12 anos em 12 escrita por 12 anos em 12


Capítulo 114
Capitulo 113


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Está aí o capitulo ❤



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No meio da madrugada ela se levanta e vai em busca dele que não retornou ao quarto. Encontra-o no sofá da sala dormindo e vai até ele, deitando-se ao seu lado.

— Oi...- ele abre os olhos ao sentir a presença dela.
— Por que faz tudo aquilo?
— Desculpa! Só quero proteger Vitória...
— Mas não é assim! - se aconchega nos braços dele.
— Eu sei, vou tentar controlar... Tentar!
— Já é um começo! - sorri. Vamos para o quarto...- beija-o e se levanta.
— Vamos...- faz o mesmo.
— Você bebeu?
— Só bebi um pouco...- mostra o copo.
— Já te pedi para não beber...
— Foi só um pouquinho...- a abraça e caminham até o quarto.
— Vitória não acordou para mamar ainda... - vai até o berço.
— Ela está muito cansadinha... - fecha a porta e vai até ela. Talvez não acorde.
— Verdade! - retira o robe. Vá tomar um banho... Não vou me deitar com você cheirando uísque.
— Vou tomar Paula! - fala já indo até o banheiro.

Ela vai até o banheiro e enquanto ele toma banho eles conversam sobre tudo que houve pela tarde e o que farão no decorrer do dia.

— Você não vai passar o dia comigo? - entrega o roupão para ele.
— E porque teríamos que fazer isso se tenho mais longos quatro dias de folga? - se seca.
— Por nada...- vai para o quarto.
— Vou tentar falar com a Maria amanhã!
— Prometi que íamos para Angra quando ela viesse...
— Sim! E vamos... Só precisamos saber quando ela vem, Pulinha. - vai para o closet.

Paula passa um creme na pele e deita-se. Minutos depois ele aparece e faz o mesmo, se aconchegando nela.

— Não me deixe dormir até tarde...- beija o rosto de Paula. Não
— Por que? - segura a mão dele.
— Já falei... Vou para cidade de manhã.
— Hum...- se entristece. Boa noite! - se beijam.

Dormem agarrados o restante da noite. Vitória não acordou para mamar e eles conseguem descansar até de manhã. Vitor desperta primeiro que Paula, se arruma e vai para a cozinha onde Diva está preparando o café da manhã.

— Você esqueceu?
— Bom dia para você também Diva! - senta-se. Me esqueci do que? - pega uma xícara.
— Sério que você não sabe?
— Do que está falando Diva? - a encara.
— Estou falando que ho...- vê a Paula vindo. Bom dia querida! - sorri.
— Bom dia Diva! - sorri. Vitória está dormindo ainda, acredita? - senta-se.
— Deve ter brincado muito ontem!
— Bom dia Paula...- a observa enquanto bebe seu café.
— Bom dia Vitor! - se serve. O que fará na cidade?
— Resolverei negócios! Já avisei...- pega o pão da mesa.
— O seu é esse! - ela mostra.
— Verdade! - troca o pão. Vou visitar minha mãe também...
— Diga que estou com saudades!
— Direi! - come.

Tomam café em silêncio até que escutam Vitória acordar. Diva se oferece para buscar ela para que eles terminem de comer.

— Bem...- se levanta bebendo o restante de café. Já vou indo! - vai até ela. Vou pegar seu carro! - a beija. Até mais tarde!
— Você vem almoçar?
— Eu ligo! - pega as chaves e a carteira e sai.

Paula telefona para Cíntia que atende de imediato.

— Oi!
— Oi Cíntia! Você vem para cá hoje?
— Mas hoje você e Vitor não vão sair?
— Ele sequer lembrou!
— Ainda são 10 da manhã Paula...- ri.
— Mesmo assim! Já fazem 10 horas que ele poderia ter dito algo...
— Você nunca espera nada e no fim...
— Eu sei... Mas acho que ele não está lembrado mesmo!
— Enfim... Se quiser posso ir mais tarde.
— Venha sim! - pega seu suco e bebe. Vamos para cidade fazer compras!
— Então venha você!
— Não! Porque não tenho certeza se conseguirei ir... Vitor saiu com meu carro, preciso esperar ele chegar.
— Tá... Vou ajeitar as coisas e vou!
— Ok! Vou ver Vitória, até mais tarde.

