Juntos Por Ela escrita por Little Flower


Capítulo 10
Febre


Notas iniciais do capítulo

:O Como assim praticamente quatro meses sem postagens?
Essa é a pergunta que me vem a mente quando eu penso em vocês, leitores queridos!
Desculpem-me, foi irresponsabilidade minha admito. Depois de ter dado esperanças de que iria postar com mais 'frequência'. Enfim, espero que ainda continuem firmes aí no acompanhamento!
Ah, e muito obrigada as lindas que recomendaram a fic! Beijão pra vocês!
E claro obrigada quem comentou ;) Aos novos leitores, sejam bem vindos! ^^ uhu o/
O capítulo é todo narrado pelo Tobb
Enjoy
CAPÍTULO EDITADO :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/465832/chapter/10

[Tobias]

Desde aquele dia, no qual redescobri o que havia acontecido com Tris e eu, tudo mudou. E se não fosse Clara, estaria muito pior. Por mais que eu diga a mim mesmo que eu não quero força-la a me dar seu perdão, no fundo é o que eu mais desejo. Não é somente por que gosto dela, mas também para minha paz interior.

Agora, Tris está mais irritada do que sempre fora. E grosseira também. O que provavelmente é algo pessoal. Por mais que eu tente mudar isso, só se intensifica. Qualquer tentativa de melhorar seu humor é nula. Por reflexo meus olhos caem justamente na direção da mesa onde ela senta habitualmente com seus amigos — no qual eu cheguei a estar — e ela está sorrindo para Albert. Está sorrindo! Meu sangue ferve. O máximo que consigo ganhar são sílabas enraivecidas cuspidas.

Sinto uma espécie de irritação e decepção simultaneamente.

Respiro fundo.

Minhas mãos se transformam em bolas redondas e perigosas para o rosto ou qualquer parte do corpo de alguém. Em especial ao garoto chamado Albert, imagino por um momento seu corpo jazido no chão com arroxeados conforme eu o soco enquanto sou consumido pelo ciúme por ele ter o afeto de Tris. Eu costumava ter acessos assim quando alguém olhava para Lynn ou quando flertavam com ela, entretanto esse agora era diferente. Ele não estava xavecando Tris... aparentemente.

— Ei Quatro! — Zeke pede minha atenção no refeitório jogando uma batata frita, que sem nojo algum, apanho e coloco na boca. — nojento!

— Qual é cara? Vai me dizer que nunca fez isso? — Max indaga enchendo a boca de pizza após falar.

Zeke levanta os ombros.

Não ligo completamente para o diálogo dos dois e tento pegar o espirito de antes, mas não consigo. A sensação desagradável se dissipou pela minha distração, para sorte do Albert manifestado em meu pensamento. Dou mais uma olhada e como em todos os dias, ela não retribui... Observo cada parte do seu rosto, e seus gestos. Ela não é a menina mais linda, ou delicada. Porém foi a que despertou em mim algo diferente. E que eu realmente não almejava. Ainda mais agora. Pergunto-me se é mesmo verdade que eu goste dela. E sinto meu coração aquecido por uma sensação boa enquanto vejo seu sorriso se intensificar. Mesmo que não seja para mim.

De repente, eu não estou no controle sobre minha sanidade, e imagino ela e eu num lugar qualquer, só nós dois, com a presença desse sorriso, mas ele é exclusivamente para mim. Meus ouvidos captam palavras diferentes daquelas que estou acostumado a escutar vindo dela, elas contêm tanta ternura e carinho... Depois de certo tempo, uma criança que julgo ser Clara aparentando estar em seus 5 anos surge de algum lugar e pula no meio de nós antes que consigamos selar nossos lábios, a cena acaba com nós três sorrindo e brincando como uma família... Balanço a cabeça. Isso nunca irá acontecer. Ela me odeia. E porque estou pensando essas coisas? Nunca fui disso. Bebo um pouco de Coca-Cola num gole só, ainda pesaroso.

— Quatro? Tudo certo contigo? — pergunta Max do nada. Eu o encaro assustado, piscando os olhos freneticamente. Ele não é a pessoa mais observadora que conheço. Por um momento eu alterno meus olhos nele, em Zeke e em Shauna, que me fitam de volta.

Dou de ombros.

Max arqueia uma sobrancelha.

— Nós vamos sair hoje, quer ir? — Zeke sugere ignorando o clima estranho que ameaçava se instalar no nosso meio. Somente ele tinha conhecimento sobre o que acontece comigo, apesar dos três suspeitarem que eu, palavras de Max: ‘estava arrastando uma asinha para a Careta’. Não é questão de confiança a respeito de Max e Shauna, entretanto era mais por ser Zeke meu melhor amigo e me sentia mais confortável com ele. Além disso eu não sou uma pessoa amante de desabafos.

