Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 31
Apenas um


Notas iniciais do capítulo

Heey o//
Sentiram minha falta? :33

~~enjoy



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/46672/chapter/31

Leila sabia que não deveria levar a sério todas as palavras de Ash, porém sua intuição lhe dizia para confiar no moreno. E ela sabia que sua intuição não era nada além de Kami falando consigo. Ligou para Brock assim que viu Rudy saindo pelo portão. O moreno disse que uma das tias da menina estava a caminho; por algum motivo, isso acalmou o coração dela.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Misty desceu para comer. Estava numa greve de palavras, não de fome. Quando passava pela sala, viu Brock ao telefone. Não pararia, entretanto ouviu o nome da filha e isso foi mais do que suficiente para chamar a sua atenção.

— Tudo bem, tentem acalmá-la, ok? Mas não forcem muito, a Yukira é arisca quando está assustada. E obrigado pelo aviso, vou pedir a uma das tias dela para ir aí.

— O que aconteceu?

Não planejava falar, mas a frase simplesmente pulou para fora de sua boca. Ela ficara quase um dia inteiro sem dizer uma palavra e sentia-se rouca. Brock nem sequer pensou em ignorá-la. Todas as desavenças ficavam esquecidas quando tratavam das suas crianças.

— Pelo que eu entendi o Rudy foi lá…

— O QUÊ?!

Ela começou a respirar de forma irregular e Togepi apareceu ao seu lado. Ele impediu que a dona saísse correndo porta afora.

— Calma. Deixa eu terminar. O Rudy foi lá, mas o Ash tava com a Kira. Parece que o Ash se irritou com alguma coisa e acabou quebrando o nariz dele.

Um mínimo sorriso de vitória estava nos rostos dos amigos. Eles sentiam-se satisfeitos. Misty sorriu ainda mais abertamente.

— Eu preciso parabenizá-lo por isso.

— É, mas a Kira parece que teve um ataque com a briga e tá chorando no quarto. Parece que a menina que tá no quarto com ela tá doente e precisa descansar.

— É contagioso?

Brock a olhou de forma repreensiva, mas não podia dizer que não a entendia.

— Acho que não, eu não sei.

— Ok…

Ela olhou para a porta. Seus olhos estavam angustiados. Apoiou a mão no coração, querendo ir abraçar a filha que deveria estar apavorada. Suspirou, sentindo as lágrimas novamente invadirem seus olhos. Não fora ela quem salvara sua pequena. Fora Ash. Será que Yukira passara a gostar dele? A menina passaria a chamá-lo de… pai? Descobriria o quão maravilhoso ele conseguia ser e quereria morar com ele? Ela estava angustiada e amedrontada. Pulou ao sentir Brock abraçá-la.

— Calma, ruivinha. Vai dar tudo certo, eu prometo.

Ela não respondeu, apenas se afastou dele. Brock, pressentindo que ela voltaria a se calar, a segurou pelo braço.

— Misty, por favor, tente nos entender! Você ia fugir com a Kira. Ia simplesmente ser considerada uma criminosa. Seriam perseguidas e, por melhor que você batalhe, um dia as pegariam. Era isso que queria? Que sua filha a visse atrás das grades?

Misty se irritou. Já tomara consciência desse erro, mas no momento estivera desesperada! E provavelmente o teria feito se não fossem as palavras de Rudy. Sentiu as lágrimas se acumularem novamente em seus olhos. Não percebiam que ela abrira mão de uma vida no mar com a filha pela vida de Ash?

— Claro que não, Brock! Mas eu tampouco a deixaria nas mãos do Rudy. Ele ia bater nela de novo!

A ruiva apertou a mão, sentindo as unhas perfurarem sua carne. Sentia tanta raiva sempre que se lembrava do acontecido… ele batera na sua menina!

— E nós também não! É por isso que chamamos o Ash. Ele jamais bateria na Kira, todos nós sabemos disso. Ele a ama, Misty, e nem mesmo a conhece direito. Ele é o melhor pai pra ela e você sabe disso.