No caminho Vitor telefona para a mãe através do carro.

— Filho! - atende contente.
— Oi! - sorri. Tudo bem?
— Tudo sim, meu amor! E você?
— Bem também! Estou indo para sua casa.
— Está trazendo Vitória?
— Não! Ela ficou dormindo...
— Entendi! Então venha... Vou separar um pedaço de bolo que fiz.
— Não se incomoda mãe, tomei café! Mas se você quiser se incomodar pode separar sim! - riem.
— E aí? Já decidiu o que fará?
— Já! Chegando aí conversamos...
— Tudo bem! Beijos, dirija com cuidado.
— Certo! Até daqui a pouco...- desliga.

Em casa Paula arruma Vitória com a ajuda de Diva e a leva para andar na fazenda.

— Cuidado! - a solta no chão.

A bebê corre com os cachorros enquanto a mãe a fotografa e confere as redes sociais. Na cidade Vitor chega a casa de sua mãe.

— Olá! - se abraçam.
— Estou muito feliz que esteja me visitando com frequência...
— Estou feliz de estar em casa! - riem indo até a varanda.
— E Paula?
— Disse que está com saudades da senhora...
— Você não disse nada a ela?
— Não! Deve estar me matando internamente...
— Estou com saudades dela também! - entrega o pedaço de bolo para ele.
— Vitória pode ficar aqui? Para Dulce e Cíntia descansarem...
— Claro que sim, vou amar! Quer dizer o que fará?
— Não! - come o bolo.
— Nossa! - ri.
— Conto depois! Vai que ela vai atrás da senhora e você solta...
— Está me chamando de fofoqueira? - senta-se com ele.
— Não né mãe! - ri dela. Só estou dizendo que quero que seja segredo por enquanto. Não será nada de diferente! Queria poder viajar. Mas não vai dar! Vitória está muito pequena e tem Maria e tanta coisa para resolver no escritório que não dará por enquanto.
— Mas vocês precisam de alguns momentos...
— Eu sei! Vou preparar uma viagem para fora do país... Mas não agora! Talvez daqui uns dois meses.
— Para onde quer ir?
— Não sei... Penso em Londres, Paula quer conhecer Australia também. Namoramos tão pouco... Veio Vitória, depois Maria...
— E cadê o próximo bebê?
— Mãe...- come o bolo. Vamos mudar de assunto!
— Tudo bem... Quando você começa com isso...
— Mãe...- a encara.
— Tá! Me diga como foi a terapia...- sorri.
— Acho melhor mudarmos de assunto novamente!
— Vitor...
— Foi horrível! - limpa a boca. Mas não quero...
— Vitor, sou sua mãe! Por favor...
— Meu Deus mãe! A senhora é minha mãe, mas...
— Olha lá o que vai dizer!
— Brigamos na frente da terapeuta. Foi péssimo...
— Vocês dois precisam...- o celular dele toca.
— É ela! - atende. Alô!
— Vai demorar?
— Um pouco, porque?
— Eu queria o carro... O seu não está aqui!
— Sim, mandei arrumar, estava com um barulho estranho. Onde quer ir?
— No shopping com Cíntia...
— Vou demorar um pouco! Espere aí...
— Vou esperar aqui mesmo, quer que eu espero onde? Cada uma! Tchau. - desliga.
— Podia ter colocado o viva voz para você ver...
— Está nervosa?
— Sim! - ri.
— Pare de fazer isso com ela...
— Deixa ela se estressar mais um pouquinho...- volta comer.
— Você gosta de procurar encrenca, Vitor! - se serve uma xícara de café.

Ele fica mais algum tempo com a mãe, conversam sobre Leo e Tatiana, sobre as crianças, sobre a irmã Paula, os planos da mãe e etc. Sai dali direto para a floricultura de um amigo, pega sua encomenda e retorna para casa. Ao chegar vê a filha na piscina com Cíntia e acena para elas entrando na sede. Escuta Paula conversar no celular indo até o quarto. Vai atras dela sem que ela note e fecha a porta assim que ela entra. Se aproxima e ela se assusta, desligando a ligação.

