12 anos em 12 escrita por 12 anos em 12


Capítulo 55
Capítulo 53




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Continuam suas rotinas, sem deixar que ninguém saiba sobre a separação. Estaria tudo normal se não fosse a falta que um sente do outro... Se pegam chorando volta e meia, revendo todas as fotos, as mensagens, sem coragem para apagar dali o que não apagavam do coração.

– Leo, você tem certeza que ele não estará aí no momento em que eu for?

– Tenho Paula... - se entristece pelo irmão. Só estou te pedindo para vir, porque realmente não tem como buscarmos a Vitória...

– Tudo bem... - respira fundo. Levarei ela aí...

– Ótimo! Traga ela às 20h.

– Tá... Agora preciso desligar.

– Só uma coisa antes... - se arrisca.

– Sim...

– Paulinha, Vitor está muito mal... Ele não fez nada daquilo. Dê a oportunidade dele se explicar...

– Boa tarde, Leo. - desliga.

Farão uma pequena comemoração para Vitor na casa de Leo pela noite. Pediram que Vitória fosse, pois desde o dia que saiu de casa ele não vê a filha e esse foi o único presente que pediu. Ainda não sabe de nada, pois não queria comemorações, mas Leo, com toda sua teimosia, não respeitou o pedido do irmão. Combinaram com Paula de levar a Vitória, mas ela impôs a condição de que Vitor não estivesse quando ela chegasse. Contrariando a si mesma, não queria vê-lo mesmo que a saudade estivesse crescendo cada dia mais. Ao anoitecer prepara Vitória e coloca junto dela o presente que ela havia comprado para ele anteriormente da separação; ou melhor, um dos, pois o outro ela já não poderia mostrar para ele.

– Pronto! Que linda mamãe! - sorri. Por que você tem que se parecer tanto com ele...? - termina de prender o cabelinho dela.

– Oi...- Dulce entra.

– Oi...

– Que linda! - ri. Você realmente não vai ficar na festa?

– Claro que não! - pega Vitória.

– Paula isso está ficando insuportável... O Vitor faz muita falta para você, eu estou vendo isso.

– Sempre soube me virar sozinha, mãe...

– Você esqueceu o papo do divórcio, né?

– Não... Só pedi que não mandassem nada hoje, por conta do aniversário.

– Está vendo!? Você ainda se preocupa com o bem estar dele.

– Ele é o homem que eu amo! - se arrepende ter dito. Ele é o pai da Vitória...

– Quero ver como você vai fazer sem ele. Paula...- se aproxima. Já pensou no estrago que vai causar na vida do Vitor?

– Estrago!?

– Ele vai perder tudo com o divórcio! Tudo que ele ergueu com o suor dele, ele vai perder...

– Eu...

– Não tinha pensado nisso! Eu sei... Você não tem pensado em nada! Minha filha...

– Mãe, eu deixo tudo para ele..

– Paula! Não é só isso... Coloca nessa sua cabeça!

– Não quero falar disso...

– Mas vai! Você não tem pensado nas coisas que tem feito e vai se arrepender amargamente depois. Não é só o dinheiro, mas é você, a Vitória, o lugar de vocês... Vitor vai perder tudo, Paula!

– Ele já me perdeu quando fez aquilo!

– O que ele fez? Porque você não o deixou dizer... Vocês juraram compreensão, amor, fidelidade... Essas coisas não são brincadeira.

– Mas, parece que para ele foi...

– Para você também está sendo... Ser fiel não é só trair, Paula. Não é só traição de corpo... É traição de confiança também. Ele não te deu motivos antes...

– Você deveria estar do meu lado!

– E eu estou... Por isso estou dizendo tudo isso. Você está sofrendo não pelo que aconteceu, mas sim pela falta que ele te faz.

– Você acha eu deixar da minha casa alguém que...

– Alguém que? Não diga sem saber o que houve... Não te ensinei a ver a vida assim.

– Preciso ir...

– Tem mais uma coisa...

– O que?

– Com o divórcio, Vitor terá direito de entrar na justiça pela guarda compartilhada! Será uma guerra, Paula... E você vai perder a Vitória! - sai do quarto.

– Isso não vai acontecer...- segue ela.