— Acho melhor não ir. – eu digo pensando em Clara, e na loira também, não podia deixa-las sozinhas em casa. Por mais que Tris iria amar a ideia de se ver longe de mim o máximo possível.  — preciso cuidar de Clara. — eu explico.

Max bufa.

— Não acho que o bebê seja sua única razão, não é mesmo? — ele insinua com um sorrisinho.

Fecho os olhos em pequenas fendas.

— O que quer dizer com isto? — indago, já com a sua resposta em mente.

— Ah, todos nós aqui sabemos sobre seus sentimentos, Quatro.

— Não sei do que está falando!

— Desde que você se juntou com a Careta, tudo gira ao redor dela. Não pode sair para se divertir ou sei lá fazer alguma coisa com seus amigos... Por que tem que ficar com o bebê... ou somente porque ela não permite. Está de coleira! — ele arregala os olhos castanhos na última frase.

Eu gargalho.

Me divertindo com isto. Porém, ao ver todas as faces rubras de meus amigos eu paro subitamente, não é totalmente agradável ter aquele tipo de brincadeiras quando se está passando por uma situação complicada.

— Hey, vamos deixar o Quatro em paz! — Shauna, minha salvadora, diz. Ela é limitada nas palavras, entretanto sempre sabe a hora de proferi-las. Como agora.

Max revira os olhos.

— Muito bem, você vai com a gente, sim ou não? — ele insiste.

— Eu vou pensar, te mando um torpedo se eu decidir ir. — eu garanto.

— Ou seja, “se Beatrice deixar eu ir”! — Zeke fala, e Max e ele trocam um toque. Ambos rindo.

Eu reviro os olhos.

Por mais que eu sinta um leve aperto em meu peito todas as vezes que tudo volta para ela, essas expectativas de meus próprios amigos me fazem me sentir melhor, não de uma forma completa, porque a condenação sempre está ali. Está em seus olhos sempre que consigo prendê-los em questão de dois ou três segundos, ou em seus atos ou no jeito frívolo que suas palavras soam.

Eu tenho que conviver com isto agora.

.

Eu sou o encarregado de buscar Clara na casa da senhora Brown, então após o termino do treino de basquete eu me apresso em ir pegá-la, mesmo suado, deixo o carro na garagem de casa.

— Ela acabou de comer, querido. — a Sra. Brown diz com sua voz terna e sorriso simpático costumeiro.

— Obrigado. — eu sorrio um pouco virando a alça do carro de bebê para que eu olhe Clara enquanto caminho com ela. Ela sorrir para mim e eu faço caretas para que ele se estenda por mais tempo, ele é a dose da minha cura.

— Há algo errado, querido? — o tom de voz da senhora faz parecer que ela está preocupada e é evidentemente maternal. Por um momento eu me sinto bem, por saber que alguém se importa comigo. Ainda que eu não a conheça direito.

Dou de ombros.

E por mais que eu hesite, seu olhar é encantador, o que me faz baixar a guarda um pouco.

— Hum. Alguns problemas, estou ficando esgotado deles... Mas uma hora tudo se ajeita. – eu digo, um pouco relutante ainda e depois fico constrangido.

Ela sorri novamente.

— Disse certo. Uma hora tudo se ajeita, porém nós não podemos viver sem eles, o que seria de nós, hein? Nos transformaríamos em que tipo de pessoas? Covardes, eu acredito... Isso não impede de ter a tão sonhada felicidade. Eles existem para que nós possamos superá-los, o bom Deus quis assim.

Enrugo a testa com seu discurso. Mas de alguma forma aquilo me ajuda.

Despeço-me da Sra. Brown e vou em direção de casa com Clara, a única capaz de me alegrar em momentos melancólicos, mesmo não proferindo nenhuma palavra de consolo. Só de fitar aqueles olhinhos brilhantes iguais aos meus é o bastante para me aquecer de uma forma indescritível. Eu a amo e isso é tudo. Decido por dar um passeio com ela até o playground que havia na praça. Eu estava com tempo.   

Sento num banco que fica logo de frente onde as criancinhas brincam e riem descontroladamente, sendo vigiadas por seus pais ou babás. Não resistindo ao seu encanto, tiro Clara do carrinho, ansiando por tê-la em meus braços, automaticamente tudo se evapora. A tristeza, a angustia, a dor de ter sido de alguma maneira rejeitado por Tris. Eu não sei realmente o que fazer nesse caso, não tenho certeza se terei sua confiança de volta.

— O que eu fiz de tão grave, meu anjo? — eu indago ao bebê que abocanha suas mãos gorduchas brincando com elas e soltando balbucios. Dou um cheirinho em seus cabelos loiros e eles tem um aroma adocicado que relativamente faz você recordar dos bebês, é bom.

