Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 14
Botão de Rosa/Primeiras palavras


Notas iniciais do capítulo

Ain gente! Me desculpem, eu fui fraca!!
Espero que gostem do capítulo e muito obrigada aos que estão acompanhando, favoritando, e comentando. Sejam bem vindos os que estão chegando agora.
Apreciem.



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[Tris]

O dia tem um ar diferente naquela manhã. O céu límpido em um azul maravilhoso, o sol, a brisa relaxante me fazendo fechar os olhos gostosamente, apreciando seu toque em minhas bochechas enquanto estou diante de uma janela, lavando a louça. Solto um suspiro sonhadora.

Ou é só a minha felicidade que me faz ver de uma outra forma. Me sinto vivaz. Agitada.

Vez ou outra eu me pego pensando no que se sucedeu na noite anterior. E meu coração sempre reage diante da lembrança. Eu jamais pensei que aquilo poderia acontecer algum dia. Eu ainda quero entender o que isso significa. Se irá mudar algo;

É certo que o que se passou quer dizer alguma coisa, coisas que nós não conseguimos demonstrar em palavras. Mas ainda que eu esteja nas nuvens, uma insegurança petulante insiste em me incomodar, é o que faz-me frear um pouco. Então quando eu percebo o sorriso que se forma em meus lábios, eu o tiro subitamente com uma advertência interna. Escuto passos pesados caminhando em direção à cozinha.

Sinto um calafrio. É o primeiro contato depois do que houve. Ouço também umas risadinhas infantis, indicando que ele está com Aninha em seus braços. Tento me concentrar no som do riso dela para me trazer calmaria, pois quero assim ignorar o turbilhão de sentimentos que me atingem. Não posso vacilar nem por um minuto.

— Bom dia! — ele me saúda com um grande sorriso. O mais encantador do mundo.

— Bom dia, Tobias. — eu digo em tom neutro, mas acabo por sorrir também. Como se pedisse minha atenção o bebê em seus braços solta um gritinho junto com um balbucio. — bom dia para você também minha pequena!

Dou um beijo molhado em sua bochecha rosada.

Nos sentamos à mesa já posta por mim. Com diversos pratos para o café da manhã, porém nada elaborado além do habitual. Um silêncio se instala ali, e eu creio que nenhum de nós dois quer quebra-lo. Eu estou temerosa, me sinto hesitante, mas a verdade é que eu não sei o que falar. Tobias está alimentando o bebê, que adora a salada de frutas, de vez em quando ele dá garfadas nos ovos mexidos e beberica seu suco.

Algumas vezes nossos olhos se encontram, há timidez, temor, gentileza e outras coisas mais que não sei identificar...

— Está muito bom o café, Tris. — ele diz.

— Obrigada. — digo um pouco constrangida. O que é bobagem já que eu deveria estar acostumada com seus elogios. Ainda assim é inevitável reagir de uma forma diferente.

— Vejo que está bem melhor hoje. — ele comenta parecendo aliviado com o meu estado.

— Sim, sim. Eu acho que o carinho dos meus pais ajudou muito. — eu digo com um meio sorriso.

— Não discordo. — ele ri.

Novamente mais silencio.

— Você quer falar sobre o que aconteceu na noite anterior? — no mesmo instante em que ele fala, eu engasgo com o maffin que acabara de pôr na boca. Tobias solta um risinho — eu acho que isso foi um não.

Tusso por uns segundos até ter recobrar o controle sobre mim. O que eu respondo? Fico encarando-o por um tempo, querendo encontrar as palavras certas, mas falho. Ele oferece um copo de agua para mim, que tomo num gole só. E para meu desespero esfrega as mãos em minhas costas gentilmente.

— Obrigada. — que eu não esteja igual a um tomate, por favor, faço uma prece.

Eu limpo os vestígios de lagrimas que formam por culpa da crise de tosse e respiro fundo.

— Não, isso foi eu sendo uma desastrada. — digo timidamente.

Ele gargalha.

— Não tem graça nenhuma nisso! — reclamo com a cara emburrada, parecendo ter cinco anos e não dezoito.

Tobias rapidamente cessa o riso e muda a expressão de escarnio para preocupada. Analisando meu rosto e vendo de fato minha face séria.

— Me desculpe por isso, não fiz por mal. — se justifica.

— Eu estou brincando! — eu digo e seus olhos se estreitam. É a minha vez de rir.

— Mas de verdade, não quis te ofender ou algo assim. — diz seriamente, detestando a hipótese de me ferir.

— Tudo bem, vamos esquecer este episódio. — eu me atrevo a dar uma piscadela, recebendo seu sorriso em troca. Mas depois de parecer ponderar, sua face ganha o tom de seriedade de novo.

