12 anos em 12 escrita por 12 anos em 12


Capítulo 7
O Mirante!


Notas iniciais do capítulo

PAULA = Paula narra.
VITOR = Vitor narra.



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VITOR

Leo entra no carro:- Vitor, você sabe quem vai estar na Festa?

Entro também no carro:- Os mesmos da época. Legal esta iniciativa do Eduardo.

Leo:- Sim.

Estamos a caminho de uma festa promovida pelo Eduardo Araújo, um Leilão em prol do Hospital de Câncer de Barretos. O encontro ficou marcado para ser em Belo Horizonte. Só de pensar em reencontrar todos, quando digo todos, é... todos.

Leo:- Sabe se a Paulinha vai?

Não sei porque Leo me incomoda com estas perguntas:- Não.

Tatianna está indo conosco:- Cláudia entrou em contato com você?

Começo a conversar com Tati sobre os processos do divórcio. Não foi dada entrada ainda, provavelmente se iniciará daqui um mês. Resolvemos ir tirando aos poucos as coisas, resolvendo com calma. Nem a mídia, nem a minha família, sabe ainda. Poucos, como Leo, Tati, minha mãe e irmã sabem.

A maior parte do caminho vou calado, pensando no que posso encontrar lá. Pensando que foi nesse tempo que tudo era pouco, mas em mim, pouco era muito. Leo e Tati conversam o caminho inteiro, são entrosados e admiro-os por isso. E pensar que um dia falei que eu seria como ele é com a esposa, que estaria ela onde estivesse comigo. Isso é impossível, e eu sabia. Quarenta minutos depois, com o tempo fechado, chegamos no local do evento. De entrada sou recepcionado por gente que não via a anos, e que no momento que vi senti o conforto de um tempo que não volta.

Collete:- Eu não posso acreditar, Vitorino. Como vai?

Collete vem me abraçar, mesmo sabendo que por anos perdi contato com ela devido a correria. Logo me leva para dentro, vou reencontrando o pessoal dos bares em que eu e Leo cantávamos. Vamos tomar uma bebida e aproveito para perguntar sobre Eduardo:- Onde ele está?

Collete da uma procurada por ele, até o encontrar em um grupo com algumas pessoas:- Ali, vamos lá.

Não consegui enxergar quem estava com ele, a casa estava cheia para o leilão. Leo e Tati vem com a gente. No caminho vou parando para falar com algumas pessoas até chegamos ao pequeno grupo. Quando me aproximei mais, era ela. Estava linda...

Leo e Tati se aproximam dela:- Paulinha.

Não sei o que faço. Se vou ou recuo, já cansei de bancar de... não vai dar:- Olá Paula.

Ela sorri gentilmente, e para os outros ainda somos os melhores amigos de 13 anos atrás, ou acreditamos que para eles seja assim. Conversa vai, conversa vem e evito de olhar para ela, como sei que ela evita de me fitar. Nós dois sabemos dos nossos problemas, do quanto a gente tem para falar um para o outro, só de pensar, acabo desistindo de começar, porque no fim não sei se valeria a pena tentar.

O leilão começa, trouxe pra leiloar um dos meus violões, não tenha nada mais interessante pra esse evento do que isso. Vim com o intuito de arrematar algumas coisas e já me interessei em duas, um anel de pérola, ofertado por uma empresária sócia de Eduardo e, um violão. Não sei porque um anel, mas me chamou a atenção e para algo deve servir depois, talvez dê em minha mãe.

Meu violão é arrematado por 60 Mil reais, um bom preço visto que é um dos primeiros que comprei e essa quantia vai ajudar muito ao Hospital. Chegou a vez do anel, o preço inicial é de 30 Mil reis. Como quero comprar anonimamente, escrevo na cartilha minha oferta, 38 mil reais, mas infelizmente alguém cobre. Não desisto e fecho a compra por 45 Mil Reais. Passado algumas doações, inclusive o figurino da Paula que custou para a compradora 32 Mil reais, chegou a vez do violão que me chamou a atenção. O lance inicial é de 50 Mil reais, cubro três vezes, mas tem alguém lutando comigo, até desistir e eu adquirir por 75 mil reais.

Depois que o leilão termina começa uma sessão de fotos com o pessoal da Companhia acompanhado de mais um coquetel.

Eduardo:- Vem Vitor, vamos tirar uma eu, você, Leo, Tati... vem você também Paulinha.

