Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 7
Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Perdão. Perdão. Perdão.
Eu sei que demorei. Mas é que não achei tempo para postar, além de que estava passando por um bloqueio horrível. Perdi a conta de quantas vezes eu reescrevi esse capítulo. Para compensar um capítulo bem grandao =D
Enfim, a fic que não tinha nenhuma recomendação ganhou cinco o/ viva!
Eu amei de coração. Sério. Fiquei muito feliz :')
Agradeço a: Pietra. Leticiaédivergente. Melanie. Abby Lawrence Chase e a linda da Ells (Ella James Gregory). Dedico esse capítulo a vocês.
Obrigada também a você que comentou e favoritou. Preciso de vocês *--*
Espero que gostem.
CAPÍTULO EDITADO!



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[Tris]

Eu respiro fundo antes de explodir.

— Você ficou louco? — eu digo esfregando meu rosto e passando a mão em seu braço descoberto. Desfazendo-me do beijo. Ignorando qualquer vestígio de sensibilidade. E meu coração descompassado.

Eu o detesto com todas as minhas forças. Não posso fracassar agora. Mesmo que tenha achado sua atitude surpreendente e amável. Mesmo que esse Tobias esteja diferente.

Tobias arregala os olhos pelo meu grito. E sua expressão está incrédula.

— Acalme-se Tris. — ele diz. Ninando Aninha. Ela está o encarando. Como sempre faz.

— Sorte sua que está com o bebê nos braços! — eu semicerro os olhos para ele.

Quanta ousadia de sua parte.

— Você definitivamente não é normal. Qualquer garota desejaria um beijo. Mesmo que na bochecha.

— Talvez, mas de quem elas realmente gostem. — eu ralho e me olha com a testa enrugada.

— Ok Ok. Respire fundo e esqueça que isso aqui aconteceu, pelo bem de seus nervos! — ele murmura e caminha em direção da porta frontal. Com a expressão indecifrável. Conversando com Aninha.

Solto um grunhido.

Porque eu estou sentindo-me tão culpada? Tão estranha? Eu tento achar alguma explicação cabível para isso, entretanto não encontro nada. Jogo-me contra o sofá da sala e enterro meu rosto ali. Meu corpo grita para que eu mude de posição, a dormência dos meus braços e mãos ameaça se pronunciar. Ignoro. Nunca me sinto assim. Apenas em casos extremos.

Tobias não é um desses casos. Pelo menos a meu ver. Tudo o que eu fiz foi reclamar da aproximação inesperada. E que não foi agradável a mim.

Sem conseguir me conter fecho os olhos e sinto algo se remexer dentro de mim quando um ' replay ' do beijo surge em minha mente. Assustada com o que aquilo me causa, o efeito que tenho é me agitar e rolar diretamente para o chão. Batendo as costas.

— Droga! Droga de garoto! Droga de beijo fofo! — eu rosno e faço uma carranca estirada no chão, apoiando a bochecha na mão.

[...]

— Durma com os anjos minha menina! — eu digo docemente a Aninha. Mesmo que ela já esteja ressonando tranquilamente, imersa as minhas palavras. Eu lhe desejo um “boa noite” de sono.

Tobias está encostado no batente da porta e após eu me afastar, ele se aproxima do berço e lhe dá um beijo na testa. Como das outras vezes aquilo é uma prova de seu carinho por ela.

Ele está visivelmente tranquilo e com um olhar suave. Ele sorri e arruma mais uma vez os brinquedos que a rodeia. Ali no cantinho, perto a sua pequena cabeça, está o ursinho marrom que Marlene lhe presenteou quando veio conhece-la. Me vem uma lembrança.

Eu reprimo uma baforada.

Pelo menos enquanto Tobias está presente. Eu o espero sair dali. A tarde ele não teve coragem — ou fez de propósito — de falar comigo depois que voltou da rua com o bebê. Ainda que isso não me importe.

Eu cruzo os braços.

— O que é? — ele indaga e me encara. Pela primeira vez após retornar do breve passeio que fez com Ana mais cedo.

— Está falando comigo de novo? — eu arqueio uma sobrancelha.

Ele dá de ombros.

— Beatrice... sou seu responsável. E não há motivo para ignorar você de qualquer forma. Eu conheço você o suficiente para compreender seu gênio...

Eu estou boquiaberta.

Eu encolho os ombros.

Ele consegue ser muito mais cortante usando esse tom baixo do que gritando comigo. E aquilo me enfurece. Ele não me conhece.