— Diz isso pelo o que aconteceu agora ou na noite passada? — o rumo da conversa volta à sua pergunta de minutos atrás.

Eu me sinto nervosa de repente.

— De agora Tobias, não seja bobo.

— Hum, então isso quer dizer que o beijo de ontem você não quer ignorar? — ele sorri de lado, insinuante.

Eu pigarro e arregalo os olhos. Pega de surpresa pela sua “afirmação”. Eu não sei dizer o que eu sinto, é bom, envolve meu coração e meu peito arde. Desde que conheci seu lado sensível, que reconheci sua mudança, essas coisas vieram acontecendo, eu só não quis ligar.

Seus olhos pedem pela resposta. Árduos.

— Não sei o que dizer de fato... — eu sussurro envergonhada.

— Tudo bem, teremos tempo para isso. Eu vou esperar. — ele assegura com ar misterioso.

Meus pais chegam à cozinha e encerramos o assunto ali. Natalie com um olhar interrogativo.  

.

A carta de Christina finalmente havia chegado e ela fora aceita na Universidade de Chicago, não que eu não estivesse feliz por minha amiga, porém há semanas que eu espero ansiosa pela resposta da UC. Desde o dia da entrevista na verdade, que aconteceu meses antes de Aninha chegar. Tento me animar com o convite para hoje à noite. E é totalmente eficaz, instantaneamente esboço um largo sorriso lembrando-me de que como fora.

Aperto a tecla “END” no celular e fico a encarar o nada. Fique feliz por ela, me advirto.

Depois de saber da grande notícia sinto um nó em minha garganta, estou decepcionada comigo mesma, meus olhos ardem, enterro minha face no sofá, impossibilitando a respiração. Quando percebo as gotículas cristalinas molharem minhas bochechas decido por me permitir levar o ar aos meus pulmões novamente e vejo curiosamente Aninha engatinhar ao meu encontro, limpo as lágrimas e a espero chegar até mim, por um breve segundo olho para trás dela com expectativa. Mas ele não aparece.

— Minha menininha... — pegando-a no colo a enchendo de beijinhos e percebo um bilhete preso com um clip no seu macacão verde. — o que é isso? — enrugo a testa perguntado como se realmente eu esperasse a resposta do bebê.

O papel liso não tem nada escrito externamente, há apenas rosas desenhadas, e está dobrado. Com uma caligrafia excepcional em letras douradas no interior do bilhete leio: “Beatrice. Espero a senhorita as sete e meia para um encontro formal hoje, use seu melhor traje, a pegarei no hall da casa neste horário. Atrasos não serão permitidos. Com carinho, Tobias.” 

— E agora? Eu não tenho nada para vestir! — resmungo a Aninha aturdida. Achando aquilo tudo encantador e ao mesmo tempo aterrorizante, afinal, eu nunca tinha sido convidada para um encontro.

Corro imediatamente para cima com o bebê em meus braços, a procura de minha mãe. Entro sem cerimônia no quarto em que está hospedada com meu pai e ela pula com o susto que causo.

— Eu pensei que não gostasse dele assim... — ela diz deixando seu livro de lado depois que conto sobre o tal encontro — mas eu sabia que um dia isso iria acontecer...

— Mãe, não tire conclusões precipitadas. Não é o que está pensando. — ela pega o bebê para si, fazendo besourinhos para ver o sorriso de Ana.

— Quem você quer enganar minha filha? Eu gerei você por nove meses, conheço você perfeitamente. Bom, Evelyn e eu fizemos um juramento uma vez, nunca pensei que se concretizaria o nosso desejo. — diz ela com o olhar vago.

— E que “desejo” é esse posso saber?

— Que quando tivéssemos filhos, eles se casariam.

Eu rio daquilo que ouvi. Gargalho, na verdade.

— Sei, é engraçado. Mas pelo que vejo...

— É só um encontro, mãe. Só isso.

— E então porque está tão nervosa?

— Não estou nervosa... — passo a mão no cabelo, desmentindo minha afirmação.

— Não precisa me esconder nada, querida, mas já que não quer se abrir, ainda — ela frisa a palavra e continua — vamos, Ana e eu iremos ajudar você...

 

No horário marcado estou lá no hall com meu melhor vestido, um de mangas franzidas verde-oliva, o cabelo em cachos nas pontas e uma leve maquiagem. Meus pais optam por se manter no quarto com Ana enquanto Tobias me busca. O que me deixa devidamente nervosa. Encontro-me sozinha. Não tenho como agarrar a mão de Aninha para me tranquilizar. Desde que recebera o convite, eu não o vira, Andrew estava sendo seu cumplice também.

— Pronta? — escuto uma voz atrás de mim.