Fico do lado de Eduardo, do mesmo lado que a Paula.

Eduardo pergunta:- Cadê os parceiros de vocês? chamem eles se quiserem.

Tanto eu quanto Paula negamos com a cabeça. Henrique não está aqui? Estranho.

O coquetel começa e resolvo ir pegar uma bebida, encontro Paula no mesmo local e resolvo aproveitar a ocasião. Na verdade, eu já pretendia tentar falar com ela aqui:- Paula.

Ela se vira surpresa para mim:- Você, oi. Vitor preciso ir ali...

Interrompo ela:- Você não precisa, você quer. Recebeu o meu recado? O que tinha para me falar?

Paula olha para os lados e se aproxima:- Por favor, aqui não.

Fico estranho sempre que estou perto dela:- Pode ser em um local perto daqui, podemos nos falar lá e eu...

Ela me interrompe sorrindo para as pessoas que passam e mal desconfiam dos nossos atritos:- Vitor, não insiste.

Sorrio para ela gentilmente quando vejo alguém passar, levo a bebida a boca:- Não sei mais o que fazer, mas vamos fazer um acordo. A gente conversa hoje e depois prometo não te procurar mais. Mas temos pendentes para serem resolvidas logo.

Paula me afasta para um canto reservado:- Tudo bem, nós nos falamos e depois você não me procura mais. Você sugere algum local?

Aprovo com a cabeça enquanto coloco o copo na bancada:- Vamos. Você tem que avisar alguém?

Paula nega:- Aviso no caminho. Onde é? Vai indo que chego lá.

Pego no braço dela que já ia saindo e percebo que ela se retrai:- Desculpa. Mas não, eu estou sem carro.

Paula se afasta de mim:- Tudo bem, pode vir no meu carro.

Seguimos juntos pela porta do fundo com o intuito de retornar a festa.

PAULA

Enquanto saímos rumo a meu carro, meu coração pula com cada passo. Não consigo acreditar que Vitor está logo atrás de mim, de não saber onde vai terminar.

Entramos no carro, ele me pede licença:- Sim. Onde você quer ir?

Vitor:- Vamos no mirante.

Olho para ele abismada:- Vitor não começa...

Ele me interrompe sem me olhar:- Já te fiz algo que você não quisesse:? Que não me permitisse? Eu mal te toco, então por favor.

Respiro fundo e coloco o cinto, não posso negar o que ele acaba de dizer. Vitor sempre me respeitou, nunca fez nada sem que eu permitisse a ele, ás vezes irritava a moleza dele. Vamos calados o caminho todo, o som dessa vez vai desligado:- Vitor eu...

Ele me olha e desisto de falar: O tempo está fechado.

Concordo com a cabeça enquanto cruzo as ruas. Depois de 20 minutos chegamos ao Mirante. Vitor desce do carro e passa um cartão na portaria:- O que é isso?

Ele para e se vira para mim indicando que eu ande:- Um cartão.

Evito olhar pra ele e sigo. Quando olho pra Vitor, me perco inteira. Caminhamos até a parte alta do Mirante, me impressiono com tamanha beleza:- Caramba...

Vitor vem logo atrás:- Sim. Belo Horizonte aos nossos pés. Aos pés do vento.

Foi isso, foi isso que Vitor disse na primeira vez que estivemos aqui, fico calada.

Ele fica longe de mim, e quando se aproxima não sei como agir:- Paula eu preciso te explicar uma coisa, a gente tem tanto para conversar.

Está ficando frio e eu entrelaço os braços:- Vitor eu só te devo uma coisa, desculpas por naquele dia ter te chamado de covarde, eu peguei pesado por mais que...

Ele me interrompe:- Covarde ainda foi pouco, me mandaram me tratar, me chamaram de desequilibrado, está...

Me próximo dele, ele se vira em susto:- Quem falou isso para você?

Vitor:- Não importa. Paula me responde, porque depois do que houve entre a gente você foi dizer aquelas coisas? Tudo bem eu merecia cada palavra, mas que cobrar o que você sabia que eu não podia, eu...

Interrompo ele:- Você se casou, você me iludiu e me fez uma vida inteira praticamente esperar por você e quando eu me canso você vai e mata tudo que havia entre nós.

Vitor:- Não foi...

