Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 32
Indo morar com o papai


Notas iniciais do capítulo

Heey o//

~~enjoy



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Yukira ainda dormia quando Brock entrou no quarto dela. A pequena e Raki estavam abraçadas, ambas perdidas no mundo dos sonhos. Leila, que entrava com Brock, suspirou ao ver a cena.

— Ah! Essas duas se apegaram tanto...

Brock sorriu.

— Kira não é tímida, mas ela não costuma se apegar a estranhos dessa forma. Não duvido que ela nos peça para voltar aqui.

Leila sorriu tristemente.

— Não a traga de volta, Brock. Por favor.

Ele franziu as sobrancelhas, confuso.

— Por quê?

— Raki não ficará aqui por muito tempo.

— Há uma família querendo levá-la?

A freira sorriu.

— Um pai muito dedicado está de olho nela.

— Oh...

Eles não se prolongaram no assunto. O mais velho caminhou até as coisas da sobrinha, arrumando rapidamente a mala dela. Depois se dirigiu à cama de Raki.

— Kira. Hora de acordar, meu anjo.

Ele beijou os cabelos escuros. Ela se espreguiçou e esfregou os olhos, sonolenta. Sorriu para o tio, estendendo os bracinhos para ele.

— Já tá na hora?

— Sim, princesa.

Ele a pegou no colo e a levou até a cama, onde a roupa que ela usaria já estava separada. Kira nem mesmo reclamou sobre ter que colocar o casaco. Ela só o fez. O sorriso de felicidade não poderia, jamais, abandonar seu rosto.

— Tio Brock! Eu vou rever a mamãe!

O riso infantil preencheu o quarto. Leila e Raki também sorriram ante a felicidade dela. Raki começou a se levantar.

— Kira, espera que eu vou te acompanhar até o portão.

Leila não a impediu, mesmo querendo. Raki já estava de cama há dois dias e, afinal, ainda era uma criança. As freiras sabiam que ela precisava ir brincar do lado de fora. A rosada não demorou a se arrumar e logo foi até Kira. Ambas seguraram as mãos e, assim, caminharam até o portão.

— Se cuida, tá bom? – pediu a rosada.

— Você também.

— Kira, antes de ir, eu tenho um pedido pra te fazer.

A morena parou de caminhar e se voltou para a amiga. Brock se afastou um pouco, dando um mínimo de privacidade às duas meninas.

— Fala, Raki-chan.

— Promete que vai ser legal com o seu pai?

A morena revirou os olhos e cruzou os braços, irritada.

— Mas ele vai me tirar da minha mamãe!

— Não vai não. Ninguém nunca vai te tirar da sua mamãe. Não mesmo. Ela é a melhor treinadora de Pokémons Aquáticos do mundo! – os olhos de Raki brilharam, assim como os de Kira costumavam brilhar quando falava da mãe. Raki nunca perdera um show de Misty. – E ela te ama, então ela sempre vai conseguir ficar com você.

Kira sorriu e abraçou a amiga novamente. Voltaram a andar; o caminho foi curto.

— Eu prometo que, quando eu estiver com a minha mamãe de novo, eu vou tentar não odiar ele. – falou Yukira, depois de pensar um pouco.

Raki sorriu. Era bem mais do que poderia pedir.

— Eu te amo, Kira.

A pequena sorriu e voltou a abraçar Raki.

— Eu também te amo, Raki-chan. E a promessa ainda tá de pé, viu? Eu vou pedir pra mamãe te adotar.

Raki apenas sorriu e observou-a ir embora. Ash esperava-a do lado de fora do carro, mas Yukira simplesmente passou ao seu lado, ignorando-o. Raki limpou a garganta e a pequena revirou os olhos.

— Bom dia, Ash – murmurou a contra gosto.

Ash sorriu e depois piscou para Raki, agradecendo-a. Todos entraram no carro de Brock. Kira jogou-se contra a janela e acenou para a amiga. Raki acenou de volta, sorrindo. Foi a última vez que as duas se viram.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Misty andava de um lado ao outro em frente ao tribunal. A imprensa – de alguma forma – descobrira sobre o drama que ela vivia e estava passando ao vivo tudo o que acontecia. Ela apenas os ignorava. Estavam demorando! Ao seu lado, Lew tentava fazê-la entrar, mas a ruiva não lhe dava atenção. Os olhos azul-esverdeados vasculhavam sem parar a estrada pela qual eles passariam. Os flashes das câmeras e as perguntas gritadas dos repórteres há muito já haviam parado de lhe incomodar.