– Não? E por que...? Pensa que ele se contentará em ver Vitória quando você achar "legal"? - faz com a mão. Não se iluda! Porque ao menos pela filha ele vai brigar... E você vai perder!

– Por que tem tanta certeza que eu perderia...?

– A agenda de shows do Vitor, é mais tranquila que a sua. Com a guarda compartilhada os dias que você poderá ver Vitória, ela estará com ele. Sem esse contato com a mãe, devido ao seu trabalho, não haverá nada a seu favor...

– Vou procurar um advogado para me informar...

– Você vai mesmo! Mas, é pra cancelar o divórcio!

– Mãe...- tenta argumentar.

– CHEGA! VOCÊ NÃO ENXERGA O QUE ESTÁ FAZENDO? Com a tua vida, Paula... Olha o quanto você já tentou esquecer o Vitor e não conseguiu. Não estou te pedindo para perdoar... Deixar por estar o que houve. Estou te pedindo para falar com ele...

– Preciso ir...- sai chorando.

NA CASA DO LEO...

– Leo...

– Poxa Vitor...

– Te falei que não queria comemoração nenhuma!

– Você é um mau agradecido... As crianças estão super animadas com seu bolo!

– Estou longe de enfrentar um ótimo momento da vida para comemorar!

– Olha... Se não quiser, vá embora!

– Eu vou... - sai da sala e Antônio vem ao seu encontro.

– Tio... - o abraça.

– Oi...- se abaixa para conversar com ele.

– Vamos cortar seu bolo? - observa a animação do sobrinho.

– Não Antônio, vem...- Leo o chama.

– Por que? - é puxado pelo pai.

– Tio Vitor não quer comemorar com a gente, está indo embora.

– Não faz assim Leo! - se levanta.

– Não é verdade?

– Vamos cortar logo, tio Vitor! - Matheus chega de chapéu.

– Filho...

– Já nós vamos! A vovó não chegou ainda...- olha para Leo.

– Aê... Agora vão comer os docinhos! - Leo comemora.

– Nunca mais faça isso! - senta no sofá.

– Quer beber algo?

– Um uísque, sem gelo...

– Não...- pensa na Vitória. Isso não... Vou buscar um suco para você! - sai.

Leo se retira, restando apenas ele na sala. A campainha toca algumas vezes e ele observa dos lados, aguardando algum funcionário atender. Não aparece ninguém, o fazendo se levantar e ir até porta. Ao abrir era ela... Relutando em segurar Vitória e procurar algo na bolsa. De cabeça baixa, ainda não o viu, dando a ele alguns minutos para matar toda a saudade, mesmo de longe.

– Achei...- levanta a cabeça e evita entrar.

Não pensou que ao vê-lo, depois de alguns dias, a faria reagir daquela maneira. O coração acelerou novamente ao olhar diretamente nos olhos que ela tanto ama. Não sabia o que dizer, se iria para frente ou retornasse para casa. Não estava preparada para o ver de novo. Não estava preparada para sentir uma vontade enorme de abraçá-lo.

– Boa noite... - ele fala, se aproximando para ajudá-la.

– Não precisa...- desvia os olhos. Leo está aí?

– Está...- se segura para não chorar ao vê-las. Me deixe pegar ela... Por favor!

– É melhor eu ir embora... - se afasta e Leo chega na porta.

– Paula! - sai em direção a ela. Vamos, entre...- a puxa.

– Não Leo...- tenta argumentar, mas é impossível.

– Ajude aqui, Vitor... - entrega uma bolsa para ele. Vamos entrando...- os coloca para dentro e fecha a porta.

– Preciso ir, Leo.

– Claro que não! Nós combinamos que você viria...

– Não começa, Leo... Combinamos da Vitória...- desiste ao ver a reação de Vitor.

– Vou buscar uma bebida para você, Paula... Com licença. Fique a vontade...- sai.

Leo se retira e Paula entende o jogo dele. Se disser que não gostou de ver Vitor novamente, estaria mentindo. Mas, reluta contra esse sentimento. Evita olhá-lo, pois sabe que ele estará olhando diretamente para ela. Segura com mais força a filha, quando ela se joga do colo, tentando se livrar das mãos dela, sorrindo e fazendo careta para Vitor. Sente um conforto, uma sensação que se tornou desconhecida nos últimos tempos... Parecia que nada havia acontecido estando com ele e Vitória juntos.

