MISTY P.O.V

Foi ontem. Ontem que eu fui sequestrada pelo meu marido. Ontem que eu perdi a minha filha… mas parece que foi há muito mais tempo. Céus! Como estou preocupada. Eu quero o meu bebê! Quero a minha Yukira. Minha e de mais ninguém!

E agora… ela estava na casa de Ash hoje à tarde… na casa do meu Ash… meu.

Eu só espero que ele não venha… será que Ash já sabe? Será que ele vai tirar a minha razão de viver… de novo? Fiquei o dia inteiro pensando nisso e ainda não achei resposta nenhuma! Seis anos de controle. Seis anos em que eu tentei todo dia esquecê-lo e quando eu acho que consigo, ele aparece novamente. Eu o vi ontem. Vi ele… o meu Ash. Estava tão bonito… tão lindo. Mas talvez não fosse ele. Talvez eu tenha me enganado…

Agora não faz mais diferença, porque já estou pensando nele. E saber que não era ele não muda nada, porque eu sei que vou ficar pensando nele por tempo indeterminado. Assim como essa minha viajem com Rudy também é de tempo indeterminado.

Meu maior medo? No momento? É Yukira aparecer por aqui para tentar me salvar. Não duvido que isso aconteça. Se ela vier… Rudy vai tirá-la de mim. Eu nem ao menos posso fugir… há tantos guardas ao meu redor. E, mesmo que eu conseguisse, Rudy chegaria a Kira bem antes que eu tivesse tempo de avisar a Brock sobre o que tem acontecido.

Ele foi ao banheiro. Eu poderia tentar fugir… tem uma espécie de passagem secreta que eu, Ash e Brock descobrimos quando viemos passar umas férias por aqui. No outro quarto ao lado do quarto em que estou. Na verdade, esse aqui é o quarto de Ash. Ao lado é o meu. Tem uma passagem entre os dois quartos. No início a usávamos por causa da nossa amizade. Para desabafar no meio da noite… mas depois começamos a usá-la para nos vermos e trocarmos uns beijos. E depois para coisas mais interessantes.

Do meu quarto é possível olhar para o quarto de Ash sem que a pessoa que está aqui consiga perceber. Eu sempre o espionava… era divertido. Ele sabia que eu fazia isso. Sempre soube. E agora eu me pego rindo das coisas que fazíamos antigamente… eu sei que eles estão aqui. Vi a movimentação na floresta, mas não consigo saber quantos são. Será que Kira está junto…? Ou pior… eu tenho quase certeza de que Ash veio… mesmo eu tendo pedido ao Brock para ele não vir. Será que ele virá aqui ser o meu herói, de novo?

Ninguém mais acharia esse lugar. Ninguém mais saberia onde nós devemos ficar… e o Brock não sabe que o Rudy conhece nossa ilha. Pelo menos não sabia até Ash contar. O que mais poderiam estar fazendo na casa dele? Será que Rudy me deixaria conversar com Kira novamente? Acho que não. Eu estou com muito medo. Ontem Rudy não tentou nada comigo, mas dormimos na mesma cama. Ele me abraçou durante a noite… foi… estranho. Não são os braços dele que eu quero ao redor do meu corpo… não são os braços de Rudy que eu quero… não são. Por mais que eu tente mentir para mim mesma dizendo que não quero homem nenhum… não consigo, pois meus pensamentos voltam sempre para o meu Ash… meu melhor amigo, meu confidente… meu amor. O pai de Kira. O homem com quem eu jamais poderei voltar.

Estou com medo de Rudy tentar algo comigo essa noite… eu acho que ele realmente vai tentar… mas a pior parte é que ele não colocou uma única roupa cumprida pra mim. Isso já explica que estou com problemas, né? E está tão frio…

Oh merda! Ele está vindo… boa sorte para mim!

MISTY P.O.V off

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ASH P.O.V

Assim que saí do campo de visão deles, dei meia volta e fui correndo para a nossa mansão. Pikachu sempre soube que eu faria isso.

Adentramos na floresta e ele salta de meu ombro. Vamos lado a lado pelo caminho tão conhecido por nós. E ao longe a mansão parece ficar cada vez menor. Parece que ao invés de me aproximar eu me distancio, mas já conheço essa “mágica” aqui da ilha. Esse é o lar de muitos Pokémons psíquicos que fazem isso. Os turistas nunca conseguem chegar ao castelo – muitas vezes nem encontram a ilha em si –, mas eu não sou um turista. Paro ao percebê-los. Aos poucos, Togepi’s, Togetic’s e Togekiss’s apareceram, assim como Abra’s e muitos outros. Eu sorri para os mesmos e eles retribuíram meu sorriso, deixando-me passar e eu percebi que já estava bem perto do castelo. Mesmo que na ilusão deles, eu estivesse a quilômetros de distância.