Togepi estava repousando em seus braços, como sempre. Ele tentava acalmar a dona, porém nada no mundo seria capaz de fazê-lo, ele sabia.

"Eles já vão chegar, você vai ver".

"Claro que vão, aham. Já deviam estar aqui há horas!".

"São apenas dez minutos de atraso, Misty. Você sabe que Ash sempre se atrasa".

"Aquele Ketchup dos infernos, não sabe chegar na hora uma vez na vida?! Por isso que não conseguiu pegar o Pokémon no primeiro dia. Não consegue..."

"E, por chegar atrasado, ele conseguiu o Pikachu. Coisas boas podem vir desses atrasos, sabe?" ele interrompeu os xingamentos da dona. Sabia que, quando empolgada, Misty poderia passar horas e mais horas falando mal de Ash.

Ela estava pronta para responder quando viu o carro de Brock se aproximando. Apressada, ela começou a caminhar na direção deles, porém Lew segurou seu braço.

— Espere eles chegarem aqui. Desse jeito vai parecer que está desesperada.

— Eu tô desesperada, Lew.

Ela se soltou do advogado e soltou Togepi, que voou acima de sua cabeça. Ela e seu Pokémon quase gargalharam ao verem a pequena saltar porta afora, enquanto que os braços de Ash agarravam o nada. Assim que o carro parou, Kira correu. Misty correu também. Misty se ajoelhou na metade do caminho e Yukira simplesmente se jogou nos braços da mãe, permitindo que o calor dela lhe esquentasse. As lágrimas se acumularam nos olhos tão parecidos, mas nenhuma delas chorou. Apenas se estreitaram mais uma nos braços da outra. Os fotógrafos nunca clicaram tão rápido em suas vidas. Centenas de fotos foram tiradas daquele momento, mas nenhuma delas estava realmente preocupada com isso. Estavam juntas novamente.

Brock se aproximou e tocou no ombro da cunhada. Misty respirou fundo e beijou a cabeça da filha várias vezes antes de pegá-la no colo. Ash ficou ao lado da ruiva, assim como Brock. Misty não o olhou. Tentava não pensar no moreno ao seu lado, mesmo que seus olhos teimassem em ir em direção ao rosto tão conhecido. Tão bonito. Afastou o pensamento e se concentrou na filha. Em Yukira. Na filha que não fizera sozinha. Na filha que também era de Ash. Misty sabia que o Ketchum estava angustiado, ninguém precisava lhe dizer isso. Ela o conhecia, mesmo tendo passado quase sete anos sem vê-lo. Ela conseguia, melhor do que qualquer outro, identificar a tristeza nos olhos dele. A fatiga. A angústia. E também a felicidade. Porque ele estava feliz por ser pai de Yukira. E disso ninguém jamais poderia discordar.

Entraram juntos. Naquele momento, estavam do mesmo lado. Todos eles contra Rudy.

Mas no próximo julgamento seria diferente. No próximo seria Misty contra Ash.

Daquela vez era uma audiência fechada, apenas eles, o juiz e os jurados. Ou era o que eles imaginavam. Ao chegarem, apenas Masao estava presente. O policial esperava pelos pais de Kira.

— Infelizmente, Brock, você terá que esperar naquela sala ali. – Masao apontou para o lado. – Houve algumas complicações e a audiência envolve apenas os pais, a mãe e, se ela quiser, a menina.

— Eu quero ficar com a minha mãe – Yukira falou, escondendo o rosto na curva do pescoço de Misty. Tinham pouco tempo juntas, sabia, e não iria desperdiçar nem um segundo.

— Tudo bem, Kira. Você fica comigo, ok? – Misty sorriu.

Ela assentiu com a cabeça, ainda agarrada contra a ruiva. Misty lhe beijou os cabelos e Masao sorriu para a cena.

— Me sigam. – disse o policial.

Brock despediu-se e Ash, Misty, Lew e Kira seguiram Masao. Entraram em uma sala formal, com uma longa mesa ao meio e alguns vasos de plantas ao redor. Rudy estava sentado, assim como seu advogado, uma juíza e um homem que Misty nunca vira na vida.

— Que bom que chegaram! Kira, como está?

