Yin Yang escrita por Beatrice Ricci


Capítulo 25
Amor que cura, amor que aquece


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem irá aparecer aqui? Uma dica é pequeno, fofo e é um panda vermelho. Se for isso que está pensando acertou. Se não for só lendo.



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De todas as imagens daquela noite, a que sua mente fazia questão de recordar, era da hospedaria sendo atacada. Sentiu-se um completo inútil, como se tudo que prometeu antes fosse mentiras, ainda tinha Tigresa, não se lembra do que aconteceu após a explosão, afinal, havia acordado? Se estiver desperto por que só há escuridão?
Seus olhos abriram-se lentamente, tem dificuldade para levanta-se, pousa uma das patas sobre a cabeça, tentando manter o equilíbrio abalado por um tiroteio de imagens, uma forte enxaqueca o atinge, seu estômago dá um nó, com a respiração curta e rápida. Tenta focalizar melhor, mas é impedido por alguém, obrigando-a a sentar-se, não hesite, está confuso. Quando a dor passou, pode ver e claramente ouvir o individuo, Daisuki. Por um instante fica totalmente imóvel, esperando que fale. Exausto, mas profundamente triste. Po desvia a mirada, para ter noção de onde está, contudo o que vê, é a hospedaria destruída, em outros pontos, animais feridos e crianças chorando. Volta-se ao guepardo, esse tem um semblante melancólico.
— Ela conseguiu não foi? — indaga, dando uma pausa e prosseguindo em seguida. — O exercito de Mirume... — A pata do felídeo aperta seu ombro esquerdo com suavidade, e confirma com a cabeça. — Onde está Tigresa?
O solta e, sem olhar, o responde:
— Desculpe-me, eu tentei... Eles a levaram...
O panda vira-se e olha para o lado oposto. Seus amigos cuidam dos feridos, sorri levemente, sabendo que eles estão bem, contudo é um sorriso, sem alegria, como se fosse forçado. Uma brisa fria passa por seu rosto e parte dele quis simplesmente deitar e pensar que tudo foi um pesadelo. A culpa e a raiva cresceram instantaneamente. É como estar sobre um abismo sem fundo. Aperta os punhos, deve manter a calma, mesmo que quisesse matar a rainha, não poderia, sua paz interior e caráter o impede, com isso respira e solta ao r pela boca, e repete o mantra: “paz interior, paz interior...” quantas vezes precisas para ter controle de suas emoções.
Levantou-se depois de alguns minutos, dá alguns passos para frente com dificuldade, com um ar um tanto sério e desafiador. Nesse instante Daisuki atravessa seu caminho, antes que possa dizer quaisquer palavras que o questione, ele fala:
— Vou ajudar meus amigos. — Mantém os olhos vidrados a Víbora, a qual conversa com um coelho. De longe percebe as feridas abertas do mesmo. — Esses animais precisam de nossa ajuda, sei que é importante impedir a rainha, mas nesse instante a prioridade são os feridos. — Enquanto tenta manter o equilíbrio interno pode sentir as lágrimas encherem seus olhos, porém não está preparado para soltá-las, ainda não. Reuniu todas as forças possíveis para evitar cair num buraco negro de emoções. Nesse ponto se fez silêncio. Movimenta a cabeça para o lado para encará-lo. — Fazemos isso junto? —Teve um sorriso lento.
Os lábios se abrem, revelando a linha regular de dentes cor de neve, e um sorriso suave. Concorda acenando levemente.
Diante disso, ambos seguiram caminhos opostos.
O guepardo foi em direção a uma raposa, e dois porcos, os quais estão sentados no solo. Aproxima-se devagar, para assim não assustá-los. Um dos porcos o mira com receio, todavia quando o guerreiro sorri, o medo começa a desaparecer, não há nada de obscuro ou temível nesse gesto, ao contrário: um sorriso de afeito como se conhecessem há anos.
