Yin Yang escrita por Beatrice Ricci


Capítulo 8
Atração


Notas iniciais do capítulo

Sem mais delongas, aqui está mais um capitulo, agradeço a todos :) até lá em baixo.



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A princípio, se mantém em silêncio; contemplando a face do amigo, que permanece com a pata em seu ombro, a sensação de estar tão próximo a ele transmite paz. Os olhos cor de jade a penetram profundamente, como se lesse seu íntimo, sente-se incomodada com olhar, desvia a mirada para os largos ombros, e depois para o braço enfaixado do guerreiro por breves segundos, mas claro que isso não podia durar muito: quando ele roça o polegar no tecido dourado, num gesto de carinho, depressa o afasta empurrado à pata negra, deixando no caminho gotas de sangue, virar-se de costas em seguida.

 — O que faz aqui? — fala ela, com frieza.

O panda não a responde de imediato, percebe o clima tenso que se faz presente pelo tom da voz da mestra. Abre a boca várias vezes buscando palavras para respondê-la.

— Digo o mesmo a você. — diz da maneira mais gentil e doce.

Assim que respondeu, se aproxima cautelosamente, medindo cada passo, mas se detém a escutá-la falar.

— Estou treinando.

Sabe que esse não é o motivo real dela estar ali, a conhece bem para distinguir quando está mentido e falando a verdade, mesmo sendo a mais sincera oculta algo, talvez um segredo.

— Você está mentido. — afirma. Ela ri, um riso de incredulidade. Vagando o olhar pela floresta, o pede que se vá e deixe de fazer perguntas irritantes, entretanto ele se recusa a deixá-la, a mestra de kung fu murmura palavras de irritação, é visível que está incomodada. — Foi algo que fiz a você? — questiona, dando alguns passos. Tigresa sopra o ar nostálgico, lembrando-se do acontecimento passado com Song, porém não é o que a perturba. — Você vai ficar parada de costas para mim, me deixando falar com o vento? — pergunta, com impaciência. Outra vez não obtém resposta.

 Odeia quando ela faz isso: o ignora ao estar chateada, ou triste, prefere ficar sozinha treinando, porém nesse momento está se machucando, lembra-se da cena do barco, a amiga disse que treinou 20 anos socando arvores no palácio, achou show de bola, todavia vendo suas patas sagrarem agora, gostaria de voltar no tempo e repugnar tal pensamento, a ama muito para vê-la se machucar.

— Tigresa, para de me ignorar. — resmunga, aproximando-se mais.

— Que foi Dragão guerreiro? — começa ela, com sarcasmo. — Aprender a ignorar pequenas coisas é um dos grandes caminhos para paz interior. — pausa a voz e continua. — É o que você sempre diz.

­Cansado da indiferença, o urso coloca as patas nos ombros, cobertos pelo tecido dourado, obrigando-a a virar-se e mira-lo. A guerreira rosna entre os dentes reprovando a ação, o vê diretamente nos olhos, mantendo a postura desafiadora, o empurra colocando as patas no peito, deixando machas de sangue na pelagem branca, mas ele aperta o agarre impossibilitando que o deixe.

— Me solta. — ordena.

— Não.

— Eu estou avisando panda, me solta agora!

— Não tenho medo de você — afirma. — Sou o Dragão guerreiro, seu melhor amigo, e me preocupo por você, ou acha que gosto de mirá-la assim?

Desvia o olhar, sua fisionomia fica pesada. Concorda que ele é a único que se preocupa com ela, pelo menos mais do que os outros.

— Eu... — aperta os olhos, suspirando.

Po sorri sem mostrar os dentes. A felina mantém os olhos cerrados por instantes, nesse curto tempo o panda deixa um dos ombros dela para assim pegar na pata alaranjada. Com os olhos abertos Tigresa fixa a mirada nas Iris verdes cor de jade, hipnotiza-se, mesmo no breu da noite é possível enxergar o brilho intenso.

— O que está acontecendo? — sussurra num tom meigo. Acaricia a pelagem do polegar da pata dela com carinho, da mesma forma que fez ao vê-la na tabua depois de serem atingidos pelo canhão de Shen.

— Por que faz isso Po? — questiona, evitando explicações.

— Me preocupo com você. — responde. Em seguida a puxa para um abraço, ela não resiste, gosta da sensação calorosa e protetora estando nos braços do amigo, como se todos os problemas desaparecessem.

Sente o abraço aperta-se, resolve correspondê-lo rodeado abaixo das axilas com os braços, e depositando o queixo no ombro largo, em seguida exala o ar pelas narinas e o solta em forma de suspiro. Percebe a palma do guerreiro fazer movimentos circulares nas costas, suspira novamente, mas desta vez por causa da ação, poderia dizer que ele o fez inconsciente, entretanto recusa acreditar quando o urso roça a bochecha na dela vagarosamente.