Mas ele não pôde se aproximar. Misty estreitou Yukira entre seus braços e Togepi voou para a frente da ruiva. O olhar que recebeu de Misty o fez voltar à sua cadeira. Não havia nada da menina pela qual se apaixonara naquele olhar. Ali havia apenas um aviso: Fique longe.

Yukira sorriu e olhou para Rudy, mostrando-lhe a língua quando este não estava olhando. Ninguém conseguiria tocá-la enquanto estivesse perto da mãe. Nem mesmo ele. Misty a repreendeu com o olhar, mas Kira sabia que ela não estava irritada. A juíza – sentada na ponta da mesa, bateu seu martelo.

— Sentem-se, por favor. – ordenou a mulher.

Misty mordeu o lábio inferior e colocou Kira no chão. Sabia que era desagradável, mas não poderia se sentar ao lado da menina.

— Tecnicamente, meu amor, é Rudy quem possui sua guarda por enquanto, então você vai precisar sentar ao lado dele, tá? Mas eu vou estar na sua frente, ok?

Ela negou com a cabeça, abraçando as pernas da mãe.

— Não, não, não, eu não quero ficar com ele.

— Eu vou ficar bem na sua frente, ok?

— Promete?

— Prometo.

Kira piscou duas vezes, afastando as lágrimas que lhe haviam invadido os olhos e foi em direção a Rudy. Misty manteve os olhos na filha o tempo inteiro. Ash sentou-se ao lado do homem que se sentara em frente a Rudy. Misty sentou perto da ponta.

Yukira imediatamente levantou a mão.

— A mamãe ia sentar na minha frente – falou para a juíza, que sorriu para ela. Também tinha uma filha em casa.

— Você pode ir sentar com a sua mamãe, criança.

O sorriso invadiu o rosto das outras duas mulheres presentes e Yukira voou para perto da mãe. Ash tentou, mas um riso estrangulado saiu de sua garganta. As duas conseguiam ser tão parecidas…

O advogado de Rudy já se levantara.

— Senhora...!

— O assunto que eu tenho é com os pais da menina, a mãe apenas precisa ouvir. E Yukira possui seis anos, onde fica não tem importância nenhuma.

A voz era autoritária e grossa. Motoi se sentou, um tanto quanto vermelho de raiva. A juíza tinha a pele escura e macia. Os cabelos, uma mistura de negro com chocolate, estavam presos em um coque firme. Os olhos castanhos eram severos e justos; era uma mulher forte e, acima de tudo, honesta.

— Meu nome é Tomoe e eu presidirei esta seção. Não vou me prolongar nas apresentações. Estou substituindo Reiji graças a uma denúncia anônima, que sairá na imprensa amanhã. Um dos jurados admitiu publicamente que o senhor Rudy subornou todos eles mais meu colega e, graças a isso, teria ganhado a guarda de Yukira caso a dúvida sobre sua paternidade não aparecesse.

— Isso é mentira!

— Reiji também o entregou, senhor. Eu o aconselho a conversar com o seu advogado sobre o assunto. Não creio que demorará muito para que os outros jurados também acabem por dedurá-lo.

— Essas calúnias contra o meu cliente não devem ser levadas em conta nesta seção.

— Não há muito a ser levado em conta na seção. Eu lerei o resultado do teste, comprovando, assim, a real paternidade de Yukira. Então a mãe se pronunciará sobre quem ela pensa ser o melhor para a menina.

— Isso é completamente injusto! Todos sabem que meu cliente está em desvantagem.

— A criança também poderá opinar, entretanto a mãe pode escolher quanto a isso.

— Yukira não irá se pronunciar. – falou Misty.

Kira estava deitada no colo da mãe, escondida contra o pescoço desta. Lew se segurou para não bater em sua própria testa.

— E eu poderia saber o motivo? – perguntou Tomoe.

— Ela você escuta? – Motoi revoltou-se.

— Compostura, doutor.

Motoi controlou-se. Rudy olhava apenas para a esposa. Não importava o que decidiriam. Seu plano já estava traçado. Sorriu para Misty. A beleza dela sempre lhe encantara. Ash tentou ignorar o fato de que Rudy encarava sua… sua filha, é claro. Não pensava em Misty. Não, estava incomodado pelo olhar dele em Yukira. E não gostava do olhar malicioso de Rudy.

— Yukira possui apenas seis anos e eu não quero que ela se sinta pressionada.

Era uma meia verdade. Não queria que Yukira tivesse que escolher entre ela e Ash. Se a pequena não optasse nesta reunião, também não optaria na próxima.