O vento agora sopra com violência, certamente uma noite agreste e tempestuosa. Nessas circunstâncias seria melhor procurar um abrigo, no entanto a sua prioridade são os feridos. Estando perto do porco menor, se abaixa a fim de ver suas feridas. Arranhões sobre as faces macilentas, meio cobertas fardas alaranjadas, um corte da testa a sobrancelha, um dos olhos encovados está fechado, devido um estilhaço de vidro. Manteve maior tempo analisando essa ferida, não é profunda, a ponta é retirável, contudo perderá a visão desse olho.
— Vou retirá-la para vossemecê, mas fique parado. — a voz é doce, ainda que para o porco tenha soado como uma ordem. Recua a face das patas do guepardo. — Por favor, senhor. — pede. Inspira profundamente.
— Você é médico por acaso? — indaga com o tom de medo.
— Não, mas...
— Mas o quê? — interrompe a raposa, cujo até o momento estava calada. — Se não é médico, não pode nos ajudar, se por acaso tirar essa coisa do olho dele e, acontecer algo hen?
Encara a raposa, a qual está no meio dos dois porcos. Apesar de odiar o tom que o mesmo preferiu o responde de maneira gentil.
— Vossemecê pode confiar em mim, por que...
— Confiar? Confiamos naquela tigresa, e veja onde estamos agora! — eleva a voz, não chega a gritar.
Houve silêncio enquanto Daisuki procura se controlar. Nesse tempo a raposa mantém a vista nele. Os pêlos vermelhos bagunçados, feridas pela face. Nota o medo aos seus olhos verdes, embora esteja exaltado nas suas palavras.
— O senhor está com medo, é compreensível, mas não culpe “aquela tigresa”, estamos aqui para ajudá-lo, poderíamos ir e deixá-los, todavia não queremos, pois quando alguém precisa de ajuda, não importa quem seja, mesmo sendo o nosso pior inimigo, devemos ajudar. — pausa e depois continua. — Se não quiser confiar em mim, vossemecê tem o direito. — Com o fim da fala, volta-se ao porco. — Tu poderás ficar cego se eu tirar, porém nada adiantará se continuar aí, só agravará a ferida.
O porco após breves segundos consistiu. Daisuki lhe dá outro sorriso, em seguida leva os dedos na amarra da capa azul escuro, e a retira colocando-a sobre o colo, pega a adaga do cinto, corta um pedaço do tecido, devolvendo o objeto à cintura. Mirando o suíno, coloca a pata perto de sua orelha, a fim de ter tê-lo imóvel, com o polegar e o dedo indicador puxa o estilhaço de janela vagarosamente, nesse curto tempo, sente a tensão do porco, suspira de alivio ao retirar completamente. Por fim enfaixa a região com o tecido, que passa da nuca a metade da testa.
— Por enquanto isso deve ser o suficiente. — afirma. O porco lhe agradece. — Ainda temos que cuidar desses ferimentos. Vou buscar um pouco de água. — Dispunha a sair, contudo a pata da raposa o impede, segurando seu pulso.
— Eu posso ajudá-lo. — fala. A voz é suave, diferente do tom arrogante que usou antes.
— Não é necessário, vossemecê está ferido, fique aqui e descanse. — responde. Sorrindo com bondade.
— Eu insisto, fui grosseiro com o senhor, devo redimir. — apressando-se antes de ser interrompido: — Eu vou... Diga o quiser. — E assim estando de pé, caminha alguns passos, com dificuldade, em direção à floresta. Daisuki o segue.
É angustiante para Po ter a visão de todas estas vítimas, algumas tão feridas, que certamente não sobreviveram, embora não seja pessimista, esconder a verdade é como ferir assim mesmo, nesse instante seu “eu”, não aguenta mais.
