Em Busca da Verdade escrita por Camy


Capítulo 30
Expulso


Notas iniciais do capítulo

como prometido, aqui está ;3



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Lily mexia na internet quando percebeu que recebera um vídeo. O conteúdo a fez rir, e ela gritou pelo marido – era de manhã, e Brock estava a ponto de ir ao encontro de Kira.

— O que foi?

Ela o colocou para tocar novamente, e Brock gargalhou. À sua frente, tinha o vídeo de Misty assustando os policiais com o Gyarados.

— O melhor são os comentários. – falou Lily, mostrando-os ao homem.

“Sempre soube que tinha algo de errado com essa mulher. Não tem como uma pessoa tão bonita ser legal também”.

“Gente, se eu fosse esses policiais eu tava todo cagado”.

“Ui, adoro mulheres selvagens”.

“Viu filho? Isso que aconteceria se alguém tentasse te tirar de mim”.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Desta vez, Kira acordou mais cedo. Ela olhou ao redor, porém Brock não a estava esperando. Togepi acordou também e sorriu antes de desaparecer. Ele era apenas a lembrança de que a mãe ainda olhava por ela. Todas as meninas já haviam sumido, à exceção dela e de Raki. Sorriu para a rosada, correndo até a cama desta. O pijama era curto. O frio do chão de pedra a fez tremer.

— Raki-chan?

— Deita aqui, Kira! Tá frio.

Kira sorriu e deitou-se ao lado dela, debaixo das cobertas. Seu sorriso sumiu quando a analisou. Raki estava pálida e respirava com dificuldade.

— Você tá bem, Raki-chan?

— Eu tô bem, Kira. É só um resfriado.

A pequena tocou no rosto da nova amiga. Ela estava bem quente.

— Quer que eu cuide de você? Cuidei da mamãe quando ela se resfriou.

Raki sorriu, como se soubesse de algo que a pequena não sabia. Raki tocou na mão delicada com a sua própria e a acariciou.

— Não precisa se preocupar, Kira. Eu vou ficar bem, ok? Só preciso dormir um pouquinho.

— Mesmo?

— Uhum. Acho que não vou poder brincar com você hoje, ok?

— Tudo bem. Só fica bem, tá?

— Tudo bem. Você me promete ser legal com o seu pai?

Yukira não chegou a responder, pois Leila invadiu o quarto das pequenas. Brock a acompanhava.

— Oh, querida! Saia daí, vamos. Raki precisa descansar, ela não pode brincar com você. Vamos, vamos – ela começou a bater palmas.

Yukira beijou o rosto pálido e saiu da cama da amiga, correndo de volta para a sua própria. Brock aproximou-se dela e a beijou na testa. Kira não prestava atenção nele. Olhava para Leila, que dava mil e um remédios para a rosada.

— O que vai vestir hoje, hm?

— Tanto faz…

Brock escolheu uma calça, uma blusa de manga comprida e um casaco grosso. Estava frio, mas sabia que a sobrinha passaria o dia inteiro correndo e que, se vestisse muitas roupas, retiraria metade e ficaria gripada.

— Aqui.

Ela olhou e torceu o nariz.

— Não quero usar o casaco.

— Não tem querer. Vai e pronto.

Ela não discutiu. Sabia que Brock não era como o pai. Não. Brock não era como Ash. Ela não tinha um pai.

Com a ajuda do tio, Yukira se vestiu. Ela deu as mãos para ele, que a acompanhou até o pátio.

— Eu tô com fome, tio.

— São dez horas, vamos ver se conseguimos alguma coisa pra você.

Foram até o refeitório, onde ela conseguiu um pastel. A pequena comeu com prazer, enquanto Brock apenas a observava. Eles conversaram sobre algumas amenidades antes dele finalmente tocar no assunto que desejava.

— Então, querida, como foi com Ash?

Ela torceu o nariz novamente e Brock quis rir. Ela e Ash faziam a mesma expressão quando não queriam falar sobre determinado assunto.

— Eu fiz um castelo com a Raki-chan. E usei saia. Mas ele é um chato. Eu não gosto dele, titio. Não o quero aqui.

Mas Brock ouvira apenas uma parte da história.

— Ontem estava frio, como assim você usou saia?

Yukira sorriu vitoriosa.

— O Ash deixou.

Brock suspirou frustrado.

— Então ele é legal, não? Faz todos os seus desejos.

— Essa parte é legal, mas eu não gosto dele.

