Yin Yang escrita por Beatrice Ricci


Capítulo 26
Se ela é a escuridão, eu serei sua luz


Notas iniciais do capítulo

Depois de anos de espera finalmente Tigresa encontrará a irmã, como será a reação de ambas? Vocês têm algum palpite? Então sem mais delongas vamos ao capitulo.



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Começa a acordar, ainda antes de perder a noção do tempo e espaço. Levanta a cabeça e cerra os olhos repetidamente, a fim de acostumar com a chama em frente a seu rosto, diante disso vê a figura de dois tigres, ambos com um sorriso de sarcasmo. Ela gira a cabeça, nota que está em uma jaula de grandes, desvia a mirada para as patas, que estão com algemas de pressão, igual a que Tai Lung usou e nos tornozelos cordas, volta aos dois felinos rosnando, eles soltam uma curta gargalhada e dão as costas.
O tipo de carruagem começa a ser levada por um leopardo e uma pantera. À medida que avançam Tigresa coloca-se a ver ao redor, árvores e mais árvores, nada, além disso, é a paisagem, até que finalmente chegam a um vale. Seus olhos se dilatam e a curiosidade lhe toma conta, jamais esteve em um lugar habitado apenas por felinos, gostaria de saber como é viver ali.
Antes de se transportada para dentro, os felinos param na entrada principal. Deteve-se para admirar o grande muro de pedras, as figuras que ornamentam profusamente acima, concentradas, sobretudo ao redor do enorme portão, perdidos num emaranhado de tigres e flores de lótus, consegue visualizar um nome — Mirume
—. Teve tempo a detalhar a figura e este nome, é uma tigresa feita de pedra, sua veste é uma túnica bem provocante, a aparência é jovem, ainda assim transmite autoridade. Fica com vontade de perguntar algo, mas os portões são abertos e levada adentro. Um dos tigres que conversava com o que faz guarda, comenta sobre o seu lar, ela não faz questão de escutar, em vez disso tem atenção aos felinos do lugar.
É de noite, contudo para eles não faz diferença. A vista algumas crianças dançando ao redor de uma fogueira, enquanto as labaredas iluminam as fêmeas sentadas ao solo, as quais cantam cantigas alegremente e batem palmas, suas vestes são simples, a maioria com as cores bege e marrom. Em outro ponto perto de casas e um poço, algumas tigresas estendem roupas em varais. No topo do telhado de uma casa, a luz de lanternas do sol reflete em todo esplendor crianças com olhares curiosos.
Na ocasião que percebe a ausência de machos, questiona a um dos soldados, o qual responde:
— Eles são treinados para exercito, só podem visitar suas famílias no fim de semana.
Teve um momento em que pensa em dizer, como é ridículo só eles estarem um exercito, enquanto outras apenas são subjugadas a serem donas de casa e serviram as suas necessidades íntimas, é o tipo de pensamento machismo que a irrita, no entanto decide ficar em silêncio.
Escuta um burburinho de vozes, de repente é o alvo das atenções. Mantém o semblante inexpressivo. Os felinos que a levam ordenam que os outros se afastem, um menino recua timidamente como um caracol, mostrando-se assustado, segura em uma das patas um tigre de pelúcia, a mestra lhe dá um curto sorriso, há duvida em seus olhos, mesmo assim a retribuí, e com a patinha diz tchau e corre ao colo de uma fêmea. Breves segundos, ela tem o semblante paralisado, devido o gesto inocente da criança, algo em sua mente faz lembrar o sorriso de algum lugar, é curto, delicado e sincero, assemelha-se a um djavú, volta à realidade no momento em que escuta o comentário de uma fêmea.
— Ela é a princesa Harume...
Jamais se acostumaria com a ideia de ser uma princesa, a vida repleta de riquezas e mordomias apesar de tentadora, não lhe faz afável, acostumou-se com a simplicidade do palácio de jade, de acordar todas as manhãs para treinar e derrotar bandidos.
Instantes depois, a carruagem parou e a jaula é aberta por um jaguar, ele ordena que a mestra listrada saia, com dificuldade, devido seus calcanhares estarem amarrados com uma corda, obedece, entretanto recua no momento em que ele estende as patas para tocá-la, rosna fazendo-o voltar, o outro felino, um guepardo atento a cena faz a mesma ação, o resultado é um golpe nas partes baixas, deferido por ela.
— Não toque em mim. — ordena a mestra.