– Me deixe pegá-la...- se aproxima com lágrimas nos olhos. Por favor...

– Vai filha...- se aproxima dele a entrega, tentando não chorar.

– Ô meu amor...- chora. Papai estava morrendo sem você...- a abraça. E esses dentinhos já grandes? - ri. Você cresceu tanto...- a beija. As meninas estão bem?

– Sim...

– Mande lembranças.

– Aqui está...- Leo chega.

– Obrigado, Leo...

– Mamãe chegando serviremos o jantar...- se aproxima de Vitor. E você princesa? - sorri para Vitória, que corresponde com outro sorriso.

– Olha meus dentes, tio! - riem.

– Ah! - faz careta. Que dentões... Vamos comer carne!? - a pega. Vou levar para Tati vê-la, já volto... Ela está no banho ainda. - sobe as escadas.

Vitor observa Paula se controlando, não gostaria que ela estivesse obrigada a algo. Estava linda! Para ele, todos os dias ela estava linda, mas naquele momento ninguém a superaria. Era a Paula que ele tanto estava com saudades... A mulher que ele amava e estava se controlando, também, para não tê-la em seus braços.

– Você está bem? - se arrisca.

– Aham...- respira fundo e bebe mais um pouco.

– Certo...- senta-se. Sente-se...- aponta uma poltrona.

– Não, obrigado...

– Cintia gostou do carro?

– Muito. - não o olha.

– Que bom...

A campainha toca novamente e ele se levanta para atender. Dessa vez, era Marisa.

– PARABÉNS! - o abraça.

– Você e Leo só aprontam... - ri.

– Te amamos...- entra e se bate com Paula a olhando. Você aqui! - vai até ela. Que bom... - a abraça fortemente. Estava na hora, sabe!? Gente...- Vitor tenta informá-la que não é o que ela está pensando, mas Marisa não vê. Estou muito mais feliz agora! - sorri para os dois que não sabem como agir. Cadê Vivi?

– Está com Leo...

– Me deem licença, vou colocar essas coisas na cozinha e já venho buscar por ela.- sai.

De frente um para um outro e novamente sozinhos, se perdem por segundos.

– Licença...- Paula se vira e Vitor a segura.

– Não me trata assim...- implora. Como se eu fosse um desconhecido... Estou sentindo tanto a sua falta! - se aproxima dela, que não se move. Você precisa acreditar em mim... Não houve nada do que você saiu imaginando. Estava bebendo para me acalmar...

– Vitor, eu...

– Erica veio trazer os papeis de uma viagem que eu estava preparando para gente. Ela foi me ensinar algo no computador, e esbarrou na taça que estava na mesa...

– Vitor...

– Paula...- continua. O vinho caiu nela, a manchou toda e ela foi só se secar. Dei minha camiseta porque não havia toalha para ela se proteger do frio enquanto o vestido secava no jato quente do banheiro. Acredite em mim!

– Por favor...- tenta se soltar dele.

– Eu sei que você também está sentindo minha falta! Sinto isso...

– Está sentindo errado...- empurra as mãos dele.

– Paula...- a segura mais forte, se aproximando mais. Estou sofrendo tanto longe de vocês... Preciso tanto de você, de sentir o teu cheiro... - a toma para si.

– Vitor, pare...- a respiração vai acelerando.

– Acredite em mim!

– Eu te falei para parar! - o empurra.

– Me desculpa...

– Se você se aproximar de mim novamente, eu pego Vitória e sairemos daqui!

– Desculpa...- se afasta.

– Olá! - Tati desce com Vitória.

– Oi... - observa sorrindo a filha se lambuzando com chocolate. Já comendo Vitória? - riem.

– Ela adora chocolate! - Leo se aproxima.

– Sei... - riem.

– Vitor...- Tatianna vai até ele.

– Oi...

– Fizemos o seu bolo predileto! - o abraça. Parabéns cunho! - sorri.

– Obrigado... - sorri.

– Vamos jantar, pessoal? Cadê Marisa?

– Na cozinha...