Eu não recebo resposta alguma, a indagação pairando no ar. Mas aos poucos as dúvidas que assombram-me também se vão, dando-me completa paz. Aprecio o momento com Clara e ao passar meus olhos pelas crianças novamente, algumas perguntas voltam, entretanto elas são quanto ao futuro do bebê. Imediatamente chacoalho a minha cabeça, espantando tudo aquilo.

Não consigo parar de me martirizar nem por um minuto sequer?

O pensamento me faz rir levemente. Eu acho que não. Talvez eu deva olhar só para o presente, me preocupar com o hoje, parar já com perturbações. Meu celular vibra no meu bolso, e eu sustento Clara com um braço só.

“Onde você se meteu?”

De: Beatrice

Eu dou um suspiro longo e decido ignorar. Porém, ao voltar a brincar com Clara, fazendo besourinhos e caretas para ela rir — que na verdade solta gargalhadas contagiantes, meus olhos já estavam lacrimejando — ela me envia outra mensagem.

Eu mando uma de volta.

“Ainda tem meu número? Que surpreendente! Estou com Clara, e estamos nos divertindo muito na companhia um do outro. Não nos espere!”

A resposta vem logo em seguida. E eu arqueio uma sobrancelha enquanto imagino sua face ao escrever.

“Se eu ainda mantenho seu número é quanto a isso que você fez, ou seja, desaparecer. Não me dê dor de cabeça, Quatrinho...  Ah e jura que estão se divertindo? Eu aposto que Aninha não vê a hora de se livrar de você.”

Apesar de estar levemente irritado, eu solto um riso, que também atinge Clara. Esta é a primeira vez desde àquele dia cujo temos uma “conversa”, ainda que não diretamente de verdade. Ainda é difícil para ela, para nós precisamente. Eu geralmente evito pensar nisso, porém é inevitável escorregar do assunto quando seus olhos cinzas me fitam como se eu fosse um vilão horrendo, eu não a culpo, entretanto. É o que eu fui. Fui. Eu não sou mais assim e não pretendo mais ser.

Ela não pode ver o quanto eu me arrependo de ter a machucado? Reflito por um minuto. É isso então. Ela está machucada, magoada, ferida, mesmo que os anos tenham passado depois do que sucedeu, ainda está cicatrizando.

Eu gosto dela, não adiantará nada ficar lamuriando ou choramingando feito um imbecil como naqueles filmes, mas eu devo dar-lhe tempo. É claro que eu preferiria voltar no tempo e não ter permitido que isso acontecesse — tanto o fato de ter quase tirado sua dignidade quanto o de abrir meu coração —. Não adianta chorar pelo leite derramado... Ela é importante para mim e mesmo que ela não corresponda, eu entenderei se seguir por um rumo totalmente diferente do meu. Aliás talvez essa deva ser sua escolha prioritária.

Gentilmente, mando outra mensagem, tomando uma decisão relâmpago e extra radical.

— Vamos, meu anjinho, vamos para casa. — eu digo suavemente a Clara.

Além disso, o céu estava começando a passar de um azul límpido a um branco acinzentado.

.

O celular prateado está comprimido em minha mão, enquanto eu penso a respeito da proposta dos meus amigos. Eu gostaria de estar com eles para me distrair um pouco, sair da bolha de culpa sufocante. Porém por outro lado eu fico preocupado com o bebê e se algo similar a semana passada ocorrer novamente?

Sacudo a cabeça.

Ouço um trovão ecoar no céu e largo o aparelho ao meu lado no sofá. Desistindo da ideia completamente. Ela é mais importante que meus sentimentos. Se alguém me dissesse que eu seria “domado” por um bebê de seis meses eu certamente riria sem cessar e depois socar o indivíduo. Ergo a cabeça por escutar passos pesados.

— Você não ia sair? — Tris surge segurando Clara, que se diverte com um mordedor em formato de elefante nas pequenas mãos.

Eu enrugo a testa.

— Não, decidi ficar em casa, com vocês esta noite. — eu digo e estico os lábios num sorriso enorme em provocação.

— Ah! Que ótimo! — ela força um sorriso e posteriormente revira os olhos.

— Porque a pergunta?

— Simples, como achei que iria pernoitar hoje com seus amigos eu convidei os meus para me fazer companhia. — explica com um suspiro.

— O que estamos esperando então? Vamos preparar os salgadinhos e pedir pizza!

— Espera, o que? Você não pretende ficar conosco. Diz que estou errada, por favor? — ela suplica com os olhos.

Eu me levanto andando em sua direção e pegando o bebê em meu colo, que solta gritinhos.

— Está completamente e absolutamente certa, doce Tris. Você prefere calabresa ou quatro queijos? — eu digo com um pingo de escarnio fazendo Clara flutuar no ar arrancando uma gargalhada gostosa. Adoraria ver sua expressão, então a encaro de soslaio. Estava soltando baforadas irritadiças.