— Alguém a segure. — fala o felino, cujo levou o golpe, enquanto as patas estão naquela região.
Após minutos de tentativas um leão de porte grande a agarra e coloca-a nas costas, pode sentir as camadas de músculos em suas costas e braços, debate-se a fim de escapar, em vão, além de ser mais forte, ele possuí o dobro de sua altura, bufa irritada e rende-se, teria outra oportunidade.
O leão a leva escoltado por guardas, chegam à primeira entrada do majestoso palácio, adentrando a guerreira a vista primeiramente um chafariz de água, o líquido entra e saí pela estátua de flor de lótus fechada, e caí feito cascata, mantém a admiração a esse ponto, depois aos portões do castelo, cada vez está mais próxima de conhecer sua irmã. Duas faixas de sedas estampam a mesma flor da fonte de água a frente da escadaria, várias janelas retangulares com desenhos que não sabe identificar, acima, em outros lugares, pequenas árvores, uma delas repleta de maças.
Quando o felídeo a joga ao chão de maneira que caiu sentada, dois guardas interrompem o jogue de damas, um deles, uma pantera agacha-se a sua altura a fim de remover as cordas dos seus tornozelos, feito isso, o segundo levanta-a bruscamente empurrando-a para andar, após um rosnado, sobe a escadaria acompanhada por dois felídeos, um ao lado esquerdo e outro ao direito, ambos com lanças. À medida que anda, aproxima-se dos portões abertos, visualiza um lustre ao centro, com algumas velas sobre, antes de entrar ainda percebe várias tochas acesas, iluminando o caminho.
O chão com azulejos quadriculados em suas cores pretas e brancas, entradas dando acesso a salas diferentes, a frente outra escadaria, subindo por ela segue num corredor menor, embora pequeno, mantém a beleza e riqueza, com outro lustre, jarros de árvores menores, e quadros com figuras de tigres e flores, continua a andar, passando por corredores enormes e todos com lustres, e alguns salões com cortinas de cor de vinho, por fim chegando a frente de duas enormes portas.
Os guardas interrompem os passos a fim de abrir as portas, um ranger se faz nesse ato, logo em seguida os dois empurram a mestra para dentro, embora ela tenha vontade de golpear-los hesite, a caminhada é curta, devido à distância até o trono da rainha.
Pôs-se a observar, algumas tochas iluminam o ambiente, dando-lhe um aspecto de avermelhando; janelas em formatos ovais sob elas, no desnível do chão, seis degraus levam ao trono, sobre ele um livro, que não pode identificar.
De repente um baque, a entrada da frente é bruscamente a aberta, com passos rápidos uma bela tigresa jovem caminha em direção ao trono, a capa roxa de tecido grosso se arrasta sobre o chão, seus saltos de bico finos da mesma cor clica a cada centímetro feito, o vestido vermelho sangue, de corte “v”, de mangas cumpridas e com uma abertura lateral abaixo do quadril a coxa, lhe atribuí sexualidade semelhante a uma deusa.
Senta-se no assento real, sua fisionomia é de irritação e fúria, tem breves minutos desse modo, no momento em que visualiza os guardas e uma felina levanta-se descruzando as pernas, fica imóvel, o semblante surpreso e incrédulo, como se não acreditasse no que vê. Desce três degraus da pequena escadaria, fixando o olhar a felídea, começa a sentir-se indubitavelmente naquele instante, a atmosfera de incerteza pesa na alma, neutralizando por completo a sua segurança e autoridade, inclina-se ligeiramente para frente, vagarosamente, medindo cada passo, aproxima-se dela, a qual recua dois para trás, contudo os dois felinos a empurram, ela rosna desviando o olhar para um deles e volta-se a Mirume, essa está a centímetros de distância.
A soberana estremece e o seu olhar reflete recordações, um esforço evidente para coordenar as imagens misturadas a mestre. Percorre os olhos pelas linhas e formas da face da mestra, teve mais atenção as marcas na testa, únicas da realeza, depois se concentra ao olhar âmbar rubi, cintilantes com um brilho diferente, cuja jamais saberia explicar em palavras, o coração se perdia invariavelmente mais a cada prova que esta é sua irmã. Reflete e afligi-se na tentativa de arranjar uma explicação para angustia que sente. Estende a pata em direção a bochecha da felídea, levemente pousa os dedos na região, a tensão de ambas é inevitável, antes que posso colocar a palma, a mestra gira a cabeça e rosna. Essa ação lhe faz tornar á realidade, sorri levemente, e foi recuando de costas, ordena que os guardas saiam. Ambos obedecem deixando as duas as sós.
