PAULA

Estes dias intensos me cansaram até a última gota. Mas ainda quero aproveitar os dias que nos restam. Saímos do hotel rumo a um dos maiores shoppings da cidade:- O que você comprou para sua mãe?

Ele está distraído olhando o movimento:- Nada.

Faço carranca pra ele:- Então vamos pensar em algo...

Vitor:- Está bem.

Começamos andar pelas lojas:- Um óculos, o que acha?

Ele me olha:- Legal, leva óculos pra todos.

Começo olhar os modelos:- Não tem graça Vitor. Você tem que pensar no que cada um acharia bacana ganhar.

Vitor:- Um óculos para Paula e o namorado. Uma joia para minha mãe. Brinquedos para Matheus e Antônio, alguma roupa para Tati, e alguma relíquia musical pro Leo.

Fico abismada:- Nossa...

Ele ri:- E para sua mãe, Cintia...?

Já pensei no delas:- Vou dar alguma joia para cada uma. E esse óculos para Cintia! Ela vai adorar.

Ele concorda e começa observar outras coisas na loja. Passamos horas para escolher as coisas, particularmente ganhei um presente lindo do Vitor, uma gargantilha com uma menininha em um balanço, muito delicado. Segundo ele era eu...

Vitor:- Quero saber onde colocaremos tantas coisas...

Ele está carregando enquanto olho algumas vitrines:- Espera, vamos entrar aqui.

Uma loja de sapatos, escolho dois pares o que faz Vitor me advertir com os olhos:- Só estes...

Voltamos a fazer nossa caminhada, é deslumbrante a forma chamativa das lojas, mas não compramos nada fora o necessário:- Quer ir?

Vitor:- Quero, estou cansado.

Realmente foi cansativo. Em poucos minutos estamos de volta ao quarto, estou exausta e logo me deito, está ficando tarde:- E o nosso jantar?

Vitor está mexendo nas compras:- Estou procurando meu celular. Achei... Vamos jantar na praia.

Estranho a ideia:- Na praia?

Vitor:- Sim, vamos comer aos pés do mar!

Rio:- Ta bem... me acorde quando chegar a hora.

Vitor:- Você vai dormir de novo?

Tiro o calçado:- Vou, beijinho.

Ele me dá um beijo e sai. Meu cansaço parece ter resolvido aparecer só agora, logo aqui em Cancun, durmo por horas, mas sempre acordo querendo dormir mais. Me levanto ouvindo Vitor no telefone na varanda, ele está lindo, todo de branco, com um aroma inconfundível. Ele percebe minha presença e sorri, parece ser o Leo no telefone. Ele parece que irá demorar então resolvo me aprontar para o jantar na praia, irei de branco também. Arrumo o cabelo de uma maneira que não arrumei desde o primeiro dia da viagem, coloco anéis que ganhei da Tati, vindos diretamente da Rock N. Terminando de me retocar Vitor surge no banheiro.

Vem até mim:- Me deixe ver...

Me viro rindo:- Gostou?

Vitor:- A mulher mais linda que já conheci!

Sorrio:- Realmente sou a mais linda mulher que você já conheceu?

Ele sorri:- Sim. E já conheci várias mulheres...

Meu sorriso se desfaz:- Nem vamos falar disso.

Vitor:- Não importa. Conheci várias, mas amo você que é mais linda de todas elas.

Arrumo os últimos detalhes:- Ta bem. Hoje me arrumei assim pra você...

Ele sorri:- Eu nem mereço tanto... Mas você não irá se arrepender.

Sorrio:- O que devemos fazer agora?

Vitor caminha até o quarto e eu o sigo:- Você precisa de acompanhar. Mas vamos fazer diferente... Suba nas minhas costas!

Começo a rir mas faço o que me pede, adoro isso:- Vamos lá!

Ele brinca que vai me derrubar inúmeras vezes, o que me assusta. Chegando no local, havia montada uma mesa, como um luau e havia um por retrato com uma fotografia antiga nossa, rio quando vejo:- Quanto tempo...

Ele se senta:- Sim.

Era um jantar realizado pelo hotel, não necessariamente um luau, mas tudo como se fosse:- Eles quem pediram uma foto?

Vitor me serve de um bom vinho:- Foi, queriam coisas que nos representassem.

O barulho do mar é...:- Esse lugar é um paraíso.

Ele ri:- Discordo. Se eu viesse pra cá sozinho, não estaria encantado como estou. Então quem torna um paraíso é a companhia...

Brindamos. Existe uma música de fundo, é bem engraçado o ritmo, bem natural, forte mas natural:- Um tanto exótico.

Vitor:- Sim.

Conversamos sobre o local, observamos as pessoas, alguns pais com seus filhos pequenos nos fazem recordar de nossa época de criança e isso garante boas gargalhadas:- Quando tivermos nossos filhos, quero que eles saibam de tudo isso.

Ele sorri:- E que façam tudo isso, vai ser um prazer limpá-los de terra, se preocupar porque caíram de uma árvore.

Rio:- Não quero que sofrer com eles caindo de árvores...

Ele ri:- Nós colocaremos e tiraremos eles das árvores...

Já está tarde, madrugada aqui:- O tempo passou depressa.

Vitor:- Para você que dormiu.

O fito:- O mar é tão bonito...

Ele olha:- É sim. Ao mesmo tempo que encanta, deslumbra, também assusta pela imensidão...