— Você. Não. Me. Conhece. — digo pausadamente.

— Talvez esteja certa. Enfim. Estou indo.

Eu aperto meus olhos

— Tobias...

— Tris. Vamos dormir. — ele pisca um olho. — se você quiser eu levanto a bandeirinha branca ok?

— Que seja! — eu levanto as mãos. — Idiota! — eu murmuro baixinho para que ele não ouça enquanto ando rumo ao meu quarto.

Ele rir.

É claro que escutou.

— Tenha bons sonhos, Tris. Nos vemos amanhã! Max mandou lembranças! — rir loucamente e bate a porta com força quando eu faço menção em responder.

Fecho minhas mãos em punho e entro em meu quarto enraivecida. Pela ousadia e porque poderia acordar o bebê. Eu sei que daqui algumas horas ou minutos ela acordará linda e chorosa para que eu lhe alimente.

Recordo-me do que ele disse. Sobre Max, um de seus amigos. Eles também estavam ali naquela tarde para visitar Aninha e conhece-la. Max, Shauna e Zeke.

No começo eu fui relutante, pois éramos inimigos. Por assim dizer. Porém aos poucos eu vi que eles não eram tão ruins. Diferentes da imagem que eu havia criado. Ainda que fossem radicais demais. Eles estão apoiando Tobias, assim como os meus amigos a mim. Precisamos deles afinal.

Suspiro.

Shauna até mesmo ajudou Chris, Mar e eu a fazer o lanche. Queijo quente e Coca Cola. Todos gostam disso.

Max é um garoto com sérios problemas mentais. Suas piadas não tinham sentido, muitas vezes. Mas ele é legal.

Zeke o irmão mais velho — um ano — de Uriah. Ele é bacana e suportável. Melhor amigo de Tobias. Soube pela forma como eles trocavam olhares e se falavam.

Um dos motivos dos quais fiquei me remoendo por um tempo durante esses momentos. Meu coração se apertou, porque de qualquer maneira ele tinha ' roubado ' meu lugar. Então afastei isso para debaixo de um tapete imaginário. O qual estava atolado de tantas coisas que eu vinha empurrando há tempos. Ele assim como meu diário eram torturados diariamente pelos meus sentimentos e emoções... Antes.

Eric e Peter não apareceram. O que foi um alivio. Eu os odeio. E mesmo que eles tivessem ido eu duvidava que teria aguentado por mais que um segundo na presença deles.

Embrulho-me com a coberta grossa em desenhos floridos. A que eu havia ganhado de Marcus Eaton há quase três anos. O pai aventureiro de Tobias. Até hoje ninguém sabe onde ele se encontra. E eu acho que é bom assim. Ele sempre se mostrou bom pai, mas ele não era.

Meus olhos pesam. Minhas pálpebras fecham e eu caminho para um sono tranquilo e sem sonhos.

[...]

Uma semana depois.

A cada dia eu estou mais certa de que o lugar de Ana é conosco. E mesmo que eu entenda todas as consequências eu sei que posso suportar.

Elas ainda não chegaram, porém alguma hora elas virão. Ou não. Eu não ligo pela forma cansada que eu acordo pela manhã. Mas as vezes me pergunto como as mães conseguem.

Não que eu seja isso para Ana. Eu não tenho certeza se posso ser a figura materna para ela. Talvez uma tia. Tia Tris. Eu juro que consigo escutar sua doce voz de criança me chamar em meu pensamento. Entretanto não gosto como essas duas palavras soam. Elas me trazem uma sensação estranha e desgostosa. Mas definitivamente não tenho capacidade de ser sua mãe. Então o que eu sou? Talvez a palavra mais viável seja ' guardiã '.

É noite de quinta-feira e estamos na cozinha. Após eu queimar nosso jantar que seria macarrão com molho vermelho eu desisto de cozinhar e estamos alimentando Ana agora. Esperando eu acho a nossa comida cair do céu. Estou frustrada.

— Olha o aviãozinho! — arrulha Tobias levando a pequena colher em direção a boca de Ana.

Eu sorrio.

Ajeito seu babador lilás de bichinhos e tenho uma ideia.

— Eu estou com fome. — meu estômago protesta, eu o afago distraidamente — vou pedir uma pizza. Já que a macarronada foi para o ralo.

— Quero de bacon, por favor. E se tiver bolo eu quero! — ele diz. E me fita, com os olhos pidonhos. Eu me limito a rir. Seu favorito desde sempre.