Dominada por curiosidade indolente, Tigresa entre abre os lábios para falar, no entanto é como no alto de uma pagina em branco, sua mente se torna um espaço vazio. Por momentos antes tinha a intenção de fazer milhões de perguntas, mas por alguma razão, talvez a incerteza, não fez.
Foi um breve instante em que aquela felina a sua frente, não se assemelhava a nada com a descrição de Elsuko.
A sua própria figura e aparência chamam a atenção. Tem bem mais de um metro e sessenta, as curvas de seu corpo são mais avantajadas do que as suas e, o vestido extravagante e apertado, a faz mais encorpada. Os olhos são bem redondos e penetrantes.
Nos breves minutos que a viu de perto, seu sexto sentido propõe que ela é uma reserva de sentimentos e à troca de demonstração de afeto, pode estar enganada, no entanto aquelas ações olhares dizem tudo. É capaz de odiar e amar com dissimulação, e ainda assim ser desejada.
Ela está há dois passos de seu trono, embora parecesse que iria se sentar gira os calcanhares, voltando-se a irmã, o olhar tão intenso feito por ela que lembra o seu próprio.
Ficam ambas em silêncio por alguns instantes, cujo é quebrado pela majestade.
— É um júbilo vê-la querida irmãzinha... — questiona com tão sarcasmo, que a torna insuportável.
— Não digo o mesmo que você. — responde.
— Deverias ter mais respeito com a sua rainha. — Anda alguns passos à esquerda. Seus dedos estão entrelaçados e o semblante tem um resigno de humor. — Tu estas diferente da última vez que lhe vi... Diga-me, como foi viver em um orfanato? Teve vários irmãozinhos?
— Como sabe que eu...
— Como sei? — interrompe. — Há alguns anos descobri que vossemecê estava no orfanato Bao Gu, mandei meu exercito para ti capturar, no entanto alguém lhe adotou antes...
— Foi você que destruiu aquele lugar? — indaga, mostrando o desprezo em sua fala.
— Talvez...
— Você um monstro.
— Julgas porventura que sou? O que mamãe e papai diriam?
— Eles nos amavam você os destruiu por um legado idiota, por um trono...
— Amavam a ti, e não a mim! — Tenta esconder alguns sentimentos de raiva em relação às atitudes dos pais no passado. — Causaram os próprios túmulos, e assim tu farás o mesmo a si!
— Você os matou!— Exclama. Nos seus olhos acende uma fúria flamejante. — Como pode fazer isso? — pergunta numa voz clara, mas um tanto áspera. E antes que ela a responda apressa-se nas palavras: — Eles nos deram tudo, amava-nos, mas você só quis saber de poder.
— Era meu por direito, tu tirarias de mim. — responde rispidamente. — O trono, os súditos e reino, tudo era para ser meu, e agora lembranças passadas não mudam o presente, o meu futuro, o qual tu e ninguém roubáreis de mim.
Teve um silêncio.
Tigresa suspira penosamente a fim de controlar as emoções, lembra-se do que Daisuki disse. Com um gesto ao cinto da calça, pega o broche em formato de flor que o mesmo lhe deu, levanta-o acima do rosto para a irmã visualizá-lo, a qual tem um semblante surpreso.
— Lembra-se disso? — indaga a mestra. O tom de voz é suave.
Detém a visão na flor de lótus prateada, o objeto lhe traz lembranças à quais queria esquecer. Um passado de amor com o único que a fez feliz algum dia, ainda assim depois de todos esses anos a sua sombra permaneceu atrás de si, alimentando o desejo de vê-lo novamente.
Lentamente as pálpebras caíram sobre os olhos tristes, e a cabeça abaixa-se para os próprios pés, é uma tola, apenas com a visão do objeto suas emoções são reveladas, a onde está a rainha perversa? Aquela que é autoridade?
— Ele te amou Mirume... — pausa a voz e em seguida prossegue. Aproximando-se a irmã. — Não sei muito sobre o amor seu com Daisuki, o que aconteceu realmente, mas ele amava você, assim como nossos pais. Ainda há tempo para mudar o que você se tornou, de ser a minha irmã.
Ela levanta a vista à felina, essa a poucos metros de distância, há sinceridade a seus olhos e verdade a suas palavras, porém recusa-se a acreditar, no momento que a irmã estende a pata com o broche a ela, hesite em apanhar.