Continuo:- Vitor, por favor. Você me procurava quando alguma mulher não entendia quem você era, não compreendia seu monte de mania. E quando você explodia nenhuma sabia lidar com você. Você ...

Vitor:- Eu...

Me irrito com ele:- Não terminei ainda! Você me fez amar você e foi embora.

Ele se assusta e se afasta:- Não fui embora, nunca fui embora.

Me viro para frente:- Isso porque você nunca esteve comigo.

Vitor vem perto de mim com um velocidade que me faz recuar:- Eu estive com você em todos os momentos da sua vida, os piores principalmente. Eu vivia em desespero quando sabia que você tinha mais uma crise, eu vivia dia e noite para você, para que você não se sentisse sozinha mesmo que eu estivesse longe, eu fiz, eu te dei o que eu tinha. Você mudou, você...

Está começando a ventar:- Só eu mudei? Vitor você também se transformou, tudo que a gente planejou, ah... tudo que a gente planejou você não deixou de viver, claro... Cláudia está te proporcionando tudo. Mas eu estou...

Vejo ele tirando a jaqueta do terno:- Toma.

Me nego a pegar e ele se aproxima e coloca em mim:- Tudo que eu temi era te perder e isso aconteceu. Não pensei que você iria embora, e se envolveria com alguém daquele tipo, eu...

Balanço a cabeça, me negando a acreditar:-Vitor você não...

Ele me interrompe mais uma vez:- Não tenho o direito de falar dele? Pois eu tenho sim. Você se vendeu, eu acompanhei as confusões que seu namorado geravam até na sua carreira. Paula você comprometeu...

E interrompo ele:- Quem é você para dizer algo Vitor? Você que comprometeu tudo, sua vida, sua carreira, perdeu muito que...

Vitor:- Paula estou preocupado com você...

Tiro a blusa dele de mim:- Vamos embora.

Vitor não pega a blusa:- Vai você, eu vou ficar aqui.

Vejo que o tempo está para chover:- Vitor vai chover.

Ele se vira para mim:- Você...

Ele respira e se vira novamente sem me responder. Não posso deixar ele aqui:- Precisamos voltar ao leilão.

Ele não responde. Odeio quando Vitor me deixa se ter o que falar. Vou até ele.

Vitor:- Volta para festa Paula.

Fico calada e sento na beirada do corre mão.

Vitor:- Você nunca me perdoou?

Está começando a chover:- Por que você pergunta tanto isso? Por que eu te perdoar te incomoda tanto?

Vitor ainda não olha para mim:- Fiz tudo errado Paula. Perdi a confiança, me perdi jogando tudo pro alto. Criei um mundo meu e fui me sufocando aos poucos, achava... tinha esperança que eu pudesse ficar bem. E fiquei, não vou

mentir. Mas todo dia é um dia, eu fui ficando sem saída, me via fazendo coisas que não me deixavam respirar, entende? Problemas acumulavam, até eu perceber que passei a vida toda me contentando com um bem que eu criei mas que não existia, deixei a felicidade para me acostumar as coisas, porque era mais fácil. Penso que lutei tanto tempo por algo achando que me completaria, e no fim quando conquistei, nada era como eu pensava. Depois disso tudo foi ficando vazio, eu fui me deixando ficar vazio. Me tranquei sozinho em mim e me perdi nesse vazio todo. E você era minha única porta pra retornar a algo que me preenchesse de verdade. Paula eu perdi a oportunidade de estar com você, eu deixei você ir, mesmo querendo que você ficasse.

Presto atenção em cada palavra, ele continua:- Eu me ceguei de raiva, me senti traído mesmo não tendo direito. Descobri da pior forma que eu tinha tudo e troquei o tudo por nada, porque meu orgulho me cegou.

Tento falar com ele:- Você não aceita que ninguém te ajude, que alguém discorde da sua maneira de viver, Vitor não é assim.

Vitor:- Você pensa que não sei?

Foi a primeira vez que vi ele admitir o próprio fracasso. A chuva começa a engrossar:- Você deixou sua terapia?

Ele afrouxa a gravata:- Estava sem tempo.

Vitor sempre precisou de mais ajuda do que eu. Ele confunde as situações, complica as coisas mais simples e pensa que resolve com uma única palavra:- Você não cresce.

Ele olha para mim:- Vamos pra li, está chovendo.

Resolvo ficar na chuva mesmo, ele me olha e ri:- Você arrematou meu violão?

