Apaixonados escrita por Johnlock Shipper


Capítulo 1
Apaixonados




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– John, cale a boca e diga logo o que tem para me dizer.

– E o que o faz pensar que tenho algo a dizer?

– Você está pensando tão alto que toda a rua deve estar escutando. Desde o momento em que se sentou para ler o jornal você se levantou cinco vezes. Duas para beber água e três para ir ao banheiro. Destas três últimas, em duas você lavou as mãos que estavam suadas e na outra ensaiou sua fala em frente ao espelho. Sei disso porque não ouvi barulho da torneira ou descarga e o que mais uma pessoa que está nervosa para dizer algo importante faria? Você está folheando o jornal rápido demais, não está lendo nada, pois não consegue se concentrar. Cruza e descruza as pernas mais vezes do que seria considerado normal e provavelmente abriu e fechou a boca muitas vezes e decidiu não dizer nada. Inspirar profundamente não vai fazer você se acalmar, John. E você sabe disso. Então diga logo o que precisa dizer para que eu possa voltar a me concentrar.

Ao abrir os olhos e me sentar olhei para John. Percebi que ele estava mesmo nervoso e não pareceu nada surpreso com minhas deduções. Há muito isso não acontecia e confesso que sentia falta. A maioria das pessoas quando veem minhas habilidades dedutivas se sentem desconfortáveis e me acham esquisito. John Watson foi diferente. Ele me admirava, o que era um conceito novo para mim. Acabei por me acostumar a ser encarado por John com uma expressão de espanto e admiração ao invés da de incredulidade que geralmente recebia sempre que fazia uma descoberta. Com o passar do tempo essa reação foi diminuindo. Acho que a convivência comigo tornou essa parte de mim uma coisa comum, que não fosse digna de qualquer reação de admiração.

– Ok. Eu preciso mesmo conversar com você. Mal dormi a noite passada. – John disse.

– Não só a noite passada, como também nos últimos cinco dias. – observei.

John me encarou por alguns segundos, em silêncio.

– Tudo bem. Vou perguntar: e como você sabe que não venho dormindo bem? – perguntou.

– Seu consumo de café aumentou consideravelmente.

– E você não pensou em perguntar se estava tudo bem?

– Pensei, mas decidi respeitar sua privacidade.

John deu uma risada.

– Respeitar a minha privacidade? Você conta a história de vida inteira de uma pessoa só de olhar para ela. Não me venha com essa de privacidade.

Ele estava certo. Eu não pensei em perguntar e não ligava para o conceito de privacidade. Eu não peço as pessoas para me contarem suas histórias, medos e dúvidas. Eu leio tudo isso nelas. Mas devo admitir que não conseguia interpretar o que estava lendo em John agora. Podia ver que ele queria me dizer alguma coisa importante e estava preocupado. Mas não sabia dizer por quê. Não havia nenhuma ameaça iminente. Comecei a ficar curioso. John não estava sendo John.

– Tudo bem. Pode me dizer o que há de errado, John? – perguntei.

– Obrigado por perguntar, Sherlock! – John disse, sarcasticamente, e depois continuou com o tom preocupado. – Quando Irene apareceu você ficou esquisito e imagino que ela realmente o afetou de alguma forma. Você se apaixonou por ela?

A pergunta me pegou de surpresa. Definitivamente não era o que eu esperava. E não fazia o menor sentido. Deixei claro para John minha homossexualidade. Aparentemente eu não disse nada por algum tempo, pois John continuou.

– Nunca conversamos a respeito e isso já está me deixando maluco. Você pode me responder? Se apaixonou por ela? – perguntou ele novamente, ansioso. Ainda não entendia o objetivo dessa conversa, mas resolvi responder a pergunta.

– Confesso que Irene me afetou sim, mas não da maneira como você pensa. Aquela mulher foi um dos enigmas mais difíceis e fascinantes com os quais me deparei e acredito que até hoje não a desvendei completamente. Mas o que interessa é que ela foi capaz do que outra pessoa nunca foi: ela me amou. Não estou dizendo que correspondi seus sentimentos, mas isso me levou a questionar minhas ideias a respeito dos sentimentos humanos. Como você bem sabe John, não sou uma pessoa comum. Não imaginava que poderia ser alvo de uma coisa tão ordinária como o amor. Os sentimentos de Irene Adler por mim me deixaram desconcertado, algo que não é fácil acontecer, sempre tenho meus sentimentos sob controle. Saber que de alguma forma é possível alguém me amar foi uma mudança estranha e ainda não decidi se é boa ou ruim.