— Que...?
— Não me esqueci! - mostra as flores sorrindo.
— Uai...
— Me desculpa ter fingido que me esqueci do que hoje representa para nós! É que eu precisava buscar isso...- estende para ela.
— Sei! - pega segurando o sorriso.
— Dê um sorrisinho! - a abraça rindo. Eu te amo! - aperta ela em seus braços. Jamais ia esquecer o dia que nos conhecemos! - a olha.
— Por que fez isso? - ri, beijando-o. Te amo! - se abraçam novamente.
— Vamos sair hoje...
— Temos uma filha! - cheira as flores.
— Eu sei! - ri. Vamos deixar ela na casa da minha mãe, para sua mãe e Cíntia descansarem. Elas sempre ficam com ela!
— Tudo bem! - sorri levando as flores até um vaso que tem no quarto. Você quem escolheu?
— Foi! Escolhi pelo site e eles montaram, passei para pegar hoje...- vai até ela.
— Eu amei! - arruma. Estava tão chateada com você... Nem me deu um beijo quando virou meia noite!
— Paula! - ri. Eu não sou ligado a essas coisas, mas passei a ser para te deixar feliz! Confesse que estou me superando sempre... Queria ir buscar as flores.
— Amei as flores, mas amo mais você! - olha para ele. Qualquer gesto seu por mínimo que seja é que me deixa feliz... Bastasse ter me beijado que já estava tudo bem.
— Pulinha...- se entristece. Me desculpa! Não pensei nisso...- a acaricia.
— Quando eu te conheci eu não entendia absolutamente nada de tudo isso que sinto. Na verdade até hoje não consigo entender porque sinto tanto por você Vitor...

Ele a abraça e respira fundo, lembrando de tudo que já passaram desde o minuto que se conheceram. Sentia um amor por ela que transcendia qualquer situação ruim em todos os momentos.

— Paula...- sente que ela está chorando. Pulinha! - olha para ela.
— Não estou bem! - vai até a cama e senta-se.
— O que aconteceu? - senta-se ao lado dela. Me desculpa ter feito isso!
— Não é isso Vitor! - segura a mão dele. Tinha prometido para mim que não me deixaria consumir por isso, mas se torna inevitável e quando te vi...
— Paula...- a deita em seu colo já temendo o que seja.
— Nunca vou me perdoar, Vitor!
— Você não teve culpa!
— Eu tive sim... Eu poderia ter feito diferente, me cuidado mais!
— Paula! - a segura. Se acalme!
— Era para ele estar aqui com a gente...
— Não! Se fosse para ele estar aqui, ele estaria aqui. Precisamos superar!
— Ele nasceria nesse mês! - chora novamente.
— Paula...- a abraça.

Ele tenta consola-lá quando são surpreendidos por Vitória que entra no quarto toda molhada e vai até eles.

— Vitória...- a segura. Minha filha, que molhaceiro...
— Vitória! - Cíntia surge na porta. Saiu correndo que não consegui secar...
— Está tudo bem! - sorri segurando a filha no colo.
— Paula... Está tudo bem? - vê a prima enxugar o rosto.
— Sim! - sorri, tentando disfarçar.
— Vou para lá... Se precisarem...
— Pode ir Cíntia!
— Vem Vivi...- pega a filha dele. Vamos se trocar!

Eles arrumam a filha juntos e seguem para a sala. Vitor liga o DVD preferido de Vitória e senta-se com ela enquanto Paula prepara sua mamadeira.

— Aqui...- entrega. Cuidado! - coloca na mão dela. Deite ela no outro sofá Vitor...
— Tá...

Faz o que Paula pede enquanto ela sai para fora de casa. Cíntia chega na sala e resolve perguntar o que aconteceu.