Eu quero rebater. Mas me controlo e vou até o telefone discando o número e fazendo o pedido. Depois de alguns instantes volto ao lugar e me sento ao lado do bebê, em sua própria cadeirinha.

— Preparado para amanhã? — eu pergunto. Sem realmente estar interessada, só para quebrar o silêncio. Não se engane Tris. Minha doce inconsciência acusa. Às vezes eu tenho vontade de a calar de uma vez, mas isso não é possível. O jeito é conviver com ela zumbindo sempre.

— Eu espero que sim. Treinamos muito para fracassar! Se isso chegar a acontecer eu me mato! — ele desvia o olhar de Ana para mim.

— Eu hein! Que besteira Tobias. — estremeço e resisto a lhe dar uma tapa.

Ele sorri.

— É né, não posso ir embora agora. Quem mais vai aceitar o trabalho de cuidar de você doce Tris?

Eu dou língua. Ele sorri.

Mas por alguma razão, não gosto das suas palavras ridículas. Eu hein, Tris. Foco! Alerto-me.

Eu venho sofrendo uma batalha interior agonizante. Desde que o idiota do Tobias achou de ser muito mais gentil comigo. Não que isso me agrade. Não. Claro.

Eu sei que isso tudo é por causa de Ana. Foi o nosso acordo, afinal. Mas isso não incluía abrir as portas do seu carro para que eu entre, ou carregar minha bandeja no almoço. Agora que todos nós somos ' amigos ' sentamos juntos. Exceção de Eric e Peter. Eles se afastaram muito para meu deleite.

E essa sua condescendência comigo é assustadora embora adorável. Ainda que eu relute a admitir isso. Mesmo sendo óbvio. Qualquer um pode ver. Amanhã, sexta, terá um jogo de basquete e Tobias vem treinando arduamente junto com os Dauntless. É raro eles perderem.

Pisco os olhos rapidamente.

Retornando ao presente.

— Você não sobreviveria sem mim, eu sei disso. — ele pisca um olho. E eu solto uma risada.

— Idiota! — eu reviro os olhos. — Esqueça isso, Quatro.

Ele me encara cabisbaixo, mas passa.

— Sarcasmo há essa hora, doce Tris? — ele diz. Concentrado em dar comida a Ana.

— Não. De forma alguma. E pare de me chamar assim! — eu bufo.

— Oh, é adorável e combina perfeitamente com você...

— E depois eu que estou usando sarcasmo! — balanço a cabeça. E semicerro os olhos.

Ele abre a boca para falar, mas é interrompido pelo som da campainha. Posso ver o brilho de esperança em meus olhos refletindo nos dele.

Comida!

.

[...]

Como em minha nova rotina, eu acordo cedo, tomo banho e vou acordar Ana para lhe banhar antes de lhe entregar a Sra. Brown. Ela está se comportando bem durante as madrugadas. Acorda apenas uma vez e o resto dorme direto. O que facilitou muito a minha atenção nas aulas.

Eu a visto com um conjunto rosa bebê, de detalhes brancos ondulares na blusa comprida.

Quando eu a carrego sinto o peso novo, talvez ainda mais pesada, Tobias e eu estamos a alimentando bem. E seu cabelo está dois centímetros abaixo.

Seu rostinho está vistoso e corado. Sento na poltrona do seu quarto. Deitando-a em meus braços. Eu ofereço o bico da mamadeira a ela que o captura sem hesitar.

Cantarolo uma de minhas canções favoritas e ela observa atentamente. Como sempre faz. Encaro seus lindos olhos. Tão meigos capaz de me dominar completamente. Ela já o fez desde a primeira vez que a vi. Sou capaz de tudo por ela, até mesmo matar. O que eu creio que teria uma porcentagem mínima de se acontecer.

Depois que ela termina eu a faço arrotar. E pergunto:

— Pronta? — ela se remexe e faz sons desconexos, o que os bebês costumam fazer. Como se estivesse falando algo interessante. Eu presto atenção.

Eu lhe dou um beijo na bochecha e seguimos para baixo. Encontro Tobias arremessando algumas folhas de papel num cesto de roupa ali perto.

— E aí? — eu digo.

— Bom dia, doce Tris. — ele sorri e eu reviro os olhos.

— Pronto?

Ele assente.

Após terminarmos de tomar café da manhã, nos preparamos para seguir. Só que eu me esqueço do casaco. A temperatura está baixa.