— Sem olhar para trás, não mais. — fala severamente. Após olhar aos olhos de Harume e em seguida golpeá-la no estômago usando uma das pernas. — Eu tenho tudo que preciso. Achas que tu irás arrancar de mim! — grita. Fixando o olhar a irmã, a qual ainda está no chão. —
Quando Tigresa levanta a cabeça segue-se com uma daquelas silenciosas mirada, a quem, sem mentir, se pode chamar de uma eternidade. Recompôs-se depois de um tempo, perderia a tentativa de reconciliar com a irmã, mas jamais deixaria alguém empurrá-la deste modo. Espera que ela dê o primeiro golpe, os olhos embuçados, como espreitando um gesto de ataque.
— Sabe qual é o sue problema Mirume? — indaga a mestra listrada. Aproximando alguns passos. — Você é fechada para o amor, pois acha que assim livrará de uma dor futura, afastar todos que a amam a fim de esconder quem realmente você é, ou melhor, o que sente: medo, você tem medo. — Teve uma pausa. Tais palavras saíram com receio de que a emoção fosse a sua, e não só da irmã. Volta-se a olhar para ela, a qual fez um gesto de impaciência.
— Medo? Estas a brincar comigo? — ri levemente.
A soberana olha para a felina a frente, mas de um modo que fez lembrar a definição do leão que atacou horas antes. Oblíquo e dissimulado.
— Jamais, afinal você é minha rainha, devo lhe obedecer não é? — pergunta com o mesmo tom de sarcasmo da irmã. — Apesar de que alguém como você... Medrosa... — Não houve calculo nesta palavra, mas estima em dizê-la, por fazer crer que ela perdesse a postura.
— Hora sua...
— O quê? Diga! Ou tem pouca coragem?...
Como se a frase fosse uma provocação para batalharem, a rainha avança com punho fechado a fim de golpeá-la no rosto, a mestra bloqueia o golpe segurando a pata, em seguida a chuta no pé, a qual recua dois passos, para depois refazer o caminho e lhe dar outro soco, em vão, gira ao redor do próprio eixo, para lhe dá uma rasteira, a guerreira impulsiona e pula para trás, desvia de outro soco e mais outro, esse com um giro, e com um chute acima do quadril, faz Mirume cair, apoiando as patas traseiras e dianteiras no solo.
Levanta-se com um sorriso curto nos lábios e diz:
— Tu és uma boa lutadora, contudo não é o suficiente.
Num gesto rápido a tigresa rasga o tecido do vestido roxo, a três centímetros acima da coxa, e o joga o trapo, faz o mesmo com as mangas cumpridas.
Trocaram um rápido olhar, antes de iniciar a luta novamente. Desta vez Tigresa ataca primeiro deferindo um chute perto de sua viria, ela se esquiva e no ar tenta golpear-la com vários chutes acima da cabeça, sem sucesso. A rainha coloca as patas nos ombros da irmã a empurrando para trás enroscando uma das pernas a dela e com a outra a forçando ao chão, a mestra rapidamente livra-se de seu agarre, estando atrás das costas dela faz uma chave de braço. Com o queixo abaixo do braço de Harume respira lentamente, devido o aperto, usa uma das pernas para fazê-la cair, com hesito usa os dois braços para pressionar o seu pescoço, buscando uma maneira para reverter à situação, impulsiona com toda a força os calcanhares e pula, dando um mortal para trás, levando consigo a rainha, essa a solta e pousa ao chão com toda a delicadeza de um felino.
Ambas com olhos bem abertos e a respiração curta permanecem imóveis por instantes.
— Tu lutas bem, visto que é menor. — comenta a majestade, tendo uma pausa pra respirar. As patas nos joelhos como apoio, assim como a irmã. — Contudo esta luta terminou. — acrescenta, ficando com a postura reta.
Tigresa franze a testa confusa, e antes que possa dizer quaisquer palavras sente um ligeiro desconforto atrás das costas, virando-se rapidamente o mesmo leão, cujo batalhou perto da hospedaria, pressiona em seu peito um cetro de ouro maciço, tenta correr, mas é como se o objeto esteja ligado a ela. Coloca as patas ao redor dele empurrando, o felino pressiona o orifício redondo feito de vidro mais, Tigresa desvia a vista a este ponto, nota a energia negra redirecionando a ele, usa uma das pernas com o intuito de golpear-lo, contudo o felino a levanta no ar e com um sorriso medíocre diz:
— Perdeu gatinha.
