura orgulhosa e arrogante… tudo nela gritava “Ash Ketchum” e Rudy odiava Ash.

— Não mandei perder a hora da janta.

— Eu não tava com fome antes.

Ele suspirou.

— Kira…

— Não. Meu nome é Yukira.

— Para com isso, eu sou seu pai.

Mas os dois sabiam que não era. E ela estava decidida a não deixar que ele se chamasse assim.

— Não é. Ash é.

Ele sabia, mas ouvir as palavras o deixavam com tanta raiva! Por que tinha que ser Ash, sempre Ash? Por que Misty não aceitara ter um filho com ele? Por que não tinham seu próprio bebê, assim Ash ficaria longe e aquela pirralha também?

— Não fala isso. Já mandei não falar, você é surda?!

Aproximou-se dela e a viu recuar. Bom mesmo, assim, talvez, finalmente pudesse entender o que estava acontecendo ali. Ele mandava, ele conseguiria expulsar Ash de sua vida, porque Ash precisava ser expulso da sua vida. Se não fosse, ele tomaria Misty de volta e isso Rudy não conseguiria suportar. Não sua Misty.

— Vai me deixar morrer de fome?

Ele respirou fundo, querendo paciência. Eram os olhos de Misty, mas a prepotência não vinha da ruiva. Não apenas dela, ao menos.

— Não.

Desceu as escadas e abriu o forno. Deixara a lasanha ali para que ela não esfriasse demais. Serviu um prato e colocou-o sobre a mesa.

Independente de Ash ser o pai biológico dela, fora Rudy quem a criara. E aquela cena – ele servindo-lhe um suco de laranja – era familiar demais para a pequena. Era como se tudo ainda fosse como era antes, quando ainda acreditava que Rudy era seu papai. Não podia negar que sentia um pouquinho de saudade dele – não muito, mas um pouquinho só, porque ele fora seu papai por muito tempo e, apesar de já amar incondicionalmente Ash, também amara Rudy.

Ficou em silêncio, comendo com os olhos presos no prato. A fome não chegara a sumir, mas ela diminuíra bastante. Era tudo muito confuso, muito perturbador. O papai que a criara agora a sequestrava para ficar com a sua mãe. E o papai que era seu papai de verdade estava triste, porque não podia ficar com ela.

— Kira, escuta…

— Você machucou a mamãe. E não deixa eu ver o papai.

— Eu sou seu papai. Sempre fui.

Era verdade. De uma maneira meio diferente, ele continuava sendo o seu papai. Talvez o fosse para sempre. Ela não sabia se queria ou não isso.

— Você machucou a mamãe.

— Foi sem querer. Eu só… fiquei tão brabo. O Ash quer tirar vocês de mim.

— Não. Ele é meu papai.

Aquilo irritou Rudy. Ele nunca fora conhecido por ser paciente e certamente não passaria a sê-lo naquele momento.

— Vá para o seu quarto.

Ela foi, porque ele ficava irritado e ela sentia medo dele. Rudy não queria que ela sentisse medo dele, mas Yukira sentia igual. Ele machucara sua mamãe e Ash sempre dizia que Rudy era mau, que queria separá-los. Então devia ser verdade, porque Ash era seu papai e ela amava muito ele.

O mais velho viu a menina subir as escadas em silêncio, cabisbaixa. Aquilo não era comum a ela, mas Rudy sabia que Kira agia assim por, no fundo, estar tão confusa quanto ele. Suspirou e afastou os pensamentos contraditórios. Talvez estivesse sim passando dos limites, mas provavelmente não. Não devia pensar naquilo. Não lhe faria bem.

Subiu as escadas e acomodou-se em sua cama novamente. Suspirou, cansado. Amava Misty muito mais do que Ash, sabia. Fazê-la-ia imensamente mais feliz do que ele poderia. Então, no fim, tomava as decisões certas. Não podia simplesmente jogar quase sete anos de casamento no lixo. Não podia fazer isso. Ela não podia. Não permitiria que ela fizesse.