Misty se desvencilhou da mão que ainda estava pousada em seu braço e foi para a cozinha. Não queria ouvir nada a respeito de Ash. Não queria ouvir o quanto estava errada ao esconder tudo dele. Estava farta de ser julgada pelos amigos. Queria apenas sentir sua dor sozinha. Ela também tinha o direito de sofrer!

— MISTY!

Mas ela já sumira cozinha adentro. Togepi a seguiu, mas Brock duvidava que ele tivesse alguma sorte com ela. Quando queria, Misty era quase tão teimosa quanto a filha. Com um suspiro, Brock pegou o telefone e ligou para Violet.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Kira chorara ininterruptamente até dormir. Raki continuava fazendo carinho nos cabelos negros. Pelo que entendera das frases soltas que ela lhe soluçara, o pai ruim – que era o de criação – aparecera e ele e o pai que ela não gostava brigaram. E Kira chorava porque o pai ruim ia bater na mãe dela. Raki passara por isso. Sabia o que a pequenina sentia. Quando era mais nova, vira sua mãe apanhar mais vezes do que conseguia lembrar. Ela tivera o seu próprio pai ruim.

Leila entrou no quarto e, ao ver que Kira dormira, se prontificara a tirá-la da cama, mas foi impedida pela rosada.

— Deixa ela aqui, por favor. Eu gosto de ficar com a Kira – sussurrou Raki.

— Você precisa descansar, criança.

— Eu vou ter muito tempo pra descansar depois, deixa eu ficar com ela agora.

A frase de duplo sentido fez os olhos de Leila se encherem de lágrimas. Como a garota conseguia falar sobre aquilo com tanta tranquilidade?

— Tudo bem, querida. Mas não fale assim, ok? Vai acabar tudo bem.

Mas as duas sabiam que não acabaria.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Violet recebeu a ligação de Brock e imediatamente começou a se vestir. O namorado – Juan –, que estava deitado na cama de casal, franziu as sobrancelhas para a pressa dela.

— O que foi, amor? – indagou ele.

— Aconteceram uns imprevistos com a minha sobrinha e eu preciso ir lá ficar com ela.

— Ah… pede pra outra pessoa.

Ele ia se aproximar dela, mas Violet o afastou. Os olhos estavam destemidos, ferinos. Mas ela sorria também.

— Desculpa, querido. Mas ninguém mexe com a minha sobrinha.

Ele riu da postura defensiva dela. Observou-a de cima a baixo. Nunca a vira se arrumar tão depressa, muito menos prender o cabelo sem antes penteá-lo.

— Você parece que está falando da sua própria filha.

Violet sorriu e depositou um selinho singelo nos lábios dele.

— É quase como se fosse. – eles sorriram um para o outro e ela pegou alguns dos DVD’s infantis que tanto o haviam intrigado na primeira vez que fora a casa dela. Agora sabia o motivo de eles existirem. – Volto à noite. Me espere com uma jantinha bem gostosa.

Ela piscou para ele antes de pegar as pokebolas do seu próprio Gyarados e de Seadra. Aprendera a treiná-los com o passar do tempo e Gyarados era realmente forte. Talvez não tanto quanto o da irmã, mas, ainda assim, forte.

Entrou em seu carro e começou a dirigir. Sempre fora calma no trânsito, porém acelerou um pouco para poder chegar logo no orfanato. Sentia falta da pequena Kira e ficara extremamente angustiada quando Brock lhe dissera que recebera uma ligação do orfanato. Não demorou a chegar e tampouco estacionou bem o seu carro. Ela simplesmente o deixou de qualquer jeito e correu para dentro do prédio. Uma freira sorridente a esperava.

— Oi, eu sou a tia da Yukira, pode me dizer onde ela está?

— Claro. Eu sou Leila, estava te esperando.

Violet sorriu e a seguiu. Quando chegou, encontrou a sobrinha dormindo na cama de outra menina. Ela possuía cabelos róseos – como Lily – e estava bem pálida.

Delicadamente, Violet se aproximou delas. A amiga de Kira ainda estava acordada. Sorriu para ela.

— Sou Raki. A Kira é minha amiga.

Violet sorriu para ela.

— Sou Violet. Tia da Kira.