Sinto um arrepio e meu coração irregular. Respiro fundo.

— Sim, vamos? — sinto minha mão ser pega e ele me conduz até o carro.

Abre a porta e gentilmente me entrega um botão de rosa depois de beijá-la. Noto que minhas mãos estão suadas, não consigo encará-lo realmente, apenas olho de soslaio de vez em quando, vendo um sorriso brincar em seus lábios de tempos em tempos.

É tão estranho ter estes tipos de reações a respeito de Tobias. Eu sempre achei que iria morrer odiando-o pelo que fez comigo, embora eu compreendesse perfeitamente que ele estava embriagado naquele dia, incapaz de raciocinar direito. Incluindo as vezes que se portou como um babaca para me humilhar nos corredores da escola ou em qualquer outro lugar. Eu havia feito uma promessa absurda a mim mesma de sempre odiá-lo. Uma promessa que me orgulho em quebrar. É como se denomina agora: o nobre Tobias, que descobriu que existia quando Ana chegara às nossas vidas.

Quando eu me dou conta que paramos, eu varro com os olhos o lugar que estamos e arfo, reconhecendo-o prontamente. Fico abismada ao ver a escolha do local. Totalmente sem palavras. De longe parece ser estonteante, imagine de perto.

Sem dizer nada ele oferece sua mão para me ajudar a sair do carro preto, sem hesitar eu a aceito e ele me conduz mais uma vez em direção à uma tenda reluzente próxima aos balanços do parque, o nosso playground favorito na infância. Sinto a maciez da grama sobre as sapatilhas de veludo. Sento na cadeira marrom detalhada com ramos de flores rosas nas costas e ele senta na outra diante de mim. Na mesa já posta há um jarrinho branco de porcelana com água e eu coloco o botão ali, para que viva mais tempo e de acordo com a lógica que encaixo na mente. Há também lâmpadas incrustadas acima em fios brancos em forma de X, para iluminar melhor, presumo.

O restaurante improvisado é excepcional, há mais ramos de flores agora amarelas nas pernas, no teto perto das lamparinas, assim como pisca-piscas no emaranhado elegante. Os pratos estão cobertos com aquelas tampas cinza, os lenços dobrados, taças de cristal, os talheres brilhando, o odor maravilhoso daquele lugar me inebria. O ambiente me fascina. Saindo de não se onde Zeke vestido de garçom surge com uma garrafa de vinho.

— Esse aqui foi o que o senhor pediu. Posso servir agora? — Tobias assente.

Retribuo o sorriso que lança para mim, antes de voltar a sua face séria, extremamente profissional. Rio.

— Obrigado.

— Se precisar de mim, é só chamar. — ele fala e se vai.

Permito-me admira-lo agora que estou mais ‘a vontade’. Embora que não tenhamos trocado palavra alguma ainda. Sinto-me nervosa no fundo. Com olhos curiosos vejo-o vestindo num traje formal, um terno azul marinho, o cabelo sedoso, um relógio no pulso, a gravata listrada em vermelho e preto.

— Se me permite dizer, está estonteantemente linda, Tris. — meu rosto cora no mesmo instante, sinto as maçãs queimarem.

— Obrigada. Você não está tão mal. — meu tom é baixo. E me advirto por não ter elaborado um elogio melhor. Sorrio amarelo.

Ele rir.

— Muito obrigado. Agora vejamos, você gostou da surpresa? — ele indaga com certo receio.

— Estou sem palavras. — digo apenas, achando tudo aquilo sensacional. Nunca imaginei algo assim na minha vida. Na verdade nunca passou pela minha cabeça estar num encontro e ainda mais ser merecedora de tanto esforço de sua parte para transformar aquele cenário escuro sob a luz do luar em algo belo.

— É assim que eu me sinto quando olho para você agora. — declara ele com os olhos intensos.

Pigarro.

Não tenho dúvida alguma de que pelo resto da noite eu passaria corada, envergonhada com seus elogios, a personificação de um tomate humano.

— Não exagere. — eu bufo. Esfregando uma mão na outra sobre meu colo. Algo que não pode identificar meu constrangimento.

— Estou passando dos limites, eu sei. Quero fazer desta noite o meu mais sincero pedido de desculpas pelo meu comportamento antes. Você entende não é?

Meneio a cabeça. Um tanto hipnotizada.

Onde é a alavanca do freio? Peço desesperada a mim mesma. É tudo novo para mim. Essa espécie de atração que estou sentindo. Não consigo ter controle sobre mim, dos meus pensamentos e o pior: do meu coração.