– Vamos indo então...- seguem.

Leo puxa uma cadeira para Paula enquanto Tati coloca Vitória em uma cadeirinha. Todos se sentam, restando Leo e o irmão em pé ainda. Quando Vitor puxa a cadeira ao lado da mãe e de Tati para se sentar, Leo o empurra.

– Esposa errada! - senta-se. Vá sentar do lado da sua...

– Leo, por favor! - vai até o lado de Paula e se senta.

– Cadê as crianças?

– Vão comer na mesinha deles, Marisa.

– Só nossa princesinha vai comer conosco?

– Sim! - sorri.

– Esses cabelos dela estão lindos demais...- se encanta.

– Os do Vitor eram assim... Lisinhos.

– Os dos meninos também, lembra Leo?

– Sim... O de Matheus são castanhos bem escuros, os do Antônio já são loiros. Como eu e Vitor...- pisca para ele que sorri ironicamente.

– Pior...- ri. Isso é de família! O próximo filho de vocês, Paula e Vitor, será assim também.

– Mãe... - Vitor resolve falar. Eu e Paula não estamos juntos...

– Como assim? - se decepciona.

– Estão sim! Vocês podem não estar dormindo juntos, mas separados vocês não estão.

– Leo, quem te chamou na conversa?

– Pode parar Vitor...

– Gente, por favor...- Paula interrompe. Vamos jantar em paz!

– Vitor tem andado mau humorado ultimamente, isso é falta de...

– Epa, Leo! - Tati bate nele. Tem criança perto... E pare de falar besteira! É aniversário do Vitor, não vamos brigar.

A refeição chega e eles jantam harmoniosamente, por incrível que pareça. Família sempre fala mais alto e mesmo com os desentendimentos anteriores, se pegam rindo minutos depois. Após o jantar, servem um licor e Vitor fica novamente com Vitória sentados no chão enquanto Antônio e Matheus a fazem rir.

– O BOLO! - Antônio se levanta correndo ao ver a avó trazer o bolo.

– Meu Deus...- pega Vitória e se levanta rindo.

Todos cantam...

"Parabéns para você, nessa data querida... Muitas felicidades, muitos anos de vida! Hoje é dia de festa, dentro de nossas almas... O Vitor faz anos, uma salva de palmas" - batem palmas alegres ao ver Vitória bater junto.

– UHUL!!! - os meninos pulam.

– Vai lá, nego véi... Corte seu bolo!

Vitor vai cortar quando Leo empurra o bolo em sua cara.

– A cara da Vitória...- Paula ri.

– Bolo em você também...- passa no rosto de Vitória, que se diverte com a farra dos primos. É em vocês também...- passa em Antônio e Matheus. E você querido...- esfrega o resto na cara de Leo.

– A gente vai comer o que? - riem.

– Bolo! - Leo passa em Tati e Marisa.

– Gente... - riem.

– E você não pode ficar de fora! - Vitor vai até a Paula com Vitória e passam nela.

– AH! - ri.

Enquanto se divertem, um funcionário traz o outro bolo para comerem. Vitor vai cortar...

– Para quem o primeiro pedaço?? - Marisa pergunta.

– Para...- olha para Paula. Vitória...- sorri.

– Aê!

– Aqui...- entrega para Paula, junto da filha.

Terminam de cortar o bolo e se espalham pela casa comendo. Vitor se aproxima novamente de Vitória e Paula que tem trabalho para controlar as mãos da filha que querem toda hora pegar o bolo.

– Quer ajuda?

– Ah...- olha para cima e o vê. É... Ela não para!

– Filha...- se senta com elas, pegando Vitória no colo. Me dê o bolo!

– Aqui...- entrega para ele.

– Quietinha...- pega um pedaço com o dedo e dá para ela. Não pode bater aqui...

Paula o observa dominar Vitória, a fazendo comer sem fazer bagunça. Ele percebe que ela está o vendo...

– É só ir conversando... - olha para ela.

– Percebi.

– Gente, viram Antônio? - Tati aparece.

– Não...

– Começou a chover e ele sumiu! Querem apostar quanto que ele está lá fora se molhando? Aff...- sai.