Raki sorriu de volta e observou enquanto Violet delicadamente beijou a bochecha da sobrinha. Aos poucos, Kira foi abrindo os olhos. Eles brilharam ao identificar a mulher de cabelos azulados.

— Titia!

Ela sorriu e se jogou nos braços desta, que a pegou no colo e a encheu de beijos.

— Vim ficar com você até o fim do dia. Dê um tchau pra sua amiguinha. Acho que ela precisa descansar, não?

Raki assentiu com a cabeça e Kira voltou para a cama dela. Engatinhou até a menina de doze anos e lhe beijou delicadamente na bochecha.

— Obrigada, Raki-chan. E fica logo boa desse resfriado, tá? Aí a gente faz mais castelos de areia.

Raki sorriu e assentiu com a cabeça. Sentia-se fraca demais para falar.

Violet pegou Yukira no colo novamente e Leila ficou cuidando de Raki.

— E então, querida, onde achamos uma sala com televisão?

Kira sorriu e começou a apontar o caminho. Adorava os filmes do Shrek que a tia lhe trouxera. A sala que encontraram estava vazia.

— As outras meninas só podem vir aqui de manhã e em dias de chuva, porque de tarde elas têm que brincar lá fora e de noite têm que dormir.

Violet sorriu para ela e a colocou no chão. Foi até a televisão e colocou o DVD no aparelho, antes de se deitar no sofá e estender os braços para a pequena. Yukira sorriu e correu para os braços abertos da tia, se acomodando ali como se nada no mundo fosse capaz de separá-las.

— Quer me contar o que aconteceu?

Yukira assentiu com a cabeça. Precisava contar para alguém que fosse entender. Escondida no pescoço da tia, com o primeiro filme de Shrek passando, ela começou o seu relato.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Violet ouviu atentamente cada palavra que a sobrinha lhe dizia, porém ficou com uma pulga atrás da orelha quando ela terminou.

— Kira, o que Rudy disse pra você?

— Nada!

Respondeu rápida e enfaticamente demais. Violet a conhecia bem o suficiente para saber que mentia. Yukira engoliu em seco.

— Kira…

— Não foi nada, tia. Eu juro que não.

— Kira…

— Tia…

— Não mente pra mim, mocinha.

As lágrimas invadiram os olhos esmeraldinos e Violet se compadeceu, como sempre acontecia. A mais velha cedeu, envolvendo a amada sobrinha em seus braços superprotetores.

— Shi… tá tudo bem, tudo bem, meu amor. Não chora, tá? Vai ficar tudo bem, a titia vai cuidar de você. Vamos ver Shrek, ok?

Yukira limpou as lágrimas que a atormentaram sem sua permissão e se encolheu contra o corpo da tia, procurando a proteção que, ela sabia, jamais encontraria.

~~xx~~xx~~xx~~xx

O dia terminou rápido. De tão cansada que estava, Yukira nem pôde conversar com Raki, pois logo pegou no sono.

Mal piscou e já acordou.

Os raios solares a incomodavam, mas estava com sono demais para realmente se importar. Continuou de olhos fechados, tentando voltar ao mundo dos sonhos. Foi quando sentiu alguém se deitar ao seu lado. Sorriu, pensando que era uma das tias ou Brock. A voz, entretanto, congelou todos os músculos de seu corpo e a fez ficar rígida.

— Está tudo bem, minha princesa. Durma.

Ela tentou pular para longe, mas o pai ruim a manteve presa contra seu corpo. Raki acordou com a movimentação e chamou uma das freiras – ela começou a tocar sinos barulhentos.

Rudy virou seu rosto para Raki e a menina não viu nada além de ódio. Engoliu em seco, mas Leila chegou e acabou com o contato visual.

— O que foi, querida? – correu até Raki.

A rosada apenas apontou para frente, onde Kira parara de se mexer. Rudy a segurava pela cintura.

— Não foi nada, não se preocupe. Eu apenas acordei minha filha e ela ficou nervosa, nada além disso.