Ele não disse nada. Levantei-me do sofá e me dirigi a minha poltrona. Ficamos em silêncio nos encarando enquanto eu tentava ainda entender qual o propósito de John ao perguntar sobre A Mulher. Nunca precisei observá-lo por tanto tempo. E nunca havia gostado de observá-lo. Quando dei por mim não estava mais procurando entendê-lo. Estava somente admirando-o. Seus olhos me fitavam também com o mesmo interesse, a boca fazendo um bico no qual nunca tinha reparado antes e que era incrivelmente atraente. Ao perceber o que estava pensando tentei me repreender. Eu não poderia estar fisicamente atraído por John.

– Sherlock? – ele interrompeu meus pensamentos me consumindo com o olhar.

– Sim. – respondi perdido em seus olhos azuis.

– Você já se apaixonou por alguém? – ele perguntou.

– Não. – respondi sem pensar.

– Tem certeza? – ele perguntou inclinando-se para frente, ficando mais próximo de mim.

– Tenho. – O que significava se apaixonar, exatamente? Era um conceito abstrato demais. Se sentir atraído por alguém? Não, acho que não bastava isso. Resolvi expressar minha dúvida.

– O que significa se apaixonar, John? Não estou muito bem familiarizado com o conceito.

Ele pareceu se divertir com a ideia de que eu não sabia nada sobre se apaixonar. Chegou mais perto ainda, sentando bem na beirada da poltrona. Estava tão perto que eu poderia tocá-lo.

– Se apaixonar não significa somente atração física, como a maioria das pessoas pensa hoje em dia. Claro que o envolvimento físico faz parte, mas essa é a parte mais fácil. O difícil é que quando se está apaixonado você se dedica completamente ao outro. Você se importa com tudo a respeito dele, faria tudo por ele e não consegue imaginar sua vida sem ele. E ao pensar que ele não corresponde seus sentimentos você fica louco e não dorme e inventa uma maneira esquisita de tocar no assunto. Você faz planos e ensaia conversas em sua mente, mas no fim as coisas não saem como você ensaiou e você tem que improvisar.

Ele levantou-se, veio ao meu encontro e timidamente sentou-se em meu colo e começou, um pouco hesitante, a acariciar meu rosto que estava a centímetros do seu. Dava para sentir seu cheiro, que era delicioso e só agora me dava conta disso. Fechei os olhos e inspirei profundamente. Tentei entender o que estava acontecendo. Nunca em minha vida havia experimentado esse sentimento de bem-estar, de prazer com o toque de alguém. Estar ali com John em meu colo acariciando meu rosto daquela maneira não deveria fazer sentido. Mas lembrei-me de que quando se descarta o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade. Então era isso.

– John? – chamei.

– O que foi Sherlock? – ele respondeu, ainda acariciando meu rosto.

Abri os olhos e encontrei os seus. Naquela imensidão azul eu me senti amado. Agora eu podia ver com clareza. John Watson me amava e eu o amava também. Eu me importava com ele, não conseguia imaginar minha vida sem ele e neste momento o que eu mais desejava era beijá-lo. Mas não sabia como fazê-lo.

– Acho que estou apaixonado. – consegui dizer. Aquelas palavras saindo de minha boca soaram estranhas e incrivelmente perfeitas ao mesmo tempo. Decidi repetir, mas de maneira correta desta vez.

– Estou apaixonado por você, John.

Ele sorriu e nunca antes um sorriso me alegrou como o seu. Não consegui me conter e sorri também.

– Haha! – ele riu. – Você disse antes de mim!

– E o que tem isso? – perguntei, confuso.

– Era o que eu estava tentando te dizer, mas tive medo de que não me correspondesse. É engraçado ver que você teve mais coragem de dizer do que eu.

– O que? Está dizendo que pensou que eu não diria por ser covarde? – perguntei, irritado.

– Não! De maneira nenhuma! – suas duas mãos estavam em meu rosto agora. – Só estou feliz que tenha dito.

Assenti e continuei a olhá-lo, sem saber o que fazer. Na verdade, sem saber como fazer. Eu nunca havia beijado ninguém antes e não queria destruir este momento.

– Eu te amo, Sherlock. – John disse, olhando nos meus olhos. Sorri novamente. Nunca havia me sentindo tão feliz. Ainda segurando meu rosto ele se aproximou e colocou os lábios nos meus. Fechei os olhos e me entreguei aos instintos que não tinha certeza de possuir. Envolvi seu pequeno corpo com meus braços e o beijei de volta. Nunca tinha experimentando nada parecido. A sensação de sua boca se movendo contra a minha era, me atrevo a dizer, perfeita. Separei os lábios e inspirei seu hálito quente, nossas línguas se tocando. E apesar de todas essas sensações pelo meu corpo eu não conseguia ter o suficiente. O beijei mais ardentemente enquanto ele passava as mãos por meus cabelos. Como pude viver por todo esse tempo sem tocá-lo?