Ouço um “Argh” seu e passos bruscos se distanciando.

E eu sorrio.

.

Minha cabeça lateja pela manhã assim que abro os olhos, os raios de sol colaboram com a dor. Caminho até as persianas azuis do meu quarto arrastando as pernas e fecho-as num gesto brusco. Olho ao redor e é uma missão quase impossível encontrar minha cama novamente, me jogo e meu corpo quica.

Vagamente ouço um som agudo e estridentemente alto. Aquilo parece mandar ondas de energia ao meu corpo, me despertando complemente, se meus olhos eram pequenas fendas agora estavam dilatados em alerta. Não ando devagar como minutos antes, eu corro.

Ao chegar no corredor eu paro um pouco para checar melhor se o som era real. Então eu escuto o choro do bebê mais perceptível e arranco em direção ao seu quarto, com meu coração bombardeando loucamente, abro a porta com força a mais e encontro Clara agitada com a face vermelha em seu berço. Dou uma olhada no relógio digital e vejo que passa das onze da manhã. Onde está Tris?

Aparentemente — e de fato — Clara está faminta. Eu a pego em meu colo com afeto e a nino delicadamente para a consolar, ela parece estar bastante irritada, mas se acalma aos poucos, assim que eu consigo parar seu choro eu sigo apressadamente para o quarto de Beatrice. Dou duas batidas, sem resposta.

— Tris? — eu chamo, e como se repetisse minha pergunta Clara balbucia para a porta. — Beatrice? — nada, nem mesmo um grito.

Sem mais delongas eu giro a maçaneta, sustentando o bebê num braço só, e entro. Olho cada canto, entretanto ela não está ali, então eu escuto o barulho da água caindo no banheiro e vou até lá, a porta está entre aberta e ainda que eu seja um nobre Tobias agora, eu sinto que algo está errado, jamais desrespeitaria Beatrice. Não de novo. ‘Culpa’ me perseguindo novamente.

Entro com um suspiro.

Eu levo um tremendo choque. Volto ao quarto e deixo Clara na cama colocando travesseiros em seus flancos, com a mesma recobrando o choro sentido, ainda que com pesar eu corro retornando ao box, a banheira está quase transbordando, restando apenas 5 metros de profundidade, me apresso em desligar o chuveiro evitando fitar o corpo desfalecido de Tris. Pego a toalha felpuda branca, eu a envolvo com ela no processo encarando seus olhos e lábios pálidos.

— Tris? — com dificuldade eu a deposito em sua cama e retiro Clara ao mesmo tempo. Meu pijama está completamente ensopado. — Tris? — eu chamo e aliso sua testa, que está em brasa. Recobrando a consciência eu vejo aliviado ela abrir seus olhos bem pouco.

— T-tobias? — ela indaga incerta. — o-o que houve?

— Eu não sei exatamente, encontrei você desmaiada no banheiro, você está febril, acho melhor te levar a um médico... — balanço o bebê em meus braços para lá e para cá, para mantê-la calma e paciente.

— Nem pense nisso! — ela tenta alterar a voz, mas tosse logo em seguida e encontra Clara — oh minha menininha, eu me esqueci de você! Me desculpe. — ela murmura em tom choroso.

Eu balanço a cabeça.

— Você amanheceu doente, isso não é culpa sua... — eu digo dando uma pausa — em certa parte pelo menos. Você não deveria ter pego aquela chuva da noite anterior! — eu a repreendo, que não gosta nenhum pouco.

— Tem razão — franzo o cenho — isso é culpa sua! — ela cospe. E olha para baixo, seus olhos arregalados em susto. — eu espero que você não tenha bancado o engraçadinho e....

— Não se preocupe, eu não vi mais do que devia. — eu solto um pigarro — Se não quer ir ao médico, então eu vou ser o seu enfermeiro. — ela quica os braços no colchão.

— É ruim escolher a morte? — ela diz de olhos fechados, a voz arrastada, eu solto uma risada, entretanto fico sério de novo.

Sem dizer nada vou até seu armário, pego uma camiseta branca, um moletom verde, uma calça larga e uma peça intima, com Clara em meu colo. Despejo tudo em sua barriga e ela abre os olhos subitamente.

Sua face virando um vermelho vivo.

— Você...

— Shiu! — eu digo — nada de murmúrios, apenas descanse, por favor.

— Você. Não. Manda. Em. Mim! — ela diz entre dentes.

— Hoje sim! — digo terminantemente. — se vista!