A mulher olhou desconfiada para ele e depois desviou o olhar para a morena ao seu lado. Yukira nunca parecia estar feliz ao lado de Ash, porém jamais demonstrara sentir medo dele. E o olhar que Leila via agora, era do mais puro terror. A maioria de suas crianças chegava ao orfanato com aquele olhar – as imagens de suas antigas vidas eram sempre muito presentes. Ela estendeu a mão para Kira, que começou a suar frio. Queria mais do que tudo correr para ela, porém a mulher não era sua mãe e Yukira sabia bem demais que Rudy não temeria machucar quem quer que ficasse em seu caminho.

— Vamos, querida. Precisa tomar o seu banho matinal – ela olhou para a menina, que, mesmo sem entender a mentira da freira, se soltou de Rudy e caminhou até ela.

— Obrigada, freira, eu tinha quase me esquecido.

— Não é permitida a permanência de homens no quarto das meninas, senhor. Infelizmente tenho que lhe pedir para ir ao pátio.

Rudy não pareceu feliz com a interrupção e olhou para Raki ao levantar. Kira se soltou da freira e tampou a visão dele da amiga. Não queria que Rudy a machucasse também.

— Vá pro pátio, papai. Eu vou ir logo depois.

O clima estava tenso quando Brock entrou no quarto da Kira. A imagem de sua pequena em frente a Rudy lhe esquentou o rosto. Quase correu até ela, pegando-a no colo. Sentindo todo o peso da responsabilidade de proteger Raki sair de seus ombros, Kira se escondeu no pescoço do tio, aliviada. Olhou para Raki e ela parecia assustada. Kira lhe sorriu e disse, sem emitir um som:

— Vai ficar tudo bem.

A rosada entendeu o mover de lábios dela e assentiu com a cabeça.

— O que está fazendo aqui?

— Vim apenas ver minha filha.

A raiva lhe subiu a cabeça e acariciou – quase sem perceber – a face da menina que um dia Rudy ousara esbofetear. Brock nunca sentira tanta raiva de Rudy antes.

— Já viu. Vá embora.

— Eu só quero passar um tempo com a minha filha. Penso que tenho mais direitos do que você, visto que nem é da família.

— Tem nada. Eu sou o tio dela. E você não é o pai biológico da minha menina.

Yukira sorriu ao ouvir o modo como Brock a chamou. Yuri era o seu menino e ela, sua menina. Sempre fora assim. Mesmo sabendo que não era filha de Brock, desejou ser irmã de Yuri. Pensar no primo fez seu pequeno coração apertar. Só naquele momento percebeu o quanto sentia falta dele. Dele, das PP, de Julia e de Diego. Seus mais próximos e adorados amigos.

— Você vai me espancar também? Não acham que já usaram demais da violência na frente da minha pequena? – ele parecia genuinamente indignado, o que fez Brock sentir ainda mais raiva e estreitar a menina entre seus braços.

— Não sou como Ash. Mas ele fez um ótimo trabalho em você, Rudy. Merecia ter apanhado mais. Mas não sou eu quem decido isso. E eu não posso te impedir de ficar perto de Kira, mas não saio do lado dela nem mesmo por um segundo.

Rudy estreitou os olhos, um tanto quanto decepcionado. Seus planos haviam sido estragados.

— Eu só quero ficar um pouco com ela.

— É a hora do banho matinal dela – disse.

Brock sorriu e Kira o encarou também.

— Eu te dou um banho, ok?

Ela sorriu, mas negou com a cabeça.

— Eu já sei tomar sozinha.

— Sabe, é? – Brock surpreendeu-se.

— Raki-chan me ensinou.

Quis puxar as palavras de volta assim que as proferiu. O brilho nos olhos de Rudy podia ter passado despercebido por todos os outros, mas ela o viu. E tremeu. Era o brilho dos olhos de um psicopata. Kira deixou algumas lágrimas escaparem, sobressaltando Brock. Ela havia acabado de condenar Raki. E sabia disso.

~~xx~~xx~~xx~~xx

O dia foi tenso, mas Rudy não ficou muito. Quando viu que Brock não permitiria que ficasse sozinho com Yukira, ele se retirou, dizendo que possuía compromissos. Brock ficou com Kira até o anoitecer. A menina deitou em sua cama, mas não conseguia dormir. Estava ansiosa demais. Olhou para o lado, mas Togepi não apareceu. Olhou para frente, Raki também estava acordada. Sem pensar, correu até a cama dela e se acomodou ao se lado. As duas se abraçaram.