Suas palavras soam tão doces quanto mel. Enxergo a sinceridade, aquela que vi quando o flagrei com meu diário em mãos, naquele dia em que tudo voltara à tona, que nós falamos daquilo diretamente. Eu não aceitei o seu pedido de perdão de fato. Um assunto pendente.

— Sim, eu entendo.... — afirmo — mas eu não sei se mereço tudo isso! — gesticulo com o indicador o ambiente, sendo sincera.

Ele bufa e sorri ironicamente.

— É claro que sim.

— E porque tem tanta certeza disso? — ergo as sobrancelhas.

— Porque eu... — pausa — porque eu... eu estou apaixonado por você. — por mais que seja evidente seu esforço ao não demostrar sua hesitação, eu posso ver. E estou boquiaberta. Meu batimento cardíaco ficando irregular. Sinto uma alegria em mim também. Alivio talvez? E completamente derretida com o relato.

— Não sei o que dizer — admito num sussurro.

— Não fiz tudo isso para força-la a corresponder, Tris, nunca. — ele se apressa em se justificar — Mas para fazer você se sentir especial esta noite, você é importante para mim. Nós nos conhecemos desde que usávamos fraldas... — isso é um fato que parece bastar.

Inerte. Encontro-me inerte.

Eu não sou capaz de lhe responder coisas na mesma proporção, na mesma intensidade.

— Venha, vamos dar um passeio. Acho que o garçom vai dá um jeito de manter o jantar aquecido. — ele altera um pouco o tom na última frase. Para Zeke ouvir.

Sorrio de lado.

Caminhamos em direção aos balanços, mas ao contrário de mim ele não se senta e me espera se acomodar melhor, para assim me empurrar. Mais alto, mais alto! Divago para anos atrás. Visualizando duas crianças usando roupas nas mesmas cores que nós, só que em tamanhos diferentes. A nostalgia é emocionante para mim. Naquele tempo cuidávamos um do outro, éramos cumplices, irmãos. Porém atualmente não podemos nos classificar assim, como irmãos não. Não acho Caleb bonitão e jamais senti emoções assim para com ele. Definitivamente não.

Estremeço.

Ele está apaixonado por mim. Tobias. A quem não posso mais detestar. E nem mesmo desejo.

— Podemos falar de qualquer coisa, besta que seja, esse será o nosso recomeço de verdade. — ele diz firme.

— Odeio o seu apelido. — solto sem pensar.

Ele gargalha.

— Ótimo. Boa iniciativa. Bem, eu não gosto de Al. — imagino-o fazendo uma carranca ao dizer aquilo.

— Isso é bem obvio. Acho que pode se esforçar mais... — eu falo relaxada, estou dentro de uma bolha formidável que nos envolve. E ele rir gostosamente. Para de me empurrar e se senta no balanço ao meu lado. Continuamos assim nos informando daquilo que perdemos enquanto estávamos distantes um do outro. Morávamos na mesma rua, em casas vizinhas e mesmo assim fingíamos que o outro não era relevante.

Ele me pediu desculpas por não ter sido cordial na escola enquanto me humilhava, coisas básicas, como fazer com que eu tropeçasse, derrubar meus livros, me chamar de Careta. Como imaginava, ele estava desnorteado com a morte de Evelyn e não sabia o que fazia. É um pouco difícil lhe absorver dessa culpa, mas é um tanto mais fácil quando não se está cega de ódio, ou de vingança.

O jantar está estranhamente quente, faço uma nota mental de parabenizar Zeke depois, o melhor garçom. E está maravilhosamente delicioso, a entrada é fria, uma salada básica, o prato principal é um filé mignon macio, os acompanhamentos gostosos em harmonia com a carne. E vinho está fresco. Minha cabeça roda quando eu me atrevo a bebericar num gole só.

— Eu devia ter prestado mais atenção nisso... Você não deve estar acostumada a beber vinho. — Tobias diz em desculpa.

— Uma ou duas vezes, não me lembrava de como era forte. E amargo. — faço uma careta. Ele rir novamente. O clima é agradável.

A sobremesa chega, Petit Gatêau, uma combinação perfeita de bolo e sorvete. É boa.

Sinto-me à vontade para lhe falar qualquer coisa, mesmo que trivial. Como antes. E eu gosto disso. Mudamos o assunto da conversa, já que aparentemente acertamos as coisas pendentes. Estou lhe devendo uma resposta. Mas decido esperar um pouco mais para juntar coragem.

— Quando Clara falar, como você preferia que ela chamasse você? — pede ele depois de tomar um pouco do suco que o garçom trouxe.

Pondero por um momento. Alterno os olhos para os lados, procurando a resposta. Pega em cheio por uma pergunta que me deixa confusa. Ser chamada de tia Tris ou só Tris me incomodava tanto, não parece ser o certo.