Queria falar algo, mas as palavras são congeladas na sua garganta. As pálpebras pouco a pouco vão fechando-se, o corpo rendendo-se a um peso morto, até que por fim caí ao chão, como se estivesse falecida.
O leão espera um instante antes de ir até a soberana, a qual caminha lentamente a sua direção, com aquela destreza no andar silencioso, junto com um sorriso nos lábios rosados. Se antes para o leão foi possível conter a mirada, no momento que a felina está a centímetros dele os olhos se entregam a bela vista: duas pernas robustas reveladas por o rasgo do vestido. Volta a vê-la novamente, entrega o cetro e espera quaisquer palavras dela.
Ela passa as patas delicadamente pelo bastão e segue até a esfera redonda de vidro, essa com grande quantidade de energia negra. Olha rapidamente ao leão e levanta a sobrancelhas com um ar sarcástico.
— Devo parabenizá-lo general — começa ela, com a voz suave. — Por um breve momento questionei-me tua capacidade, vossemecê será recompensado.
— Senhorita sabe qual é única recompensa que quero. — fala, com um tom de sarcasmo e malicia. — Deveras será em dobro — teve uma pausa. Desvia a visão para as patas e braços enfaixados, lembra-se do acontecido com Harume, a qual quase lhe matou. — Sua irmã poderia ter me chacinado. — acrescenta, dando dois leves chutes na mestra, essa desacordada.
— Um leão de seu porte, jamais deverias ser abatido por uma felídea menor. — ri levemente.
— Esqueceste que esta “felina” tinha uma aura extremamente poderosa. — diz ofendido.
— Cala-te e vá. — Gira nos calcanhares. — A leve com os outros prisioneiros.
— Quero me divertir antes com ela.
— Se tocar em um fio de cabelo dela... Cuidarei de ti pessoalmente. — o ameaça.
O leão bufa antes de perguntar:
— E o colar majestade?
— Não está com ela, se estivesse seria capaz de me vencer. Agora a leve e não me perturbe mais.
Vê a soberana sair de sua presença com um rebolado lascivo. Sorri estranhamente e depois abaixa à vista a felídea adormecida, agacha-se, toca-lhe a bochecha delicadamente com as pontas dos dedos, faz o mesmo com a curva do pescoço, livre-se um pouco de tecido de seda para assim sentir a suavidade do pêlo da tigresa fêmea.
A formosura e o mistério que a cerca torna mais encantadora, parece ser onisciente e onipotente, ainda assim com a singela delicadeza de uma fêmea. Poucas vezes encontrara uma com ela, forte, independente e bonita. A maioria das mulheres do vale, após Mirume ser tornar rainha, começaram a andar com o medo, não tinham motivos aparentes, pois a rainha jamais deixaria qualquer fêmea morrer ou ser violentada por qualquer macho, contudo elas nunca sussurravam as duvidas e angústias que as oprimiam, talvez por temer aos esposos, esses em seu exercito, os quais têm o dever e obrigação de combater e aos filhos. Nada se compara com a dor daquele que não pode crescer com afeto do pai. E ele sabe como é isso.
Algum tempo antes de habitar o vale da sombra, vivia numa aldeia distante, apenas com leões e leoas, convivendo com os ideais do pai e de outros machos: usavam as fêmeas para acasalamento e afazeres domésticos. Anos foi deste modo, até que o suprimento de mulheres adultas estava escasseando, e a poligamia, sem uma polução feminina que os sustentassem, se tornou uma doutrina fértil.
Embora não culpe o passado que teve, plantou o seu presente da única maneira que deveria, com os ensinamentos do pai.
Enquanto estas lembranças lhe invadam a mente, seus dedos ligeiros voam aqui, ali e por toda parte da face, pescoço e abdômen da felina, sentindo, pressionando, desabotoando, examinando. Seus olhos mantêm a mesma expressão de luxuria. Por fim cheira os lábios da mestra, e depois dá uma olhada a seu rosto.
Decide levá-la logo para a cela, visto que Mirume o mataria se tocasse mais na sua irmã
***
Assim que deixou a presença do leão e de sua irmã, retirou-se para o seu quarto e respirou de alivio.