— Seu pai me assustou hoje de manhã.

— Desculpa, Raki-chan. Ele é o papai ruim. Eu vou pedir pro tio Brock te proteger, tá? O papai ruim nunca mais vai voltar.

Raki sorriu.

— Tá tudo bem, Kira-chan. Sério. O meu papai ruim me olhava de um jeito bem pior.

Ele a olhava com malícia. A menina ainda sentia nojo ao lembrar-se dele.

— Mesmo? Ele sequestrou a sua mamãe também?

— Quase isso – ela disse apenas.

Kira sorriu e se acomodou melhor.

— A freira Leila sempre fica me tirando daqui. Você tá muito doente, Raki-chan?

— Não, eu tô até me sentindo melhor hoje. Vem, vamos pra debaixo das cobertas que é melhor.

Kira sorriu e as duas foram ali para baixo.

— Tá tão escuro…

Com um barulho simples, Togepi apareceu. As meninas pularam, mas Kira começou a rir ao ver o irmão. Ele começou a brilhar, fornecendo a elas a luz que desejavam.

— Raki-chan, esse é o meu mano, o Toge.

Raki o olhou e depois pendeu a cabeça para o lado, confusa.

— Mano? Mas ele é um Pokémon!

Yukira começou a rir e Togepi voou para o meio delas, se apoiando na morena.

— Ele é o Pokémon favorito da mamãe. Sabia que a primeira pessoa que o Toge viu foi a minha mamãe? E ele pensou que ela era a mamãe dele. E a mamãe sempre gostou de ser mamãe, então ele nunca conheceu uma pokebola, né Toge?

O Pokémon nada disse, apenas sorriu para ela, confirmando a história da pequena. Sentira saudades. Fechou os olhos, fazendo com que ele e Misty se tornassem um só. A distância que estavam um do outro – emocionalmente – complicou o processo que sempre fora tão simples.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Misty estava deitada em sua cama, tentando dormir, quando sentiu Togepi em sua cabeça. Ela tentou mandá-lo para longe; queria mantê-lo afastado. Sentiu as lágrimas lhe invadirem os olhos ao pensar nisso. Como poderia querer Togepi longe? O seu Toge?

Ela, perdendo as forças, deixou-se levar. Estava debaixo das cobertas. A voz que ouviu fez as lágrimas aumentarem. Fechou os olhos, permitindo que a imagem dela ficasse mais clara.

— E a mamãe e o Toge sempre ficaram juntos, porque eles se amam. Sabia que a mamãe e o Toge são meio que um só? É sério, Raki-chan. – disse ao ver a cara desconfiada da amiga. – É assim ó: ele é um poke psíquico e ela é a dona dele, aí eles têm uma ligação. E, tipo, eles podem entrar um na cabeça do outro, aí tudo o que a mamãe sabe, o Toge sabe também.

— Então todos os segredos que você conta pra sua mãe, ele sabe também?

— Sim, mas não. Tipo, não é como se ele fosse contar, entende? Porque o Toge e a mamãe são um. Eles são uma parte um do outro. Tipo o coração. Você conhece o coração?

Raki assentiu com a cabeça. Já vira algumas fotos.

— Então, um coração tem duas partes, certo? A da direita e a da esquerda. Cada um deles é uma parte, sabe? Porque a mamãe e o Toge já nem sabem mais viver um sem o outro. Porque… bem, você sabe. Não se pode viver só com metade do coração, entende?

Raki sorriu com a explicação atrapalhada dela. Entendia, mesmo sem entender. Nunca tivera ninguém tão especial para realmente entender, mas havia conseguido compreender o que ela lhe dissera. Eram um único organismo.

Misty sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Estendeu sua mão, tocando no nada. Sentia tanta falta dela! A pequenina sorriu, acariciando a lateral do corpo do Pokémon ovo.

— Eu entendi, Kira-chan. Eu acho.

Yukira sorriu, feliz. Ela tocou na mão de Raki.

— Eles são incríveis juntos em batalha. – continuou a menina, deixando todo o orgulho que sentia transparecer.

