VITOR

É impossível pensar algo nesses momentos. Pra mim ser amor com ela é fazer de nossos corpos só um. Nossas almas só uma, nós dois apenas um. É a sensação de estar no meio do nada, ouvindo apenas a manifestação de Deus sobre a natureza, da mesma forma que nossa natureza interior se manifesta. Abro os olhos sorrindo pro teto, ela está dormindo ainda... A observo tão frágil, com a força de um leão por dentro. São traços tão pequenos, em olhos descansados na paz. Me reviro para olhá-la melhor:- Desculpa.

Ela acordou:- Oi.

Passo a mão nos rosto dela:- Dormiu bem?

Ela ri:- Maravilhosamente bem.

Ela tão pequena que quando a entrelaço em mim falta sumir. E, se digo isso a ela é o mesmo que pedir para ser chingado:- Aceite o fato.

Paula:- O fato não é ser eu pequena, é você ser grande demais.

Nossas conversas são sempre construtivas e, nesse ritmo passam-se os dias mais intensos de nossa viagem. Com tudo pronto, malas, passagens e várias histórias para contar, outras para manter em segredo, retornamos ao Brasil:- Em casa!

Paula:- Nada melhor...

Desembarcamos em Belo Horizonte e seguimos para o apartamento dela.

Paula:-Alguém?

Dulce:- Chegaram!

Elas se abraçam e eu espero minha vez:- Tudo bem?

Dulce:- Tudo, vocês eu nem pergunto, estão lindos.

Começamos rir. Depois de tudo ajeitado, nos sentamos e contamos sobre tudo, principalmente o casamento:- Mas não temos uma data ainda.

Dulce:- Isso se resolve rápido. Estou muito feliz!

Paula sorri:- Nós temos que pensar em uma data.

Me sinto desconfortável, mas preciso lembrá-las:- Vocês sabem que eu não posso me casar na igreja.

Paula:- Não importa, Deus já sabe de nós. Mas, vamos deixar o casamento para depois e descansar um pouco...

Concordo com ela, mas peço que vá indo, farei algumas ligações. Dulce me deixa sozinho para que eu fale com minha mãe:- Olá...

“No telefone”

Marisa:- Vitor!

Rio:- Como vai?

Marisa:- Bem, e você? Já chegaram?

Sorrio:- Bem, graças a Deus. Sim mãe, estou em Belo Horizonte, amanhã irei pra Udi...

Marisa:- Que bom. E Paula?

Penso:- Foi descansar, mas está bem, teve um mau estar na viagem, tudo corrido... Você sabe como é.

Marisa:- Sim. Leo me avisou que você pediu pra darem permissão pra construtora começar mexer na Fazenda.

Já ia me esquecendo disso:- Sim, pra avaliarem o local. Ainda vou contratar um arquiteto...

Marisa:- Mas vai modificar o que?

Tenho que desligar:- Mãe assim que eu chegar aí vamos conversa. Tenho que desligar, bateria está acabando, beijos...

Desligo o celular e vou para o quarto, Paula ainda não dormiu:- Ué...

Paula:- Estava te esperando, precisamos conversar sobre ir pra Uberlândia.

Me deito com ela:- Qual o problema?

Paula:- Tenho o escritório aqui, mas por outra lado minha família não está aqui, tirando a mamãe, Cintia, Nilmar... Então pensei em um seguinte: Nilmar e mamãe ficam aqui cuidando do escritório e Cintia vai conosco, porque ela viaja muito comigo, me ajuda muito em tudo.

Peço que ela continue falando:- E dos meus imóveis pensei em vender só essa cobertura...

Interrompo ela:- Mas pra quê vender aqui?

Paula:- Vitor, não terei necessidade de uma cobertura. E mamãe vai querer morar na chácara.

Pergunto:- Você falou com ela sobre isso?

Paula:-Falei. Na verdade Nilmar poderia cuidar de tudo aqui com o Monteiro, mas ela pensa qu vai nos incomodar...