– Chovendo? - Paula se levanta olhando para a janela. Preciso ir, Vitor... Eu vim dirigindo porque Elias está estudando.

– Não...

– Por favor... Vou pegar as coisas dela.

– Já vai?

– Já Marisa...

– Nesse tempo!? De jeito nenhum! Vocês dormem na minha casa...

– Não... Não precisa. Está tudo bem!

– Não Paula! - se levanta com a filha. Vocês não vão... Está chovendo e não vai parar tão cedo!

– Não mesmo! E ainda terá a hora dos presentes!

– Hora dos presentes?

– Claro! Tragam os presentes! - ri. Cadê Leo, Tati e as crianças?

– Estão correndo por aí!

– Vá chamá-los para mim, Paula?

– Tá...- sai contrariada.

Não estava gostando da ideia de ter que dormir no mesmo lugar que Vitor. Estava havendo proximidade demais que, por mais que ela estivesse no fundo gostando, não queria.

– Leo?

– Oi Paulinha? - grita da piscina.

– Meu Deus! - ri. Sua mãe está chamando todos... É hora dos presentes para Vitor!

– Hora do presente? - corre para a casa com Antônio gritando no colo. Minha mãe pensa que Vitor está fazendo quantos anos?

– Não sei...- riem. Vamos logo! Cadê Matheus e Tati?

– Estão na cozinha... Vai indo que já estaremos lá!

Paula retorna, seguida por Leo e família. Todos com os presentes em mãos... O primeiro que Vitor abre é de Leo. Sacanagem antecedem belos presentes que acabam divertindo a todos. Inclusive a Paula que se pega rindo sem querer. Resolve não entregar o que ela comprou para ele, ainda não se sente a vontade. Horas depois, as crianças já dormiram e resolvem ir para a casa. Infelizmente ainda chove e ela se vê obrigada a dormir na casa de Marisa.

– Posso dormir aqui, mãe...

– De jeito nenhum! Vamos ficar três mulheres sozinhas? Você vai com a gente... Paula dorme no outro quarto de hóspedes.

– Posso retornar para a fazenda...

– Paula, não discuta. Vamos...

Se despedem e saem. Ao chegarem, Vitor sobe com Vitória nos braços, seguido de Paula.

– Vou puxar aqui... - arruma a cama. Coloque ela...

– Ok...

– Dormiu suja de doce...- sorri.

– Sim...- sente-se desconfortável por estar em um mesmo quarto que ele.

– Fique a vontade... Qualquer coisa é só avisar. - beija a filha e se vira para a porta.

Mil e uma coisas passa na mente de Paula antes que ele saia. Era o aniversário dele, o primeiro aniversário que passariam juntos....

– Vitor...

– Sim? - para na porta.

– É...- vai até a bolsa e pega o presente. É o da Vitória...

– Ah...- sorri, entrando novamente. Obrigado...- pega.

– É...- se aproxima dele e o abraça. Parabéns!

Vitor fecha os olhos para exalar o perfume dos cabelos dela. Era um dos seus vícios. Sente uma vontade enorme de beijá-la, mas se controla para não afrontar os pedidos dela.

– Muito obrigado...- abre o presente. Meu Deus! - olha para ela.

– Espero que goste...

– É maravilhoso! Onde encontrou? Estava louco atrás dessa coleção... Obrigado! Mesmo...- a abraça novamente.

– De nada...- sorri.

– Então... Acho melhor eu ir...

– Sim.

– Durma bem...

– Você também...

– Se precisar de alguma...

– Eu sei.

– Tá...- respira fundo e sai, fechando a porta.

Paula se sente só. Sua vontade mesmo era que ele ficasse, que dormisse ali junto dela. Que pudessem ficar até de madrugada conversando, ouvindo a chuva, comemorando o novo aniversário dele. Tudo aconteceu totalmente diferente do que haviam planejado lá atrás e isso a machuca. Resolve tomar um banho o que serve para lhe revirar mais ainda... Do outro lado da parede Vitor faz o mesmo. Ao terminar deita-se, e começa ver o presente que recebeu de Paula. As horas passam e nenhum dos dois conseguem dormir. Paula coloca os travesseiros envolta de Vitória, para que ela não caia e sai do quarto, olhando dos lados para ver se alguém estava acordado. Vai até cozinha e pega água no filtro, se virando para a janela e observando a chuva.