Devagar, sua mente foi absorvendo cada animal ferido, de vez em tempo parando o passo a fim de ter coragem e prosseguir. Estando perto de víbora, essa lhe dá um sorriso e pede que ajude a coelha a sua frente, dando um passo corajosamente, se sentido mais confiante agacha-se, houve um silêncio, e o rosto da fêmea, ainda que esteja suave, assume uma intensidade de medo, como se ela pudesse olhar no fundo dele, para além da angústia e da aflição.
— Oi. — fala o urso tímido. Os olhar violeta dela está vidrado ao seu, isso lhe causa timidez. — Sou o Dragão... — interrompe a própria fala, medindo as palavras que irá dizer. — Sou Po, eu vou lhe ajudar.
Víbora teve um sorriso.
— Está tudo bem se eu for? Quer dizer, ajudar os outros? — pergunta tendo a atenção do guerreiro preto e branco. Ele confirma com a cabeça.
— Sente dor? — indaga, ele.
— Sim, muita. — responde, com um sorriso.
— Oh claro, você está ferida, desculpe a pergunta. — diz rapidamente, xingando-se mentalmente.
— Não se preocupe, tirando o fato de eu estar morrendo de dor, estou ótima, poderia ser pior.
Franze a testa confuso. O que seria pior? Pois a coelha possuí: feridas abertas nas coxas e braços, dentes quebrados, uma das orelha com corte profundo, além escoriações pela face e corpo. Mesmo que a dúvida o faça querer perguntar a razão, não o faz, em vez disso, pensa numa maneira de enfaixar as feridas dela.
— Se sentisse que... — começa ela, depois de breve silêncio. — A morte estivesse o seu lado, o que faria?
Cogita mentalmente e depois balbucia:
— Ficaria perto de minha família, acharia um modo de viver mais.
— É boa resposta. — ela sorri. — Não tenho família, ou alguém que chore em meu leito de morte, em vez de tentar viver mais, aproveitaria o tempo que me resta, é clichê eu sei, mas às vezes estamos tão ocupados em coisas banais, que esquecemos que a morte existe. — pausa para tomar fôlego. — E quando ela chega... Não há escapatória.
— Isso foi profundo e triste de certo modo... — Se enrijeceu por breves segundos. — Qual é o motivo de dizer para mim?
— Já que estou morrendo, seu rosto será o ultimo que lembrarei... — sorri novamente. — Acho que assim conquisto sua amizade... Talvez?
Os olhos delas o miram com luminosidade, não aparenta ter menos de vinte dois anos. Suspira tentando manter a vista ao dela, mas suas emoções o varrem, enquanto sua mente o prende em memórias passadas. Lembra-se de quando tinha essa idade, de todos os momentos que viveu, que agora parece tolas. Se pudesse salvá-la, ainda que seja precipitado afirmar a sua morte.
— Você vai ficar bem são só alguns arranhões. — Não são, e ele sabe disso, no entanto prefere lhe dar esperança, mesmo sendo falsa.
A jovem riu um riso de compaixão. Toca-lhe a pata a fim de ter sua atenção, tendo-a, diz:
— Ajudem os outros, eles necessitam do dragão guerreiro, mais do que eu...
— Eu não posso... Foi minha culpa, eu fiz isso com eles... — desabafa. — Na verdade eu tenho medo... — confessa, cerra os olhos num pesar. — Que tipo de dragão guerreiro eu sou? Sem coragem?...
— Ter coragem, não é ter medo. Ter coragem é fazer o certo, mesmo tendo medo. — Coloca a pata no queixo do panda, para que ele a encare. — Faça o certo. — Ele concorda visivelmente abalado.
Ela sorri mostrando a primeira fileira de dentes, faltando entre dois a quatro, e assim vai deixando a face do guerreiro lentamente, até as pálpebras pesarem e cair num sono profundo, do qual jamais acordaria, nos braços do mestre.