— Obrigado, meus amigos.

Eles sorriram para mim e eu corri para a parede. Olhei para o quarto que era meu e vi as luzes ligadas… será que ela está lá?

Rudy pode até ter dominado minha casa… mas eu ainda conheço todos os truques daqui. Percebo um guarda passar por aqui com uma lanterna e me escondo melhor. Ele desaparece na escuridão e eu me abaixo no chão. Tiro um pouco da grama e acho uma argola. Olho para os lados, certificando-me de que estou só e então eu a puxo. Aqui embaixo é muito escuro, mas não posso chamar Charizard, é muito estreito. Pikachu acumula eletricidade em suas bochechas e isso causa luz suficiente para eu poder enxergar razoavelmente bem.

Descemos uma escada e quando já não estamos próximo à nossa “porta de entrada”, eu a fecho. Rudy levou a sério isso, até mesmo têm guardas armados aqui… acho que ele quer me matar. Isso não é nada legal. Corremos. Aqui em baixo é como um túnel bem grande que dá em todos os cômodos da casa. Brock, Myst e eu o descobrimos logo depois de entrarmos. Minha ruiva sempre foi curiosa e foi ela quem achou… como será que Misty está agora? Se Rudy tocar nela… eu não me controlo.

Ah, se o filho da puta tentar bater nela de novo…

Subimos para o quarto dela. Eu sei que atrás do armário dela tem um buraco na parede que me permite ver tudo o que acontece no outro quarto, mas quem está no quarto não consegue me ver. Eu sei que ela me espionava. Ri um pouco com a lembrança e ouvi gritos… uma voz impossível de esquecer.

— RUDYYYYYYYYYYYYYYYYY! ME SOLTAAAA!

Eu olho pelo buraco e vejo-o em cima dela, com os braços dela presos por uma das mãos dele, acima de sua cabeça. Ambos estão na minha cama. Coloco minha mão na porta que separa os quartos, pronto pra invadir e arrancar esse filho duma égua de cima da minha mulher. Pikachu sobe em meus braços e não permite. Quase mostro pra ele o que esse desgraçado tá fazendo, mas dois de nós descontrolados desse jeito não vai prestar. Já basta eu.

— Calma, esposinha. Você vai gostar, eu juro que vai. Vou ser carinhoso com você.

Rudy começa a beijar o pescoço dela e a vejo revirando-se embaixo dele. Isso é INADIMISSÍVEL! Ele não tem o direito de obrigar a minha ruiva a fazer isso. O que eu faço? O que eu faço? Se eu simplesmente invadir esse quarto como é minha vontade ele chama os guardas armados dele e eu e Misty morremos. Pensa Ash, pensa porra!

–

Eu e Misty estávamos no quarto de um hotel nos beijando apaixonadamente, minhas mãos já estavam em lugares que não deveriam e eu estava visivelmente excitado. Eu a deitei na cama e fiquei por cima dela, estávamos ambos prontos para começar mais um ato de amor, quando o celular dela toca.

A merda do celular dela toca e, mesmo contra nossa vontade, ela atende e o momento acaba… pelo menos até ela terminar de falar ao telefone…

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O telefone! É isso! Não sei da onde surgiu essa memória boba, mas eu estou grato a ela. Pego meu celular e ligo para o telefone instalado na casa. Instalamos um para emergências… espero que ainda esteja funcionando.

Disco o número e espero. Escuto o telefone tocando e olho para o quarto. Rudy continua em cima da minha Misty e ela continua chorando e tentando afastá-lo com toda a sua força, que infelizmente é inferior à dele. Percebo-o tirando a blusa dela. Isso já está indo longe demais…

Finalmente alguém me atende.

— Quem é? – uma voz grossa e que daria medo até no mais corajoso dos homens atende, mas estou nervoso demais para ter medo.

— Olá – disfarço minha voz – é a irmã do Rudy…

Como é o nome dela mesmo, porra?

— Ele não quer ser incomodado.

— Quer que eu conte pro meu maninho que estão me impedindo de falar com ele?

Percebo a hesitação do homem, mas não tenho tempo para fazê-lo pensar. Rudy já retirou a blusa da minha Misty!

— Certo… espere aqui que eu vou chamá-lo.

— Diga que é urgente! E que não pode esperar – eu falo com a voz fina desesperada, o que não é muito difícil de disfarçar, afinal, eu realmente estou desesperado.

Escuto passos pela casa, mas Rudy continua acariciando a minha Misty. Que raiva… se ele não parar logo eu vou invadir esse quarto!