– Não consegue dormir?

Paula se vira assustada; não esperava ninguém ali. E lá está ele, parado em meia luz a observando.

– Não...- luta com a respiração acelerada. Que susto!

– Me perdoa... - vai ao filtro.

– Só vim beber um pouco de água. Já estou voltando...- leva o copo para pia. Deixei Vitória sozinha...

– Ela está bem. Passei antes de vir para cá...

– O que foi fazer no quarto? A porta estava fechada...

– Eu ouvi você saindo... Pensei que algo havia acontecido com a bebê.

– Não aconteceu nada.

– Sim, agora eu sei...- se escora no balcão. Como está tudo na fazenda?

– Bem...- mente, nada estava bem sem ele lá.

– Que bom...

– Sim...

– Daqui alguns dias, aproximadamente, chegará um piano. Pode receber...

– Piano?

– Comprei há dois meses atrás e o prazo era para esse mês. Era meu presente de casamento...

– Não precisava se incomodar...

– Talvez hoje não mais... Mas, naquela época sim.

– Você disse que estava preparando uma viagem...?

– Ah...- leva o copo até pia e retorna próximo dela, a olhando diretamente. Estava... Era para Serra do Cipó, mas aí você veio com sua a sua surpresa de ir para os Estados Unidos. Assim, tive que adiar a minha e precisei ir na agência para fazer isso... Era minha mãe quem estava cuidando, mas como era para adiar, eu mesmo tive que ir.

– Por isso reagiu tão mal quando te falei da viagem...

– Não reagi mal, apenas não sabia como agir.

– É...

– Paula, você acredita mesmo que eu seria capaz de me envolver com outra mulher?

– Preciso subir...

– Você não precisa, você quer...

– Quero subir!

– Mas, eu tenho o direito de me explicar... E você não quer ajudar com isso. Poxa...

– Se você diz não ter feito nada, não precisa se explicar...

– Preciso sim! Quis dar seu tempo, fui humilhado para sair de casa por uma coisa que eu não fiz.

– Qual a intimidade que ainda existe entre vocês? Se coloque em meu lugar, Vitor... Você não quer me ver seminua na mesma sala que outro homem! Me imagine daquela maneira passando som com os meninos da banda. Você ia gostar?

– Você também ia gostar de ser expulsa de casa sem ter direito de se explicar? Gostaria de ser obrigado a ficar longe da sua filha? Você não gostaria Paula que eu não te desse a oportunidade de explicar que não teve culpa, que pode ter ocorrido um acidente ou que simplesmente não havia má intenção alguma.

– Posso ter errado sim, em ter te afastado da Vitória...

– Sabe o que é não é ter lugar? Porque aqui não é meu lugar! E na minha casa deixou de ser também... As minhas coisas não estão aqui, aquela cama não é a minha! Paula, eu não tenho razão nenhuma para retornar dos shows...

– Sinto muito. Agora preciso subir...- sai andando.

– Paula... Por favor..

– Você já falou o que tinha para falar, não falou? - olha para ele. Ótimo... - se vira novamente.

– Eu não falei tudo...

– Outro dia você tenta falar... - sobe as escadas. No momento, eu não estou disposta para você! Boa noite...

– Paula, não me trata assim... - a segue. Por favor, me escuta...

– Rápido. - se vira para ele novamente.

– Pulinha...

– Não me chame assim!

– Paula... Daqui poucas semanas vai fazer um ano que estamos juntos.

– Não estamos mais juntos, Vitor.

– Paula, por favor!

– Já passou seu tempo...- sai para o quarto.

– Não passou, coisa nenhuma. - a puxa.

– Vitor, não começa...

– Se eu soubesse que você não me ama mais, que nós dois não tivéssemos mais jeito, eu te deixaria em paz para tomar a decisão que quisesse. Mas, você me ama... Eu sei que ama. Sei que seu orgulho é grande demais como o meu também, mas já perdi muito com isso e não quero que você perca também. Se eu sair definitivamente daquela casa é para nunca mais voltar! Todo esse tempo eu fiz o que pude por nós dois... Eu me entreguei exclusivamente para você. Jamais tocaria em outra mulher, porque você é quem eu sempre quis. Paula, acredite em mim... Você precisa acreditar em mim.