Ele se senta do meu lado:- Como você sabe?

Dou risada e não respondo.

Vitor:- Sai dai Paula.

Desço e acompanho ele:- É melhor voltarmos.

Vitor:- Ainda não terminamos de conversar, e olha minha situação já estou todo molhado.

Enquanto ele se sacode, prendo meu cabelo:- Acho que já terminamos o que tínhamos para conversar. Vamos.

Vitor:- Paula como vamos voltar nessa situação? Vou pro Hotel, não vou voltar.

Estou toda molhada:- Tenho que falar com o Monteiro.

Ele me diz pra ficar com a blusa:- Pego um táxi. Vem, vamos descer.

Me seguro nele pra tirar o sapato:- Não, eu deixo você lá. Não tem problema, eu ligo para o Monteiro vim de táxi, ele não vai se importar. Vitor você está...

Ele me segura:- Com frio? Um pouco.

Descemos e vamos em direção ao carro. No caminho a chuva piora, aviso o Monteiro que preciso ir, tive um problema. Vitor faz o mesmo com o Leo:- Que Hotel você está?

Ele não ouve:- Vitor, que Hotel você está?

Vitor:- Oi, desculpa. No Londom.

Olho para ele:- Você está de brincadeira? Vitor é muito longe daqui.

Vitor:- Você tem uma ideia melhor? Se eu for pra casa da minha tia é mais longe ainda.

Paramos no semáforo, a fila de carros está enorme. A chuva está piorando, na verdade, está uma verdadeira tempestade.

Vitor:- Quer que eu dirija?

Mal consigo escutar ele, tenho medo de dirigir nesse tempo:- Como vai fazer? Você vai descer?

Vitor vai para o banco de trás:- Passa pra cá, rápido.

Eu não sei se dou risada ou me irrito com a situação:- Pronto.

Vitor:- Fica quieta aí.

Ele passa para o banco do motorista, coloca o cinto:- Não vamos sair daqui tão cedo.

Vejo ele se arrumar, fechar a gravata e passar a mão no cabelo:- É.

Vitor bate a mãe no volante:- Paula, onde você vai ficar?

Olho para ele:- Não tenho como voltar pra chácara nesse tempo. Vou ficar no meu flat.

Vitor:- Onde é? Te deixo lá e de lá pego um táxi pro Hotel.

O sinal abre e saímos, vou dando a ele as instruções para chegar ao prédio do flat. Enquanto Vitor vira à direta:- A chuva não para.

Ele olha para mim:- Nem vai tão cedo. Droga!

Olho para a estrada:- O que foi?

Vitor para o carro:- Essa rua é contramão, vamos ter que voltar que merda.

Jogo a cabeça para trás:- Você está brincando né?

Vitor vira o carro e seguimos por outra rua:- O que você acha?

Tiro o cinto e ele me olha:- Nós vamos demorar o dobro pra chegar lá. Seu Hotel está mais longe ainda. Por que você não volta e faz o contorno?

Vitor não tira o olho da estrada:- Põe esse cinto, pelo amor de Deus. Eu sei o que estou fazendo.

Me estico para o banco de trás e Vitor me olha:- Só vou pegar meu celular.

Vitor:- Anda logo Paula e coloca esse cinto.

Volto ao meu lugar e coloco o cinto:- Vou ver pelo gps uma estrada mais perto.

Vitor não responde, não tira os olhos da estrada. Ele vira uma avenida e um carro avança:- Vitor cuidado!

Ele não me olha:- Mais cuidado? Quem tem que cuidar são... (tosse) estes caras.

Ele está tossindo muito. Pergunto:- Faringite de novo?

Não me responde. Encontro uma rua que pode ser mais perto:- Vitor acho que pela Rhaas você pode ir direto e chegar mais rápido.

Vitor me olha:- Quem está dirigindo?

Desligo o celular:- Nós vamos demorar muito para chegar.

Vitor:- Não começa a me irritar.

Tento convencer ele a retornar á rua. Ele me interrompe:- Paula, por favor.

Vitor é teimoso, chega ser irritante ás vezes. Ficamos calados por minutos, até pararmos em mais um semáforo.

Vitor:- Se eu tivesse voltado a rua que você disse, pegaríamos mais chuva no caminho, está muito forte.

Olho para ele:- Não queria ter te irritado, não precisava falar daquela forma.