Interrompo:- Paula eu deixei claro que era pra ela ir viver conosco.

Paula:- Pra mim, não pra ela. Depois você tenta convencer ela?

Olho pra ela:- Ela vai viver conosco!

Ela sorri e adivinho que era isso que ela queria:- Você complica... Mas você não quer viver em Uberlândia?

Paula ri:- Você tem muito mais lá do que eu aqui. Meu profissional está aqui e não precisa ser resolvido necessariamente por mim, mas é o seu pessoal quem está lá. Toda sua família, suas coisas... Minha mãe e Cintia indo conosco já está tudo mais que perfeito!

Rio dela:- A construtora já foi avaliar a fazenda pra ampliar a sede. Precisamos de um arquiteto, decorador, eu posso cuidar de encontrar e você decide a casa como quiser.

Paula:- Só falta os quartos, não é?

Concordo:- Sim, mas pra isso precisa mexer no que já tem.

Continuamos a conversar sobre a mudança, aproveito e já telefono para um arquiteto e marcamos um horário. Em resumo mal descansamos da viagem e já resolvemos as coisas mais complicadas:- Deram um prazo de 3 meses.

Paula:- Tenho 3 meses então pra me organizar. Sua família já sabe?

Olho pra ela:- Eles tem que saber?

Paula:- Mas é claro, como vou chegar...

Ela para de falar quando me olha:- Você vai viver comigo, não com eles. Com eles você vai conviver, coisa que você já faz.

Paula:- Aff, você não entende...

Faço careta:- Você que quer achar empecilho em tudo. Quer achar uma maneira pra não ir pra lá!

Ela fica brava:- Como você enxerga coisas onde não existe...

Começo rir:- Eu estava brincando... Mas você complica mesmo bicho, se eles já sabem que estamos juntos, qual o problema?

Paula:- Odeio estas suas brincadeiras...

Dou um beijo nela:- Ta bem. Posso dormir aqui hoje?

Paula:- Deve. Estou muita cansada...

Abraço-a:- Então vamos descansar, vamos ficar quietos, sem pensar em nada...

Passa algum tempo, sei que ela não dormiu ainda mas fico quieto. Paula parece ter um toque de querer deixar tudo nos mínimos detalhes, perfeitamente organizado, é incrível:- Oi...

Já começou falar:- Estava pensando que...

Interrompo:- PAULA, por favor...

Ela se levanta:- Você não entende, é uma mudança muito radical, eu preciso... Esquece!

Ela sai:- Nem falei nada...

PAULA

Pro Vitor é tudo muito fácil, tudo muito simples:- Mas o problema...

Dulce:- Ai Paula!

Cintia:- Paula você é engraçada.

Fico brava com elas:- E já arrumem as coisas de vocês desde já, temos 3 meses.

Dulce:- Paula já conversamos.

Vitor chega:- Dulce porque não vai conosco!? Eu não vou segurar a Paula dando histerias a todo momento. Preciso de ajuda, de muita ajuda.

Olho pra ela:- Não tem graça nenhuma, você não entende que...

Dulce:- Paula chega... Coisa chata!

Vitor ri:- Está vendo!? E você Cintia? No dia que Paula for ao arquiteto vocês acompanham ela, e ao decorador pra decidir o quarto de vocês. E EU NÃO aceito não aceitarem. Temos três meses ainda!

Bufo de raiva:- Meu estomago está doendo tanto. Culpa sua Vitor, foi depois que você voltou que eu comecei a ficar mais nervosa. Você é muito chato, fica...

Ele me interrompe:- Chata é você, eu hein!

Dulce:- Ai gente... Seu estomago ainda está doendo?

Vitor:- Por que ainda?

Cintia:- Não come direito, por isso cai a pressão, dói o estomago.

Vitor:- Então se é por isso, o problema é todo seu. Avisar já avisamos!

Pego flokinho no colo, ele começa a latir que me assusta:- Que foi?

Dulce:- Ele deve estar sentindo algo.

