Melhor me ouvir, Granger escrita por Artemis Stark
Estava no meu local de costume. Acendi o cigarro e bebi meu Martini. Olhei as unhas recém pintadas de vermelho, depois olhei para o relógio e para a porta. Ela era pontual. Metódica. Sentou-se no mesmo lugar. Próxima a mim, mas sem me notar, no entanto. Um copo de hidromel.
- Um copo de hidromel, por favor.
O garçom a serviu. Bati as unhas na minha taça. Ela estava preocupada com os próprios pensamentos. Pensamentos que eu conhecia muito bem. Sabia o que ela pensava. O que ela sentia. O que ela sonhava. Ela ficava o tempo suficiente de três copos. Depois ia embora.
Tinha que estar escuro. Noite suficiente para que Draco encontrasse com suas mulheres. Apaguei meu cigarro e fiz um gesto pedindo que completasse minha taça. Por que justo o Malfoy?
- Por que justo o Malfoy?
Eu sorri com a boca colada à taça já marcada pelo meu batom. Ela ignorou um bruxo que se aproximou. Eles não se aproximavam de mim. Já me conheciam o suficiente. Era um bruxo bonito. Granger tola.
Quanto tempo eu a observava?
Dias. Semanas.
A primeira vez que a vi entrar imaginei que era alguma briga com os amiguinhos Potter ou o Weasley. Só que seu comparecimento àquele bar era diário. Olhei os olhos dela refletidos no espelho. A fumaça do meu cigarro espalhando-se pelo ambiente. Li os lábios dela: Malfoy.
Ela tinha todos os sintomas.
Primeiro a felicidade, que eu presumi por ser a época que ela não comparecia àquele lugar, nem sentava-se no mesmo lugar nem bebia os três copos de hidromel.
Depois, a negação. Sua primeira semana murmurando o nome dele entre goles da bebida.
Na outra semana a aceitação do fato mais terrível para uma mulher: ver-se apaixonada por Draco Malfoy.
Sim, terrível...
Agora, a última fase. A esperança de mudar Draco Malfoy. E se odiar por isso. E ama-lo ainda mais por isso.
Quando ela pediu o segundo copo sentei ao lado dela.
- Boa noite, Granger.
- Parkinson – ela falou me olhando de lado – Não temos nada para conversar.
- Acho que temos sim.
- Não, não temos.
- Você está saindo com Draco Malfoy – sorri ao ver que ela engasgou com a bebida.
- Que estupidez, Parkinson. Ideia ridícula.
- Você pode enganar seus amigos. Não a mim – ela bebeu e me encarou virando o banco.
- E se eu estiver com ele? Qual o seu problema com isso?
- Meu? Não, Granger, o problema é inteirinho seu – acendi meu cigarro e pedi outra taça de Martini.
- Malfoy não é um problema – eu ri alto dessa. Não me importei que algumas pessoas olharam para nós.
É melhor você tirar isso de mim
Aquele menino é como uma doença
Você está correndo
Você está cansada
Você está tentando esconder
E você está se perguntando porque você não pode ficar livre
Ele é como uma maldição
Ele é como uma droga
Você fica viciada em seu amor
Você quer sair
Mas ele está te segurando
Porque você não pode viver sem mais um toque
- Você não sabe do que está falando, Parkinson. Isso é apenas inveja – dei uma tragada e soltei a fumaça vagarosamente. O sorriso em meus lábios.
- Você é uma sabe-tudo de Hogwarts, Granger. Mas quando o assunto é Draco Malfoy, a sabe-tudo sou eu.
Ele é um cowboy casanova dos bons tempos
Encostado na máquina de gravação
Ele parece um copo de água fresca
Mas ele é uma miséria revestida de doce
Ele é o diabo disfarçado
Uma cobra com olhos azuis
E ele só sai à noite
Dá-lhe sentimentos que você não quer lutar
É melhor você correr por sua vida
- Já vi outras como você. Eu mesma já passei por isso.
- As pessoas podem mudar. Veja só Snape – eu indiquei com a cabeça para que ela continuasse. Até onde iria a ingenuidade daquela garota? – ele mudou por amor a mãe de Harry.
- Granger, que história tocante. Só que Draco Malfoy não é Snape. Olhe para Snape... bom, não preciso dize mais nada – falei ao ver a expressão dela. No mínimo lembrando-se dos cabelos oleosos e o nariz proeminente no nosso falecido professor de poções...