Vitor olha pela janela fechada:- Ta, desculpa. Esse cara da frente está...

Olho junto:- O que tem?

Vitor engata o carro:- Se segura.

O sinal abre e Vitor ultrapassa o carro da frente:- Você está maluco em fazer isso aqui?

Vitor olho para trás:- Esse carro ia fazer a gente esperar mais 20 minutos no máximo.

Olho junto:- Por quê?

Vitor ri:- Tem certeza que não viu o que ele estava fazendo?

Olho de novo:- Não.

Vitor pega o celular dele para olhar a hora:- Você mora aqui em Belo Horizonte e não sabe para onde vai aquela rua?

Me lembro e dou risada:- Meu Deus.

Ele ri:- Jajá chegamos.

Não reconheço o caminho, mas acredito no que ele está dizendo:- Por que você arrematou um anel?

Vitor continua olhando para a estrada:- Como é que você sabe o que arrematei?

Está trovejando muito e resolvo desligar o celular:- Vitor as únicas duas peças que vi você escrevendo algo naquela cartilha. O resto parecia que você estava em outro mundo.

Vitor:- E você pelo jeito também não estava nem um pouco interessada no leilão. Estava reparando o que eu estava fazendo.

Finjo que não ouvi o que ele disse, é verdade. Pergunto encima:- Você acha que deveríamos voltar pro leilão?

Vitor:- Se você quiser... você volta.

Fico me virando para olhar a estrada:- Ás vezes te odeio tanto.

Vitor:- Só ás vezes?

Continuo:- Eu estava para te matar, sem brincadeira. E agora, olha aqui, você está dirigindo meu carro. Isso é loucura. Estava esperando você aparecer com sua mulher.

Vitor continua com os olhos na estrada:- Primeiro, obrigado por não ter me matado. Segundo, estou dirigindo porque você é mole e não dirige na chuva. E terceiro... estou separado.

Não consigo acreditar no que ele diz. Separado? Vitor está separado?:- Separado?

Ele aprova com a cabeça:- Estamos chegando...

Fico calada. Quando chegamos ao prédio, ele desliga o carro:- Pronto, em casa. Como faço pra pedi um táxi aqui?

Tiro o cinto:- Vitor, fica aqui no flat, você vai demorar pra conseguir um táxi aqui.

Ele olha:- Ficar aqui? Não, acho melhor eu ir para o Hotel.

Olho para ele:- Tudo bem.

Ele fica olhando pra cima pela janela fechada:- Essa chuva não vai parar. Vou ter que aceitar ficar aqui, pelo menos até parar.

Aprovo com a cabeça e descemos do carro. Enquanto ando Vitor vem logo atrás de mim, e alguns minutos depois entramos no flat:- Entra.

Vitor:- Obrigado, vou molhar tudo..

Fecho a porta:- Não tem problema. Vou trocar de roupa, fica a vontade.

Ele agradece. Vou trocar de roupa e quando volto trago uma blusa para ele:- Não sei se vai servir, mas...

Vitor sai da janela, onde estava enquanto estive trocando de roupa:- De quem era essa blusa?

Dou risada da cara dele, provavelmente deva estar achando que é de Henrique:- Não é do Henrique.

Ele pega a blusa:- Obrigado.

Enquanto ele troca a blusa percebo que ele ainda está tossindo muito:- Vitor, você está bem?

Vitor:- Sim, esta blusa não me serve.

Vou até o banheiro e trago um roupão:- Coloca isso, sua roupa está muito molhada.

Vitor pega:- Onde é o banheiro?

Indico para ele o banheiro e ele segue. Enquanto ele se troca eu resolvo fazer algo para comer.

Vitor:- Vou sentar aqui, tudo bem?

Olho para ele e respondo que sim. Quando termino e vou até a poltrona que Vitor está, encontro ele dormindo e resolvo não acordá-lo. Como sozinha não acreditando que mais uma vez, estamos no mesmo lugar depois de tudo. Quando vejo-o dormindo, não consigo pensar nele com a mesma mágoa.

O telefone de Vitor toca e ele acorda:- Cadê?

Me levanto para pegar:- Aqui.

Ele se levanta, é o Leo. Vitor mente sobre onde está e desliga o celular:- Se eu contar que estou com você vou arrumar confusão.

Sorrio para ele. Pergunto se ele comer e ele me diz que sim. Enquanto arrumo algo, ele se senta na bancada da cozinha.