— O bebê que perdemos, nasceria esse mês!
— Meu Deus! Tinha me esquecido...- olha para fora. Deixamos ela sozinha ou tentamos ficar ao lado dela?
— Deixe ela um pouco, depois vou até lá...- vê Paula sentada na varanda.
— Tudo bem! Fico aqui com Vitória...
— Obrigada! - segue para a cozinha. Diva?
— Oi! - aparece da dispensa.
— Paula estava bem no café da manhã?
— Não muito... É pelo bebê, né!?
— Sim... Eu fui tão insensível! Me esqueci. Ás vezes quando ela diz que não senti a morte do nosso filho parece que está falando a verdade.
— Vitor!
— Diva, eu não me lembrei! Eu sofri e muitas vezes me pego sofrendo quando vejo Vitória e penso que poderia estar aqui... Mas não me recordei que seria esse mês.
— Não fique se culpando! Não se compara a dor de uma mãe, Vitor... Ela gerou, ela sofreu cada dor, ela criou expectativas. Perdeu seu filho da forma que ela perdeu é como abrir um buraco no peito a faca e isso leva muito, muito tempo para recuperar.
— O que eu faço Diva? Exatamente hoje fazem 16 anos que nos conhecemos... Ia levar ela para sair daqui um pouco. Agora já não sei mais!
— Leve! Ela não vai esquecer do que ocorreu, mas você pode ajudar ela pensar em outras coisas...
— Sim...
— Onde ela está?
— Na varanda... Sempre que ela vai para lá sei que é por causa do bebê. Ela fica olhando as flores brancas no jardim.
— Fique com ela... Não precisa dizer nada, mas fique lá.
— Vou fazer isso...

Vitor pega um suco na geladeira e leva para ela. Senta-se na poltrona ao lado sem dizer nada e a deixa quietinha observando tudo.

— Onde vamos? - bebe o suco.
— Se você não quiser ir, tudo bem... Podemos ficar aqui.
— Não... Vamos sim! - coloca o copo na mesa de centro.
— O que quer fazer agora de tarde? Estou livre...
— Vou andar a cavalo um pouco... Se não quiser vir, tudo bem.
— Vou... Faz tempo que não cavalgo. O almoço vai ser servido daqui a pouco...
— Estou sem fome...
— Pulinha...- vai para perto dela. Eu sei que tudo isso não é fácil para nós, principalmente para você! Mas Vitória é nossa filha também e está aqui precisando da gente. Você não pode se resguardar dessa maneira e deixar nossa pequena... Porque ela acaba ficando de lado! - segura a mão dela. Lembre que Carolina te falou... Você precisa cuidar da Vitória e entender que Deus fez o que tinha que ser feito.

Ela fica em silêncio mais um tempo e ele pesa tudo que falou, para ver se a feriu. Paula se levanta e ele a segue. Entram na cozinha e ela conversa com Diva sobre o almoço...

— Já iremos servir, vou terminar de colocar a mesa.
— Tudo bem!
— Você não vai tirar essa roupa? - ela se olha.
— Hum... Me esqueci que ainda estava assim. Vou! Vou tirar...- sai.
— Por mais que eu tente, não vou conseguir reagir com ela assim!
— Você precisa ter paciência Vitor!
— Diva, toda vez ela vai ficar assim? De pijama, chorando pelos cantos enquanto Vitória fica ali com alguém?
— Vitor pare com isso! Respeite a dor dela.
— Em mim também dói! - chora. Mas ninguém se preocupa! - sai.
— Aí meu Deus! Era só o que faltava...- vê ele se afastar.
— O que foi Diva? - ela retorna com um copo em mãos. Cadê o Vítor?
— Nada! - mente. Coloque os pratos na mesa.
— Cadê o Vítor, Diva? - a encara.
— Saiu...- gesticula com a mão.
— Já volto! - vai em busca dele.

Paula o encontra no jardim, quieto.