Paro de olhar, tentando retomar o controle do meu próprio corpo. Sinto que estou tremendo. Ah, Rudy, como eu quero arrancar suas mãos e colocar fogo nelas…

Escuto batidas tímidas na porta e percebo que Misty suspira aliviada e que Rudy solta um resmungo indignado.

— QUE É, PORRA? EU TO OCUPADO! – ele grita frustrado.

Ocupado o caralho, desgraçado. Vai atender sua irmã e deixa minha mulher em paz!

— Desculpe, senhor, mas sua irmã está no telefone – a voz parece meio receosa e Rudy resmunga novamente.

— MANDA ELA SE FUDER QUE EU TO OCUPADO!

Não vejo o que ele tá fazendo. Ah, não posso me permitir. Se ele ainda estiver em cima dela, mato o desgraçado.

— Ela falou que era urgente.

Silêncio. Não resisto e volto a olhar pelo buraco. Pikachu sobe em meu ombro, acumulando eletricidade em suas bochechas. Se esse filho duma puta mal comida não sair de cima da minha Misty em três segundos, invado essa porra de quarto e soco ele até ter sangue no chão.

Quatro segundos em que nada acontece.

Rudy, visivelmente irritado, sai de cima de Misty, que no momento estava apenas com um short Jeans e sem a blusa. As curvas dessa mulher são capazes de tirar a sanidade de qualquer homem… e eu não sou exceção.

Suspiro aliviado, me preparando para invadir assim que Rudy sair.

Misty pula e se cobre com o travesseiro, enquanto se atira para o mais longe possível dele e chora como uma criança… eu ainda o mato por ele fazer isso com ela. Minha Misty quase nunca chora.

Ele a olha malicioso e então eu o escuto falar antes de sair do quarto.

— Isso ainda não acabou, amor.

FILHO DUMA ÉGUA MORTA! DESGRAÇADO, VADIO! QUEM QUE TU PENSA QUE É PRA FALAR ASSIM?! ACHA QUE NÃO ACABOU, DESGRAÇA? MAS ACABO SIM!

Ah, só um soco na cara dele. Tento entrar no quarto antes de Rudy sair, mas Pikachu me segura de novo. Ah… eu ainda vou matar esse puto.

Ele sai do quarto e eu saio do meu esconderijo. Não posso mais perder tempo. Desligo o celular e vou até onde Misty está. Ela se encolhe ao ouvir meus passos, mas eu jamais serei capaz de machucá-la.

Nunca a vi tão frágil. Desgraçado, filho da puta…

Misty abraça o travesseiro mais forte e aperta ainda mais os olhos fechados. Eu toco em seu ombro e ela se encolhe ainda mais. Ainda o mato por deixá-la assim.

— Jamais irei te machucar, Myst… venha logo, daqui a pouco Rudy volta e dessa vez eu não vou me controlar… eu vou quebrar a cara do seu marido – eu coloco minha mão em seu ombro e me sento em sua frente. Ela abre os olhos esmeraldinos e me olha quase não acreditando. Eu abro um sorrisinho para ela e a próxima coisa que eu vejo são cabelos ruivos mais cheirosos do mundo em meu rosto.

Eu retribuo seu abraço e a aperto bem forte contra meu corpo… como eu senti a falta dela… como senti falta do corpo dela contra o meu…

— Eu… eu…

— Não diga nada. Apenas coloque uma blusa e vamos fugir antes que o idiota do seu marido volte.

Como odeio falar que ele é o marido dela… como eu odeio saber que eu não estou mentindo.

Ela apenas assente com a cabeça e coloca uma blusa que não melhora muito, mas precisamos ir rápido. Misty pega umas roupas e corremos para o quarto dela. Assim que sumimos na passagem atrás do espelho que fizemos para podermos nos ver sempre, ouvimos Rudy abrindo a porta.

Eu abro a passagem que dá para o túnel e ela entra junto de Pikachu, que já nos esperava lá em baixo. Assim que eu fecho a passagem, conseguimos ouvir um grito.

— NÃÃÃÃÃOOOOOOOOO! GUARDAS! ACHEM A MINHA ESPOSA! EU A QUERO AQUI COMIGO, VIVA OU MORTA!

Nós nos olhamos e suspiramos aliviados. Eu a puxo e a abraço bem forte. Ela retribui e começamos a ouvir uns tiros. Nós nos olhamos preocupados e eu seguro sua mão. Pikachu pula no meu ombro e saímos do túnel de mãos dadas, correndo como loucos pela floresta, enquanto ouvimos tiros passando de raspão por nós, junto de gritos desesperados.

É o nosso fim!

Continua…