Depois que Víbora deixou o urso com a coelha, sabia que ela iria morrer, pois tendo um pouco de conhecimento médico, assim como Garça e Louva-a-deus, teve essa conclusão. Diante pediu para o panda estar com ela, para assim não vê-la morrer. A morte é inevitável, sabe disso, que estaremos mortos algum dia, todavia presenciar alguém nesse fatídico dia é muito para ela.
Rasteja entre alguns feridos, nesse tempo, detalhando seus ferimentos, até estar perto de seus dois amigos, os quais estão acompanhados por três bodes e uma cabra, para ganhar controlar a ânsia de vômito que teve, ao avistar um dos bodes, com uma ferida profunda no braço, capaz de vez o seu osso, mira o chão, quase lhe tocando a mandíbula, volta-se ao ter a proximidade com eles.
— Precisam de ajuda? — indaga a qualquer um que a responda.
— Sim, eu não entendo essa ferida aqui... — responde Macaco, apontando ao braço do bode menor. — Garça sumiu e Louva-a-deus está com ele, Rosetta não é a melhor enfermeira do mundo também... — estas ultimas palavras saem num sussurro.
— Eu escutei isso. —fala a borboleta.
— E Daisuki?
— Não sei.
Larga a ânsia que teve minutos antes, respira profundamente e encara a ferida do bode.
— Eu sinto dor. — reclama, ele.
— Querido não existe resposta fácil para sua dor. — responde, com a voz suave. — Acredite, seu eu tivesse uma... Usaria agora.
— Eu vou morrer? — questiona com desespero.
— Não, não irá. — ri brevemente. — Embora seja grave o ferimento, e tenha perdido um bocado de sangue, ficará bem. Graças ao Macaco. — Volta-se ao primata. — Se não tivesse estancado o sangue, ele teria uma hemorragia. — Sorri.
— Quando vi todo aquele sangue derramando, igual uma cachoeira, tive a ideia de usar as roupas dele para estancar.
— Agiu certo, ainda assim precisará ser fechada. O problema é como farei isso...
— E se fomos para a casa daquela senhora no vale da Luz? — interrompe o primata. — É a nossa única opção.
— Macaco...
— Pense bem. Certamente choverá. Eles estão cansados, feridos e famintos, se montamos um acampamento por lá?
— Eu não sei...
— Senhorita — chama atenção dela, outro bode. — Faremos qualquer coisa, se isso for nos salvar.
Manteve o semblante sério, os olhos no vácuo e a mente pensando, concorda após breves instantes. Ordena ao primata que busque os amigos, rapidamente obedece, com isso decide ir até o panda, a fim de contá-lo, sabe que não pode tomar decisões sem Po, pois ele é o dragão guerreiro e líder.
Seus pensamentos são interrompidos ao trombar o rosto com alguém, levanta a cabeça para ver o responsável, vendo-o fica surpresa.
— Mestre Shifu...
O panda vermelho a encara com o semblante sério, ela recua e pergunta:
— O que faz aqui?
Ele não a responde de imediato, respira profundamente e solta o ar lentamente.
— A onde está Po?
Enquanto seus olhos azuis marinhos se ajustam aos da serpente, o medo lhe corre.
— Cuidando de um ferido, eu vou chamá-lo.
— Não. — É impedida antes. — Conte-me o que aconteceu aqui. — Não é necessário um perito para ter a conclusão que foi o exercito de Mirume, é algo a mais que teme.
Espera a explicação da serpente, enquanto seus dedos envolvem o cajado do mestre Oogway pressionando-o, a cada fala, seus olhos mantém a mesma expressão firme, ao contrário dela, o olhar cintila à medida que narra, evidentemente num estado de exaltação reprimido pelo medo. Tão absorvido está com suas palavras que esquece a sua presença, durante um tempo ou mais, ele permaneceu imóvel, na ocasião que a mestra o chamou, seu estado petrificado some. Suspira, usa o dedo indicador e do meio para massagear a têmpora direita, como se ação o ajude a pensar.