Eu vejo aquele olhar em seu rosto
Você não está ouvindo o que eu digo
Então eu vou dizer de novo
Porque eu estive onde você está
E eu sei como isso termina
Você não pode fugir
Nem mesmo olhar nos olhos dele
Ele não vai dizer nada além de mentiras
E você quer acreditar
Mas você não será enganado
Se você me ouvir
E seguir meu conselho
- Agora... Draco. – continuei após apagar o cigarro e fazer uma breve pausa. Eu tinha conseguido a atenção dela - A voz rouca e sedutora. As roupas de qualidade, pretas geralmente, que ornam o corpo esguio e bem definido desse sedutor. Os olhos cinzas que se escurecem de desejo. O sorriso de lado quando quer te convencer de algo – vi que ela mordia os lábios com firmeza – O primeiro encontro em um restaurante requintado. Provavelmente te levou em algum bairro trouxa, para provar que sua mudança – ri quando ela abriu a boca indignada. Eu estava certa – Depois, ele te acompanhou em casa. Um carro chique, claro. Levou você até a porta de casa e quase, quase te beijou. Mas desviou a boca e sussurrou no seu ouvido: não quero apressar as coisas.
Ele é um cowboy casanova dos bons tempos
Encostado na máquina de gravação
Ele parece um copo de água fresca
Mas ele é uma miséria revestida de doce
Ele é o diabo disfarçado
Uma cobra com olhos azuis
E ele só sai à noite
Dá-lhe sentimentos que você não quer lutar
É melhor você correr por sua vida
- No outro dia, ele te manda flores. Girassóis? É, vejo que acertei. Com um cartão: Rosas são tão comuns. Você merece algo... único. Você o acaba convidando para um jantar na sua casa. Mas, ele recusa alegando que a proximidade de vocês é perigosa. Que só com você ele tem essas sensações. – vejo que ela bebe um gole mais longo. Mas, não deixa de me ouvir – O segundo encontro pede algo mais leve. Um bar descontraído. Ele te leva pra dançar. Demonstra ciúme, por que os homens te olham. E você sorri internamente, por que o Draco possessivo é incrivelmente irresistível. Ele te leva embora, dizendo algo como que não consegue ver tantos homens te olhando, por que isso, é algo que só eu devo fazer, Granger. A ênfase no sobrenome. Dito em voz baixa. Rouca. Milímetros da sua boca. E você, toma a iniciativa do beijo. Caindo na armadilha. Por que ele vai fazer questão de dizer que você o beijou antes. A brincadeira depois do sexo. E você ri. E a cada encontro é como se você fosse única. Por que para ela, você única. Naquele momento, Granger. Apenas naquele momento.
Corra, Corra pra longe
Não deixe ele bagunçar sua mente
Ele vai dizer-lhe algo que você quer ouvir
Ele vai quebrar seu coração
É apenas uma questão de tempo
Mas apenas lembre
- E você se vicia. E você precisa dele. E diz isso. Ele sorri. Lembrando que ele pediu calma, mas que não pôde resistir ao beijo que você iniciou. Mas ele tem a carreira dele, seus relacionamentos não podem vir a público. E você o entende. E você tem dó pensando em como a mídia gosta de atrapalhar e manchar, estragar a vida de Draco Malfoy. E cede. Mais uma vez. Mais duas vezes. Tantas incontáveis vezes, Granger.
Ela não dizia nada. Pedi mais uma taça e acendi outro cigarro. Vi que ela pediu a conta. Parando no segundo copo de hidromel. Eu sorri.
Ele é um charlatão dos bons tempos
Encostado na máquina de gravação
Ele se parece com um copo de água fresca
Mas ele é uma miséria revestida de doce
Ele é o diabo disfarçado
Uma cobra com olhos azuis
E ele só sai à noite
Dá-lhe sentimentos que você não quer lutar
É melhor você correr por sua vida
Oh, é melhor você correr por sua vida
Oh, é melhor você correr por sua vida
Antes que ela saísse falei:
- Eu disse que quando o assunto era Draco Malfoy a sabe-tudo sou eu. Melhor meu ouvir, Granger.
Ela saiu fechando o rosto. Não, ela não me ouviria. A cura do vício levaria mais uns meses. E quando ela começasse a perceber isso não se limitaria a apenas três copos de hidromel. Nem a garrafa seria suficiente. O Martini nunca é.
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