Ela bufa. Mas tenta se erguer, entretanto suas forças estão tão debilitadas quanto suas palavras — por mais que ela tente me dissuadir do contrário —. Novamente eu deixo Clara na cama, onde não está molhado e ajudo Tris, muito relutante ela aceita. Enquanto ela se apoia na barra do banheiro, eu troco seus lençóis molhados, uma tarefa complicada quando se tem um bebê consigo, porém Clara e eu conseguimos juntos. Ao terminar ela sai e eu peço para que se deite — a cada palavra ou pedido meu ela bufa e grunhe — eu a cubro até o queixo.

— Vou para baixo fazer o leite de Clara...

— Talvez você devesse deixa-la aqui comigo, ao menos me fazendo companhia... — ela diz e solta um espirro, sua mão captura uma caixa de lencinhos na mesinha, o qual eu não tinha notado a existência. 

Eu arqueio uma sobrancelha.  

— Negativo, o máximo que aconteceria à ela seria pegar um resfriado. Vamos evitar. — eu digo caminhando em direção a porta.

— Desde quando você tomou o controle de tudo, até de mim hein? — seu tom é enraivecido, não sei ao certo o motivo primordial.

— Desde que você se encontra incapaz de cuidar de si mesma.

— Você não sabe cuidar de uma casa, ou de um bebê, ainda mais de si próprio... — ela diz com um misto de presunção e autossuficiência, com uma tosse no final.

— Sua confiança em mim é inspiradora. — dou uma piscadela, recebendo uma careta em troca — Agora, descanse. — eu digo e fecho a porta atrás de mim. O exagero explicito de Tris é espantador. Isso se dá porque a mesma não quer ser cuidada, especialmente por mim, a quem ela odeia.

Eu cuido de mim há muitos anos, pelo amor de Deus! Quando meu “querido” pai devia fazê-lo. A casa não era tão bagunçada assim, ainda que eu nunca acertava o lugar dos produtos de limpeza. Já o bebê... Enquanto eu desço as escadas com Clara, eu penso no que ela precisa além do leite. Mesmo que tenha visto Tris cuidar dela várias vezes eu não havia memorizado nada. Procuro algo na mente sobre filmes que envolvam bebês e não me recordo.

Analiso por um instante e presumo que o que vem a seguir na lista seja o banho. Solto um muxoxo. E sorrio.

.

— Volte aqui, garota! – eu digo de maneira brava. Com os braços cruzados na porta. Encarando sua estrutura sumir entre as roupas no varal.

A tempestade está apenas no começo, porém os pingos são bruscos e fortes, capaz de derrubar uma arvore. Eu tento de todas as formas evitar discussões que a levem — ou a qualquer um de nós dois — a ter atitudes bestas, como essa por exemplo. Beatrice correr em direção ao diluvio lá fora.

O motivo agora era infernizá-la com minha miserável presença em sua noite com os amigos e minhas ‘inoportunas’ investidas em começar um diálogo saudável com eles, até mesmo com Albert – a quem eu tinha certeza que gostava dela, ele deixava claro em sua testa. Isso me deixa ensandecido, entretanto sou tão impotente neste caso que prefiro ignorar.

— Beatrice Prior! — eu grito novamente.

Mas eu sei que não é isso. É sobre o assunto inacabado, que perfura minha alma e me arrasta para àquele sentimento masoquista. Meu corpo estremece de raiva por ela estar lá fora indefesa à chuva e meus pés estão presos no chão, me mantendo ali. “Você é um idiota!” foram suas últimas palavras antes de sair correndo, pude ver seus olhos marejados.

— Me deixe em paz! — ela grita de algum lugar.

Sem me importar mais com ar frio que a chuva emanava eu caminho apressadamente a sua procura, pelo percurso que a vi seguir. O mais previsível seria que eu ganharia insultos e tapas, mas pelo menos a traria comigo. Sua teimosia não teria efeito algum. Ou os gritos.

Fileira por fileira, até a encontrar de costas, encarando o nada. Eu bem delicadamente a puxo pela sua mão, que se sobressalta com o toque inesperado. No mesmo instante ela a retira do contato bruscamente.

— Eu disse para me deixar em paz! É surdo ou algo assim? — ela diz entre dentes.

— Não, minha audição é perfeita, assim como minha mente! — eu digo com a voz neutra. — já chega por hoje, não é?

— Não me diga o que fazer!

— Então o que? Vai ficar aqui numa atitude completamente infantil e pegar sei lá uma pneumonia?

Ela vira o rosto para outra direção e depois de alguns segundos posso escutar sua respiração num arfar. Ela tenta — inutilmente — abafar o choro.

— Você não vê? — espero pacientemente a continuação, minha raiva sendo neutralizada pela sua sensibilidade. As palavras saem meio tremulas — você faz com que eu me sinta mal...

Meus olhos estão arregalados. Minha voz some, minha garganta fica seca e tenho a impressão que meu coração para uma batida.