— Kira, o Ash é o seu papai.

— Eu não preciso de um papai. Eu tenho a mamãe.

— Você não vai perder a sua mamãe só por ter um papai.

— Eu sempre tive um papai. E ele não me faz falta.

— O Ash e o Rudy são dois papais muito diferentes. O Ash é um pai legal e ele realmente gosta de você. Ele quer que você goste dele.

Ela terminou o pastel.

— Vamos brincar?

— Kira, isso é sério.

— Eu não quero falar sobre isso. Não pode me forçar a gostar dele.

— Eu realmente não posso, mas você não precisa escolher um lado. Pode ser legal com os dois.

— Ele vai me tirar da minha mamãe. Como eu posso ser amiga de alguém que vai me tirar da minha mamãe?

— O Ash não vai te tirar da sua mamãe. Kira, você precisa entender que o que Misty fez não foi certo.

— Ela só me protegeu. Que tem de errado nisso?

— Nada, querida. Mas ela nunca contou pro seu pai que você existia. Se o Ash soubesse, ele teria ido falar com você.

— Não me importo! Eu não o quero.

Brock suspirou, desistindo. Yukira conseguia ser ainda mais teimosa do que Ash. E ele achava que isso era impossível.

— Tudo bem, tudo bem. Mas ele passará a tarde com você novamente.

Yukira se emburrou, mas logo tratou de mudar de assunto. Por mais que o pai a irritasse, jamais conseguia ficar muito tempo irritada com Brock.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Misty ainda estava deitada em sua cama. Já era tarde, ela sabia. Quase meio-dia – ou já perdera o almoço? Não importava realmente. Togepi entrou no quarto e ficou pairando acima da ruiva. Ele estava ganhando o tratamento do silêncio, assim como todos os outros moradores da casa de Lily. Aproximou-se e se deitou em frente a ela, mas a mesma se dignou apenas a se virar, ficando de costas para ele.

“Você não pode nos ignorar pra sempre”, mas ela não respondeu.

Ele ficou a encarando por muitos segundos. Ela não falava com ninguém e apenas saía do quarto para comer e tomar banho.

“Eles estavam pensando no melhor pra ela e pra você também. Pare de me culpar!”

— Devia ter vindo até mim e me dito, não ter concordado com eles. No fim, até você me traiu.

A voz saiu rouca devido ao tempo excessivo que ficara sem falar. O Pokémon voltou a ficar de frente a ela e, desta vez, a ruiva não lhe deu as costas.

“Ele tinha que saber, cedo ou tarde”.

Misty se virou, deixando o Pokémon falando sozinho.

“Yukira sente sua falta. Eu não sei o que dizer a ela sobre você”.

Misty sentiu as lágrimas se acomodarem em seus olhos novamente. Ela sentia falta da pequena como nunca sentira de ninguém mais antes. Faltava apenas dois dias – contando este – para o julgamento que aconteceria cedo da manhã.

“Realmente não vai falar comigo?”

Ela não respondeu, apenas abraçou mais forte o cobertor entre seus braços. Com um suspiro, Togepi deixou a dona sozinha e foi falar com as irmãs desta. Todos já haviam desistido de tentar entrar no quarto ou falar com ela. Nunca haviam recebido tanta indiferença por parte da irmã, mas tentavam não se sentir culpadas. Era difícil. Dayse já se arrependia de ter concordado com o plano louco das crianças.

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Ash suspirou. Almoçava em um restaurante; passara a manhã inteira com seu advogado e realmente não queria ir para casa. Estava vazia, como sempre. Olhou o relógio. Passava da uma; tinha que ir ver Kira logo. Sorriu. Talvez ela estivesse menos arisca hoje. Hm… não. Ele sabia que seria pisado e ouviria o que não queria ouvir da filha, mas não era como se realmente se importasse. Ele só queria estar com ela. Um dia, talvez, ela pudesse vir a considerá-lo um amigo. Levantou-se, pagou e saiu. O dia seria longo.

~~xx~~xx~~xx~~xx

Brock estava sentado com Kira no mesmo banquinho em que Ash a colocara no dia anterior. Ela lhe contava em detalhes como fora legal fazer o castelo com Raki. Ele sorria enquanto acariciava os cabelos negros. Ouvia a pequena comentar inocentemente sua brincadeira na tarde anterior e sentia vontade de fugir com ela. Mesmo que discordasse dos atos da ruiva, entendia-a. Se fosse Yuri em seu lugar ele provavelmente também fugiria.