— Estou perguntando porque nós dois instigamos para que ela aprenda os nossos nomes e nunca... Você sabe.

Meneio a cabeça ainda pesarosa.

— Nunca tocamos nesse assunto, e acho que está mais do que na hora. Não podemos mais adiar. A adotamos como uma filha nossa — a última palavra soa como música aos meus ouvidos — digo isso porque eu também evitava pensar sobre isso.

— Concordo. Ouvir Ana me chamar de Tris não é legal. Muito menos tia Tris. Eu a amo. Como se fosse minha bebê...

— E ela é de fato. Não pensamos em nada quando decidimos cuidar dela... — ele silencia por um momento, pensando novamente no episódio do orfanato certamente, mas não o julgo.

— Olha, isso já passou, você está pensando quando fomos ao orfanato não é? Não se culpe mais, o importante é que você foi corajoso e muito altruísta. — ainda que eu me sinta agradável agora, mesmo quando eu toco sua mão para lhe confortar é impossível não me sentir nervosa. Ou estranha.

— Obrigado, Tris, mas acho que nunca vou esquecer disso...

— Mas precisa. Tente ao menos.

— Tudo bem. — assente.

— Promete?

— Prometo. De dedinho e tudo. — ele faz nossos mindinhos se enroscarem e eu rio.

Não preciso mais pensar, pois tenho a resposta para sua pergunta anterior.  

— Mamãe. Quero que ela me chame de mãe. Odiaria qualquer outro adjetivo. — eu asseguro totalmente firme.

— Não haveria outro melhor para Clara lhe definir. — ele diz com um sorriso — e eu serei o papai Tobias. Ou só papai. — seu sorriso se estica mais e mais. É radiante. — e eu estou feliz por estar aqui com você. Tomando essa decisão, ou melhor tornando-a oficial.

Eu retribuo o sorriso. Pego meu botão de rosa para sentir seu perfume.

— Você quer dançar? — ele sugere.

E como na noite anterior, juntos vamos bailar sob o maravilhoso céu estrelado. Manifesto a música ‘You and Me’ do Lifehouse, em meus ouvidos. Escuto seu coração num palpitar rápido. A cópia do meu. Sinto-me segura, com uma felicidade tremenda em meu ser. Fui tão tola em mentir para mim mesma durante tanto tempo. Ou fui realmente tapada por não perceber antes meus verdadeiros sentimentos. Agora entendo o incomodo que sentia quando o via com Lynn, não era somente porque a detestava. Mas porque ela tinha o seu amor, ele o tinha sempre ao seu lado.

— Não lhe dei esse botão de rosa por acaso, ou por ser tão bonito... — me faz mirar seus olhos azuis — ele é perfeito para simbolizar esse sentimento que nos envolve agora. Como o botão ele foi crescendo, assim como nós, sendo regado, cuidado, mas...

— Os espinhos significam a Lynn, Eric e Peter. — faço essa breve observação.

Ele gargalha.

— Não tinha pensado nisso, mas obrigado pela declaração... E agora estamos aqui, juntos...

— Eu poderia muito bem ser rude e dizer para me soltar! — ao dizer isso ele me puxa para mais perto de si.

— Eu sei que não vai.

— E como pode estar certo disso?

— Porque você sente algo por mim. Pouco que seja.

E novamente minhas bochechas queimam.

— Não sou boa com as palavras. Mas sim, posso dizer que é mais ou menos isso. — eu digo com um sorriso amarelo.

— Não mereço nem um: Estou apaixonada por você também? — ele diz chateado, mas sei que é um gracejo.

— Desculpe.

— Não precisa se desculpar... Não achei que sentia algo por mim. — fecho meus olhos em fendas e vejo seu enorme sorriso ofuscar — e o beijo? Quer falar alguma coisa?

— É estranho eu me sentir assim — admito — segura abraçada com você, e bem. Porque eu esqueço que você é um idiota?

— Porque você sabe que sou um nobre Tobias agora. E porque gosta de mim. — ele diz ao pé da minha orelha. Arrepio-me. — eu gostaria de saber uma coisa.

— Diga... — preciso me esforçar muito para formular essa curta palavra. Meus olhos estão entre abertos com a sensação.

— Não acho que você saia beijando rapazes sem algum compromisso não é?

Pela primeira vez naquela noite me sinto ofendida, e eu me desvencilho de seus braços bruscamente. Meu sangue fervendo.

— O que? — eu quase grito saindo do transe.

— Calma! — ergue suas mãos — não quis chatear você, muito menos ofende-la. Permita-me terminar de falar... — pede enquanto eu tento me acalmar respirando fundo — você quer me dar a honra de ser minha namorada?