Teve o conhecimento que isso aconteceria: que Tigresa descobriria sobre sua irmã e o Chi real. Assumiu os riscos quando a deixou ir. Deveria ter insistido mais, talvez evitasse a tragédia, embora não admita é sua filha, a ama tanto que faria sua vida para tê-la novamente em casa, sendo ela mesma, sua filha. Contudo o que não faz sentido nas palavras de Víbora é o porquê a mestra listrada perdeu o controle? Qual razão ou motivo?
Interroga a cobra, na qual disfarça e não lhe conta, em vez disso rasteja rapidamente, com a desculpa de buscar Po, de repente sua mente invade com suposições, coloca a pata no queixo vendo a mestre sair. O semblante pensativo se torna de espanto ao ter a resposta: Tigresa e Po estavam juntos, essa é a hipótese mais obvia. Admite mentalmente que é ridículo, todavia faz sentido. Quanto mais pensa no assunto, a preocupação lhe vem, e se ela e ele... Não, sua filha jamais faria algo do tipo... Quem queria enganar? Ela é adulta, seus hormônios se multiplicam a cada dia, se realmente isso pode acontecer.
Leva muito tempo para retornar a postura normal, não percebe em que ocasião o panda chega a sua presença, só tem atenção ao escutá-lo raspar a garganta. Seu olhar pousa ao dele, teve um minuto de silêncio, nesse tempo, o guerreiro preto e branco sente-se desnudo, visto que não é costumado a esse olhar, como se lesse sua alma. O panda vermelho indaga sobre os acontecimentos da missão, ele reponde dando um toque teatral, no tempo em que fala, o semblante vai se tornando triste, até contar sobre a coelha, que morreu em seus braços.
— Sinto muito. — fala o mestre, com suavidade.
O guerreiro sorri timidamente, um sorriso de suplício.
— Há algo Po que não entendo... — começa ele, a fisionomia de interrogação. — Aconteceu alguma coisa entre você e Tigresa?
O corpo do urso congela-se de imediato. O que dirá a ele? De certo modo o mestre é o pai da felina... Se souber dos acontecimentos, certamente irá matá-lo...
Teve de fingir de desentendido para eliminar as suspeitas do mestre, no entanto lhe deve ter ocorrido o fingimento, por isso muda a estratégia.
— Eu e ela? Somos amigos... — a voz saiu falha e trêmula. — Melhores amigos, mas esses dias por causa de Song, ela ficou com ciúmes, eu acho... — Bate os dedos indicadores um no outro, para amenizar o nervosismo. O panda vermelho nota as patas do mesmo sujas de terra e lama, talvez tenha enterrado a coelha.
— Sei que Tigresa tem um temperamento forte, ainda assim só esse motivo não é suficiente para ela perder o controle.
“Droga, ele percebeu.” — pensa. — Certo mestre, o senhor venceu. Eu e ela... Nós... — Desvia a mirada e diz: — Elaeusomosumquisialjau...
— O quê?
— Um qusiudjdf...
— Panda fale de uma vez. — pede com impaciência.
Prepara-se para dizer, entretanto Garça o interrompe, é nesse instante que agradece mentalmente ao amigo, soprando todo o ar que estava acumulado em seus pulmões.
A ave de soslaio nota a fisionomia de alivio de Po, estava prestes a falar com ele, contudo não faz, pois percebe a presença de Shifu.
— Mestre Shifu? — questiona-se, com surpresa.
— Devemos ajudar estes animais antes que chova, reúna todos os feridos. — dirigi-se a Garça, na sua maneira única de dar uma ordem.
— A onde levaremos? — indaga Po.
— Era isso que iria falar com você... — começa a ave. — Víbora disse para levarmos os feridos ao vale da Luz, aquela senhora pode nos ajudar.
— É uma boa ideia, mas...
— Se essa for a única opção... — interrompe Shifu. — Faremos isso. Agora vão e reúna todos.