— O que está fazendo aí?
— Nada...
— O que falou para Diva? Ela estava estranha...
— Não falei nada!
— Vitor...
— Vamos brigar?
— Vitor, entendo que você não aceita minha dor.
— Paula...
— Me deixe falar! Entendo que você não aceita minha dor e penso que não seja mal isso, mas não aceita porque não se acostumou a me ver ficar mal assim. Não consegue me ver sem querer nada absolutamente o dia todo... Que eu queira ficar de pijama, que eu queira, por um dia, ficar sozinha! Seu problema é não aceitar me ver não querer viver por um dia.
— Você tem mais motivos para estar viva! Ou Vitória é pouco? Não precisa viver por mim, mas temos uma filha. Por favor! Outros filhos virão, não estamos tentando?
— Nem um filho para irá substituir o que se foi! Coloque isso na sua cabeça. Você quis tanto tempo que eu entendesse isso e quando eu entendi você desentende?
— Estou dizendo que você teve a chance de viver, mas prefere querer morrer. Paula, você já parou para pensar que eu sofro? Você tem percebido que sou eu quem sempre águo essas flores aqui - aponta - quando estou em casa? Eu penso naquele bebê, penso que ele poderia estar aqui com a gente, crescendo, brincando, sendo parceiro ou parceira da irmã, mas o fato é que ele não está! Ele é uma lembrança que tenho certeza que não quer ser existente de uma forma tão negativa. Você querer morrer não traz vida aquele bebê! Ele ou ela sente onde quer que esteja a dor da mãe... Você precisa superar para permitir que nosso filho ou nossa filha vá para o céu, Paula. Mas enquanto você prender ele aqui com sua tristeza, esse bebê não vai descansar.

Ela se abaixa nas flores brancas e segura uma. Sente o peito se comprimir com tamanha força que não consegue conter as lágrimas escorrerem.

— Eu quero que você descanse... Juro que a mamãe quer que você descanse! - aperta a flor contra o peito.
— Pulinha...- se abaixa e a abraça.
— Não quero prender ele! - aperta as mãos na camiseta do Vitor chorando. Não quero!
— Paula, por favor...- a segura. Se acalme! - a observa. Por favor, meu amor! Me escuta... Você precisa deixar nosso filho ir... Paula...
— Não quero prender ele! Mas não controlo o que sinto...- choro.
— Você pode conseguir! Entendendo que não temos o que fazer... Deus quis assim Pulinha...- se emociona.
— Eu não aguento... Não aguento saber que nem o corpinho tivemos para ver... Uma hora estava aqui dentro de mim e depois... Não aguento Vitor! - chora agarrada a ele.

Vitor a levanta do chão e ampara, grita pelo jardineiro que corre até eles.

— Arranque as flores brancas, Norberto!
— Certo...- observas as flores.
— Não, não, não, não...- implora. Por favor! Vitor, não...
— Arranque Norberto! Ainda hoje! - vai com ela para dentro de casa.
— Não faz isso Vitor! - tenta se soltar. Por favor! - chora.
— Vai ser o melhor, confia em mim! - tenta acalmar ela.
— NÃO! - chora.
— Paula, pare...- a segura. Paula, por favor... Se acalme... Me ouça!
— É o que tenho dele... Por favor! - segura o rosto de Vitor.
— Não! O que você tem dele está dentro de você. Por favor... Vamos parar de criar lembranças dolorosas! Ele precisa descansar.
— Não...- cai chorando nos braços dele.
— DIVA! - a chama.
— OI...- aparece correndo. O que houve? - vai até Paula. Paulinha, minha querida...- olha para ela chorando. Calma...
— Diva, ele vai tirar as flores! - segura os braços da funcionário. Não deixa Diva! - chora.
— Paula...- olha para Vitor.
— Vamos para dentro!

Vitor e Diva levam Paula para o quarto, ao passarem pela sala Vitória vê a mãe chorar e por mais que Cíntia tente a segurar, ela desce do sofá e vai acompanhar os pais. No quarto, deitam Paula na cama. Vitor retira os sapatos dela e vai apoia-la, segura em sua mão e a acaricia os cabelos.

— Vitor...- olha pra ele. Não faz isso!
— Não pense nisso mais! Feche os olhos e descanse... Estou te pedindo isso.
— "Mamãe..." - tenta subir na cama e Vitor vai ajudar.

Vitória vai até a mãe e deita sobre sua barriga. Paula segura a mãozinha dela e chora ainda mais. Vitor sai do quarto chorando e telefona para a mãe.

— O que foi Vitor? - se preocupa.
— Mãe, você pode vir aqui ou mandar algum psicólogo!? Por favor...
— O que aconteceu Vitor?
— A Paula está inconsolável! Não para de chorar...
— E porque isso agora? - pega a chave do carro.
— Porque era para o bebê nascer nesse mês!
— Meu Deus! Estou indo para aí... Se acalme!