Então é isso. Eu me limito a rir. Achando-me uma louca. Isso não está acontecendo. É tão surreal.

— Você tem certeza disso? — mas não sei se é uma pergunta para ele ou para mim mesma.

— Eu sei o que eu quero. Nada me deixaria mais feliz.

— Você pode ter qualquer menina melhor que eu.

— Você não entende não é? É você quem eu quero. Quero amar você a cada dia, fazer isso dar certo.

— Isso o que?

— Nossa família. Nosso relacionamento...

Perco a voz por um momento encarando aquele mar azul. No silencio ouvimos apenas nossos corações pulsando na mesma batida, e nossas respirações se misturando. Minhas incertezas zumbem em minha mente, meus medos voltam, e hesito. Minha visão turva pelas lagrimas se formando nas bordas dos meus olhos.

— E se você me ferir de novo? — minha voz soa embargada.

— Isso não vai acontecer, eu prometo. Se você me der essa chance, eu juro que vou ser melhor para você, para Clara. — ele me toma em seus braços novamente e deposita um beijinho no topo da minha cabeça.

Choro silenciosamente por muitos minutos, mas tendo alguém para me acalentar, para me fazer sentir bem. Estou frágil, é impossível não estar assim, e pela primeira vez eu gosto de ter alguém comigo, compartilhando minhas dores.

— Desculpe por isso. — ele limpa meu rosto.

— Não precisa, Tris. — ele revira os olhos — eu entendo perfeitamente se...

— Não. Eu aceito. Mas se vacilar de novo. Vou te espancar. — não posso perder minha essência.

Ele rir.

— Sou o homem mais feliz do mundo! — relata.

E gentilmente me beija. É terno e nele demonstra todo seu carinho. É calmo. Bom. Todas as dúvidas dissipam. E eu me sinto verdadeiramente amada. E eu me lembro que lhe devo algo.

— Eu te perdoo, — sussurro quando nos separamos.

— Obrigado, Tris, minha doce Tris. — ele sorrir repleto de gratidão.

Sinto uma paz enorme e eu sei que eu faço a coisa certa.

.

[Tobias]

Não consigo definir como me sinto. Acho que somente a palavra “feliz ou realizado”, não é o bastante. Mas de fato é de longe diferente pelo que sentia por minha ex-namorada. Tenho a sensação de que posso me doar mais e mais, e ainda assim não ser o suficiente. 

Eu realmente ainda estou cético dos últimos acontecimentos. Eu a amo. E Tris corresponde a isso.

Coloco o caixote com as louças no porta malas e encaro um Zeke exausto. Estou tão grato por tê-lo como amigo.

— Não sei como posso te agradecer, cara.

— 100 dólares já está bom! — ele diz com escarnio, batendo no meu ombro com o punho fechado.

Depois de deixar Tris em casa volto para deixar aquele lugar tão impecável como o encontrei. E claro ajudar meu amigão. Pensar nela me faz perder o ar e por um momento eu fico a divagar. E não percebo o sorriso radiante que esboço.

— Estou tirando onda, Quatro. Fico feliz por você. É como um irmão para mim. — ele me encara com as sobrancelhas erguidas — e esse sorrisinho aí? Está definitivamente de coleira.

Eu rio.

— Assim como você! — eu acuso.

— Certo, certo! — ele ergue as mãos — agora vamos nessa que eu estou morto!

Trocamos nosso toque de cumprimento e rumamos para nossas casas.

Ao chegar, fecho as trancas da porta, e subo sem delongas numa escuridão tremenda. Fico receoso por ir até lá, mas anseio por vê-la mais uma vez, giro a maçaneta e abro a porta do seu quarto pondo minha cabeça para dentro com cautela. Vejo sua estrutura coberta na cama, abraçando Clara, que é impedida de rolar por um travesseiro em seu flanco. Ambas ressoando tranquilamente. A loira com os cabelos bagunçados e na face, tiro-os delicadamente, tendo o cuidado de não despertá-la do sono aparentemente bom. Deixo um beijo em sua bochecha e mirando curiosamente o sorriso fraco nos lábios. Gostaria de poder conseguir entrar em seus sonhos, de saber o motivo do seu sorriso. Se sua subconsciência está fazendo um belo replay da noite maravilhosa.

Beijo Clara também com muita ternura. E caminho meio aéreo até o meu quarto. Finalmente. Podemos viver tranquilamente agora. E o que mais me deixa em paz é que ela enfim me deu a absolvição do que cometera.

Já pronto, depois de me banhar e trocar de roupa, derivo para o sono.

[...]

