Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 3
Decisões


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO EDITADO!
ESPERO QUE GOSTEM :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/465832/chapter/3

[Tris]

Deixo um recado na caixa postal de Christina. Minha amiga. Nele digo que irei matar aula hoje, mas não explico o motivo e tenho quase certeza — se não totalmente — que ela irá me questionar depois.

Tobias e eu estamos na sala andando de um lado para outro, nos encarando de vez em quando, fazendo menção de falar algo mas desistimos. Queremos chegar em alguma solução do que fazer. Meus olhos estão pesados é como se eu não tivesse dormido. O que realmente aconteceu, no resto da madrugada Nita decidiu querer ficar acordada depois de estar de fralda limpinha. Eu não quero ter que deixa-la ir. Com os pensamentos que rondam minha mente meus pais irão achar uma atitude altruísta da minha parte ou irão me chamar de louca. Prefiro a primeira opção. Ainda que eles tenham um bom coração não sei qual seria a reação deles de fato.

Ela está no chão deitada em seu cesto, por mais que esteja sonolenta ela prefere brincar com suas pequeninas mãos e abocanha-las de vez em quando. Eu sorrio. Ela continua com a mesma roupa da noite anterior. Não é como se eu esperasse sua chegada.

Eu sei o que eu quero. Mesmo que meu futuro que sempre fora planejado minuciosamente se torne incerto. Porém eu não sei como dizer isso à ele. E torço para que Tobias queira tanto isso quanto eu. Gostaria muito de saber o que se passa por sua cabeça. Ele está esquisito. Uma versão 1.1 dele mesmo. Apesar de ter certeza a casa que estou é a sua. Preciso que meio de sua permissão. Rolo os olhos.

Depois de um tempo eu escuto sua voz rouca.

— Chega de pensar!  — diz ele. Olhando em meus olhos.    

Limpo a garganta e decido falar quando um silêncio perturbador se instala no ar.

— Então? — eu peço, por que por mais que eu quisesse fazer isso sozinha, não posso, pois de certa forma Tobias também faz parte disso.

Ele enruga a testa antes de falar algo e uni as sobrancelhas. O que o faz parecer cinco anos mais velho. E engole em seco.

— Eu... — começa — eu não acho que o melhor para criança seja ficar conosco. Que experiência nós temos hã? Mal cuidamos de nós mesmos. O que devemos fazer é ir até a delegacia ou até mesmo num orfanato e deixa-la lá.

Eu estou boquiaberta. Eu o encaro cética. Era exatamente o que eu estava esperando ouvir. Não temos nada a ver com Nita, ela não é nossa filha. A sua vida gloriosa no colegial e namorada são mais importantes do que um simples bebê que mal conhecemos. Ele é um imbecil.

Meus olhos se enchem de lágrimas, uma dor absolutamente alucinante aperta o meu coração.

— Nós... — eu argumento tentando parecer firme, mas falho gaguejando — nós podemos nos esforçar um pouco e...

— Nós não nos suportamos Beatrice. Não entendo você agora querer criar um laço comigo. Você é inteligente não? Tem certeza que quer mesmo ficar ligada a mim dessa forma? Sabe que não posso fazer isso. Eu amo Lynn.

Uma fúria tremenda toma conta de mim no mesmo instante que ele diz isso. Sim, eu o odeio mais que tudo agora. Por ele ser um babaca, por ele ter me magoado muito e agora por ser tão egoísta. Não tinha certeza que existisse alguém tão egoísta como ele.

Estou diante dele, bem perto, fechos minhas mãos em punho e a minha vontade é de socar cada pedaço seu enquanto eu grito o quanto ele é estupido. Mas então a bebezinha linda que colocou o meu mundo de cabeça para baixo de ontem para hoje começa a chorar. Um choro sentido que faz meu peito doer mais. Eu me agacho para pegá-la no colo e acalma-la, sentindo um nó na garganta.

Nino-a com todo cuidado que está ao meu alcance.

Não vou ficar com ela, nunca mais a verei, serei apenas um borrão em sua escassa memória. Eu não sei como ou porque eu sinto tanto apreço por ela, como ela se tornou tão importante para mim imediatamente.