— Tio Brock, vamos passear de novo?

Eles haviam explorado todo o orfanato. Passaram na frente – onde Yukira imediatamente localizou uma sorveteria –, nos fundos, por dentro, enfim, por todos os locais em que conseguiram encontrar.

— Não posso, querida. Ash já está chegando para ficar com você e eu preciso ir.

— Hm.

Ele sabia que ela ainda estava magoada e não queria ficar com o pai, mas ele também sabia que a única forma de fazer Yukira prestar atenção em Ash era obrigando-a a passar um tempo com ele. O moreno apenas bagunçou os cabelos da sobrinha e sorriu para ela, tentando arrancar uma risada. Começou com as cócegas e Kira não viu outra opção senão gargalhar com gosto. Ash chegou com um sorriso. A cena lhe deixara com o coração apertado, pensando quando poderia fazer isso. Ele esperou os dois pararem de rir.

— Hey, Ash! Ainda bem que chegou, realmente preciso ir.

Ambos se despediram. Pikachu se despediu do amigo mais velho também e Yukira formou o bico tão conhecido por Ash. O pai quis suspirar e sacudi-la até que o bico sumisse.

— Não gosto de você.

Ela falou de forma casual, como se o estivesse cumprimentando.

— Bom dia pra você também. É muito bom te ver de novo – ironizou.

Yukira levantou uma sobrancelha e voltou seu olhar para frente. Ash reprimiu o suspiro e se sentou ao lado dela. Eles ficaram um bom tempo sem conversar. Quando estava começando a ficar desconfortável, Ash quebrou o silêncio.

— Então, quer brincar na pracinha?

— A Raki-chan tá resfriada, não tenho com quem brincar na pracinha.

— Brinca comigo.

— Mas eu não gosto de você.

— Não precisa gostar de mim pra brincar comigo.

Ela pareceu pensar, mas jamais daria o braço a torcer. Ela queria brincar, é claro, mas não com ele. Seria uma traição muito grande para sua mãe.

— Quero um sorvete.

Ash não conteve o suspiro e remexeu nos cabelos espetados, quase irritado.

— Você não pode sair daqui, ou seja, não posso te levar numa sorveteria.

— Mas tem uma sorveteria ali na frente. É só comprar e trazer aqui.

— Não gosta de mim, mas não tem vergonha de abusar, né?

Ela deu de ombros, sem realmente se importar.

— Você quer ser meu papai, né? Papais dão sorvete pras filhas.

Ash suspirou. Nunca tivera um pai e não sabia como sê-lo. Se ela dizia que isso era o dever de um pai, quem era ele para dizer o contrário? Yukira conteve o sorriso quando o viu se levantar.

— Quer de quê?

— Chocolate.

Ele a mandou esperar naquele banco e saiu, indo procurar a tal sorveteria. Estava irritado. Realmente irritado. Por que era tão difícil? Todos diziam que crianças perdoavam e eram legais e mais um monte de baboseiras. Desde quando crianças perdoam? Desde quando crianças são legais? Yukira parecia uma miniatura do diabo! Riu do pensamento. Não, Yukira era uma miniatura de Misty – o que, tecnicamente, era a mesma coisa. Saiu do orfanato, vendo imediatamente a tal sorveteria. Atravessou a rua e entrou.

— Olá, o senhor deseja alguma coisa? – perguntou a recepcionista.

Era uma bela mulher. Ele teria reparado se uma pequena diaba de seis anos não ocupasse sua mente.

— Sim. Dois sorvetes de chocolate, por favor.

— Quantas bolas?

— Duas em cada.

O sorvete não demorou a ficar pronto, mas nem por isso Ash diminuiu a expressão de emburrado. Pagou e saiu. Começou a comer o seu sorvete, visto que Yukira não parecia fazer muita questão de ficar com ele, e seu humor melhorou um pouco. Sorvete sempre melhora as coisas, todos sabem disso.

Caminhou devagar por dentro do orfanato, mas não demorou a chegar ao local no qual a filha o esperava. Ele a avistou sentada no banco em que a deixara, mas ela olhava assustada para todos os lados. Estreitou os olhos. Kira não estava sozinha.