Vitor:- Paula, tem como eu ficar aqui mais um pouco? Está chovendo muito ainda, duvido que algum táxi passe aqui.

Olho para ele e concordo com a cabeça:- Aqui, pode comer. Eu vou me sentar um pouco, estou cansada.

Vitor começa a comer:- Tudo bem.

Me deito no sofá e começo a mexer no celular até que adormeço.

VITOR

Quando termino de comer e vou ver Paula, ela já está dormindo em um sofá pequeno e aparentemente desconfortável. O frio só aumenta e eu fico sem saber o que fazer. Já são 1:30h da manhã e estou sem sono, só ouço Paula se remexer no sofá, é então que resolvo acordÁ-la para que vá pra cama:- Paula... Hei?

Ela se remexe e quando me olha se senta no sofá:- Oi.

Me afasto dela e vou me sentar em uma poltrona:- Por que não se deita na cama?

Paula:- Já passou o sono.

Respiro fundo e fico calado.

Paula se levanta:- Vou aproveitar que você está aqui e entregar uma coisa.

Acompanho ela com os olhos, até retornar e me entregar um envelope. Questiono:- O que é isso?

Enquanto abro ela me responde:- É seu. Guardei aqui.

São boa parte das cartas, canções, e até partituras que eu dava a ela:- Eu dei á você. Não tem porque eu pegar de volta.

Paula me olha:- Eu conversei com você, agora cumpre o que me disse. Não me procura Vitor, vamos continuar fingindo como foi até agora. Não adianta me ligar, a gente não tem nada pra conversar mais, já ficou tudo resolvido.

Olho para ela:- Para quem? Para você? Tem certeza que ficou? Paula...

Paula:- É sempre assim. Quando nós estamos perto, um do outro é como se nada tivesse acontecido, mas você sai e tudo volta.

Vou para perto dela:- Me escuta, sem você Paula eu me desconheci e vi o quanto me condicionei a tudo. Por favor,me ajuda a voltar a viver, eu sei que te prometi não procurar mas eu também sei que você quer que eu te cuide como antes, que te proteja e que te ame como sempre aconteceu. Me deixa estar em você mais uma vez e reparar tudo que te fiz, me descobrir aí dentro de novo. Ter a certeza do teu amor para mim era a coisa mais importante, eu descobri tarde demais que eu preciso de você como sei que você precisa de mim.

Ela me olha:- Queria não sentir nada por você, conseguir estar em mim quando você está perto...

Me aproximo mais e quando a toco ela corresponde:- Só mais uma vez...

Quando a trago pra mim é como se ela me confiasse tudo que eu mais necessitava. A noite passa e a única coisa que consigo fazer é acaricia-la cada vez mais. Com Paula sinto uma paz incomum, mesmo ela sendo a mulher que mais me tira do sério.

Ela sorri quando abre os olhos:- Se fosse fácil, estaria de odiando agora....

Rio dela e a envolvo:- Você tem certeza que queria me odiar?

Ela entrelaça os braços em mim:- Não. Quero mesmo é te amar, talvez você não merecendo tanto.

Quando estou com Paula nos braços me recordo de algo que me incomoda.

Ela percebe:- O que foi Vitor?

Me sento na cama:- Você e Henrique.

Ela vem para perto:- Já faz algumas semanas que eu e Henrique não estamos mais juntos.

Não sabia que ela havia se separado, não posso negar que isso me deixa feliz, mas ao mesmo tempo me incomoda pelo fato que... ela pode estar triste com isso, que ela pode realmente gostar dele. Me levanto da cama e volto a colocar o roupão.

Paula me observa:- Onde você vai Vitor?

Me viro para ela:- Tomar um banho.

Paula passa a mão no pescoço como se estivesse incomodada e sinto ela me observar enquanto saio.

No banheiro repenso sobre o que aconteceu, também não disse a Paula que não me divorciei no papel ainda. Assim que termino e retorno vejo que ela está sentada na cama como a deixei.

Ela não me vê chegar até que a chamo:- Paula...

Ela me olha:- Não consigo entender você.

Vou até ela:- Você sente falta dele?

Paula:- Não estaria aqui se não sentisse falta de você. Você diz que sente falta do meu amor e não consegue acreditar nele, que estou aqui porque...