Coloca seu cetro sob a cama, vira-se para o espelho vislumbrando a sua figura, teve uma mirada mais detalhada ao vestido, amaldiçoa-se por ter o rasgado, era a seda mais cara da província da China, embora tenha dinheiro suficiente para comprar quantos quiser, odeia quando se deixa levar pelas emoções causando “acidentes” nas próprias roupas.
Demoradamente examina-se pelo espelho. Pega uma escova e começa a escovar os pêlos da face, enquanto relembra a luta contra a irmã, certamente ela ganharia se não fosse tão distraída, dando assim a oportunidade do leão atacar. Desvia a vista por breves segundos em direção do cetro, o chi real parece dançar em vários redemoinhos dentro do globo de vidro. Sorri vitoriosa voltando-se para o espelhado, é nesse tempo que a porta do quarto abre-se, revelando a fisionomia de Lía.
A tigresa fêmea aproxima-se da soberana, toma-lhe a escova das patas, e pôs-se a alisar a nuca dela, a qual não fez resistência. Em pé não dá jeito, pois a rainha é alguns centímetros, mais alta, pedi-lhe que sente, ela obedece. Continua a escovar, com muito cuidado, e dividi-os de vez em tempo. Não a fez logo, nem assim depressa, mas devagar, aproveitando o momento, as lembranças de quando ela era criança, correndo nos jardins do palácio, sujando-se de barro, e no fim do dia, dava-lhe um banho e a penteava.
— Conseguiu o queria? — Não houve calculo nesta frase, mas estimou em dizê-la. Examinando-a no espelho.
Fez-se silêncio.
— Quase. — responde, sem levantar os olhos, encarando os próprios dedos entrelaçados, sob o colo. — Tudo está seguindo o caminho, cuja eu quero. Vossemecê deveria estar feliz por mim querida Lía.
Cala-se durante alguns instantes, depois a responde sem imposição nem autoridade.
— Que tipo de felicidade é esta vossa majestade? — pausa a voz e apressa-se: — Achas que trará a felicidade que busca?
— Pegue aquele vestido de meu armário. — ordena como buscasse contestá-la e repreendê-la. — Esta veste não está apropriada. — acrescenta.
Lía olhou para ela com tristeza, logo depois vai ao armário de madeira nobre, abre cada porta, uma de cada vez. Dentro várias peças de roupas, a maioria túnicas e vestidos. Permanece imóvel analisando, conhecendo Mirume como a conhece, a roupa que gostaria de vestir seria provocadora e chamativa, no entanto decide apanhar uma peça diferente, feito isso a leva para a felina, a qual se levanta do assento, e no momento que vê a roupa tem um semblante surpreso.
— Esse é lindo. — fala Lía, estendo-o.
Mirume limita-se a arregalar muito os olhos, e acabou em dizer:
— Achas mesmo que usarei isso? — Teve um risinho descorado e incrédulo.
A túnica simples, de cor branca, mangas compridas e uma faixa preta cobrindo a parte do quadril. Seus olhos miram esta veste. Uma emoção antes mascarada pelo riso concede em revelar-se de maneira brutal, e por um momento não sabe o que dizer. Recordações de uma ilusão da paixão: da primeira vez que usou. Quem lhe deu, das promessas quebradas... Tudo havia sido tão rápido...
Uma espécie de vertigem a atinge é quando abaixa a vista, buscando alguma escapatória para a sensação angustiante, depois levanta os olhos e crava-os nela. A tigresa ainda está com as patas estendidas esperando que a mesma pegue a veste, seu aspecto é tranquilo. Temerosa puxa a túnica rapidamente, a mais velha tem um leve sorriso, quase imperceptível. Gira a vestimenta entre os dedos, sentindo a textura, assemelhando-se as nuvens, leva-a para o nariz e sente o aroma, como se fosse nova. No tempo que volta a encarar Lía, a realidade lhe atinge, retoma a postura séria e indiferente, ordena que ela deixe sua presença. Após ela estar sozinha em seu aposento, um dilema faz sua mente: vestir ou não vestir? Decide experimentá-lo após minutos de reflexão. Feito isso avança ao espelho a fim de visualizar sua figura, assusta-se de imediato com a própria imagem refletida. Embora a peça precise de alguns ajustes, visto que a ultima vez que a usou foi na sua adolescência, lhe caiu muito bem. Não se compara com as outras túnicas chamativas e ricas em detalhes, ao contrário, é simples e formosa.