Antes que Ash pudesse reconhecer quem estava com a filha, a ação dela o fez parar de pensar e derrubar ambos os sorvetes no chão. Ela corria na direção dele, com os braços estendidos. Apavorada, Yukira corria na direção do pai o mais rápido que suas pequenas perninhas permitiam. Pikachu não ficou tão surpreso quanto o dono. Ele sabia quem estava acompanhando a morena.

Ainda embasbacado, tudo o que Ash conseguiu fazer foi estender os braços para a pequenina. Ele sentiu vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo. Ela chegou e se jogou nos braços estendidos dele, agarrando-se ao pai como se fosse morrer caso não o fizesse. Ash retribuiu ao abraço, incapaz de impedir que o mais belo dos sorrisos lhe enfeitasse o rosto. Yukira escondeu-se no pescoço dele, amedrontada demais para olhar para trás. Ash apenas se lembrou daquele que acompanhava a menina quando sentiu as lágrimas quentes dela lhe molharem o pescoço.

— Hey, tá tudo bem – ele a apertou em seus braços, tentando fazer a menina se sentir segura.

Yukira não respondeu, apenas soluçou, apertando-se mais ao pai. Ash levantou os olhos, preocupado, e a pessoa que viu fez seu rosto corar. De raiva.

Rudy.

— O que está fazendo aqui? – ele tentou conter a irritação.

— Vim apenas ver a minha querida filha.

Rudy tentou se aproximar, mas Pikachu pulou em frente ao dono. De seu corpo emanava eletricidade.

— Calma, ratinho! – ele riu, colocando as mãos em frente ao corpo. – Eu só quero ver como ela está.

— Ela não é sua filha.

— Oh, o papai fica anos sem ver ela e agora quer recuperar o tempo perdido, é? – ironizou. – Você não vai conseguir, sabe? Ela é bem teimosa.

Piscou para a pequena, mas Kira não viu. Estava amedrontada demais para olhar para trás.

— Ela puxou isso de mim. – disse apenas.

Queria espancar Rudy. Queria quebrar todos os ossos do corpo que abrigava aquela alma demoníaca. Mas não podia. Não podia porque Kira estava em seu colo. Não podia porque ela estava procurando abrigo e segurança. E ele sempre a protegeria. Em todos os momentos da vida dela. Em cada segundo.

— Vamos, Ash. Deixe-me continuar minha conversa com ela.

— Nunca. Ela não te quer aqui, vá embora.

Rudy apenas sorria; calmo. Mas o ódio que exalava de Ash podia ser percebido a quilômetros de distância. Leila percebeu e correu para impedir a futura briga. Não queria que seu orfanato fosse manchado de sangue.

— Acalmem-se os dois! – ela falou, mesmo que apenas Ash precisasse se acalmar. – Oh! Querida, por que está chorando?

Leila tentou pegar Kira no colo, mas esta se prendeu a Ash e não quis soltá-lo. Ash quase fez um mortal nessa hora.

— Deixa, eu seguro ela.

O sorriso que lhe tomou o rosto ao dizer isso fez com que Leila se animasse também. Ash esquecera-se de Rudy. Leila idem. A freira olhava para o pai carinhoso e sorridente que estava a sua frente. Já vira aquele olhar muitas vezes antes. Muitos pais adotivos apareciam e ficavam daquela forma quando viam seus futuros filhos. Ela não precisou de um exame de DNA para saber que Ash era pai de Yukira. Seus olhos treinados perceberam isso apenas pela forma como ele a olhava. Não sabia se ele era o pai de sangue, mas sabia que nenhum outro a amaria como ele amava. A freira acariciou os cabelos negros da pequena e então se lembrou de que viera apartar uma briga.

— Tudo bem. Senhores, tenho que pedir que se acalmem.

— Estou perfeitamente calmo. Como eu disse antes, eu só quero falar com a minha Kira.

A pequena deixou outro soluço escapar. Ash estreitou os olhos. Nunca a vira com tanto medo antes.

— Ela é minha. Vá embora.

— Se acalme, Ash. Enquanto o juiz não tomar a decisão, ambos possuem o mesmo direito de ver Yukira.

Ele retorceu a expressão e estreitou a filha um pouco mais. Era sua. Apenas sua. Rudy não tinha nada a ver com a sua pequenina. Sua e de mais ninguém. Sua.

— Não tem não. Ela não quer falar com ele. Diz, Kira. Diz que quer que ele vá embora.

A pequena tentou se acalmar e limpou os olhos com as mãos. Ela olhou para o pai, que possuía um olhar quase desesperado e depois olhou para Rudy, que apenas sorria calmamente. Seu coraçãozinho voltou a se acelerar.