— Sua mãe deve treinar os Pokémons dela muito bem.

— Togepi não é só o Pokémon dela. Acho que eu não me expressei direito. Eles pertencem um ao outro. Ela é dele também. Estranho, né? Um humano pertencer a um Pokémon.

Raki apenas sorriu. Nunca tivera um Pokémon que pudesse chamar de seu. Jamais entenderia essa relação.

— Quanto tempo você vai ficar aqui, Raki-chan?

A rosada olhou para o lado.

— Não muito, Kira. Até eu ir embora.

A menina pareceu pensar.

— Raki-chan… você ia gostar de ser minha irmã?

A rosada, perdida em pensamentos, sorriu com a pergunta e acariciou a mão da mais nova. A mão da menina por quem, em tão pouco tempo, encantara-se. A mão da menina que aprendera a amar como amara sua pequenina irmã mais nova.

— Eu ia adorar, Kira-chan. Eu tinha uma irmã como você, sabia?

Kira tentou não se entristecer ao saber que a rosada já possuía uma família. Sabia que deveria ficar feliz por ela.

— Ah… sua mamãe também tá lutando por você?

— Não. As minhas irmãs tão no céu agora, Kira-chan.

A menina viu o rosto de Raki se fechar. A memória ainda era dolorosa, todos sabiam. Até mesmo Misty, que não a conhecia, se solidarizou por ela. Era tão pequena. Como poderia já ter perdido as irmãs? Pensou em suas irmãs. As mesmas irmãs que há dias vinham tentando falar com ela, mas eram vergonhosamente ignoradas. Espantou o pensamento. Queria aproveitar os momentos com a filha. Momentos esses que eram simplesmente escassos demais.

— Desculpa, Raki-chan – Yukira pediu envergonhada –, mas posso te fazer uma pergunta muito importante?

Raki franziu as sobrancelhas. O que seria?

— Claro.

— Pelo que eu sei, amanhã eles vão decidir com qual papai eu vou ficar. E depois de um mês eu vou ficar com a mamãe. A mamãe é demais, sério. Ela é tudo de bom e é divertida, e carinhosa e legal e ela é incrível. Você vai amar a minha mamãe, Raki-chan. E, se eu pedir pra ela, eu sei que ela deixa, sabe? Então… você gostaria se eu pedisse pra mamãe te adotar? E você vir morar comigo?

Os olhos verdes brilharam em expectativa, porém Raki sorriu triste. As coisas não seriam como Kira queria, ela sabia. De alguma forma, talvez até mesmo Yukira o soubesse.

— Eu não sei se isso pode acontecer, Kira.

— Mas deixa eu falar com a minha mãe, ela vai saber o que fazer.

Raki sorriu e concordou com a cabeça. A promessa fora selada. Mais feliz do que estivera desde a última vez que vira sua mãe, Kira se abraçou na menina e não demorou a pegar no sono. Togepi a esperou dormir e então desapareceu. Misty o chamava.

Não precisaram de palavras. Ele simplesmente se prendeu contra a ruiva que sempre fora sua. Ela derramou as lágrimas sobre o Pokémon, que também chorava. Misty soluçou por quase uma hora antes de pegar no sono. E ele sabia. Sabia toda a angústia dela. Sentia toda a angústia dela. Sentia a traição que assolava todo o corpo da amada dona. Sentia toda a dor que a preenchera o dia inteiro. Sentia o quanto queria proteger a filha. O quanto ela queria largar tudo e correr até o orfanato, onde lhe prometeria que ninguém mais a machucaria. Em meio a um furacão de sentimentos ruins e solitários, Misty e Togepi adormeceram. Porque eram apenas um. Não importava o que acontecesse. Sempre seriam apenas um.

Continua…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

OOoi

Pois é, nesse eu foquei bem mais no Toge e na Misty :3

Eu acho q relação deles tão linda ♥

E então, gente, o que estão achando? Capítulo passado nem todos apareceram :ccApareçam, eu juro que não mordo (muito) :33

O capítulo não foi betado, gomene. Qualquer erro me avisem que eu corrijo o//

Bjs e teh + ^3^/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Em Busca da Verdade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.