— Eu não consigo te perdoar, é por isso. Você me deixa um caco porque nem mesmo isso eu consigo! — ela explica e esfrega o nariz com o dorso da mão. Se eu disser que não fiquei aliviado estaria mentindo, porém vê-la tão infeliz me deixou angustiado. Não era minha presença de fato que a enjoava. Ou em termos.

Engulo em seco.

— Vamos entrar... — eu digo num murmúrio, colocando ambas as mãos em seus ombros.

— Já disse que não manda em mim! — ela diz com a voz embargada se desvencilhando novamente.

— Okay! — levanto as mãos em rendição — faça o que quiser! — dou as costas e caminho de volta para dentro. Digo aquilo com um pesar enorme. Mas fico a espreitar pela janela do quarto de Clara até sua decisão de entrar de uma vez, me impedindo de fazê-lo novamente. O que não seria uma boa ideia. Eu viro meu corpo em direção do berço branco e deslizo pela parede até encontrar o chão. Incapaz de me mover mais ou explicar o que se passava por dentro de mim. A única coisa que eu conseguia identificar era aquele aperto conhecido em coração.

.

Sacudo minha cabeça.

Mandando ir embora todo vestígio de pensamento negativo naquele momento. Eu preferia pensar em coisas mais agradáveis. Corações. Cavalos. Flores. Eu solto uma gargalhada. Sendo acompanhado por Clarinha.

— Agora que está alimentada, sorri para tudo não é? — ela está deitada em minhas pernas e eu balanço sua pequena barriga, que a diverte ainda mais. Zapeio os canais na TV e encontro um de clipes, sincronizo com o aparelho de som e aumento num volume que escute se estiver distante. — a mocinha precisa de um banho! Vamos lá!

Apesar de não saber o que fazer, corajosamente eu subo as escadas, antes passamos no quarto da loira e ando lentamente até seu leito, fazendo sinal de silencio para o bebê — ainda que ela não compreenda aquilo, eu reviro os olhos para minha idiotice — que apenas balbucia e abocanha suas mãos gordinhas, despreocupada.

Toco a testa de Tris para verificar, ela permanece febril, mas não totalmente consciente para me repreender por tocá-la. Lembro que há um remédio que combate os sintomas do resfriado. Subo o cobertor um pouco mais, ele media abaixo do busto. O som da música não parece a afetar. E decido por cuida do bebê logo.

Ao chegar no quarto de Clara, eu procuro por seus produtos de higiene e sua toalha. Encontro também uma banheira brilhante cor de rosa. Coloco o bebê no berço enquanto encho a banheira. Com tudo pronto eu começo a despir, primeiro o pijama depois a fralda. No instante em que a coloco na banheira ela solta um gritinho alegre e ouço a introdução da música “Walking On Sunshine” de Katrina and The Waves. Perfeito para este momento. Eu rio.

Cuidadosamente com uma esponja lilás molho sua pequena cabeça, massageio todo seu corpinho com o sabonete líquido para bebês, depois passo shampoo e condicionador — evitando os olhos e ouvidos, seria um problema sério se irritasse ambos — ela reclama quando já é a hora de sair, choramingando, a envolvo na toalha de bichinhos também cor de rosa e a deito no trocador com pernas.

Como um estralo eu lembro que não separei nenhuma roupa. Pego Clara nos braços e vou até seu guarda roupa, apanhando um macacão azul bebê com listras amarelas e um ursinho na frente. Depois pego uma fralda limpa e os outros produtos. Coço minha cabeça confuso ao encará-los.

Pego um pote branco escrito ‘talco’ que serve não sei para quê. Giro o negócio e desejo que as instruções estejam ali, mas não estão, para meu desespero. Parto para o outro produto, com ‘pomada’ escrito em azul, se eu não tivesse conhecimento daquilo por que usava, eu estaria ainda mais perdido, pego um pouco em minha mão e passo onde julgo ser o local, vejo o exagero quando percebo que a barriga e as costas de Clara estão grudentas, eu começo a rir feito um louco. Estou trocando um bebê! Pego um lencinho umedecido e limpo. Próximo! A frauda já é mais fácil, porém eu mudo de ideia na mesma hora quando percebo que ela fica totalmente torta, ajeito de várias maneiras suando no processo, até conseguir chegar no meu objetivo. Mas o que eu faço com o tal de talco? Dou de ombros e deixo-o de lado. Não deve ser tão importante assim como a pomada.

Depois de vesti-la eu passo o perfume adocicado e suave. Deposito um beijo estralado em sua bochecha rosada e encaro nosso reflexo no espelho retangular e pequeno na porta do armário. Sorrindo orgulhoso ao perceber que fiz um bom trabalho e ao me ver noto que estou um caco. Eu só fico assim depois dos jogos.

— Vamos, meu amorzinho... — eu digo carinhosamente e rumamos para fora. Com certo alivio.