Eu sinto raiva, saudade, dor, e principalmente ódio.

...

Tobias estaciona o carro frente ao Orfanato Feminino que o mesmo pesquisou enquanto eu alimentava Nita. Apesar do seu coração frio, ao menos fez isso por ela, ele disse: Se ela vai para um lar de adoção, que seja o melhor.  O melhor seria ela ficar conosco. Eu disse entre dentes, mas para mim mesma. Sinto-me tão impotente, de mãos amarradas. Eu posso muito bem dizer que eu a quero, mas como vou mantê-la? O dinheiro que possuo é para a faculdade e outras despesas, ele iria rapidamente. Eu sei que se gasta muito para educar uma criança. Diferente de mim Tobias herdou milhares de sua mãe e consequentemente boa parte da fortuna de Marcus, quando o mesmo partiu sem dar notícias.

A cesta ficou na casa depois de eu gritar e dizer que pelo menos a daríamos pessoalmente às irmãs da caridade. Não repetiria a mesma coisa que Cara. Eu solto um riso sombrio. Sua mãe a abandonou e agora estamos a fazer o que?     

O meu peito ainda continua sendo estraçalhado pelo o que vamos fazer. As lágrimas caem incessantes molhando minhas bochechas. Estou chorando silenciosamente e odiando o fato de fazer isso na frente de Tobias. Não quero parecer frágil, mas ao contrário dele eu tenho um coração que pulsa e é sensível.

— Está pronta? — ele pergunta me fitando após suspirar. Encara Nita com aquele olhar encantado sacudindo a cabeça posteriormente. Uma parte de mim me diz que ele não está seguro na decisão. Sinto um fio de esperança.

Eu faço a pior careta que posso, sem me importar aparentar ter seis anos.

Ele suspira mais uma vez.

— Esse é o melhor, Beatrice. — diz compreensivamente.

Prefiro por me calar. Mas minha vontade maior era gritar ou implorar, mesmo que eu perdesse minha dignidade. Passei a viagem até aqui a encarar os lindos olhos azuis de Nita, para fixar em meus pensamentos por toda a minha vida.

Ele sai do carro primeiro e fica a me esperar.

— Adeus, minha menina. — digo beijando sua pequenina mão com ternura.

Recobro as forças e saio com ela, que se manteve meio agitada. Continuo admirada por não ser sido vencida pelo sono ainda. Desço do carro em silencio, envolvendo o bebê com meus braços fortemente, mas tendo cuidado para não sufoca-la. Caminhamos juntos até o portão duplo de madeira.

Como um estralo eu me lembro dos meus pais. Eu posso sorrateiramente pedir dinheiro deles, dando qualquer justificativa até que esteja realmente pronta para apresentar o bebê. Eu posso fazer isso sozinha!

No mesmo instante que eu abro a boca para dizer a ele para voltarmos para o carro, Nita começa a chorar desesperadamente, como na noite anterior, eu a nino para acalma-la, enquanto Tobias toca a campainha repetidas vezes. Ninguém. Depois de alguns minutos tentando inutilmente consola-la, ele a pega dos meus braços e a deposita no ninho dos seus, fazendo a mágica de novo.

Como se tudo congelasse, ele paralisa novamente, fitando os olhos dela, seus ombros caem e sua face “tranquila” se esvai, dando lugar a uma expressão desconhecida a mim, é uma careta de dor. Fico surpresa com aquilo. Limpo os vestígios de lágrimas. Eu não fui a única a me afeiçoar a ela instantaneamente. Respiro aliviada.

— Bom dia — uma mulher negra usando o hábito branco de bordas azuis surge com um lindo sorriso gentil. — desejam alguma coisa meus jovens?

— Não, irmã. Obrigado. Tenha um bom dia. — é Tobias quem diz, olhando para mim, que troco um breve aperto de mãos com a irmã.

Ele caminha na frente segurando o bebê no colo e vejo a face de Nita por cima de seu ombro, que está a chupar o ombro dele. Sorrio para ela em meio às lágrimas que ainda insistem em descer.

— Isso pode custar o meu relacionamento. — é a única coisa que diz depois de voltarmos para o carro.