— Po... — o chama, com tom de voz lento e suave.

— Hum...

— O que está fazendo?

A resposta não vem, deixa-se levar pela sensação. Mesmo que há poucos minutos tiveram discutindo.

— Quero dizer algo. — Ele quebra o silêncio que se instalou. Para de acariciar as costas da felina.

— Diga.

— Há muito tempo quero lhe dizer – atreva-se a beijar a bochecha dela. Fazendo-a abrir os olhos e deixar o abraço.

O encara franzindo a testa, o panda abaixa a vista vendo que o gesto pode ter a incomodado, entretanto fica surpreso ao sentir três dedos no queixo, obrigando-o a levantar vagarosamente,  os olhos durante fixos na cena final. Abre a boca para balbuciar várias vezes detendo-se, nenhum pensamento chega à mente, é como se congelasse instantaneamente, ela sorri.

— Gesto de carinho? — pergunta. Ele afirma após pensar. — Posso lhe dar também? – questiona.

— Pôde, acho que po-pode. – gagueja.

Aproxima os lábios, na bochecha esquerda do urso, esse engole seco ansioso pelo contanto.

A imagem dela beijando e lambendo a mesma bochecha, quando enfaixava o braço dele, recorre a mente, sente quentura imaginando os lábios dela tocarem os seus, pode-se dizer que está avermelhado e suando.

Quando faz a ação de beijá-lo no rosto, ambos fecham os olhos, ela permanece instantes, imóvel, depois desce os lábios, acariciando a maxilar até chegar à curva do pescoço — está ficando louca, deduz por si própria —, deposita beijos no lugar, o corpo de Po estremece arrepiando-se.

Não sabe por que a amiga está agindo dessa forma, mas não a detém. Continuam por alguns minutos assim, até o consciente da guerreira fazê-la voltar à realidade, num empurrão o afasta fazendo-o cair no chão, ela respira com dificuldade, seu corpo emana aura negra em pouca quantidade, o panda fixa a mirada na figura a frente, franze a testa a estranhado, levanta-se apoiando a pata no chão, ao fazer limpa a terra da bermuda bege que usa.

— Por que fez isso? — questiona. A felina está de costas com as patas cruzadas sobre o peito. Não é visível da energia que flui do corpo dela, devido à escuridão da noite. — Tigresa? — a chama, mas não escuta além do som da brisa que se fez presente. Ela suspira e como se nada tivesse acontecido volta a socar o tronco da arvore, o urso ri sarcasticamente. — Você acha que se machucado irá fazer seu problema desaparecer?

— Não estou com problemas. – responde curta e grossa.

— Se você reconhecer o problema terá um a menos.

O silêncio permanece por instantes, é correto afirmar que Tigresa está formulada uma resposta, pois para de socar o troco da arvore. Respira profundamente para depois dar meia volta e olhá-lo, não sabe o porquê Po insiste tanto, só sente que ele é alguém que pode confiar, o ama isso é fato, entretanto não quer confessar tudo que sente, prefere encontrar a paz interior antes, é certo que há minutos estavam num momento íntimo, mais do que o normal, o que faz ter o impulso de agir assim? Não sabe.

— Eu gosto muito de você Po, mais do que você imagina... — pausa a voz, desviando o olhar. — É meu melhor amigo, sei que posso confiar em você.

— Sim, melhor amigo... — confirma, com tom de voz triste, devido à palavra “amigo” pronunciada por ela.

— Tive um pesadelo. – diz, com certa vergonha. — É tão real, é como se eu estivesse lá, como se você...

— Espera, você sonhou comigo?

— Não, não é isso, eu — Volta a mirada ele, no qual está com o sorriso nos lábios. — Quer dizer, pesadelo lembra? Tive um pesadelo e você estava nele.

O urso se aproxima dela, não deixa de sorri, posa a pata no ombro esquerdo da amiga, não arriscará colocando sobre sua bochecha, para não ser empurrando novamente, a guerreira move as Iris, como se fosse uma bolinha de ping pong, recorrendo pela face branca de Po, retribuí o sorriso com timidez, ele pede que conte sobre o pesadelo, depois que escuta os detalhes do sonho, a abraça, desta vez com a intenção de confortá-la, relutante por algum tempo resolve abraçá-lo também.

— Não se preocupe é só um pesadelo.

— Mas eu vi... – diz, baixinho.

—Não é real — a interrompe. — Eu nunca vou deixar acontecer. — Aperta mais contra o perto obrigando-a recostar a face na pelagem branca e cálida do seu peito.

Após o abraço, Po pega na pata da amiga, que está coberta de sangue, e a puxa, apressadamente o questiona, o amigo fala da ferida que ela causou nas patas, em seguida a convence tratá-las.


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Notas finais do capítulo

O que será que Tigresa sonhou?