– Não... - se afasta, segurando-se. Não posso mais... Senti uma dor terrível!

– Por algo que não aconteceu! Paula, não faz isso... Não aconteceu nada!

– Ela estava daquela maneira na sua sala! - chora.

– Eu não vi, minha Pulinha... Eu juro!

– Mas, ia ver... Ela estava saindo do banheiro!

– Provavelmente porque você chegou... Paula...- se aproxima dela. Já fiquei com ela em outras ocasiões, sozinho e não fiz nada! Por que eu faria ali? Por que eu a permitiria ficar daquela maneira ali com tantos funcionários ouvindo e vendo tudo? Foi um acidente... Infelizmente.

– Por que você estava bebendo?

– Porque havíamos brigado... Só estava tentando me acalmar. A Erica chegou bem depois, só para trazer os papeis da viagem.

– Vitória...- a filha chora e eles vão para o quarto. Mamãe está aqui...- vai até a cama. Shiu... - a pega.

Vitor observa da porta ela tentar acalmar a filha. Mas, Vitória não quer ficar deitada no colo e chora mais ainda.

– Me dê ela...- se aproxima.

– Não, está tudo bem...

– Por favor... - estende os braços.

– Ela não quer ficar deitada...- a entrega.

– Sim... - Vitória coloca a cabeça no ombro dele. Vamos nanar... - sai do quarto.

– Onde vai? - vai até a porta.

– Andar pela casa com ela... Pode se deitar, quando ela dormir eu a trago.

Paula concorda com a cabeça e vai para a cama. Não sabe se foi a discussão com Vitor ou se simplesmente era o sono chegando e trazendo o cansaço. Adormece sem se dar conta quando Vitor entra, bom tempo depois.

– Shiu...- coloca a filha do lado dela e a balança para não despertar.

Perde-se alguns minutos observando elas dormirem. Sente tanta saudades da sua casa, dos momentos que podia observá-las sempre, como se zelasse por elas enquanto adormecem. O peito dói, pela falta de tudo que começa passar na mente. Fixa os olhos em Paula, na vontade que tem de acariciá-la, de encostar seus lábios que imploram tanto pelos dela. É tentado a levar a mão até eles quando ela desperta pelo reflexo...

– Vitor! - se senta.

– Tinha um bichinho... Fui tirar.

– Um bichinho? Por favor, né... - ergue uma das alças da blusa.

– Paula...

– Vitor, vai para o seu quarto... - se levanta indo até o banheiro.

Passa uma água no rosto e retorna para o quarto, em direção a porta...

– Vai...- segura a porta para ele sair. Essa noite não termina nunca!

– Queria tanto poder passar ela com você...- a encara.

– Para de falar essas coisas! De me olhar desse jeito... Sai! Boa noite... Vá dormir.

– Paula... Entende meu lado. Minha saudade...

– Ja entendi. Agora vai... Por favor. Antes que Vitória acorde com esse barulho...

– Tudo bem...- olha a filha e vai, parando em frente a Paula.

– Boa noite...- não o olha.

– Me deixe de tocar...

– Você... - desiste. Sai! - o empurra. Você deveria ter dormido no Leo... Ou eu. Isso nunca mais vai acontecer!

– Não mesmo... Porque eu vou voltar para minha cama! - segura a porta para ela não fechar.

– Só se quiser ela para dormir sozinho para o resto da vida! Eu dou... E compro outra com menos lembranças suas.

– Não... - se aproxima dela, relutante. Eu vou para minha cama e com você!

– Sai daqui! - o empurra mais uma vez. Por favor, Vitor!

– Boa noite... Nos vemos no café da manhã.

– Sai! - fecha a porta, escorando sobre ela assim que ele sai. O que eu vou fazer, meu Deus!? - vai até a cama e se deita, pensativa.

O dia amanhece e ela acorda com alguém batendo na porta. Levanta-se ainda zonza e abre uma brecha.

– Bom dia!

– Você...- tenta fechar, mas ele empurra.

– Nossa...- entra. Pare com isso... - vai até Vitória que ainda não acordou.