Ambos obedecem, mas antes que o urso dispunha a sair ele diz:
— Depois conversamos panda...
— Claro mestre... — ri nervoso, devido o tom que se assemelha a ameaça.
***
Caminham alguns quilômetros, atravessando uma árvore após a outra, enquanto a raposa vermelha conta-lhe a história de sua vida, embora o guepardo não esteja interessado, fingi em escutar, pois é educado de mais para mandá-lo calar a boca. Teve uma parada para analisar marcas nas cascas de árvores e outras indicações, julga-se que há animais por perto, em seguida retoma com junto com a raposa.
Daisuki estica o braço de lado ao o companheiro parando seu andar, tem a fisionomia atenta, vagarosamente com o passo macio aproxima-se de um arbusto, de soslaio olha a raposa, na qual continua a tagarelar.
— Teve uma vez que me apaixonei por uma coelha...
Antes que complete a frase, a pata de Daisuki vai a seus lábios, impedindo que fale. O guepardo pede que fique quieto, depois volta à mirada a frente.
Na beirada de um lago, uma criatura que parece com um felino, com um graveto atiça a chama da fogueira.
Aperta as pálpebras a fim de enxergar melhor o animal, esse pula, cambaleando por um momento a beira do lago, quando sua audição aguçada, presente que alguém respira penosamente. Daisuki franze a testa, confuso, na ocasião em que sente a respiração da raposa próxima a ele.
— Tu estás bem? — questiona preocupado.
— Sim... — responde ofegante. — Só estou sentindo dor no peito. — acrescenta, sentando-se ao solo.
— Deixe me ver.
Ele não hesita, no momento em que o guepardo aperta a região com a pata, em seguida coloca a orelha. Tendo o olhar do mesmo novamente indaga o mestre, esse lhe dá um curto sorriso e com convicção afirma:
— Não é nada grave, mas para conferir devo lhe fazer algumas perguntas.
O raposo suspira aliviado.
Diante disso, volta atenção ao suposto felino, desta vez é dois, o outro é mais magro e menor.
— O que foi?
Pergunta o menor, o guepardo supõe que é uma fêmea.
— Eu não sei, acho que tem alguém aqui.
— Claro que tem, é uma floreta cheia de animais selvagens.
— Selvagens... Canibais?
— Eu diria: carnívoros.
A princípio, mantém o olhar naquela direção, atento a conversa de ambos. Contudo, gradualmente desviando os olhos da única luminosidade, que perfaze aquela fogueira, centra a atenção em raposo por breves segundos, o qual respira com dificuldade, decide que é hora de ir. Com grande surpresa e perplexidade ao girar a cabeça na direção que estava antes, e não encontrar nenhum dos dois, como se tivessem desintegrado, teve um momento e em seguida é empurrado com força para fora do arbusto, tendo as patas imobilizadas e batendo as costas ao solo. Na ocasião que toma consciência do que aconteceu. Enxerga os olhos azuis cintilantes e a face cinza com manchas pretas, uma fêmea, ficam a mirando e depois tenta sair de seu agarre, ela o pressiona mais contra o solo.
— Tu poderias deixas-me ir? — pergunta o guepardo.
— Quem é você?! — questiona a felina, fixando o olhar ao dele, o semblante interrogativo e selvagem.
— Não gritas, por favor. — pede com a voz baixa.
— Diga: o que fazia espiando?
— Eu não espiava vossemecê, iria buscar água para meu amigo, e outros que necessitam de minha ajuda.
— Quem são eles? — tem o tom de voz menos elevado.
—Eram hospedes de uma hospedaria por perto, estão feridos, por favor, deixe-me ir.
O olhar da felina, uma leoparda das neves, segue com desconfiança, embora tenha uma hipótese de que hospedaria o guepardo refere-se.
— Seu nome e o que fazia hospedado lá?
Daisuki respira penosamente e a responde:
— Daisuki, estava em viagem, apenas parei para descansar... — não diria a verdade a uma estranha.