Depois daquele dia no parque, tudo aconteceu muito rápido. Ash e Misty terminaram, apesar de Rudy ter certeza de que ela ainda amava o moreno e de que tentara se explicar. Se fosse Ash, teria quebrado a cara do desgraçado que beijara sua namorada, mas nunca terminaria com ela. Ele a amava demais para terminar com ela.

Não esperava que Misty invadisse sua casa chorando, mas ela o fez mesmo assim. Rudy arregalou os olhos, mas a acolheu em seus braços quando ela pediu consolo. Ouviu sobre a briga, ouviu tudo o que ela queria lhe contar – e Misty queria dizer muita coisa – e ouviu sobre o maior segredo.

— Eu tive uma filha dele.

Ele sentiu o mundo parar. Uma filha? Sentiu raiva num primeiro momento, porque Ash maculara o amor de sua vida e a abandonara grávida. Misty explicou que Ash não sabia e que ela não queria que ele soubesse.

— Ele não merece saber. Se merecesse, não teria te deixado sozinha.

E ela concordou. Precisava de alguém que a defendesse, que tomasse partido. E Rudy fez tudo isso. Ele a protegeu, ele a defendeu, ele concordou com tudo o que ela disse.

— Misty, você sabe que eu te amo. Não queria ter causado o problema que eu causei, mas…

— Não, Rudy. Ash devia ter me ouvido, devia ter prestado atenção no que eu disse. Você me beijou, mas eu não te beijei de volta. Eu continuei a amá-lo.

— Eu sei que sim. Mas eu preciso te dizer… quando eu te beijei, eu queria te falar… você é tão especial.

Ele acariciou os cabelos ruivos. Misty precisava daquilo, daquele carinho. Precisava de um contato mais íntimo, de alguém que a compreendesse e a amasse.

— Eu te amo.

Ela sentiu algumas lágrimas escaparem. Rudy interpretou aquilo como gratidão, como um amor que nascia. Ele interpretou aquilo como uma mulher quebrada querendo ficar inteira de novo, andar com as próprias pernas.

— Se você casar comigo, eu posso aprender a te amar.

Ele não pensou em recusar, porque era a proposta mais incrível que já ouvira. Não planejara o dia no parque, simplesmente acontecera. Mas não se arrependia de tê-la beijado e de ter acabado com o romance bobo deles. Muito pelo contrário: não podia estar mais contente pelas consequências de seus atos.

E eles casaram.

Rudy sabia que a família dela sempre fora e sempre seria contra o casamento, porque as irmãs sensacionais amavam Ash e achavam que ele era o único par possível para a irmãzinha delas. Mas Rudy tentara.

Tentara ser o melhor cunhado do mundo, mas não adiantara. A única familiar contente era sua irmãzinha, Mahri, porque ela gostava muito da garota que a salvara há tantos anos. E gostava muito de Yukira também.

Kira… antes de vê-la pela primeira vez, prometera a si mesmo que a amaria. Prometera do fundo do seu coração que ela seria sua filha, que não haveria nada de Ash ali e que a criaria com todo o amor que pudesse.

Mas não fora bem assim. Ela era parecida demais com ele, era complicado demais ficar perto. Então se afastara. Nunca a machucara fisicamente, pelo menos não antes de toda a confusão do divórcio começar. Ele cuidara dela da melhor forma que conseguia, mas vê-la todos os dias era como ter Misty esfregando em sua cara que ainda amava Ash.

Ele guardara o sentimento em seu peito, mas era complicado evitar que a raiva aparecesse. Yukira crescia e Ash crescia nela. O sorriso, o olhar, o cabelo, as manias… era como se ela se transformasse um pouquinho mais no pai que não conhecia. E Rudy odiava isso, porque queria que ela fosse parecida consigo, não com ele. E então tudo piorou, porque, bem… porque ela percebeu a distância que Rudy colocava entre eles. E isso a magoou, porque Yukira acreditava que ele era seu pai. Querendo afastar essa mágoa, ela também se afastou dele e os dois foram sempre se afastando mais, afastando mais, até que ela o visse como alguém dispensável, substituível.

Não era de se admirar que ela preferisse Misty.