Guardou a túnica todos estes anos, embora não admita, pois é como voltar ao passado e reviver os momentos bons com Daisuki, o qual lhe presenteou com a veste e o broche de flor de lótus, no primeiro encontro de ambos. Lembra-se como se fosse ontem: a noite era sossegado, o vento batia-lhe o rosto causando-lhe arrepios, a lua iluminava a face de ambos, mas nele a luz adquiria outra forma, um brilho especial, estavam no jardim do palácio, deitados sobre a grama molhada, suas patas entrelaçadas, e os olhos encarando-se, de vez em tempo seus lábios tocavam-se, e risos bobos ecoavam.
Todos os dias de sua vida foram tolos, comparados com aquela noite. Jamais esqueceria a união profunda, cuja suas almas fundiram-se e tornaram-se uma só. Contudo passado é passado, deve manter o foco na sua irmã e o no dragão guerreiro.
Depois de olhar-se ultima vez no espelho, pega o cetro de ouro maciço girando uma vez no ar, em seguida foi até o armário e dali pega outra veste, um vestido negro de gola alta, de mangas compridas com um corte lateral até metade do antebraço, e uma longa capa da mesma cor.
***
Abre os olhos lentamente, sentido uma ligeira pontada na cabeça, olha ao redor a fim de saber a onde está, percebe que está em movimento, mas suas pernas não se movem, gira a cabeça para o lado e enxerga a figura daquele leão, o qual a leva nas costas, imediatamente tenta sair de seu agarre, contudo não consegue, é como se o corpo estivesse paralisado.
O sujeito dá alguns passos para frente com ar um tanto mal humorado e desafiador, sabe que ela está acordada. Leva uma das patas para o bumbum da mestra, provocando-a, ela rosna como forma de ameaçá-lo, o felino ri brevemente e diz:
— Calma gatinha. Estamos chegando...
Quis bater em suas costas, no entanto nem para isso teve forças.
Momento antes estava violenta. Agora, apoiada num dos braços e sem estar lembrada do que aconteceu, parece refletir, ainda que múltiplas expressões que lhe perpassam dizem o contrário. A sua mente já não se encontra ali.
Aflige-se na tentativa de lembrar o que aconteceu. Apenas imagens borradas da luta contra a irmã e alguém a certando, seria esse o motivo de sua fraqueza? Certamente. De repente como um baque em sua memória deduz o que houve, decide usar o chi real, embora não tenha controle sobre ele, entretanto nada acontece, respira e cerra os olhos e tenta novamente, sem sucesso. Nesse instante conclui sua hipótese: a irmã lhe tomou o chi.
— Devias estar morta. — começa o leão, a levando-a de volta a realidade. — Se não foste seu chi normal... — sorri com a própria voz de desgosto.
Não o responde de imediato.
— Foi você que fez isso? — questiona.
— Como adivinhaste? — seu riso é insuportável.
Por mais vil que possa parecer se aproveitar um inimigo em desvantagem, este momento de fraqueza da felina é uma oportunidade de saborear o prazer de pagar na mesma moeda as feridas causadas por ela em seus antebraços e patas, ainda que Mirume o matasse por isso. Uma das lições que seu pai lhe ensinou: “Seja vingativo, e aqueles que lhe odeiam caíram a seus pés.
Como se Tigresa lesse a sua mente, busca o meio de sair de seus braços, lhe dá nojo, ânsia de vômito e todos os males possíveis ao estar em tal situação, visto que está a sua mercê. No momento em que ele aperta sua nádega esquerda, um olhar flamejante acende, assemelha-se as labaredas de uma fogueira, seu corpo corresponde minimamente, não entende o que está acontecendo, seu chi normal não responde. O medo de ser violentada a atinge com brutalidade, a onde esta a mestra forte e corajosa? Agora parece com um gatinho escondido em algum lugar escuro.
As garras, o único meio de defesa, são cravadas nas costas do leão, o qual não se incomoda, mesmo causando-lhe feridas, desta vez o morde usando as presas ao pescoço dele; escuta um riso incrédulo e abafado.
— Estas a começar a se divertir sem mim? — pergunta.
Quando a sua voz baixa e rouca sugeriu algo, um arrepio da espinha a pontinha do pé surgiu.