Tomoe assentiu com a cabeça. Yukira se acomodou melhor no colo da mãe. Misty lhe beijou os cabelos novamente.

— Mamãe, eu conheci uma menina tão legal lá – ela sussurrou.

Misty sorriu.

— Meu anjo, a gente precisa prestar atenção no que a moça disser, ok? E depois eu e você vamos conversar muito e muito e muito e você vai me contar tudo o que aconteceu. Pode ser?

Yukira assentiu com a cabeça e bocejou. Misty sorriu. Era quase sete horas da manhã. Sabia que a pequena estava sonolenta. Ajeitou-a, deixando-a mais confortável. Não demoraria muito para ela pegar no sono. Os olhos de Ash seguiram cada mínimo movimento de Misty.

— Certo. Eu já conversei com os policiais e eles pareciam bem divididos. Entretanto, me foi dito que você caiu logo no primeiro dia em que foi morar com seu pai, não foi, Yukira?

A menina se encolheu no colo da mãe, que lhe beijou os cabelos.

— Responde, meu amor.

Ash observou com cuidado enquanto a filha olhava para eles. Ela fixou seus olhos em Rudy e encolheu-se mais contra a mãe. Misty a envolveu entre seus braços, fazendo-a se sentir mais segura. Ela olhou para a mãe, depois para Ash e, então, novamente para Rudy. Engoliu em seco ao olhar para este. Misty a fez desviar os olhos dele.

— Kira, o que aconteceu no primeiro dia? – perguntou Misty.

Yukira sabia que não podia mentir na frente da mãe. Ela sabia o que realmente acontecera. A pequena mordeu o lábio inferior, exatamente como Misty costumava fazer, e depois olhou para Tomoe. A reação da menina já lhe dissera tudo, mas precisava ouvir as palavras.

— Eu... eu não caí não, senhora Tomoe.

— E o que aconteceu, querida?

Ela olhou para Rudy. O olhar dele era imparcial; não parecia preocupado. Ele estava calmo. Sorriu para ela. Yukira escondeu o rosto no colo da mãe e ficou ali. Misty lançou seu olhar mais ferino para Rudy.

— Ele bateu no rosto da minha filha naquela noite, senhora. – respondeu Misty, deixando a raiva transparecer.

Ela respondeu de forma calma, porém o ódio com o qual proclamou a sentença foi sentido por todos. Rudy olhou para Motoi, que imediatamente começou a defendê-lo.

— Isso é uma mentira, senhora Juíza. Meu cliente ama a filha.

— Ele não é meu pai – murmurou baixinho, porém todos ouviram.

Ash não conseguiu conter o orgulho e a felicidade ao ouvir isso. O sorriso que se espalhou pelo seu rosto foi visto pela pequena.

— Você também não é meu papai, não fique tão feliz.

Ash suspirou, vendo toda a magia do momento desaparecer novamente.

— Kira, não fale assim.

A menina não respondeu, apenas voltou a abraçar a mãe. Sentia-se segura ali. Sabia que ninguém jamais tocaria nela enquanto estivesse perto da mãe. E que, enquanto estivessem juntas, ninguém jamais machucaria sua mãe tampouco.

— Yukira, a afirmação de sua mãe é verdadeira?

A pequena olhou para Misty e depois para Rudy. Tomoe não precisava que ela dissesse o "sim" para saber que Yukira sentia medo de Rudy. Os movimentos corporais dela já diziam isso. Assim como diziam que ela jamais acusaria ao moreno se não estivesse com a ruiva. Percebera isso pela forma como ela se escondia sempre antes ou depois de responder. Procurando segurança. Sua menina também fazia isso quando sentia medo. Sentiu-se aliviada por não estar no lugar de Misty.

— É sim.

Misty a escondeu dessa vez. O medo que Yukira sentia por Rudy estava muito maior do que deveria. Não era mais um medo tolo e infantil, pois nem mesmo ela conseguia dizimá-lo completamente. E Misty sabia que sempre era capaz de dizimar todos os medos da filha. Observou o ex-marido. Ele estava calmo demais. Estava sorrindo.

A ruiva estreitou a filha entre seus braços novamente. Alguma coisa estava errada, ela sabia. Será que Rudy alterara os exames? Será que conseguira fazer com que os exames lhe entregassem Kira? Sua filha não ficaria com ele de jeito nenhum. Se Rudy conseguisse a guarda de Kira, ela o matava. Assim Yukira ficaria com os tios e ele jamais as incomodaria novamente. O pensamento se fixou em sua mente. O corpo inteiro de Misty estava tenso.