Mas o casamento não fora de todo ruim. Muito pelo contrário. Quando se beijaram pela primeira vez, pouco antes do casamento, Rudy sentiu que poderia alcançar o coração dela. Misty retribuíra, fora delicada e sentir aqueles lábios acompanhando os seus…  bom, ele não fazia a menor ideia de como Ash conseguira terminar com ela. Ele jamais conseguiria fazer isso.

Um dia fizeram um piquenique no parque. Fora um dia realmente muito bom. Foi quando se beijaram longe do púbico, uma das únicas vezes. Yukira estava com Brock, então a pestinha não pudera incomodá-los. Se pudesse, Rudy teria ficado preso naquele dia para sempre. Mas, é claro, não podia. E o dia passara e ela se lembrara de Ash.

E agora ele estava ali, sozinho, precisando sequestrar sua própria esposa para que ela não destruísse a vida a dois que haviam criado.

Ele achava que, em algum nível, Misty o amava. Haviam criado uma rotina agradável de marido e mulher, um mundinho no qual podiam conviver bem. Mas ela destruíra tudo, ela simplesmente jogara toda a história deles para o alto e agira como se não estivessem casados há seis anos. E tudo por um estúpido amor de adolescência.

Fora por isso que ele agira, por isso que precisara ser o vilão. Misty estava sendo cruel, estava sendo idiota. Ash destruíra o coração dela há tantos anos, mas ela não parecia lembrar disso. Era como se toda a dor que ela sentira, como se o abandono e tudo de ruim não tivessem acontecido.

E isso o deixara furioso! Por que ela podia esquecer tudo de ruim que Ash fizera, mas não podia esquecer os seus erros? Era sempre Ash, sempre ele…

Então pegara a sua filha, por mais que a menina o incomodasse e o fizesse lembrar aquele desgraçado. Pegara Yukira como última maneira, porque nem mesmo no tribunal conseguira vencer. Sempre havia alguém que se compadecia de Ash, mas por que ninguém se compadecia de si? Por que as pessoas sempre o taxavam como vilão? Era Misty quem queria destruir tudo, quem estava agindo como uma garotinha mimada. Ela era a errada, não ele. Rudy apenas defendia seu casamento, só queria manter as coisas como sempre haviam sido.

Suspirou, cansado de relembrar e de se justificar. Sabia que estava certo, por que se justificava a si mesmo? Talvez uma parte sua soubesse que não estava tão certo assim. Mas por que era errado querer que sua esposa o amasse?

Quando ela pediu o divórcio, Rudy sentiu tudo ruir. Seu único pensamento coerente foi o de que deveria sair de lá com ela, fazê-la repensar. Se ficassem sozinhos, se aquela pirralha ficasse longe deles, então tudo daria certo. Só precisavam de um tempo a dois para ela esquecer Ash e se concentrar no único homem que realmente esteve ali com ela o tempo inteiro. Acreditou tanto nisso que não viu a viagem a dois deles como um sequestro. Tudo bem que Misty relutara no começo, mas ela era sua esposa. É claro que ameaçara Yukira, mas Misty sabia que ele nunca faria mal a ela. Não de verdade. Apenas um tapa ou outro para que ela aprendesse a se comportar, porque, honestamente, alguém precisava colocar limites na garota.

Foram a Esmeralda porque ele achara que seria um bom lugar para passarem um tempo a dois. Brock e os outros amigos idiotas, é claro, correriam atrás dela como se ele estivesse ameaçando-a de morte, o que não era o caso. Voltariam em uma semana ou duas, só precisava concertar seu casamento primeiro. Mas fora uma péssima ideia, porque alguém inventara de chamar Ash para salvar Misty como se ela estivesse em perigo – o que não era verdade, ele nunca a machucaria!

Na segunda noite, queria apenas mostrar todo o amor que sentia por ela. Se desse todo o prazer do universo a Misty, se fizesse amor com ela, então tudo ficaria bem. Porque ela perceberia como pertenciam um ao outro, como deveriam permanecer juntos. Mas aí Ash ligou fingindo que era Mahri – imbecil – e levou Misty embora, como se ela fosse uma prisioneira ou algo parecido. Contratara a segurança apenas porque, bom, conhecia suas cunhadas. Era claro que viriam atrás de Misty. E, ok, os tiros foram um exagero, mas ele não queria que nada desse errado, precisava ter certeza absoluta de que seu casamento estaria a salvo.