Ele para de andar e com um só movimenta a deixa sobre o tapete vermelho daquele corredor, a felina olha ao redor por breves segundos, lembra-se de ter feito o caminho com os guardas de Mirume. O felino acaricia a bochecha direita da mestra lentamente, com o dedo indicador, a vê fechar os olhos de repulsa, um sorriso de satisfação cobre os seus lábios, segura os seus pulsos, para assim tê-la a sua benevolência, busca um beijo em sua testa um contanto quase íntimo, até ir ao canto de sua boca, permanecendo ali por instantes, nesse tempo um suspiro é proferido por sua parte. No momento que Tigresa tenta-lhe chutar é em vão, essa ação lhe faz desejá-la mais, beija-a rapidamente e com força, um gemido de aversão da felina é escutado, ainda assim continua.
Prestes a desabotoar a túnica dourada dela, algo lhe atinge nas costas, imediatamente caí ao chão, seu corpo retorce, como se estivesse queimando-se, até que por fim o ultimo movimento apresenta-o a morte.
Intrigada a mestra listrada deita-se de barriga para baixo, custando-lhe esforço, e levanta à vista a figura a poucos metros de distância, é sua irmã.
A soberana anda lentamente, a cauda de seu longo vestido negro a acompanha, gira em uma das patas o cetro, enquanto um sorriso está em seus lábios. Estando perto da irmã, desvia a mirada por breves segundos ao comandante de seu exercito, balança a cabeça negativamente, depois tem atenção da felina. Agacha-se a sua altura e fala com uma voz, cuja transmite sarcasmo e diversão.
— Machos são sempre previsíveis... Embora este me surpreendesse com tal abuso. — pausa a voz. Os olhos vidrados aos da irmã. — Jamais deixaria alguém violentar uma fêmea, mesmo sendo ti. — ri brevemente. —Obrigada irmãzinha, vossemecê me dera outro motivo para dar fim à vida a este desgraçado. Apesar de que iria livrar-me dele de qualquer jeito. — Dá de ombros e levanta-se.
Tigresa franze a testa confusa, não faz questão de entender as palavras da irmã, em vez disso, toma-lhe atenção ao cetro em sua pata, uma esfera de vidro com grande quantidade de energia negra, movimenta-se, como um redemoinho, ao topo, está convicta que é seu chi.
— Por que não me mata logo? — indaga com a voz falha. Está exausta.
— Matar-te? Achas mesmo que faria isto agora? Talvez depois que seus queridos amigos estiverem aqui, principalmente aquele panda. Sei que vossemecê não estas com o colar, a final deixaste este medíocre lhe tocar. — Aponta para o leão. — Será magnífico no momento em que seu amado dragão guerreiro vier... — pausa, a fim de pensar nas próximas palavras. — É ruim quando o único que vossemecê amou estava apenas brincando com sua pessoa?
— Cala a boca. — fala com o tom de voz sumido.
— Ouvi dizer que ele adora felinas, qual será a próxima? — ri levemente.
— Cala a boca... — Lentamente as pálpebras caem sobre os olhos cansados, e a cabeça pende cada vez mais sobre o chão.
— Querida irmãzinha repouse, pois vossemecê precisará.
Viu a irmã fechar os olhos completamente, recua alguns passos, permanecendo a vista nela, reflete por alguns minutos e em seguida estende o cetro a sua frente. Surgem após um flash de luz dois felinos, ambos com espectro de energia negra e com os olhos totalmente brancos. A soberana ordena aos dois que levem à mestra a prisão apropriada, eles obedecem curvando-se respeitosamente, cada um segurando o braço, por fim arrastando-a.
Após um sorriso de Mirume, ela gira aos calcanhares e assim segue o caminho contrário do corredor


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Notas finais do capítulo

Este foi o capitulo mais longo da fanfic, embora eu fosse acrescentar algumas coisinhas a mais, decide deixar para o próximo capitulo.
Aquele leão teve o fim que mereceu e apesar de Tigresa não ter acabado com ele, sua irmã fez. Eu a presentearia com um buquê de rosas para esta ação, contudo a personalidade da própria é tão imprevisível...
Eu coloquei uma dica de um personagem, cujo tem parentesco com alguém que conhecemos, entretanto ambos não se conhecem e provavelmente não iram se conhecer nesta fanfic... Alguma ideia de quem seja?
A luta das duas felinas foi justa? O que deveria acontecer nesse momento para vocês?
O vestido que Mirume não queria vestir, foi dado por Daisuki, ou seja, ambos são mais do que amigos, mas isso vocês já sabiam.
A rainha e seus desejos por espécies diferentes... Coitado do Po será o próximo a extensa lista da soberana...
Então agradeço por ler, favoritar e comentar, vocês são e mais! Até o próximo capitulo.