Natalie e Andrew retornam para suas rotinas depois de dois dias conosco. O Sr. Prior me dando instruções de como andar na linha com sua filha e algumas regras também que devemos respeitar. Andrew que cooperou para que o jantar fosse perfeito. Estavam felizes por nós. E um tanto preocupados, coisas de pais. Eles eram sem dúvida alguma minha segunda família. Recordo-me do dia.

— Se você machucá-la, rapaz, tenha certeza que esse rostinho bonito irá conhecer esse camarada aqui! — ele mostra o punho. Estamos no jardim frente ao carro deles.

— Jamais a machucarei Andrew. — garanto à ele. 

— Pai. Tobias é como um filho para o senhor! — Tris intervém.

— Mesmo que seja, está avisado! — ele me ameaça com o indicador, mas depois suaviza sua expressão e abre os braços — venha cá me dá um abraço Tobias! Cuide delas.

— Sempre Andrew. — eu asseguro firmemente e Tris sorrir para mim, Natalie imitando o gesto da filha.

— Juízo os dois! — ela diz apontando para Tris e eu.

— Sempre tivemos juízo, mãe.  

— Mas agora é diferente, Tris. São namorados. — Natalie censura.

— Positivo, capitão! — bato continência. A mulher morena rir.

— Você e Tris faziam exatamente isso quando Evelyn e eu dávamos ordens! — ela revira os olhos, me envolvendo num abraço também e me dando um beijo na bochecha. — quando acharmos uma folguinha viremos novamente!

— Estaremos os esperando! — Tris quem diz, um pouco desanimada. Eu sabia o quanto era triste para ela dar adeus para os pais. Eles já se despediram de Clara que estava dormindo. Damos “tchau” de verdade e ficamos a olhar até o carro vermelho desaparecer. Abraço Tris fortemente para lhe passar segurança e a confortar.

 

Volto ao presente.

— Você vai fazer um buraco no chão, Tris. — a loira está há meia hora andando de um lado para o outro na sala. Clara está no meu colo, brincando com um patinho de borracha tão dourado quanto suas madeixas, que estavam mais longas.

— Não sei mais o que fazer, Tobby. A carta não chega! — diz apreensiva e posso ver seu nervosismo.

Nosso convívio não podia estar melhor. Não há mais brigas, nem discussões por coisas fúteis, muito menos ofensas. Agora há carinho, respeito, paciência. E ela se esforça bastante para se abrir comigo sobre tudo que acontece com ela. Como agora.

— Não se preocupe, Tris, ela vai chegar. Quem sabe não se enganaram de casa, ou ainda está no correio, você sabe que teve uma pequena greve um tempinho atrás... — a cada coisa que digo ela arregala os olhos, totalmente pasma com as possibilidades.

— E isso não impediu que a de Christina chegasse. E se estivesse com qualquer um dos vizinhos eles já teriam devolvido. — ela se senta no chão com as costas apoiada no sofá. Caminho até lá com Clara, vamos de fininho e sentamos ao seu lado.

A abraço com meu braço esquerdo e seguro o bebê com o outro, que está nas minhas pernas. Ela permite minha presença ali e aproveitando a deixa eu deposito um beijinho em seus cabelos.

— Vai ficar tudo bem, não se atormente mais... Uma hora ela vai estar em suas mãos. — tento acalmá-la.

— Não entenda mal, estou feliz por Christina é só que... — ela sibila e afaga o cabelo de Clara.

— Não é necessário me explicar nada, eu compreendo. Só quero que fique bem.

— Obrigada, Tobby. — ela vira minimamente o rosto e dá um beijinho estralado em minha bochecha. Encosta a cabeça na minha e relaxa os músculos.

— Mmmm! — olho espantando para Clara e Tris arfa. É a primeiro balbucio mais claro.

— Consegue dizer “mamãe”, Clara? — Tris se endireita e a encara assim como eu, encantados — “mamãe”? M-A-M-A?

— Mmmm!

— Acho que é um bom começo. — eu digo sorrindo.

— Ai que emoção! Estou encantada! — Tris a tira de meus braços, se levantando e rodando radiante com Clara. Esquecendo-se do problema que a perturbava. E eu fico a sorrir, completamente satisfeito e orgulhoso pelas minhas garotas.

São lindas e minhas.

[...]

— Ah, qual é Tris? Sorria! — diz Uriah numa forma nula de melhorar o humor da baixinha.

— É meio impossível quando eu lembro a quem Ana chamou. A primeira palavra dela! — ela está indignada e quase rejeita meu abraço. Mas seu olhar me censura. Tento não rir de sua expressão carrancuda.  Não tenho a menor culpa do acontecimento.