— Você quer terminar nossa conversa, não quer?

Ela reprimiu um soluço e o arrepio que percorreu o corpo pequeno foi sentido por Ash. Ela agarrou a camiseta dele, mas assentiu com a cabeça. O biquinho do choro se formando nos lábios rosados. Ash estreitou os olhos. Quando entendeu o que estava acontecendo, ele precisou controlar a respiração. Kira conhecia a raiva. Ela olhou para o pai e, inconscientemente, abraçou-se, escondendo com as mãos uma parte de seu antebraço.

— O que é isso?

Ela tentou esconder, mas Ash retirou delicadamente a mão pequena. O braço dela estava roxo. Ele precisou respirar fundo mais uma vez. Fechou os olhos e tentou controlar a respiração. Ash olhou para Leila.

— Pegue Kira, por favor.

Ele entregou a pequena, mas esta também havia entendido.

— Ash, não!

Mas era tarde. Ele já partira para cima de Rudy.

— DESGRAÇADO. VOCÊ AMEAÇOU A MINHA FILHA!

O primeiro golpe Rudy nem previu. Ash atingiu seu maxilar com o soco mais forte que jamais daria novamente. Rudy simplesmente caiu ao chão. Pikachu postou-se em frente à freira, protegendo a menina que esta carregava nos braços. Yukira gritava.

— ASH, PARA! PARA! POR FAVOR!

Mas Ash não ouvia. Estava cego de raiva. Queria fazer isso desde que o vira tentando abusar da sua ruiva, e que se ferrasse o quanto ele tentava dizer que ela não era sua, a raiva era grande demais para ficar se controlando.

O próximo soco foi parado por Rudy, que conseguiu desviar.

— Calma, Ash. Eu não fiz nada.

Ele elevava sua voz, querendo que os outros que estavam ao redor ouvissem. Ash sabia que deveria se controlar, caso contrário poderia ser expulso, mas já não estava mais no controle de seu próprio corpo. Rudy deixara o braço de sua pequena roxo. Rudy batera no rosto da sua menina. Rudy tentara estuprar a sua mulher. Rudy ameaçara a filha que ele já amava. Na mente descontrolada de Ash, Rudy merecia morrer.

Ele não pensou antes de agir, apenas fez seu punho fechado encontrar o nariz do demônio desgraçado que apertara o braço da sua pequena. O som do osso quebrando foi como música para os ouvidos de Ash. Ele sorria. Nunca se sentira tão bem. Rudy caiu novamente e tentou estancar o sangue com a mão, mas estava difícil. Ash estava pronto para avançar contra ele novamente quando sentiu os seguranças segurarem seus braços.

— ME SOLTEM! ME SOLTEM!

— O senhor precisa se acalmar. – disse um dos homens.

— SE UM DESGRAÇADO FILHO DA MÃE BATESSE NA SUA FILHA, VOCÊ IA FICAR CALMO? HAN? IA?

— ASH! – era Leila.

O moreno se virou para a freira com raiva, mas tudo parou quando viu a filha. Yukira se contorcia nos braços de Leila, que acabou deixando-a a descer. Ela correu até ele, abraçando as pernas fortes. Os seguranças o soltaram, mas ficaram entre ele e Rudy.

— Para!

— Mas ele…

— Para! Para de ser idiota! Quanto mais você machucar ele, mais ele vai ficar com raiva da gente. Para, para, para!

Ash a pegou no colo e a abraçou bem forte. Kira retribuiu ao abraço, chorando. Ele suspirou, sentindo o cheiro de shampoo infantil que saía dos cabelos dela.

— Eu não… ele te bateu.

— Ele vai bater na mamãe.

— Não vai não. Eu cuido dela.

— Mas você não gosta dela.

— Não importa, eu cuido dela. Eu juro que eu cuido. Ninguém vai te machucar.

— Ele me machucou, mas você tava aqui – ela acusou, mesmo que sem ressentimentos. – Ele vai bater na minha mamãe e a culpa é sua! – agora ela estava ressentida.

Ela começou a se debater e ele a deixou no chão. Os olhos esverdeados da menina estavam cheios de raiva. Raiva e medo.

— EU ODEIO VOCÊS. EU ODEIO VOCÊS DOIS!

Ela correu para dentro do orfanato, deixando Ash e Rudy para trás. O segundo tinha o nariz ensanguentado.