Quando Misty foi embora, a certeza de que não havia mais volta se instalou em seu coração. Foi horrível, dolorido, sofrido. Ele percebeu que não podia viver assim. Misty nunca seria feliz com Ash, porque ele era uma criança que não saberia cuidar dela. Então, novamente, precisou forçar a ruiva a enxergar o que ela não conseguia ver. Para ele, era claro que Misty sonhava com um adolescente que não mais existia – todos sabiam da decadência à qual chegara o antigo Mestre Pokémon.

Então tudo deu muito errado. Pedira pela guarda de Yukira porque sabia que Misty jamais aceitaria ver a filha em finais de semana esporádicos. Se tivesse Kira, Misty certamente viria junto. Por isso pediu pela guarda dela. Só precisava ficar junto das duas, assim tudo ficaria bem. Ameaçara Ash, é claro, mas não pretendia realmente machucá-lo. Não enquanto ele se mantivesse longe da sua família. Entretanto, alguém pensou que seria uma boa contar a Ash que ele era pai. Ele não era pai! Um pai não simplesmente divide a genética com a filha, um pai de verdade está lá em todos os momentos. E Rudy não fora o pai mais presente do universo, mas ele certamente estivera lá com Kira muito mais do que Ash. Ash nem mesmo sabia que tinha uma filha!

E o idiota colocou na cabeça que devia ficar com Misty apenas porque conseguira colocar um espermatozoide no útero dela há quase sete anos! Por favor, isso não é prova de amor coisa nenhuma! A vida de Rudy ficou muito complicada nesse momento, porque até Misty acreditou que Ash poderia ser um bom pai. Ela ficou com a ideia de que ele era o homem perfeito para ela. Misty simplesmente se esqueceu de quando Ash a chamou de vadia. Esqueceu-se das brigas, dos desentendimentos, da grosseria dele. Para ela, ele passou a ser perfeito.

Mas Rudy sabia como as coisas terminariam. Ele só queria cuidar da sua esposa amada, só isso. Misty bem que podia deixar que cuidasse dela, mas a ruiva não parecia muito interessada nisso. Ela continuava a cultivar relacionamentos que apenas a magoariam. Então, quando Rudy se viu totalmente sem opções, precisou sequestrar a sua própria garotinha.

Não era sua culpa realmente, mas Ash achava que podia ficar brincando de casinha com Misty, com a sua mulher. Não era bem assim, ele não podia permitir tal absurdo. Provavelmente foi quando percebeu que estava pronto para machucá-lo. As ameaças iniciais que fizera foram vazias, mas agora não mais. Agora sentia que era sim capaz de machucar Ash. Talvez até mesmo conseguisse machucar Kira, mas apenas se fosse extremamente necessário. Não queria machucá-la.

Cansado, observou a noite que vinha. Já ligara para Misty e dissera que a queria. Se ela ficasse com ele, teria absolutamente tudo! Um marido amoroso, sua preciosa filha… só não teria Ash. Mas ela não precisava de Ash, é claro. Ash apenas a atrasaria, mantê-la-ia presa a um passado que não existia mais. O amor de Ash e Misty acabara há muitos anos, mas ambos se negavam a ver isso. Só quem via era Rudy, por isso era sua obrigação mostrar a ela a verdade.

A verdade mais absoluta que dominava a mente dele.

Misty Waterflower nunca seria feliz com outro homem, porque nascera para si. Assim como ele nascera para ela.


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Notas finais do capítulo

Heeey o//
E aí? O que acharam? Alguém ainda existe por aqui?

Eu queria muito dizer: próximo no domingo que vem 0//
Mas essa fanfic tá sendo difícil e eu ainda nem comecei a escrever o próximo. Dessa forma, não posso prometer uma data pra vocês. Mas eu sei como ele será e, garanto: temos uma comédia vindo ;3

Comentários? *-*

Bjs e teh + ^3^//