– Você não tem ideia do quanto eu desejava isso. – John disse, um pouco sem fôlego. – Fiquei por dias imaginando como seria beijá-lo.

– E foi o que esperava? – eu não queria continuar a conversa, só queria beijá-lo até que minhas forças minassem. Mas eu precisava saber se ele também o queria.

– Não, não é o que eu esperava. O que eu imaginava não chega nem perto disso.

Sorri e resolvi experimentar acariciar seu rosto. Ele fechou os olhos, inspirou e sorriu também. Depois de alguns segundos ele abriu os olhos, olhando diretamente nos meus e disse:

– Para alguém que nunca se envolveu fisicamente com outra pessoa você está se saindo surpreendentemente bem, Sherlock.

– Você acha? – perguntei, aproximando-me mais dele. Não dei tempo para que ele respondesse e voltei a beijá-lo, com mais confiança, agora que sabia o que esperar. Inconscientemente, minhas mãos começaram a explorar seu corpo e as de John fizeram o mesmo com o meu.

Sua boca deixou a minha, mas logo pousou na base de meu pescoço e foi depositando beijos e mordidas até minha orelha, causando arrepios por todo meu corpo. Isso só aumentou ainda mais meu desejo por ele. Voltamos a nos beijar e tentei me ajeitar na poltrona.

– Quer ir para um lugar mais confortável? – John perguntou.

– Sim. – respondi.

Ele se levantou e me puxou pela mão. Seus braços me envolveram pela cintura e me inclinei para dar-lhe um rápido beijo. Ele sorriu, pegou minha mão novamente e me puxou em direção a seu quarto. Não sou um completo ignorante, sabia o que significava entrar em seu quarto naquele momento, mas fui mesmo assim. Esta noite estava se saindo muito bem para experiências e depois de descobrir o que seus beijos causavam em mim estava curioso e desejoso por mais. Ele fechou a porta depois de passarmos e deitou-se na cama. Deitei a seu lado e o observei por alguns segundos.

– Tudo bem? – ele perguntou.

– Perfeitamente bem. – respondi. Inclinei-me e beije-o de leve. Ele me envolveu com seus braços e o beijo foi ficando mais intenso. Enquanto minha boca estava ocupada minhas mãos percorriam seu corpo e logo as roupas eram barreiras indesejáveis entre nós. Era como se tudo fosse familiar. Eu não precisava pensar para retirar suas roupas e tocá-lo. Não precisava me concentrar para que nossos corpos se entrelaçassem como se fossem um. Cada beijo, cada toque, cada arrepio que passava por meu corpo quase me fazia explodir de tanta felicidade e prazer. Nunca em minha vida imaginei que teria isso. Principalmente com John.

Em algum momento consegui dizer:

– Eu te amo, John. Sempre amarei. Você é o melhor que já aconteceu em minha vida. Por favor, nunca me deixe. Não acho que posso passar um só dia longe de você depois disso.

– Também te amo, Sherlock. – ele disse com o maior sorriso que eu já havia visto.

•••

Não sei em que momento adormeci, só que nossos corpos não deixaram de se tocar em momento algum. Quando acordei pela manhã John ainda dormia com a cabeça apoiada em meu peito. Eu via seus cabelos loiros a centímetros do meu rosto e quando inspirei mais fundo para sentir seu cheiro, John se mexeu. Estava acordando.

Levantou-se depressa e me olhou com uma expressão confusa.

– O que diabos aconteceu aqui? – perguntou.

– O que? – ele não podia estar falando sério. O que diabos tinha acontecido? De repente ele começou a rir.

– Sua expressão foi demais, Sherlock! Desculpe, eu não deveria ter feito isso. Eu não resisti, me desculpe. – ele disse e se aproximou para me beijar.

– Você acha que pode comprar meu perdão com um beijo? – perguntei.

– E não posso?

– Tente alguns milhões, talvez dê para começar a abater sua dívida.

– Uau! Milhões? Então acho que é melhor começar logo, não é?

– Isso mesmo, John. – mal podia esperar por mais de seus beijos. Ele ficou me olhando com aqueles olhos azuis que agora eu conhecia tão bem.

– Eu te amo, Sherlock Holmes. – disse passando a mão por meu cabelo. – Mais do que tudo que já amei.

– Eu te amo, John Watson. E você é o primeiro e único que amarei.


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Notas finais do capítulo

Mais Johnlock! Eu não me canso de shippar os dois!

O que acharam, pessoal? Espero que tenham gostado.

Reviews são muito bem vindas, ok? :3

Abraço!