Eu peço para que ele segure o bebê para que eu o busque em meu quarto, muito apressadamente puxo a manga sem me importar com o que cai. Fazendo um som de livro se espatifando no chão.

Quando eu voltar eu junto. Faço a nota mental.

.

Os corredores estão atumultuados e as pessoas apreensivas e agitadas. Eu sou a única que pareço estar tranquila. Carrego meus livros nos braços para coloca-los no armário e o faço ao chegar a meu destino.

Encontro Chris e os meus outros amigos em direção do ginásio. E caminho com eles. Conversando com ela os novos planos de passeio.

A arquibancada já está cheia demais. Optamos por sentar no último banco, bem perto a cesta de basquete. Vejo Al meio perdido entre os estudantes que chegam e aceno até ele me enxergar. Ele senta ao meu lado. Temos um pequeno diálogo.

Há uma pequena confusão com empurrões e tentativas de socos entre o time e Eric e Peter. Vejo um bate-boca entre Tobias e Eric, ocasionado um soco no esquisito. O treinador interrompe e acaba rapidamente com aquilo.

Vejo Eric no banco quando o jogo começa. Eu reprimo a vontade de rir e apontar um dedo em sua direção. Ele merece isso.

Claro, sem antes a abertura excepcional das líderes de torcida. Lynn como sempre chama a atenção para si. Eu também me controlo para não jogar uma latinha de refrigerante e pipoca nela.

Quando Tobias entra ele varre os bancos como se procurasse alguém e ao me ver ele sorrir abertamente. Mostro o polegar mandando um “joinha” para o incentivar.

Após os primeiros minutos do primeiro tempo os Tigers marcam dois pontos. Chris reclama constantemente o desempenho do time da casa. Gritando. Will tenta fazer com que ela se cale um pouco bloqueando sua boca.

Eu rio.

E surpreendentemente a virada acontece. Os Dauntless começam a marcar um atrás do outro e os torcedores gritam incentivos ao Quatro. O que é a sua fonte de energia.

.

Ele conseguiu. Acertou as últimas 12 cestas. Não é à toa que ele seja o capitão do time. Todos vão à loucura. E em todos os jogos — que o time da casa ganha — os estudantes entoam o nome "Quatro".

Ele me dá o último olhar depois do jogo e vejo apenas um borrão. Molly o agarra de um lado e Lynn do outro. O abraçando.

Eu aperto os olhos com a fúria já a me dominar e algo queimante dentro de mim.

Meu estômago se remexe e eu me volto para Christina para me despedir. Desejo sair o quanto antes dali. Ela vem comigo assim como Will e todos os outros. Paramos no estacionamento.

— Com certeza eles irão comemorar em algum lugar privativo! — murmura Al. Eu estremeço. Tendo a lembrança de Molly e Lynn perto de Tobias. E eu desisto de o parabenizar pela vitória.

— Sim, como uma festinha entre eles apenas. — Christina fala lançando um olhar estranho a Al.

Concordo com a cabeça.

Sem querer pausar muito naquele assunto. Não quero pensar. Ainda que ultimamente fora criada uma bolha de paz ao redor de nós. Eu nunca faria parte daquilo.

— De qualquer forma não fomos convidados então estamos livres para fazer algo. — eu digo.

Os olhos de Christina se iluminam.

— Vamos logo, galera! — Urih se manifesta.

— Sim. Vamos para a casa de Albert!

— Podemos Al?

— Mas é claro. Mamãe estava sentindo falta da bagunça, e foi ela mesmo quem disse.

— Então vamos buscar Ana e rumamos para a casa dele.

.

.

[Tobias]

— Você viu Tris? — indago a Zeke. Secando meu cabelo molhado. Depois de tomar um banho frio.

Eu a vi rapidamente, antes das garotas da torcida me sufocarem num “abraço”.

— Não. — ele diz sacudindo a cabeça. — você ultimamente está tão próximo a ela. Está rolando alguma coisa entre vocês por um acaso? — ele me olha desconfiado.

Eu bufo.

— Não, e tem algum problema nisso? — eu digo.

—— Ei, calma aí. Eu só estou curioso, nada demais ok. Respire. Eu sei que ainda está nervoso pelo Eric disse a você.

Eu respiro fundo e solto um grunhido.

— Não me entenda mal. Eu não penso como ele. É claro que isso foi assustador no começo, mas é algo diferente. Eu estou me acostumando.