Limpo a garganta.

— Eu posso fazer isso sozinha, eu só preciso que me deixe ficar na sua casa. Nos dê abrigo e pronto.

Ele olha para mim.

— Não. É minha responsabilidade também. Se vamos fazer isso, será juntos.

Eu dou um breve aceno.

Não sei o que acontecerá de agora em diante, mas ainda que ele tenha feito esse ato genuíno eu não posso esquecer meu ódio por ele. Ele fez por Nita. E a partir de agora é assim que será. Cuidaremos dela juntos, mas cada um vivendo em seu quadrado. O livro da minha vida que antes continha cada página escrita com precisão se encontra em branco. 

— Eu acho que essa é uma das decisões mais radicais e malucas que eu já tive na vida. — comenta com um pingo de escarnio.

— Estamos no mesmo patamar.

Rimos meio sem jeito.

Ele me devolve Nita, mas sem antes depositar um beijinho em sua testa e rumamos para a residência dos Eaton.

Depois que chegamos, corro para o meu quarto para pegar e mostro a ele outra coisa que a mãe de Nita, deixou. Encontrei no cesto bem escondido, certamente debaixo do cesto. Nele está sua certidão de nascimento. Eu contei os meses e concluí que ela tinha de fato seis meses como achei desde o início.

[...]

Nita e eu ganhamos. Ela terá um lar e pessoas com quem pode contar. Eu não vou ter que me preocupar com ela longe de mim. Meu peito está para explodir de felicidade. Não atrevo-me a me associar com a palavra mãe. Não sei se posso ser uma para ela. Mas tenho a partir de hoje uma baita reponsabilidade. Tão jovem e guardiã de uma criança.  O colar prateado que estava com o bebê eu o tirei e o guardei no criado mudo no meu quarto.

Tobias leva minha bolsa no braço que está com uma mamadeira extra se ela sentir fome. Ele veio com aquele papo de ' cavalheirismo ' de novo. Talvez realmente exista isso nele.

Pegamos dinheiro e cartões de crédito para comprar o que vamos precisar para manter Nita. Já temos um cercadinho e berço — que já está no porta malas — e uma bolsa grande. Estamos caminhando lado a lado cercados de lojas diversas. Somos alvo de muitos olhares.

— Não acredito que estou num shopping com você! — desabafa Tobias. Eu também não.

— Não é por mim e sim por nossa protegida! — eu digo. Um tanto incomodada com que eu declarei, soou estranho. Nossa. Sempre foi Eu e Ele. Nada de nós. Nem nossa.

— Protegida?

— Sim, porque? Você prefere " filhinha "? — pergunto com vestígios de humor.

Tobias estremece. Eu sorrio.

— Não, claro. Só achei estranho.

Encolho os ombros.

Nita está deitada em meus braços adormecida. Não seria diferente, brincou tanto e passou a madrugada inteira fazendo cerão e certamente a agitação de ter ido até o orfanato lhe cansou.

— Precisamos comprar fraldas, talco, pomada, colônia... — eu digo. Incrivelmente eu guardei as instruções de Kyle. E o que seria de mim sem o Google? Eu pedi socorro a ele.

— Eu estou pensando seriamente em voltar atrás! — resmunga.

— E o egoísta de sempre está retornando — rolo os olhos.

— Eu estava brincando. Mas você é tão carrancuda que não nota! — retruca.

Eu engulo o insulto que me vem na cabeça. Tobias está ajudando Tris, seja gentil. Me advirto. Por Nita. Eu tenho que ser cuidadosa, ele pode voltar atrás, eu não quero isso, ele não tem nenhuma obrigação e pode muito bem optar por não acolher mais Nita. Tenho o plano B. Entretanto acho que ele está tão encantado com ela que não teria forças.

Compramos o que eu citei e paramos em um banco de madeira para descansar. Eu ofereço Nita para ele que a pega sem hesitar, sorrindo um pouco quando ele a encaixa no ninho de seus braços. O episódio de manhã quase esquecido. O seu celular toca e ele pede licença antes de atendê-la. Eu sei que é ela. Lynn. Reviro os olhos.