Ash a observou se afastar com os olhos lacrimejando. Ele só a estava protegendo, nada mais. Apenas protegendo a sua pequena. Mas ela o odiava. Os abraços nada haviam significado? Ela procurara socorro em seus braços, isso deveria significar alguma coisa! Ou será que não? Ele sentia-se confuso, mas, acima de tudo, irritado.

— E nunca mais chegue perto da minha menina! – descontou em Rudy. Os olhos raivosos perfuraram os do outro.

Rudy apenas se encolheu.

— Eu só vim aqui falar com a minha filha. Fui eu quem a criei, só queria saber se ela estava bem!

Algumas lágrimas escorriam dos olhos dele, apenas para confundir aos leigos. Ash sentiu ainda mais raiva e teria investido contra ele novamente se os seguranças não o tivessem segurado.

— Ash! Pare com isso imediatamente! Você está proibido de voltar aqui, me entendeu? Proibido! Atacou ao pobre homem! – Leila quase gritou.

— Ele bateu na Kira!

— Eu estava aqui o tempo inteiro, não vi nada!

— Não foi hoje… mas você viu a marca roxa no braço dela. Foi ele!

— Kira não o incriminou. – respondeu a mulher.

— Ele a ameaçou!

— Você tem noção das loucuras que está dizendo, meu querido?

— Eu juro que é verdade!

— Lamento Ash. Mas o agressivo da situação foi você. Está proibido de voltar.

Os seguranças começaram a arrastá-lo, mas ele não podia simplesmente permitir que tudo ficasse daquela forma. Desvencilhando-se dos dois enormes homens, ele correu até a freira.

— Não o deixe sozinho com ela, por favor, eu te imploro! Só isso, tá? Não deixa ele ficar sozinho com ela. Ele vai fazer o possível e o impossível pra ficar sozinho com a Kira, mas você não pode deixar, ok? Não pode!

Leila não conseguiu responder, pois Ash já estava sendo arrastado, mas sabia que devia desconsiderar tudo o que o moreno lhe dizia. Entretanto… o olhar que ele a lançou! Estava desesperado – e nenhuma palavra abaixo disso poderia definir o que Ash sentia. E o modo que ele olhara para a pequena garotinha antes… o modo como vinha suportando todas as palavras ruins que ela lhe dizia! Leila ouvira várias delas. Yukira era cruel com Ash, mas o moreno nunca demonstrou nada além de amor para com ela. E Leila presenciara tudo isso.

Ela mordeu o lábio inferior. Talvez estivesse sendo tola, mas…

— Senhor Rudy, me desculpe por esse incômodo. O hospital é próximo daqui, vamos, eu peço a uma de nossas irmãs para acompanhá-lo.

— Mas minha filha…!

— Você a vê depois. Tenho certeza de que todo esse sangue a deixará ainda mais assustada.

Rudy não viu outra opção além de obedecer à freira.

Em seu quarto, Kira estava abraçada a Raki. A outra apenas acariciava os cabelos negros. A morena não quisera dizer nem mesmo uma palavra, mas Raki era paciente. Sabia que, cedo ou tarde, Yukira desabafaria tudo. Por enquanto, a enferma menina apenas consolava sua mais nova amiga.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, quero pedir desculpas pela minha grosseria no capítulo anterior. Eu tava com raiva e acabei descontando em vocês. Sério, perdão. Eu não sei como expressar o quão envergonhada e irritada comigo mesma eu estou. Aquilo não tinha muito a ver com vocês e, novamente, perdão. E obrigada pelo apoio. Sério. Estou encerrando de vez o assunto por aqui. Novamente, desculpa.



Gente, capítulo não-betado. Quando a Inês-chan betar, eu edito, ok?
Desconsiderem os erros u-u
Tenho até o 32 pronto, mas só posto nos finais de semana que eu disse u-u
(sou mááá

E então, quem ama o Ash?

E quem tem raiva da Yukira?

REVIEEEWS o//

Geente, capítulo dedicado ao ricadinho, que conseguiu passar em tudo o//

Quem aí também passou sem rodar em nenhuma matéria?

Quero agradecer, especialmente, à Chibi-chan e à Emily-chan pelas recomendações. Vocês são demais. As recomendações são simplesmente lindas demais, vocês são muito fofas *000*


Bjs e teh + ^3^/

obs: o que acharam da nova capa?



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