Interrompo ela:- Desculpa. Paula eu só me senti incomodado com o fato de pensar que você poderia estar sentindo falta dele mesmo e estando aqui...

Envolvo ela:- Tenho medo de acabar deixando você ir, eu preciso de você e quero te proteger.

Paula:- Não sou mais uma menina de 17 anos.

Olho para ela:- Pra mim sempre vai ser a minha pequena, a minha mulher.

Ela fecha os olhos enquanto a beijo:- Você é a única que pode me devolver...

PAULA

Quando acordo Vitor ainda está entrelaço em mim, mas já acordado:- Bom dia.

Ele se estica e deita novamente:- Dia bom.

Rio e me deito nele:- Como vai ser agora?

Sinto ele colocar uma das mãos sobre meu corpo e outra em meu cabelo:- Tenho que resolver umas coisas aqui em Belo Horizonte ainda.

Me levanto e ela me pergunta o que houve. Respondo:- Quando você sair vai voltar a ser como antes. Vitor é...

Ele se senta:- Em um dia nos desentendemos o equivalente a um mês. Paula, depois que eu sai daqui vou passar no Hotel, recolher minhas coisas resolve uns problemas com um imóvel que tenho aqui e retornar para a Uberlândia. E tudo isso eu vou ligar para você, nós vamos nos falar. Queria que você viesse comigo para Uberlândia.

Vou ao lado dele:- Vitor, tudo no seu tempo.

Ele se levanta:- Você está certa. Vamos deixar as coisas acontecerem ou...

Me cubro:- Vamos falar sobre isso depois. É muito cedo para tomarmos uma decisão, vamos cada um pensar no que aconteceu e depois aos poucos...

Ele começa a se trocar:- Tudo bem.

Vou para o banho e quando saio Vitor está pronto para sair. Vou até ele:- Sua roupa ainda está molhada.

Vitor sorri:- Vou para o Hotel e lá me troco.

Sorrio para ele:- O que você tem para resolver aqui?

Vitor:- Tenho que ir no imóvel que tenho aqui. Vem comigo Paula, você pode até me ajudar com algumas coisas.

Penso no que ele propõe. Tenho medo de ser muito cedo para já me envolver de novo, ainda com Vitor, que vai ser uma relação muito complicada, muito delicada. Resolvo negar o pedido:- Vitor, é melhor não. Calma...

Ele me abraça:- Tudo bem, fica bem.

Amo quando Vitor me abraça, é sempre aconchegante:- Fica mais um pouco?

Ele me olha surpreso:- Tenho que ir, o Hotel já ligou porque minha reserva expirou. A gente vai se ver de novo, eu prometo.

Sorrio para ele e o levo até a porta. Vitor me surpreende com um beijo e vai. Termino de organizar minhas coisas e vou para a casa.

Ao chegar sou recepcionada não só pelo Flokinho, mas como também por uma chuva de perguntas.

Cintia:- Como foi?

Cumprimento ela e todos que estão na cozinha:- Muito bem. Mãe, preciso falar com você.

Ela se levante e me acompanha até o quarto.

Dulce:- Já sei...

Me sento com ela:- Monteiro te contou?

Dulce:- Me disse que deram falta de Vitor na festa no momento que foi para ele e o irmão se apresentarem, e que você também havia saído.

Concordo com a cabeça:- Estava com ele. Nós saímos para resolver tudo.

Dulce:- Resolveram?

Olho para ela:- Nós passamos a noite juntos, de novo. Mãe, Vitor está todo enrolado, eu não sei como fazer.

Dulce:- Ele está casado...

Interrompo:- Não, ele não está casado. Se separou de Cláudia, não conversamos muito sobre isso eram tantos problemas. Ele quer se encontrar de novo, quer que conversemos sobre isso.

Dulce:- E você quer?

Olho para ela de uma maneira que ela sabe tudo que quero dizer.

Dulce:- Paula, você tem que sentir, confiar nele e se estar com ele é o que você quer, se entrega. Deixa as coisas acontecerem mas saiba que vai ser muito mais delicado. Vitor já foi um homem casado, e por mais que seja uma ótima pessoa, ele é todo complicado. Não deixa ele te jogar na vida dele. Vocês se conhecem já o bastante, mas não vivem juntos e precisam estar prontos para entrar em uma relação, não vai ser fácil.