E acho estranho ele ter a consideração de ser educado. Dou de ombros.

Ele retorna com um sorriso. Sinto algo esquisito dentro de mim. Chocalho meu corpo para aquilo passar e logo. De repente eu noto que seu cabelo está sedoso e uma graça quando ele passa os dedos entre as mechas. Meneio minha cabeça para voltar a raciocinar direito. O que eu perdi?

— Vamos fazer um trato? — proponho pigarreando.

— Depende... — ele brinca. Rolo os olhos. — tudo bem, fala. — ele rir assentindo e espera que eu prossiga.

 — Eu acho que temos que tentar nos dar bem... sem insultos ou ofensas.

— Olha! Brilhante! Eu acho isso uma boa. É bom ter paz sabe? E não ter atritos o dia todo!

Fico em silêncio por um minuto assimilando o que ele diz. Não teria atritos se ele não tivesse começado primeiro.

Noto que eu não volto para minhas mágoas durante este tempo. Relembrando e me remoendo de ressentimento. Somente agora. Argh! Às vezes eu gostaria de esquecer tudo e tentar gostar dele de novo. Mas ai lembro dos dias em que ele me rejeitou e humilhou e então não consigo.

É por Nita que eu estou tentando não ser a garota receosa. Somente por ela e por hora.

— Eu posso te surpreender Tris — diz ele e eu estanco no lugar ao ouvir meu apelido. Meus olhos ardem. Faz tanto tempo que eu não escuto vindo dele. Meus olhos estão arregalados e eu pisco os olhos.

— O que? — indaga Tobias meio perdido.

— Nada. — balanço a cabeça.

Ele ergue as sobrancelhas.

— É pelo apelido. — ele constata e encolhe os ombros.

— Pode ser. Enfim — limpo a garganta — Vamos continuar. Precisamos de um carrinho e roupas! — fico animada. E me recordo de Christina, ela ama me arrumar. Eu particularmente não gosto, mas estou entusiasmada para enfeitar Nita. Eu acho que é assim que ela se sente.

— Carrinho?

— É claro! Ou você acha que eu tenho tanta força para segurá-la e levar para todos os lugares nos braços?

— Ok. Vamos lá!

Nos enrolamos um pouco na hora de escolher as peças. Não é toda hora que compramos roupa de bebê. As atendentes ficam iguais a urubus secando a carniça. Eu sei que não é uma comparação justa e aceitável para alguém como Tobias, quer dizer ele é bonito e tudo. Eu o odeio, mas não posso mentir. Pelo menos não pode ler minha mente. Eu rio enquanto vasculho entre a sessão de vestidos infantis alguns agradáveis e bonitos.

Eu não gosto de como elas o olham e tocam em seu braço. Isso me enfurece um pouco. Estranho. Balanço a cabeça. Estou pirando. Acho que homens com bebês no colo atraem mulheres.

Após comprarmos rumamos atrás do carrinho. E um banheiro para trocar Nita.

[...]

Milagrosamente o caminho de volta para casa é agradável. Quase esqueço do bebê conforto. Foi muito engraçado ver Tobias quebrar a cabeça para montá-lo. Mas com as mãos ágeis ele consegue. Nita está nele com os olhos bem abertos desde que a coloquei ali. Lindinha com a roupinha nova. Ela estranhou no início, mas pelo que vejo está se adaptando.  Isso tudo acontece no estacionamento.

— Eu acho que você deveria prestar mais atenção nas instruções!

— Obrigado pela dica! — ele fecha a cara. Eu rio.

Eu descubro que posso ficar ao lado dele sem querer mata-lo e cravar minhas unhas em sua pele. Ou insultá-lo. Pelo menos depois de desistir da ideia de entregar o bebê. Tobias está mostrando um lado que não conheço. Adulto. Que achei que não portar.

Ao chegarmos é bom esticar as pernas, e sem ligar para nada, eu me jogo em cima do sofá enquanto Tobias chega e põe Nita bem perto a mim e vai para fora buscar as compras. Ela está com os olhos azuis me encarando curiosamente.