Neste instante as palavras de Eric ecoam em minha mente. Fazendo com que eu feche minhas mãos irritado e completamente enraivecido.

"Desde que você se juntou com essa Careta você não é o mesmo, ela está destruindo sua vida e você não enxerga" e depois eu me lembro de ter socado seu estômago.

— Isso não é relevante. Não muda nada. Mas se eu o ver pelos corredores e ele soltar algo assim novamente eu o mando para um hospital sem piedade. — eu digo entre dentes.

Zeke rir.

— Eu te ajudo, cara!

Depois que me arrumo saio ao lado de Zeke, Max havia se aprontado primeiro e ido em direção dos costumeiros cumprimentos.

O mesmo vem em minha direção e dá palmadinhas em minhas costas.

— Que maneiro você dar a festa, cara! — ele diz com um sorriso insinuador.

— Como é? — eu indago confuso.

— As líderes estão espalhando para a galera que a festa da vitória será na sua casa. — ele diz ainda com o sorriso.

Eu trinco o maxilar.

— Eu não planejei nada disso.

— Foi Lynn quem pediu a elas, é o que eu sei! — Shauna diz agarrada a Zeke.

Fecho os olhos.

.

As pessoas surgem e eu finjo um sorriso quando falam comigo. Eu apenas quero ver Clara e Tris. Em outro momento essas festas seriam tudo para mim. Mas agora eu só consigo sentir tédio e raiva de Lynn. Que pelo visto ainda não compreendeu.

Ela não tinha qualquer direito de convidar praticamente todo o corpo estudantil sem a minha permissão. E não tenho dúvida alguma que a proibiria de realizar tal coisa.

Maluca.

— Quatro, meu amor... — ronrona Lynn se aproximando de mim e passando sua mão em meu braço. Eu semicerro os olhos.

— Ah, aí está você. — eu digo. — queria mesmo te encontrar.

Ela abre um sorriso enorme.

— Eu sabia que não tinha me esquecido totalmente. — ela tenta me beijar. Eu a impeço.

— Não pense bobagem. Escute bem porque não vou repetir. Eu Tobias — aponto para meu peito. Para que ela entenda melhor. — Não gosto mais de você. — aponto para ela — Não adianta inventar mil coisas para se aproximar de mim. Ok? Não há volta. E nunca mais espalhe algo sem a minha autorização de novo.

Eu a deixo só. Com seus pestanejos e protestos para trás. É uma perca de tempo.

Mas posso ouvir sua ameaça antes de me afastar o bastante: — Você vai se arrepender.

.

Eu olho o relógio mais uma vez. Eu estou apreensivo por causa de Tris, que ainda não apareceu com o bebê. Eu já mandei mensagens e ela não teve a decência de responder.

Restam algumas pessoas ainda, a casa está completamente bagunçada e repleta de vestígios de comida, e copos. Tris detesta tudo que envolva bagunça. Ela irá surtar.

Eu não estou mais com paciência para aguentar aquela música alta e risos por toda a parte. Além do maldito cheiro de bebida alcoólica.

— Gente, sinto muito que tenha que fazer isso, mas já acabou! — eu grito sem ser rude. Colocando as mãos uma em cada lado da boca para sair mais alto.

Imediatamente todos começam a sair. Em respeito a mim. Eu fico aliviado por ter um álibi. Despedindo-se tranquilamente. Alguns reclamando e indo embora sem falar comigo.

Restando apenas meus amigos. Que permanecem até que Tris apareça.

.

— Tris, onde você está?! Retorne, por favor. Preciso saber se ao menos está viva! — oitavo recado que deixo em sua caixa postal.

Eu não sabia mais o que fazer. Minha preocupação indo a mil.

— Relaxa, Quatro. Ela já deve estar voltando. — diz Shauna tentando me tranquilizar. Sem efeito.

Zeke volta da cozinha e se senta.

— Acabei de falar com meu irmão. Eles estão na casa do Al.

— O que? Quem?

— Al, Quatro. O amigo deles.

— Que amigo?

— Um grandalhão com cara de bebê.

— Eu sei quem é! — rolo os olhos.

Zeke me lança um olhar significativo.

Um silêncio paira no ar.

— Você está com ciúmes? — ele diz. Comprimindo os lábios. Para não rir. Shauna sorri levemente.

Eu pigarreio.

— E se eu estiver, algum problema nisso? — eu digo entre dentes. Esperando que a sensação que me corrói pare. Eu tenho vontade de socar alguma coisa. Sinto um frio agonizante no estômago.