Penso no que ela disse, é tudo muito delicado, mas estar com ele, a ideia de ser a mulher dele me preenche de uma maneira única. Eu e mamãe conversamos sobre o que houve até meu celular tocar.

VITOR

Resolvo meus problemas com uma chácara que tenho aqui em Belo Horizonte e vou á caminho de Uberlândia. No trajeto resolvo telefonar para Paula:- Oi.

Ela me atende, um progresso:- Oi Vitor.

A voz dela me agrada:- Estou á caminho de Udia. Seria bom se você quisesse vir...

Paula me interrompe:- Vitor, vamos com calma...

Rio dela:- Falei para brincar com você. Paula, devemos conversar novamente, resolver nossa relação de agora para frente.

Paula:- Sim, eu concordo. Quero muito falar com você sobe nós dois... a partir de agora. Não quero que tudo volte a termos que fingir.

Ela está certa:- Marque um dia e o local, farei o impossível para te ver novamente e conversarmos.

Sinto ela sorrir:- Também quero te ver. Logo!

Tenho que desligar o celular por estar entrando no avião:- Paula tenho que desligar, quando pousar em Udia te telefono novamente.

Paula:- Tudo bem. Me telefone sim, esse tempo fico preocupada.

Me despeço dela com o coração carregado, Paula me preenche.

Horas depois pouco em Uberlândia e vou direto para meu apartamento. Diva me recepciona e logo me indaga:- O que foi que BH te fez?

Rio dela:- Nada do que em breve você não poderá saber.

Diva ri:- Você está mais feliz. Tenho até medo de dizer o que você vai enfrentar agora.

Me viro para Diva:- O que foi Diva?

Diva:- Seu advogado ligou aqui, teve que viajar. Sua mãe que sabe tudo certo, ele falou com ela. Ela pediu pra você entrar em contato quando chegasse.

Parece que quando as coisas resolvem de um lado, o outro insiste em atrapalhar. Nem termino de arrumar minhas coisas e vou para a casa de minha mãe. No caminho ligo novamente para Paula, avisar que cheguei bem.

Paula:- Que bom que você ligou.

É maravilhoso ouvir isso dela:- Para avisar que cheguei bem.

Paula:- Vitor, você vai ter quantos dias de folga?

Paro no sinal:- Só tenho shows no final de semana.

Paula:- Sei.

O sinal abre e avanço:- Por que você está perguntando isso?

Paula:- Nada.

Não êxito para responder:- Você vem para cá?

Paula:- Vitor, por favor...

O transito está me atrapalhando, mas não quero desligar:- Era brincadeira. Paula sobre o que aconteceu ontem...

Paula:- Sobre o que aconteceu ontem, foi ontem. Já disse, deixa as coisas se acertarem com o tempo.

Enfim chego no meu destino e paro o carro para terminar de conversar com Paula:- Não farei nada que você não quiser.

Paula:- Eu sei que não. Mas o melhor que nós temos a fazer é isto. Tenho que desligar, preciso resolver uns problemas, fique bem...

Me despeço dela e sigo. Minutos depois já estou aguardando minha mãe para conversar.

Marisa:- Que bom que você chegou.

Cumprimento-a vou direto ao ponto:- O que Ricardo falou com você?

Marisa:- Ele não vai poder te representar, teve que fazer uma viagem e só retorna daqui 3 meses.

Não sei como reagir:- Não posso esperar três meses. Mas Ricardo me representa em tudo e não tenho como arrumar outro.

Marisa:- Porque não pode esperar três meses? Filho, você já esperou até aqui o que tem ficar mais 3 meses?

Olho para ela e resolvo contar sobre mim e Paula, mas logo desisto:- Vou tentar falar com ele. Alguma novidade? Boa...?

Ela ri:- Nenhuma e você?

Nego com a cabeça.

Marisa:- Vem, tem seu doce aqui.

Como enquanto conversamos.

Marisa:- Você está diferente.

Mas já?:- Diferente?

Marisa:- O que aconteceu?

Olho para ela:- Nada. Está tudo bem.

Ela desiste de perguntas e conversamos sobre outras coisas:- Mãe, tenho que ir.

Marisa:- Já?

Me levanto e vou até ela me despedir:- Vou resolver outros problemas.

Marisa:- Tudo bem, vai lá. Não suma, dê ao menos noticias por estes dias.

Aceno com a mão enquanto saio, confirmando que a manterei informada sobre mim.


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