As pessoas começam a sair e o tempo ficar mais fresco. Me aproximo dele, sentando ao lado com as mãos em seu colo:- O som que ele faz... As ondas quebrando o silêncio, bebendo da nossa alma. Nos fazendo mergulhar para dentro de nós mesmos.

Ele me beija:- Você tem cheiro de mar.

Me deito sobre o ombro dele que começa a falar:- O tempo é como um divisor de águas. Muitas vezes tememos ele, outras acreditamos nele. E independente da nossa postura, ele faz o trabalho dele como deve ser feito. Ao mesmo tempo que cura, também destrói. Mostra verdades que talvez já desconfiávamos, mas nos negamos a acreditar. Somos seres teimosos! O sentimento é outra coisa engraçada, o amor então... Mas não há nada que explique os caminhos que o amor nos faz seguir, ou melhor, já somos um caminho, e ele, sobre o tempo nos embarca. As coisas mudam a todo segundo e todo segundo é um futuro novo, pessoas nascem enquanto outras se despem, tudo anda no seu tempo, nem corre, nem para. Tudo, absolutamente tudo no seu tempo, para que saibamos viver o tempo, como certamente viver e não apenas existir. Quando te encontrei, eu soube, teríamos algo a partir daquele momento, só não sabia o que. O que estava dando sentido ao meu tempo, me fazendo ficar ansioso para te ver, triste por me despedir todo final do dia, depois de longos dias te acompanhando, criando histórias só pra ficar do seu lado. Em algum momento teríamos nosso momento... Enfrentamos o tempo, as incertezas, as ilusões de um mundo que entramos nu. E nus, eu acredito que estamos quando sempre juntos. Nus de tudo que nos afasta... Você me deu um dos maiores mais bonitos que eu não seria capaz nem de imaginar que poderia receber. Eu... eu vivo dele, aprendo dele, por ele eu sofri e paguei da pior forma quando neguei, e é por ele e por querer te tornar feliz todos os dias, saber que você vai receber tudo que sempre mereceu, que suas mãos estarão entrelaçadas nas minhas enquanto o tempo nos levar, que te peço a decisão mais correta da minha vida... Quer se casar comigo?

Antes que ele termine, um filme de tudo que já enfrentamos, a sensação de estar sentada sobre um lugar qualquer daquela São Paulo onde eu pude vê-lo pela primeira vez e sentir que minha vida estaria mudando a partir dali:- O tempo acaba de me levar pro minuto em que eu renasci. Você sempre será parte da minha vida, dos meus dias, parte de mim, a mim... Acredito que já estamos casados desde o instante em que nascemos. Eu aceito você, pra aceitar a mim.

Ele me abraça e o mundo parece não existir, o nosso momento chegou, sem sofrimento, sem dor, chegou depois de tantos anos, de tantas lágrimas. Ele chegou e eu percebi que veio no momento mais correto, aquele que eu estaria inteira pra amá-lo e receber do seu amor:- Deus é divino.

Ele está com os olhinhos cheios:- Ele me fez você. Minha pequena...

Por que esse homem tem que ser assim? E veio ser logo parte de mim:- Eu te amo Vitor, e faço meus votos em frente a uma das mais belas criações de Deus, que irei te amar por todas as minhas vidas. Farei o impossível para te fazer feliz.

Ele pega minhas mãos:- Faço meus votos em frente a uma das mais belas criações de Deus, que irei cuidar de você por todas as minhas vidas. Te amar além de todas as minhas vidas, e fazer o impossível pra te fazer feliz. Te devo meu respeito, meu afeto, minha vida...

A emoção é tamanha que respiro fundo pra não desmaiar, ele percebe meu estado:- Está tudo bem, só foi a pressão que provavelmente baixou, é muita emoção pra um dia...

Ele sorri e se levanta:- Pode se levantar?

Ele me ajuda e me coloco de pé. Ele me leva até o mar, se abaixa e molha as mãos, depois passando-as em meu rosto:- É pra te proteger, tornar mais forte do que já é. Pra que Deus te conserve.

Me emociono e faço o mesmo:- Que fortaleça sua luz, proteja seu coração.

Ele fecha os olhos enquanto o molho, quando os abre sorrio:- Quer tentar?

Confirmo com a cabeça que sim e ele me leva até a água. Segura meu corpo e afundamos mar a dentro. A sensação depois é revigorante:- Está frio!

Ele ri me segurando:- Não aconselham entrar na água pela noite.

Lá vem:- Sei...

Vitor:- Vamos sair, está frio mesmo!

Ele não me solta nenhum segundo. Quase todos já foram, pegamos a fotografia e vamos pro quarto:- Você ligou para sua mãe?

Vitor:- Falei com ela.

Saio para tomar um banho enquanto ele fecha a varanda. Antes que eu comece a me despir, ele aparece:- Vai me acompanhar?

Ele ri:- Não. Vou só observar...

Não me sinto confortável com a Ideia, ele observa de uma maneira que nos faz recuar, como se soubesse nossas verdades e enxergasse além de um órgão. Respiro fundo e tento agir como se ele não estivesse ali, mas não funciona:- Vitor...

Ele se aproxima, já sabendo o que é:- Te assusto?

Sorrio:- Só um pouco...

Ele beija meu rosto e já sinto uma deusa interior se manifestar no arrepio pela pele. Meu corpo se entrega a necessidade do dele enquanto nossos passos em tropeços fazem rastros até a cama. É normal alguém ter total domínio por seu corpo? Se não for, somos eu ele anormais, do nosso jeito. Em geral, nos amamos baixinho para nem os lençóis nos invejar...