Ele desliga o celular e vai para a cozinha. Diva prepara um suco e leva para Paula no quarto.

— Paula...- entra. Beba esse suco, ao menos isso... Você nem tomou café da manhã direito. - vai até a cama.
— O que estou fazendo, Diva? - se senta pegando Vitória no colo.
— Paula...- senta-se ao lado delas.
— Ela não merece isso! - acaricia a filha.
— Você precisa aceitar o que aconteceu!
— Estou fazendo drama? - chora. É que me dói tanto...
— Não! Uma mãe nunca faz drama quando perde seu filho. Mas você precisa enxergar as coisas que estão além disso...
— Vitor disse que eu não o deixo descansar, Diva! Que não deixo o bebê partir...
— Não pense nisso! Vitor está nervoso... Ele não aguenta ver você assim.
— Mas ele está certo! Estou prendendo meu filho... Não estou deixando ele ir em paz. Mas não sei o que faço, Diva! Como eu entendo que ele morreu? Se eu não pude ver ele sequer vivo!
— Paula... Tenha consciência de uma coisa: Você fez o que podia ter feito. Você agiu como deveria ter agido. Pare de relutar! Não pense que seu filho morreu, pense que ele está vivo, aí dentro de você. Ninguém o substituirá, mas ele irá germinar novamente! Isso tudo é uma provação na sua vida, principalmente em relação ao seu casamento. Não deixe de viver sua vida, de viver com sua filha para ficar chorando por alguém que ver você feliz. Seu filho não morreu para você parar de viver, pelo contrário, ele se foi para entender o que é viver.

Ela chora e Vitória fica a olhando. Quando ela percebe chora mais ainda e abraça a filha. Diva fica com elas mais algum tempo até que ela se acalme e beba o suco. Sai do quarto e de cara com Vitor.

— Você está bem?
— Está tudo bem comigo... O que elas estão fazendo?
— Nada... Paula está com Vitória.
— Minha mãe está vindo...
— Tudo bem.
— Vou entrar...- segue para o quarto.

Ele entra e Paula está ajudando Vitória a beber um pouco de suco.

— Oi...- se aproxima.
— Oi...
— Me des...
— Vitor! - o interrompe. Não estou sendo dramática...
— Não! Você não está. Nunca quis dizer isso, Paula.
— Essa é uma dor que não sei lidar! Que sempre que penso que superei, eu me lembro de tudo... Todo aquele sangue, a correria dos médicos, a dor insuportável de estarem me arrancando algo sem anestesia. Não segurei nosso bebê nos braços e ele já tinha um coraçãozinho...- se emociona. Eu ouvi o coraçãozinho dele duas vezes! - se recorda. Mas tudo bem! - enxuga as lágrimas. Preciso de tempo! - olha para ele. Só de um pouco de tempo!
— Você deveria fazer uma terapia...
— Não sei... Não quero pensar em nada agora!
— Tudo bem!
— Vitória está com fome...- se levanta da cama. A Diva já colocou o almoço? - pega a filha.
— Já...- acompanha ela.

Enquanto ela dá comida para a filha a sogra chega na casa.

— Oi! - coloca a bolsa na cadeira.
— Oi! - sorri.
— Como estão? - beija Diva, Sol e Cíntia. E vocês...? - cumprimenta Paula e Vitória.
— Estou bem vovó! - olha para filha que mostra a comida para a avó.
— Está papando! - sorri.
— Quer comer?
— Não, obrigada! Vim comendo pão de queijo no caminho. E você não vai comer Vitor?
— Vou! - se levanta.

Ele coloca sua comida e retorna para a mesa. Vitória começa conversar com o pai, entretendo a todos após Paula deixar ela beber o suco antes de terminar a comida.

— A Diva fez...- a olha.
— "Nanão... Foi din..." - aponta para Cíntia.
— Não foi a dinda! - riem.
— Foi a Didi, Vitoria!
— "Não Didi!" - encara ela mexendo o dedo negativamente.
— Não aguento quando faz isso! - pega o dedo dela e beija rindo. Papai te ama!
— Paula... Não vai comer?
— Bebi um copo de suco agora pouco... Não estou com fome...
— Coma só um pouco, Paula.
— Não quero Vitor! Comer para passar mal, prefiro não comer. Não estou com apetite.
— Tudo bem...