– Não a acorde!

– Não vou...- a observa. Só vim vê-la...

– Já viu! Agora preciso me trocar... Por favor, licença.- aponta a porta.

– Até quando vai permanecer com isso?

– Até quando eu achar necessário! Agora saia do quarto...

– Vim te mostrar uma coisa...- retira do bolso. Nosso cordão! Olha como está... - a mostra.

– Isso...- fica nervosa. Saia daqui! Agora...

– Tudo bem... Posso te dar um bom dia?

– Já deu... Sai!

– Então me responda... Tenho precisado de dias bons!

– Bom dia.- não o olha.

– Eu te amo... Não esquece disso. - se aproxima dela que se afasta.

– Você esta começando a me irritar, Vitor! Saia daqui...

– Desculpa... - sai do quarto.

– Vitor! - senta-se, puxando a bolsa e retirando seu cordão da carteira. Inteiro...- segura as lágrimas e observa Vitória. Você também está com saudades dele, né... - passa a mão nos cabelos dela e vai para o banheiro.

Se arruma e Vitória logo acorda, a arrumando também. Na sala de refeições, Vitor e Marisa aguardam as duas descerem.

– Você falou com ela?

– Falei... Não adianta.

– Vitor... - segura a mão dele. Você não pode desistir!

– Estou cansado, mãe. Só falta de me ajoelhar e beijar os pés dela...

– Você precisa vender aquela agência... Só traz problemas.

– É...

– Bom dia! - sorri, vendo Paula e Vitória descerem.

– Bom dia.

– Você chegando e eu saindo... Já tomei meu café, fiquem a vontade.

– Mas, mãe você nem...- aponta para a mesa.

– Já sim! Fique quieto...- se levanta. Tenham um excelente café da manhã! - sai.

– Sente-se... - aponta a cadeira. Vem com papai, filha...

– Segure...- entrega.

– Vou morrer de saudades de você...- a observa.

– Eu... - senta-se. Essa noite eu pensei muito e vi que errei não pensando no que está fazendo.

– E...? - a olha.

– Você poderá ver Vitória quando quiser... Só não se aproveite da situação! - serve-se.

– E quanto a gente, Paula? Eu e você... Quando é que você vai me tratar como seu marido! Porque é isso que sou..

– Não por muito tempo...

– O que quer dizer? - se preocupa.

– Dei entrada no divórcio...

– Você está maluca!? - se enfurece. Quando estávamos com a cabeça quente, tudo bem se pensar em algo assim! Mas, agora?

– Já entrei e pronto.

– Pois se prepare para a guerra, então... Porque eu não vou te dar o divórcio, nunca!

– Se é por conta dos seus bens, fique tranquilo... Não te deixarei na mão.

– Por favor! - se levanta. Você não está falando a verdade... Não é possível!

– Pense como quiser!

– Você vai retirar o pedido de divórcio!

– Não...- o encara.

– É assim que você quer lidar com as coisas?

– Você quem...

– Então, está bem...- a interrompe. Se você continuar com o divórcio, teremos que tratar da guarda da Vitória. E sei que você não é ignorante ao ponto de não saber que sairia perdendo...

– Os filhos ficam com as mães...

– Os filhos ficam com quem tem mais tempo! - sai da sala.

– Vitor! - se levanta atrás dele. Me dê a Vitória...

– Você está acabando comigo...- se vira para ela.

– Eu...

– Deixe de ser tão orgulhosa! Olha para nós dois... - respira fundo. Por que tudo isso? Podemos vender a agência, esquecer tudo...

– Não é nada disso...

– Paula... - se aproxima dela. Não me afasta de você! Não me tira a família que a gente tanto sofreu para construir...

– Preciso embora... Me dê ela. - pega-a.

– Paula...

– Outra hora nós conversamos!

– Por favor...

– Gente! - Marisa aparece. Me deem essa criança...

– Não... Eu já... - Marisa a toma.

– Vão para o escritório, para o quarto! Vão para algum lugar reservado, mas discutir aqui não! Onde chegaram? Por favor...- sai com Vitória que se vira olhando os pais.

Os dois permanecem imóveis. Vitor vai para a janela e tenta se acalmar, enquanto Paula o observa.


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