Busco o cercadinho no quarto de Tris e desço com ele e Clara. Ao chegar eu a deixo ali com seus brinquedos e vou até a cozinha para pegar o remédio. Sacudo Tris um pouco e ela abre o mínimo seus olhos.

— Tome isto. — eu digo e a ajudo a levantar seu tronco, ela apanha a pílula redonda branca e dou o copo d’água. Ela volta a alinhar seu corpo na cama e eu afago seu cabelo. Ela está realmente ruim, nem mesmo pestanejou. — daqui a pouco vou retornar para ver o que eu faço para ajudar a abaixar a febre.

Receoso e num gesto rápido eu abaixo e deposito um beijo leve em sua testa.

.

O único cômodo que estava fora do lugar era a sala de estar, que como tivemos visita na noite anterior estava um caos, com pacotes, embalagens de salgadinhos e bolachas, pipoca, mancha de refrigerante pelo chão. A música me ajudava a me manter esperto, assim dificilmente o sono me venceria. Clara estava distraída com seu mordedor preferido e eu sorria cada vez que olhava para ela.

Fui na cozinha atrás do que precisaria e por sorte logo encontrei. Ia colocando o lixo na sacola e depois de ter retirado tudo eu comecei a varrer tudo em direção da pá. Limpo com um pano e um desinfetante roxo a mancha da coca no tapete — que minha mãe havia encomendado de algum país de fora — fico surpreso por pensar nela, é tão raro, isso me faz interromper meu trabalho. Eu sinto algo estranho em meu peito, é uma mistura, ergo minha mão e levo em direção ao meu coração, fechando-a em garra para tentar alcança-lo e fazer com que aquilo passe logo! Identifico os que mais me perturbam sempre, saudade e raiva, saudade de como era bom ter alguém que se preocupava comigo em geral — posso sentir o cheiro das suas torradas amanteigadas sem igual e chocolates quentes nos dias frios, como ela me envolvia em sua manta verde-oliva preferida, a qual eu mantinha num lugar especial — e o outro — por ela ter ido embora para sempre e me deixado aqui padecendo junto a Marcus, eu sei que não é sua culpa totalmente, entretanto eu gostaria que ela tivesse me levado também. Quem sabe eu seria bem mais feliz com ela no Céu.

Balanço a cabeça. E vagamente percebo minhas bochechas molhadas. Limpo-as e olho para Clara. Ela passou pela mesma situação que eu, com apenas certas diferenças, perdeu os pais, sua mãe se foi sem nenhuma explicação ao invés de se dedicar a ela por um motivo desconhecido, seu pai sabe se lá onde está e quem é! Nós dois compartilhamos a mesma coisa, talvez seja por isto me sinto tão ligado à ela. Ou é somente seu encanto natural que me faz amá-la, seu jeito inocente, seus olhinhos brilhantes, e seu sorriso banguelo, durante toda minha vida eu vira sorrisos brancos e belos, entretanto nenhum se compara ao seu.

Sacudo minha cabeça. Preciso me perdoar pelo episódio do orfanato, ainda que eu jamais poderei me livrar totalmente de pensar nisso. Eu tive medo, foi uma fraqueza minha. E no fundo eu sempre soube que não poderia de fato fazer aquilo.

Não resisto por mais tempo e vou ao seu encontro, somente para lhe fazer um afago na cabeça, apenas para senti-la. Eu a amo. Minha menininha que surgira do nada, agora se tornara muito para mim. Eu serei tudo para ela, um amigo, um confidente, seu protetor, seu guia, seu herói... seu... pai. Ainda que eu não me acho capaz, ela precisa de um, e eu não pretendo deixa-la sair de minha vida tão cedo.

Quando foi que me tornei uma manteiga derretida?  O tão destemido Quatro, Vencido por um bebê de seis meses!

Com este pensamento e um riso eu volto a limpeza.

.

Totalmente cansado e com o cair da noite — checo várias vezes Tris, e a mesma permanece febril — eu preparo o jantar para Clara e eu. Até esta hora eu já estava um craque em trocar bebês, para minha satisfação. Como frangos empanado acompanhado de arroz com brócolis e Clara uma sopinha de legumes — eu sabia cozinhar! —. Ambos comemos na mesa, fazendo companhia um para o outro. Mesmo que os últimos tempos tenham sido difíceis em relação a convivência entre Tris e eu, eu estava sentindo falta de seus gritos ou as caretas que fazia quando eu lhe direcionava a palavra. Ou quando revirava os olhos quando via eu me aproximar.

Para ela eu fiz uma sopa também, mas com bastante verduras para que ela melhorasse logo. Depois de terminar, fomos para cima, para dar comida à loira. Com muito esforço ela consegue se encostar na cabeceira da cama, e quando eu percebo que ela não consegue segurar a colher por si mesma, eu peço com licença e começo a lhe dar na boca. Eu ouço murmúrios algo como “não quero sua ajuda”, mas ignoro. Ela segura a mãozinha de Clara e tenta se concentrar a ela e não a mim. Mas as vezes seus olhos fitam os meus.