Ele termina de comer e se retira da cozinha com a filha nos braços. Marisa vai com a nora para a sala.

— Ele te ligou...
— Sim...
— Não precisava se preocupar! Está tudo bem.
— Você não está bem, Paula! Não está tudo bem. Nem para você, nem para ele.
— Ele não entende a minha dor e nem espero que ele faça isso! Dando atenção a Vitória enquanto estou assim já é suficiente.
— Mas você não pode querer ficar assim! É preciso olhar para frente... Seu filho ou filha quer te acompanhar, mas é olhando para frente, é andando para frente.
— Vou me recuperar aos poucos...
— Não Paula! Você precisa se recuperar para sempre, porque senão a cada nova data você terá uma recaída.
— O que eu faço? Não me engano mande entender... É uma coisa muito vaga!
— Não... Não vou te mandar fazer isso. Ocupe sua mente, olha para sua filha e veja o quanto ela precisa de você! Vitória está aqui, viva, esperta, querendo o carinho da mãe.
— Não quero me senti culpada! Não estou a deixando.
— Paula...- segura a mão dela. Não é isso que quero dizer. Só quero que você enxergue, do fundo do seu coração tudo isso que estou dizendo. Você mesma me disse que Vitor ficar com ela enquanto você está assim seria suficiente...
— Eu sei, mas...- pensa em tudo.
— Sei que não é fácil!
— Eu ouvi o coração do bebê, Marisa! - chora. Ás vezes penso que estou enlouquecendo, que não existia um bebê, mas lembro que ouvi o coração dele! - olha para ela.
— Paula...- a abraça.
— E ele morreu...- se aperta na sogra chorando. Meu bebê morreu!
— Não pense assim! Por favor... - olha para ela. Já passou... Já foi! Você tem que comemorar a vida! Você está aqui... Para ter oportunidade de ter outros bebês. Para se recordar do seu filho com amor e carinho. Ele sente tudo que você sente! Não faça isso com você! Não se maltrate assim, pois estará machucando ele também. Ele quer ver a mãe seguindo em frente, porque eu tenho certeza que ele tem orgulho de você, mas ele não pode ficar. A missão dele é em outro lugar.
— Sim! - tenta parar de chorar.
— Você e Vitor comemoram algo hoje, não é?
— Sim! 16 anos que nos conhecemos...
— Pois então! Vai comemorar minha querida. O bebê de vocês quer ver vocês dois juntinhos e felizes!

Ela estava certa. Paula sentia isso no fundo do seu coração. Sentia que deveria viver e que o filho queria isso dela. Mas a dor de tê-lo perdido ainda a maltratava muito, mas precisava controlar. Marisa a deita em seu colo e permanece ali com ela por um longo tempo, até que ela se acalmasse e já pudesse falar de outros assuntos. Conversam sobre Vitor, sobre a casa, o viveiro de orquídeas...

— Obrigada...- olha para a sogra. Sei que não estava aqui como psicóloga!
— Não! Confesso que vim com essa intenção. Mas você é mais uma filha para mim, Paula... Tudo que te afeta, afeta a mim também. Não posso te olhar como profissional!
— Eu sei! Agradeço muito por termos essa relação tão afetuosa! A senhora importa muito para mim...- aperta a mão dela.

Marisa se levanta e a abraça emocionada. Vitória chega correndo na sala e fica olhando. Elas riem ao perceber a situação.

— Cadê o papai?
— "Naum sei..." - faz com os bracinhos.
— Num sabe? - se abaixa. Papai sumiu! - arregala os olhos. Vamos procurar ele! Vem...- dá a mão para a neta.
— "Vem mamae..."
— Vamos! - enxuga as lágrimas. Vamos atrás do papai! - segura a outra mão dela.

Encontram Vitor sentado no chão da porta com Flokinho no colo.

— Papai, Vitória está te procurando!
— Estava aqui até agora! - ri. Vem aqui... Vem ver o Flokinho, está dormindo no colinho.