Ash a observava desde sempre. Havia desistido de fingir não estar encarando a ruiva assim que percebeu Yukira em seu colo. Poderia dizer que estava olhando para a filha. Ash a conhecia, mesmo que Misty jamais fosse admitir isso. E ele sabia que ela estava nervosa. Ele conseguia ver os músculos contraídos dela. Conseguia ver que Misty estava irritada e assustada ao mesmo tempo. Mais do que nunca, desejou poder ler os pensamentos dela. Ou que Togepi lhe contasse. Acariciou Pikachu na cabeça. O ratinho também observava as duas meninas.

— Essa informação também será averiguada, porém você não poderá ficar com a menina com essa acusação pesando, Rudy. A menos que seja o pai biológico dela.

— Ele não é – Ash não conseguiu segurar.

Olhou para Misty, esperando vê-la relaxar, entretanto ela continuava tensa, irritada… assustada. Yukira não era filha de Rudy, é claro que não. Era sua filha. Sua menina… não era? Claro que sim. Eles eram muito parecidos fisicamente e até mesmo Togepi confirmara-lhe isso, mas então… então por que ela estava tão nervosa? Rudy jamais teria a guarda de Yukira, os papéis que Tomoe segurava garantiam isso.

— Sem mais delongas, vamos abrir os resultados. – declarou a juíza

Ela pegou ambos os exames e os analisou por vários segundos. Não demonstrou nada em sua face, portanto nenhum deles poderia dizer o que se passava pela mente dela. Rudy bocejou, despreocupado. Yukira estava sonolenta, mas não conseguiria dormir. Não sabendo que estava na mesma sala que Rudy. Não sabendo que ele estava quase ao seu lado. Agarrou-se ainda mais forte na mãe, fincando suas unhas na pele macia. Misty a olhou e beijou-lhe o topo da cabeça. Sabia que Yukira estava assustada, mas não sabia o porquê. E isso a assustava.

— Bem, Ash, você é o pai biológico da menina. Os testes deixaram isso bem claro.

Ele suspirou aliviado, mas Misty não. Rudy não alterara os exames. Isso a preocupou ainda mais. Ele tinha algo em mente, é claro que sim. Mas se não era aquilo… o que seria? Ela olhou para Yukira, tendo um mau-pressentimento muito parecido com o qual tivera dias antes de ser sequestrada. Não gostou da sensação, muito menos ao sentir as lágrimas invadirem seus olhos. Ela estava a ponto de chorar? Por quê? Respirou fundo, tentando afastar o sentimento ruim.

— Então eu vou ficar com ela? – perguntou Ash, aéreo.

Sentia-se tão feliz! Finalmente teria sua filha. Sem Misty para atrapalhar, sem Rudy para ser um obstáculo. Apenas ele e Kira.

— Temporariamente, sim. A menos que Misty me dê um bom motivo para o contrário.

— Não. O Ash é bem melhor que o Rudy.

Ela não acrescentou nada. Ash a olhou um tanto quanto magoado. Isso era tudo o que ela tinha a dizer sobre ele? Que era melhor do que o Rudy? Até uma fuinha era melhor do que o Rudy. Até mesmo seus odiados Pokémons insetos eram melhores do que o Rudy! Por que ela não dizia nada além?

— Certo… isso é tudo o que tem a dizer? – indagou Tomoe.

Misty respirou fundo.

— Ash é um Mestre Pokémon, ou seja, se Rudy tentar chegar perto da Kira, ele vai conseguir defender ela. Ele é um idiota e jamais a machucaria, principalmente porque sempre sonhou em ser pai e já a ama. Ela é uma menina teimosa – sorriu para sua pequena, que agora a olhava curiosa – e eu sei que ele sofrerá bem mais que a Kira com a convivência dos dois. Não posso pedir um pai melhor do que ele para a minha menina.

Yukira sorriu para a mãe e beijou a bochecha dela. Sentia que a mãe detestava dizer aquelas palavras, e sabia bem o motivo. Ash não a amava mais, e a proximidade dos dois magoava a ruiva. Kira sorriu. Estava decidido: ela faria Ash desistir de ser seu papai.

— Eu também te amo, mamãe.