Olho ao redor:- Mas o que?

Vitor também olha:- As vezes é a presença de alguém, ou a sua própria energia passando pra ele.

Odiei:- É melhor você ficar quieto.

Dulce:- Mas isso é verdade. Cintia não me deixa esquecer de marcar a consulta da Paula.

Vitor:- Agora entendo porque não tem como desgrudar vocês.

Dulce:- E você queria isso?

Vitor:- De forma alguma.

Respiro fundo e solto o flokinho, eles olham pra mim:- É só cólica.

Cintia e Vitor começam falar sobre livros. Ela adora ler e ele mais ainda, faço minhas leituras mas nada tão comparado a eles. Me levanto sem que percebam e vou para o quarto. O entrosamento deles é tamanho que ás vezes penso se os dois não dariam mais certo do que eu e ele. É uma grande besteira, mas penso e ele é o responsável por me sentir assim, não tem tantos assuntos pra dividir comigo como eu divido com ele, ou sou eu quem nem dou espaço pra ele falar algo? Ele chega no quarto estou deitada, esperando a dor passar, mas só parece que piora:- Queria conversar com você, como conversa com a Cintia.

Ele se senta:- Como?

Me sento ao lado dele:- É que ás vezes... É besteira minha.

Ele sorri e me abraça:- Sou difícil mas você é... Temos uma relação tão bonita, uma troca tão confortável, acolhedora. Nenhuma outra mulher, nenhum outro papo é melhor que o nosso.

Me sinto uma idiota:- Desculpa.

Ele se aconchega em mim:- Vamos esquecer isso.

Até a dor vai se despedindo com ele por perto. Relaxo e durmo tempo suficiente para ao acordar e ele já ter tomado banho, organizado as coisas dele:- Dormi muito?

Ele sorri:- Não, mas já jantamos.

Me levanto:- Depois eu como.

Vitor:- Ficarei de olho. Onde vai?

Saio para o banheiro:- Tomar um banho.

Encontro Vitor com flokinho na saída do banheiro:- Ele vai com a gente.

Ele ri:- Acredito que agora eu possa levar minhas cachorras pra casa.

Me troco e sento junto dele:- Você não embora amanhã, não é?

Vitor:- Vou sim amor, tenho que organizar minhas coisas, resolver alguns problemas.

Fico triste:- Mas é tão bom você aqui...

Vitor:- Depois que formos morar juntos você muda de opinião.

Rio:- Acredito que não. Vamos continuar nos vendo pouco...

Vitor:- Já pensei nisso. Nossas agendas quase sempre batem, entrevistas televisivas temos que ir até o local, mas o restante podemos fazer por telefone, ou irem até a fazenda. É um tipo de nova agenda que teremos que fazer.

Reflito:- Vamos ter que contratar alguém para isso?

Vitor:- Não, eu mesmo posso cuidar disso.

Seguro a mão dele:- Nós vamos dividir tudo, eu também vou cuidar. Ás vezes sinto que Cintia e mamãe cuidam muito das minhas coisas, da minha vida...

Vitor:- Já percebi isso. Dividir uma casa com outra pessoa também traz autonomia, disciplina a nós mesmos.

Ficamos em silêncio até baterem na porta:- Entra.

Dulce:- Reunião?

Vitor:- Também...

Rimos:- O que houve?

Dulce:- Monteiro quer falar com você.

Respiro fundo e me levanto:- Vem comigo, vou precisar de você.

Vitor:- Vamos...

Converso com Monteiro sobre o problema no escritório, algumas demissões. Vitor se limita falar, somente quando eu e Monteiro insistimos uma ajuda. Passamos um bom tempo falando sobre isso que peço parar pararmos por hoje, muito problema para pouca paciência:- Preciso descansar minha mente...

Monteiro:- Claro, desculpa ter vindo agora, eu nem sabia que estavam viajando...

Me levanto:- Sim. Podemos resolver depois?

Monteiro:- Claro, está tudo bem?

CONTINUA EM BREVE