— Ela não estava com essa roupa. — é quase um suspiro.

— Eu lhe dei banho. — digo com um sorriso na voz.

Ela bufa cética.

— Não consigo acreditar... É impossível — ela tosse mas continua a frase – Quatrinho... Você se importando com alguém além de você...

Rapidamente o sorriso some da minha face e não gosto nenhum um pouco do rumo que a conversa está tomando.

— Você parece melhor. — bater na mesma tecla não adiantará nada. “Eu estou mudando Tris.” Quantas vezes eu tenho repetir? Estou me cansando de dizer, o que me basta é demonstrar. É o que resta.

Ela dá de ombros.

Depois de tomar a sopa inteira, com muitos pestanejos e gemidos em reclamação, vejo a melhora na tonalidade pálida que estava seu rosto.

— Estou com frio... — as palavras saltam tremulas e ela rapidamente puxa o cobertor para si, tendo o cuidado para não sufocar o bebê, está batendo os dentes. Toco sua testa, ela recua, obviamente, mas não me deixo intimidar. Permanece o mesmo nível alto.

Sem explicar eu desço com a tigela deixando a pia, tem várias louças acumuladas ali, anoto mentalmente. Encho uma vasilha com agua fria e pego um pano, subo as escadas e volto para o quarto. Ela está deitada agora, com Clara ao seu lado no aconchego de seus braços.

— Relaxe, que eu irei fazer uma compressa para abaixar a temperatura.

— Não, me deixe dormir! Vá embora. — ela diz.

— Você pode dormir, mas não irei embora. Fique à vontade para me insultar, mas deixe que eu faça a compressa. É para o seu bem... — eu digo, e quando ela faz menção em falar algo eu a interrompo — por favor, Tris. Não comece...

Ela bufa e grunhe.

Cuidadosamente eu molho o pano e coloco em sua testa, repetindo o ritual muitas vezes mais. Com algumas reclamações suas que não poderiam faltar. Noto que a mesma dorme, ressonando tranquilamente, e para minha surpresa Clara também.

Arriscando-me mil vezes mais do que devia, eu deixo a vasilha no chão abaixo da cama e me encosto a Tris, porém me levanto e pego Clara, coloco o bebê em cima do meu peitoral e volto ao lugar que estava, ponho meu braço acima da cabeça de Tris e congelo quando ela se aproxima mais de mim, abraçando o bebê e eu ao mesmo tempo. Não penso em nada por pelo menos meia hora, com os olhos pesados. Como eu posso estar exausto só pelo pouquinho que fiz hoje? Atender as necessidades de Clara, limpar a casa, cuidar de alguém enfermo. Apensas isso. Percebo que posso fazer mais do que esperava, posso me doar mais. Por Clara. Por Tris, ainda que ela me deteste. Os três ali parecendo uma família como em meu devaneio, ainda que em situações diferentes em diversos pontos.

Inspiro seu perfume natural, vagamente cheirando a rosas... Lembro dos pensamentos que tive na escola mais cedo. Sobre ela não ser a menina mais bonita. Era uma completa mentira, ela era a mais bela de todas. Como pude pensar tal coisa? Eu abomino aquele tal de Albert. Ou qualquer outro que olhe para ela com um olhar diferente, ou que roube seu coração.

Eu a conheço desde sempre.

Eu percebo que eu gosto dela de verdade. Eu a amo. Desde sempre, estava apenas enterrado. Agora está desabrochando, como uma rosa, o seu perfume mais delicado... Lembro do que passamos na infância, no dia em que ela se pôs na minha frente quando meu pai me alcançou com o cinturão que costumava me bater, “isso é para o seu próprio bem” ele dizia... Ele a feriu, foi tudo rápido demais, ele não havia a visto. Eu sussurrei a ela para ir embora, mas permaneceu, com um arranhão vermelho vivo em seu braço, pingando sangue. Menina valente e dócil ao mesmo tempo. No fim o cruel Marcus finalmente fora embora, porém naquele dia eu ainda apanhei muito após chegar em casa. Mas o esforcinho de Tris me trouxera um breve momento de paz e alivio.

Agora eu estou devolvendo o favor a ela, apesar de ter feito o mesmo várias vezes. Eu acho que ela nem mesmo lembra desse dia... Talvez seja por isso que eu a quero bem, ou talvez não... Beijo com cuidado seu cabelo emaranhado e derivo para o sono.

Antes eu sussurro: “Eu vou estar aqui sempre, ainda que me odeie, que não me suporte, mesmo que não queira. Desculpe-me, mas não posso ficar longe de você...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

DEIXEM COMENTÁRIOS
BEIJOS