Motoi já se levantara.

— Ela está difamando o meu cliente!

— Sr. Motoi, seu cliente perdeu toda a credibilidade dele ao subornar os últimos jurados deste caso. Não há muito mais o que perder. Misty e Yukira passarão por uma avaliação psicológica. Cada uma irá a trinta seções, três a cada semana. O psicólogo já foi escolhido por mim e atenderá aos sábados também, o que significa que elas não irão ao mesmo dia.

Ela estava a ponto de bater o martelo quando Misty se pronunciou.

— Eu vou poder ver a minha filha?

Lew perguntou-se o que estava fazendo ali, visto que sua cliente simplesmente falava o que bem entendia na hora que queria.

— Você poderá ver Yukira aos sábados e domingos, sempre na presença de Ash.

Ela sorriu e beijou as bochechas de Yukira, que riu do carinho da mãe.

— Ouviu isso, princesa? Vamos colocar o terror nos finais de semana.

— Mas o Ash vai ter que estar junto... – murmurou emburrada.

— Tem problema não. Ele é tapado demais pra conseguir me impedir de te encher de cócegas sempre que eu quiser.

Yukira começou a rir também. Misty pensara que teria que ficar o tempo inteiro longe da filha, mas sorriu ao perceber que não. Seriam dez semanas em que poderiam se ver apenas aos sábados e domingos, mas tudo daria certo.

— Rudy, o senhor também precisará ir a estas seções se quiser pedir novamente pela guarda de Yukira.

— Ele vai nos dias que eu for – Misty falou rápido.

A ideia de que Rudy e Yukira poderiam se cruzar de alguma forma lhe revirava o estômago. Ela ainda estava assustada. Ele mantinha-se calmo demais. Tinha algo planejado, e não havia dúvidas quanto a isso.

— Não se preocupe, eu não vou à seção nenhuma. No fim, ela virá correndo para mim.

Ele sorriu para Yukira, que deixou algumas lágrimas escaparem enquanto Misty pulava da cadeira e colocava a menina no chão, atrás de si. Yukira agarrou a perna direita de mãe.

— Você acabou de ameaçar a minha filha?

Ash também se levantou e caminhou até o lado dela, mantendo Yukira atrás de si, assim como a ruiva fizera. Misty ignorou-o. Seus olhos estavam em Rudy. As esmeraldas brilhavam de ódio.

— Eu não a ameacei, só disse que Kira correrá para os meus braços.

Ele sorria. Tomoe bateu com o martelo, pedindo ordem. Yukira começou a soluçar, atraindo novamente a atenção de Misty, que a pegou no colo e começou a acalmá-la. Aos poucos, o choro foi diminuindo.

— Realmente vai deixar a menina com uma mãe tão explosiva? – Motoi perguntou, incomodado com a derrota.

— No dia em que Rudy conseguir fazer a menina parar de chorar, ao invés de fazê-la chorar, nós conversamos sobre ele ter a guarda dela. Declaro que, até a próxima seção, que ocorrerá em exatas dez semanas, a guarda de Yukira Waterflower pertence a Ash Ketchum. – declarou Tomoe.

Ash sentiu as palavras deslizarem pela sala, como se lhe dissessem que acabara de ganhar na loteria. Seu peito encheu-se de alegria, e tudo o que ele quis fazer foi girar a filha por todos os cantos da sala. Entretanto isso não aconteceu, e o moreno se viu obrigado a controlar suas vontades. Olhou de soslaio para Misty, que ainda mantinha os olhos presos em Rudy. Quis abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, que ele estava ali pra ela. Quase pediu a Tomoe que parasse com aquela babaquice toda e desse logo a guarda a ele e a Misty, porque criariam Yukira juntos a partir daquele instante.

Quase fez tudo isso. Mas o ódio que via nos olhos dela – ódio esse que era direcionado a Rudy – era tão promíscuo. Tão feio e horrível que fez com que Ash se mantivesse calado. O Ketchum apenas controlou seu impulso. Ela o odiaria se ele fizesse aquilo. E ele jamais aguentaria ver os olhos que tanto amava transbordando ódio para si. Jamais.

Tomoe deu o número do psicólogo a Ash e a Misty, mas ambos sabiam que era a ruiva quem marcaria as consultas. Não se demoraram ali; a seção acabara.