Estamos na casa de Christina para comemorar sua entrada à UC. Seus pais resolveram fazer uma festa no sábado. A mesma está a recepcionar seus familiares com Clara no colo, que recebe muitos mimos e atenção especial dos convidados. Freio-me para não bradar quando vejo apertarem com força mais que o necessário suas bochechas rosadinhas. Aproveitando a deixa viemos pegar um pouco de comida na mesa recheada. Chris ama Clara tanto quanto nós.

Garotas suspiram quando passo por elas em direção à nossa mesa. E Tris parece perceber, pois enlaça seu braço livre com o meu. Creio que sejam primas de Chris. E eu gosto como ela reage. Sorrio de lado.

— Você está se saindo uma namorada bem ciumenta... — comento à ela bem perto do seu ouvido antes de chegarmos a nossa mesa de antes.

— Isso faz parte não é? Não gosto como te olham...

— Humm, então você se esqueceu da raiva irracional de mim? — ergo as sobrancelhas.

— Talvez um pouco! — mas seus olhos suavizam. Afago sua bochecha com o dorso do meu dedo indicador.

— Você sabe que não precisa ficar assim! Ela está indo muito bem, logo dirá ‘mama’, daqui a pouco está até mesmo andando. — eu a lembro.

Ela assente.

Al pigarreia e eu tenho que me encolher para dar espaço para o grandalhão.

— Papa! Papa! Papa! — quando Chris a trás para nós ela entoa sem parar e Tris faz uma careta. Clara abre e fechas as mãozinhas em minha direção. Eu a pego e dou um cheirinho, sentindo seu perfume doce de bebê. Divago para o dia anterior.

Estou deitado na manta vermelha, fazendo uma proteção com o braço para Clara ao meu lado, concentrada em seus brinquedos de formas geométricas e outros educativos. Ela está com um vestidinho de verão cor de rosa e lacinho na cabeça cinca perolado. É nosso lugar preferido o quintal e sua grama verde. Um dos brinquedos diz: Papai! E ela o aperta freneticamente em pressões errantes. E bate palmas quando escuta a palavra, achando aquilo totalmente divertido. Estou sorrindo, porém checando minhas notificações. É questão de segundos para ela se pronunciar.

— Papa! — ela diz inconsciente e retorna a apertar o botão. Tirando-me de supetão do aparelho ridiculamente irrelevante agora.  

Meu coração enche-se de uma alegria intensa me preenchendo de muitas formas e a encaro admirado e extremamente abobalhado. Pisco com as lágrimas acumuladas. Eu a pego com cuidado e a ergo rindo, gargalhando feito um pai babão, com uma devoção escancarada. Beijo sua pequena testa e ela gargalha.

— Diga de novo, Clara. Papa! — a incentivo.

— Papa! — ela repete.

Corro em direção a casa, avido para encontrar com Tris. Não esperava que ficasse tão decepcionada e feliz ao mesmo tempo.

— Mostre a mamãe, Clarinha. Diga! — eu peço quando chegamos à sala.

— Papa! — ela diz e depois solta um risinho, brincando com o lóbulo de minha orelha e colocando o pequeno polegar na boca.

Os olhos de Tris se dilatam em surpresa e ela larga o livro que folheava, se pondo de pé a nossa frente.

— Como é? — ela diz e seu tom soa agudo — ela estava tão perto de chamar “mama”!

— Foi o brinquedo. Você não está feliz?

— Extasiada! — ela rebate, mas o tremor em sua voz a denúncia embora force um sorriso.

Ela caminha com as mãos nas costas mordendo os lábios. Os olhos marejados, mas não fica ali e anda em passos apressados à cozinha. Ela não falou comigo direito durante o jantar na véspera da festa de Christina.

Mas lhe dou um tempo para processar tudo. Eu sei que ela está feliz por Clara finalmente começar a progredir na fala. Mas totalmente decepcionada pôr a primeira palavra não ser o que esperava.

Eu particularmente me sinto orgulhoso, me sinto importante. E completamente feliz por presenciar seu desenvolvimento. Creio que não aguentarei quanto ao vê-la dar seus primeiros passinhos. É quando eu sei que estará perto de vê-la indo para longe de mim quando começar a faculdade, quando construir sua vida sem mim.

Não quero que cresça, não quero que vá. Sinto uma ardência em meu peito. E eu pigarreio para disfarçar, depois beijo a cabeça do meu bebê, da minha filha.

[...]

Quando chegamos em casa ao anoitecer, ao ligar as luzes ouço o grito de Tris. E só então quando vejo o papel em suas mãos é que eu me dou conta da agitação. Clara sonolenta em meus braços, desperta pela gritaria.

— Eu não acredito! Não acredito! — seus olhos estão arregalados.


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Notas finais do capítulo

Comentem muitooooo!
Pelo menos um "amei" ou "continue" já me deixa feliz!
Beijokas e até o próximo.