— Psiu! — eu chamo e ela solta um gritinho — Olá Nita. Eu sou Tris, mas você já me conhece não é mesmo? — sorrio e ela balbucia.

Decido levantar e ir ajudar Tobias. Antes dou um beijinho na bochecha de Nita e ligo a tv no desenho. Marcho para fora e pego algumas sacolas enquanto ele pega os pesados. Gastamos muito dinheiro. Bem, ele gastou. Não deixou que eu pagasse absolutamente nada.

Depois que tudo está na sala separo por categoria que conheci no Google.

— Você sabe montar um berço? — pergunto.

Ele me olha como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Mais desafios! Vamos nessa! — ele mostra os músculos do braço direito. Como se diz: vamos à luta. — não deve ser difícil. — ou seja, não sabe montar.

Concordo com a cabeça.

Decido por levar todas as coisas de Nita para o meu quarto. Há mais outros dois quartos, mas não acho que seria uma boa ideia acomoda-la em algum deles.

— Vamos arrumar um quarto para ela! — diz Tobias entusiasmado.

— Eu não sei...

— Vamos Beatrice!

— Ok — rolo os olhos por me deixar convencer por ele e pela sua expressão de bobo. 

É mais uma garantia de que Nita ficará por um bom tempo. Um longo e longo tempo e a ideia é perfeita.

Abro as cortinas empoeiradas e deixo a claridade tomar de conta. A tintura está boa, é um amarelo creme com lilás. É espaçoso e perfeito.

— O berço fica aqui e o cercadinho no meu quarto. Mas vamos fazer uma faxina nisso aqui antes!

— Como queira. — definitivamente ele está mudando. Está aceitando até minhas exigências.

Leva o dia inteiro. Tudo está arrumado e limpo. Rimos muito tentando montar o berço, incluindo Nita, havia umas prateleiras onde colocamos alguns objetos e brinquedos que compramos, é uma tarde tremendamente inédita e prazerosa. E quando está anoitecendo escuto o toque do meu celular, é Christina. Ao mesmo tempo em que o de Tobias toca. Antes de atendermos nos encaramos.

Ele sai para atender lá fora e eu comprimo o celular. Ficando só eu e Nita que está brincando feliz com seu ursinho marrom. Já no berço.

— Alô Chris. — eu digo. Me preparo para seus surtos e a enxurrada de perguntas.

Eu a ouço bufar.

— Oi Beatrice. Você está bem? O que aconteceu? — pergunta preocupada.

— Não pude ir hoje Chris. E acredita? Eu ia ligar para você neste exato momento! — eu forço uma risadinha no final.

— Ah é mesmo? Que engraçado não? — diz cética. Odeio seu jeito de descobrir as mentiras em geral. Até mesmo pela leitura corporal ela descobre.

— Christina para de fazer pouco caso! — rolo os olhos. — e aliás eu estou doente. — finjo tossir. Invento de última hora.

— É mesmo? — ela para de falar e escuto a voz de Will. Eles conversam brevemente. — eu estou indo para aí!

Eu arregalo os olhos.

— O que? Não... — e desliga o celular.

Estou nervosa, minhas mãos tremem. Por mais que isso fosse previsto eu não estou preparada. Ando de um lado para o outro. Pensando no que irei dizer a Christina quando ela chegar e constatar minha mentira.

Depois de alguns segundos Tobias irrompe pela porta. Com a expressão não tão boa. Quase o reflexo da minha.

— Christina está vindo para cá!

— Lynn está vindo para cá! — dizemos ao mesmo tempo.

Droga! Respiro fundo algumas vezes.

— Isso ia acontecer de uma forma ou de outra — diz ele com a voz distante. Eu posso tentar me colocar em seu lugar, mas então desisto. Não quero nem em pensamento. Lynn apesar do rosto bonito é histérica.

— Vamos Nita. Você precisa estar apresentável para esse momento tão importante! — eu digo olhando para o bebê loiro. O meu bebê. Eu pego-a no colo. Ela precisa de um banho.

E Tobias e eu precisamos nos preparar psicologicamente.

[...]