A bebê se aproxima e senta no colo dele também. Paula e Marisa vão para varanda e Diva as serve um café. Algumas horas mais tarde, após visitarem o orquidário, falar sobre as plantas, Marisa vai embora. No quarto Vitor toma banho e Paula chega algum tempo depois.

— Vitor...- entra no banheiro.
— Sim...?
— Desculpa ter estragado sua surpresa! - se senta na bancada.
— Você não estragou!
— Mas iriamos sair, Vitoria ficaria com sua mãe, agora...
— Sim...- desliga a ducha. Mas não tem problema, minha mãe pode ficar com ela outro dia que sairmos.
— É...- entrega o roupão para ele.
— Cadê a Cíntia?
— Está na sala com Vitória.
— Entendi...- veste o roupão e vai para o closet. Pulinha...- ela o segue. Se quiser ir para o Shopping com a Cíntia, dar uma espairecida, por favor, vá! Eu cuido de Vitória. Você precisa pensar em outras coisas, vê pessoas, tomar outro ar.
— Não... Quero ficar aqui com você! - senta-se em uma poltrona.
— Já jantaram?
— Não! Diva está preparando e Sol colocando a mesa.
— Ok... Você já tomou um banho?
— Não...
— Então vá tomar para jantar...
— Não estou com...
— Paula, você vai comer! Por favor...
— Vou tomar banho!

Ela separa uma roupa e deixa na cama, indo para o banheiro. Vitor está mexendo no celular ainda de roupão na poltrona quando escuta ela gritar.

— Paula! - corre para o banheiro. Paula, o que houve?
— Ai! - se enrola na toalha. O chuveiro queimou!
— Afff Paula! Que susto. Meu Deus!
— Desculpa! - ri. Entrei com tudo e a água congelante caiu em mim. E agora? Você precisa trocar.
— Não tem nem um aqui! Amanhã vemos isso. Tome banho na banheira ou vá para o banheiro da Vitória, dos hóspedes...
— Vou no banheiro da Vivi... Aff, que droga esse chuveiro queimar! - vai para o quarto da filha.

Paula toma banho e ao retornar para seu quarto vê que Vitor ainda não se trocou.

— Ué Vitor... O que foi? Não se trocou ainda.
— Fiquei deitado vendo algumas coisas e esqueci...
— Como se esquece de trocar a roupa? - retira a toalha e se troca.
— Esquecendo...- a observa.
— Me joga o vestido! - olha para ele.
— Tô! - joga.
— Se troque... Não quer que eu jante? Vamos...- coloca a lingerie.
— Senta aqui... Vou pentear seu cabelo!
— Vou pegar a escova...- vai ao closet e retorna. Aqui...- entrega, sentando -se.
— Vamos lá...- separa o cabelo.

Ele começa a pentear e ela fecha os olhos. Adorava ele fazer isso, esse momento em que ficavam quietos, que se permitiam compartilhar de um gesto simples e que significava muito.

— Você cortou muito...
— Você não gostou?
— Gostei! Ficou lindo, mas tá bem curto.
— Achei melhor assim...
— Você tinha o cabelão, com os cachinhos na ponta...
— Sim! - ri dele falando.
— Pensei que Vitória nasceria com os cabelos igual...
— Até parece! O seu liso escorrido... Ela puxou para você.
— Sim... Mas os cachinhos seriam tão lindos.
— Também acho! Mas, fazer o que? Sua genética é muito forte.
— Sim, sou lindo.
— Aí Vitor! - riem.
— Estava com saudades...- escora a cabeça no ombro dela. Você rindo é tão bom...
— Eu sei! - acaricia o rosto dele. Só preciso de um momento ás vezes!
— Eu entendo! Juro que entendo e quero saber respeitar... Desculpa se sai dos limites.
— Está tudo bem...- olha para ele.
— Eu te amo!

Paula se vira para ele e o acaricia. Vitor se aproxima e a envolve em seus braços, beijando seu pescoço. Ela se deixa levar pelos carinhos dele, o corpo dele tão próximo ao seu, o cheiro inebriando. Beijam-se intensamente, deitando na cama enquanto continuam se acariciando. Paula desamarra o roupão de Vitor e beija seu corpo até se assustar com um barulho comum!


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Notas finais do capítulo

O que será?



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