Num impulso, a leoparda levanta-se, e observa quando ele faz o mesmo. Detalha-o no tempo que o felino abana a poeira de suas vestes e ajeita o cinturão da calça. É um felídeo maior do que ela, diria três centímetros a mais, seus olhos são azuis, suas vestes são uma capa, calça e camisa de manga comprida, assemelhando a uma túnica.
Desvia a mirada a ela dando-lhe um sorriso de canto, a qual está coma fisionomia rígida, com alguns passos aproxima-se dela e curva-se em forma de respeito, lhe pega a pata e a beija delicadamente, como sempre faz com as fêmeas.
— Prazer em conhecer?...
— Song. — diz de maneira tímida, devido o cavalheirismo do mesmo.
— Song... — repete naquela delicadeza que só ele transmite. — Desculpe-me, não quis assustá-la. — volta com a postura ereta.
Song não tira os olhos dele, como se não soubesse o que pensar. Ele, porém, sorria-lhe.
O raposo que até o momento estava com os braços atrás das costas, forçado por o outro felino, pede para ser solto, ele obedece, em seguida vai até os outros dois, chamando atenção primeiramente de Song e depois de Daisuki.
— Então qual é seu nome? — indaga o leopardo das neves.
— Daisuki e o senhor?
— Yoichi.
Com dois passos fica a frente do leopardo, a fim de cumprimentá-lo, contudo é surpreendido quando ele estica a pata. O guepardo olha de soslaio a leoparda, a qual revira os olhos, devido à tolice do irmão, pois estende como se fosse esperar um beijo. Ajeita a pata dele e assim Daisuki o cumprimenta com um aperto de leve.
— Prazer em conhecê-lo. — falam em uníssono.
Pôs-se a sair após o cumprimento, entretanto é impedido pelo leopardo, esse pergunta a aonde irá, apesar de hesitar em dizer, o responde, logo em seguida dispunha a deixar a presença de ambos, novamente é barrado, desta vez por Song.
— Eu gostaria de... Ajudar. — sua fala saiu forçada, como se fosse enorme esforço.
— Obrigada, mas devo recusar, a senhorita não precisa preocupar-se, está tudo sobre controle. — responde.
— Não, eu quero ajudar, e saiba que insistirei.
Ainda que sua mente dissesse não, seu coração dizia o contrario. Quer ajudar, pois tem uma parcela de culpa ao ataque a hospedaria, talvez assim arrancasse esta dor insuportável do peito, teria o perdão de Po e a paz interior, que tanto necessita.
— Daisuki. — chama atenção o raposo. — Toda a ajuda é bem-vinda.
Pensa por minutos, e finalmente concorda o guepardo, a felídea lhe agradece, ao contrário do irmão, que reclama, mas logo fica quieto, ao ter o pé pisado pela mesma.
— Estavas prestes a buscar água para alguns feridos, pode ajudar-me com isso senhorita? — Ela confirma com a cabeça. — Usaremos as cascas de árvores como recipientes. — Olha em direção ao leopardo e o raposo. — Vocês procurem algumas frutas...
— Espere. — interrompe Yoichi. — Espere, está de noite, não vejo nada e há animais selvagens, como sugere que eu faça isso? — Apesar do tom de sarcasmo, existe medo em seu tom de voz.
— Siga os vaga-lumes, lhe dará a luz que precisa, e não se preocupe com animais selvagens. Tu és um leopardo das neves, com porte forte, nenhum animal lhe fará mal. — Sorri-lhe, mostrando a primeira fileira de dentes.
— Não existe regra para esses animais...
— Yoichi quer ir logo! — grita a irmã, com impaciência.
— Certo... Se eu morrer lembra-se ache uma esposa para mim e diga que a amo, ou melhor, arrume três... — E assim adentra a floresta com o raposo.
— Desculpe meu irmão, ele é sempre assim: dramático. — fala Song.


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