Ele ergue as mãos entortando a boca.

— Ciúme é normal nessa situação.

— Nessa situação? O que você quer dizer com isso?

— Ah, Quatro. Todos nós aqui sabemos, está na cara! — diz Zeke e Shauna concorda.

Olho para baixo.

Max está estirado no chão, completamente bêbado. Eu me sinto estranho. Eu gosto de Tris?

— Não minta, eu conheço bem você. E sei quando está se envolvendo. Ela é boa. Desde quando o bebê chegou você está diferente. Ainda mais próximo a Tris. Como eu disse a você. Não me leve a mal. Clara também está nos mudando. — ele pisca um olho.

Eu não respondo.

E encaro o nada. Pensando.

Eu gosto de Tris? Indago-me novamente. Eu sempre a amei. Como a uma irmã. Desde quando isso se transformou em algo mais? Em qual momento isso aconteceu? Mais perguntas que eu não sei responder. Mas algo faz com que eu acredite nisso. Como o meu coração reage. Ele bate forte. Muito forte.

.

Subo até o banheiro e algo me chama até o quarto de Tris. Sem entender eu adentro seu mundo visivelmente arrumado e limpo. Inspiro o perfume que o lugar exala. E eu sinto uma mistura de diversos sentimentos. Eu nunca havia percebido isso antes.

Eu a conheço desde criança. O que a torna ainda mais especial. Compartilhamos tantas coisas.

Quando faço menção de sair em minha visão periférica vejo no chão um pequeno livro lilás. Pondero por uns minutos.

Minha curiosidade é maior e eu me aproximo lentamente, temendo ser pego a qualquer instante.

Constato que o livro é na verdade um diário. Meu coração salta e bombeia forte em meu peito. Dividido entre deixar no lugar e fingir que nada aconteceu e descobrir porque nos tornamos assim. Porque ela alimenta uma antipatia por mim apesar de suspeitar das coisas que a fiz passar na escola.

Numa hora eu miro a capa de couro e noutra leio a primeira página. Um sorriso escapa dos meus lábios. É sobre nós. No dia em que fomos ao parque. Sua caligrafia meio torta pela pouca idade.

Conforme alterno as folhas floridas meu sorriso vai desmanchando até sumir completamente. Paro numa especificadamente e meus olhos se arregalam. Eu tenho um impacto tão forte que fico sem raciocinar por pelo menos dois minutos.

Deixo cair o livrinho lilás de minhas mãos. Incapaz de me mover algum centímetro. Vários pensamentos me atingem. A neblina que me impedia de ir mais a fundo em certas lembranças, se fora... Elas estão claras e vivas em minha mente.

Recobro os comandos de meu próprio corpo e agacho-me rapidamente para apanhar o pequeno caderno.

Fico envolvido por uma espécie de angústia esmagadora. Meus olhos se arregalam novamente e sem conseguir reprimir o desejo. As lágrimas escorregam, quentes e frescas. Meu peito dói. Muito.

Não costumo chorar. Entretanto não há como me controlar. É algo muito forte. Porém não me porto como uma vítima. Ao contrário. Sinto-me um monstro. Agora que me lembro.

Um filme sem ' stop ' passa diante de meus olhos. Engulo em seco. Sou um idiota. Como Tris sempre alegou. Tris. Minha doce Tris. Eu me sinto culpado até mesmo ao pensar em seu nome.

Ler tudo pelo que ela passou nesses anos de minha ausência foi um impacto muito grande. Cada pensamento seu. Cada sentimento seu. Cada lágrima sua, julgo pelos borrões em algumas palavras contida ali. Quero morrer.

Eu não a mereço. Nem em pensamento.

Pareço ficar ali por pelo menos meia hora e quando eu sou flagrado eu me sobressalto.

— Tobias? — indaga a garota loira a poucos metros de distância. Incerta e confusa. Sua expressão muda de repente se tornando visivelmente furiosa. Suas mãos tremem e seu olhar caí em minhas mãos. Ela arregala os olhos. — o...o que você faz aqui? Isso é meu diário? — ao constatar que realmente é. Ela explode. — largue isso. Largue isso agora!

Ela está apavorada. Não sei se pelo livrinho ou pelo meu estado.

— Perdão... — minha voz treme. E é só o que eu consigo dizer.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Muitooos comentários okay? Favoritem! Mandem sugestões lindas.
BEIJOS