– Alô? - Atendi o telefone como um zumbi. Consegui ver pelo canto do olho o vulto de Peter levantando a cabeça na cama ao lado. - Aconteceu algo, mãe?

– Sim! - Minha mãe falou, exultante, do outro lado da linha. - Você nem imagina o quê.

– Mãe, você está me ligando às cinco e sete da manhã, espero que seja realmente importante ou senão vou eu mesma pro Brasil pra jogar suas flores no vaso sanitário. - Resmunguei. Nossa, eu sou realmente rebelde.

– Olha, se fosse em outra situação eu daria uma bronca em você por falar assim comigo, mas vou deixar passar agora. E você não vai precisar vir pra cá, nós mesmos vamos praí!

– Oi?

– Isso mesmo! Seu pai conseguiu uma vaga em uma das faculdades daí, e eles pagam muito melhor do que a em qual ele trabalha agora. Acabamos de ler o e-mail! - Conseguia vê-la saltitar do outro lado da linha. E sim, meus pais acordavam cedo demais.

– MENTIRA! - Exclamei super animada, já acordada e dando um salto da cama. - QUANDO?

– Daqui à duas semanas. Vamos ficar perto de você, meu amor!

Eu dei uma bela pirada, conversamos mais um pouco e depois desliguei. Seria ótimo ter meus pais aqui! Peter ficou feliz por mim, ou seja, bufou algumas vezes. O que era um belo avanço, já que ele geralmente não emitia sons antes das seis horas da manhã.

Tomei um banho e recebi uma mensagem de Star quando já estava me arrumando, que dizia que eles fariam uma reunião depois da escola para receber Wayne, que estava voltando do Kansas. Mencionei que ele tinha viajado? Provavelmente não, mas agora você já sabe.

Coloquei qualquer roupa e peguei minha mochila.

– Bom dia, família provisória! - Cheguei animada na cozinha, onde panquecas deliciosas me esperavam junto com Sadie, Hudson e Lola. - Como vão todos?

– Bem, querida. - Sorriu Hudson. - Algum motivo para estar tão feliz?

Contei sobre meus pais, e eles disseram que seria ótimo conhecê-los. Quando deu sete horas, dei um beijo estalado na bochecha de cada um e eu e Peter saímos de mãos dadas, conversando sobre supérfluos.

– Aí no final do livro o Augustus morre de cancêr e...

– Oh-oh... - Ele me interrompeu, e pude ver quem vinha ao nosso encontro.

Peitos e sua Tracy... Ops, Tracy e seus peitos estavam vindo furiosos até nós. Ela estava bem irritada, ao que tudo indicava, já que provavelmente dispensara seu motorista para vir até nós (a pé, como os reles mortais!) com seus saltos-agulha.

– Sua vaca! Vou arrancar seus olhos com a unha! - Ela disse, parando na minha frente e agarrando meus cabelos, mas Peter foi mais rápido e a segurou.

– Não ouse tocar nela, Tracy. - Ele mandou, sério, a soltando.

– Vocês são ridículos! Viram o que fizeram na minha parede, no meu quarto, nas minhas coisas? Eu estou de castigo até a faculdade, sabiam? Meu pai teve que ir no colégio saber o que tinha acontecido com a baleia ruiva e eu estou sem celular, sem Ipad, eletrônicos, e tendo que dormir no porão até ano que vem. Sem falar que passarei as férias com minha avó, no interior, ao invés de ir pra Roma! - Ela deu um chilique. Me segurei pra não rir.

– Bem feito, Barbie siliconada. Você quase faz alguém se matar! Isso é o de menos que seus pais poderiam fazer. - Falei sério.

– Eu te odeio, Celina Gusmão! - Tracy exclamou, irritada. - E você também, Peter!
– Poxa... Que pena. Tchau, Tracy! - E saímos rindo como as pessoas mais felizes do mundo. Eu nunca gostei de vinganças. Mas aquela ali... Foi meio que merecida.

****

Ok, quando eu disse reunião eu não achei que seria algo assim.

– Uhu! - Gritou Star. Tipo, totalmente bêbada. Sim, a Star! - First I was afraid...

E então começou a cantar I will survive junto com um Wayne bêbado também.

– Eles com certeza não são como eu imaginei. - Disse Peter, no meu ouvido. Eu ri.

– Não são, definitivamente.

A casa de Star e Michael estava livre de adultos, segundo eles, pois tinham ido em uma convenção de colecionadores de tampinhas de cerveja em Connecticut. E agora eles e Wayne estavam tão bêbados que provavelmente não conseguem ver um palmo à sua frente.

– Que tal irmos para o andar de cima? - Ele convidou, e mesmo não tendo dito nada demais achei a pergunta meio insinuante.

– Ahn... Tá. - Respondi. Afinal, a gente só ia ver algumas coisas lá em cima. Perguntamos para Star se tudo bem e ela disse "nhanhanha". Acho que podemos considerar como sim.

Subimos e fomos para o quarto de hóspedes assistir TV.

– Você é tão linda concentrada assim. - Ele disse, do meu lado, e eu o encarei sorrindo.

– Não mais que você. - E o beijei.

No início foi um beijo calmo como os outros, mas depois ficou mais rápido e... quente, pode-se dizer? Eu fiquei apreensiva. Não queria aquilo ali, nem naquele momento, seria a primeira vez e eu não estava preparada ainda. Ele era meu namorado e eu o amava, tudo bem, eu só... Queria que fosse depois do casamento. Pronto, falei.

Eu sei que parece meio arcaico, mas tanto faz. Eu tenho essa convicção para mim e queria que fosse só depois dele ser realmente meu.

Suas mãos, que antes estavam na minha cintura, desceram para minha coxa que repousava na cama de casal e senti uma corrente elétrica. Ele beijou meu pescoço e criei coragem para parar ali.

– Peter, não. - Consegui dizer, e ele parou.

– Fiz... Fiz algo errado, pequena? - Peter perguntou, receoso.

– Não, não. - Me apressei em dizer. - É só que... Não é o lugar nem o momento, entende?

– Entendo. - Ele sorriu, mas eu sabia que estava frustrado. - Como você quiser, meu amor.

Ele me deu um selinho e voltamos a assistir TV.