Chris é a primeira a chegar e eu esboço um sorriso enorme ao ver sua figura saindo do carro de Will. É claro que eu estou forçando. Aceno para ele que retribuí. Acho incomum ele não estar em seu encalço.

— Olá Beatrice. — saúda ela.

— Oi Chris. — ela sempre faz tempestade em um copo d'água.

— Eu pensei em te encontrar morrendo ou coisa do tipo — recita me analisando, tentando usar seu detector de mentiras e eu levanto das escadas, limpando a poeira atrás da calça jeans.

Penso bastante no assunto e decido por contar logo a ela sobre Nita. Não é algo que você tem que guardar para sempre. É como Tobias disse: isso aconteceria cedo ou tarde.

— Eu estou...melhorando — digo em tom abatido.

— Não adianta mentir que eu não acredito! — diz com os braços cruzados.

— Argh! Ok! — eu digo jogando as mãos em forma de rendição. — me siga!

Caminho na frente, passamos pela sala e subimos as escadas. Sinto seus olhos rondarem a bagunça no corredor. Ela sabe como ninguém que eu detesto bagunça, porém não tive tempo nem de descansar direito. Eu a conduzo até o quarto que agora é de Nita. A mesma está em seu berço branco e rosa dentro de um círculo feito por seus novos brinquedos. Respiro algumas vezes antes de rodar a maçaneta prateada e olho de soslaio para Christina. Que está confusa. Não a culpo.

— Não surte! — eu murmuro. Eu sei que é uma frase idiota de se dizer numa situação dessas, mas é só o que eu consigo proferir.

Sua testa está enrugada. Mas não diz nada.

Rodo a maçaneta de uma vez e empurro a porta para frente nos dando uma visão de um quarto infantil. Chris solta um arquejo.

— Oh! Mas o que? — a puxo pela mão até o berço. Seus olhos estão abertos em susto e confusão — de quem é esse bebê?

— Não sabemos, na verdade a mãe dela se chama Cara e a encontramos em frente à casa. Na noite anterior.

— Que loucura! E o que vão fazer com ela? — Christina que estava sorrindo para Nita volta para me olhar.

— Decidimos hoje. Vamos cuidar dela.

— Isso é alguma piada?

— De forma alguma. — enrugo a testa — porque?

Christina balança a cabeça em negativa.

— Conheço você o bastante para saber que nada do que eu vá dizer vai fazer alguma diferença. Mas espero que esteja certa sobre isso.

— Muito bem, obrigada.

— E eu não surto por tudo — fecha a cara por um momento e eu rio. Mas depois desmancha a carranca. — qual é o nome dela?

— Nita.

— Que nome mais sem graça! Mas você é linda! — se volta para Nita e sem resistir mais estica os braços e a pega.

Foi fácil e leve. Vejo como Christina está boba e encantada por Nita. Ela não irá embora tão cedo.

— Íamos deixa-la num orfanato. — solto de repente.

Chris que está fazendo besourinhos para Nita, me olha surpresa.

— O que fez mudar de ideia? — indaga, voltando a brincar com ela.

— Eu nunca quis deixa-la, em nenhum momento, mas Tobias não aprovava, estaria em jogo seu relacionamento, o futuro, a imagem. Mas então no último momento ele desistiu.

Chris rir.

— E esse sorrisinho, hein? Onde está o ogro sem coração que você tanto falava?

Dou de ombros e tiro o sorriso que eu não sabia que esboçava.

— Mas eu não os culpo, muito menos os julgo. Ela é a coisinha mais fofa que já vi! E além de tudo, estou amando a ideia de ser titia. — ela diz rindo satisfeita ao ver Nita gargalhar com suas brincadeiras.

Eu franzo o cenho. Mas acabo por rir. É difícil saber quem é a criança das duas.   

Agora só resta o round 2 com Tobias. Por um lado eu quero que Lynn suma da minha vida de uma vez por todas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*E é a Nita já trazendo mudanças Hein?
E então? Digam o que acharam sim? Façam uma autora feliz :) eu espero que mais leitoras apareceram viu? Digam realmente se gostaram ou não ok?
Se está indo muito rápido e etc e tal.
Próximo capítulo Pov. Do nosso querido Tobias.
BEIJOS