Quando viu que todos já tinham saído, Tomoe deixou sua cabeça tombar para frente e limpou as duas lágrimas que finalmente deixou escapar. Pegou seu telefone, ligando para casa. Precisava falar com a sua menininha.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Foi Misty quem carregou Yukira até o lado de fora e colocou a filha no carro de Brock, que a levaria para sua nova casa. A mala que a menina levara para o orfanato possuía roupas suficientes para ela passar a semana. Era domingo.

— Ash – chamou a ruiva.

O moreno foi até ela. Misty respirou fundo. Sabia que a conversa era mais do que necessária, entretanto não queria tê-la. Por isso falou tudo rapidamente.

— Yukira tem aula amanhã; o Brock te explica como chegar na escola dela no caminho. Ela não gosta de levantar cedo e vai fazer todos os tipos de chantagem emocional possíveis para que você permita que ela fique em casa. Não acredite. Ela não estará doente amanhã, e sim, ela consegue chorar de verdade mesmo sem sentir dor. É uma ótima atriz. Outra coisa, ela detesta usar casacos, mas não permita que ela vá à escola sem eles. Peça para Brock te acompanhar amanhã, porque você precisa se apresentar pras professoras dela, se não eles não permitem que você a busque no colégio. Ela ainda toma mamadeira ao acordar e antes de dormir, por isso vai precisar passar em alguma farmácia para comprar. Ela não pode tomar mamadeira em nenhum outro momento do dia porque o médico nos disse que está na hora de parar.

Ash ouvia a tudo atentamente. Misty mordeu o lábio inferior e olhou para cima. Ash soube que ela tentava não chorar. Quase sentiu pena dela. Quase.

— Mais alguma coisa?

— Sim, mas o Brock te diz depois. Ah. O Togepi pode ficar com ela?

— Vai ficar longe dele? – ergueu uma sobrancelha.

— Só à noite. Kira não gosta de dormir sozinha.

— Nem você.

E as lágrimas quase saíram pelos olhos verdes novamente. Ele realmente precisava falar aquilo? De verdade? Precisava esfregar na cara dela como eram íntimos, e como ele conhecia suas manias imutáveis? Sentiu um aperto no peito e, inconscientemente, acariciou a barriga.

— Pode?

— Claro. Claro que sim. O Togepi é mais do que bem-vindo na minha casa.

O Pokémon ovo lhe sorriu e voou até o moreno, bagunçando seu cabelo. Logo depois voltou para perto de Misty. Pikachu pulou do ombro de Ash e tocou na face da sua Pikamiga*.

— Pika pi piika chupi "Eu vou cuidar dela".

Ela sorriu e beijou o topo da cabeça dele.

— Obrigada Pikachu.

O ratinho voltou para Ash.

Misty começou a se virar, porém Ash a segurou pelo pulso. Queria falar tanta coisa! Tinha palavras entaladas em sua garganta. Queria pedir para tocar na barriga dela, acariciando o filho ainda não nascido; queria se desculpar pelas grosserias que dissera há três dias, no tribunal. Queria… mas simplesmente ficou calado, e Misty interpretou aquilo de seu próprio jeito.

— Cuide bem dela.

Ash apenas assentiu com a cabeça e a soltou. Misty deu as costas ao moreno, que se dirigiu ao banco da frente. Yukira também possuía lágrimas em seus olhos.

— Eu vou morrer de saudades, minha princesinha. – sussurrou a ruiva, abraçando a menina que pulou no colo dela, saindo do carro.

Yukira sorriu.

— Vai ficar tudo bem, mamãe. Eu prometo transformar a vida do Ash num inferno.

Misty riu, sem saber qual outra atitude tomar.

Continua...

*Pikamiga: Em um dos episódios da primeira temporada (aquele em que as irmãs sensacionais se negam a lutar com Ash e Misty o faz), ela o chama assim.


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Notas finais do capítulo

Aqui está o//

Ah, sim, preciso fazer uma correção: O Togepi não é um Pokémon Psíquico, ele é Normal. Mas como isso é uma fic e ela é minha, ou seja, sou eu que mando nessa porra, ele é Psíquico u-u

Erro percebido por BlueSpikes, thanks baby ;3

Tava loouca pra chegar nessa parte. Kira irá morar com Ash o//

asuasuahusuahsahsuhahsuahshaushusahus

O que vocês acham que irá acontecer? *--*

A Inês-chan sumiu e não me responde mais... :'c

Portanto, capítulo não betado :/

Bjs e teh + ^3^//



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