Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 59
Capítulo LVII


Notas iniciais do capítulo

Estive pensando melhor e acho que o próximo capítulo da Clarissa será o ultimo antes do Epílogo.



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Dessa vez o ano letivo terminará mais cedo por causa dos vestibulares que começam a partir de outubro. Assim, muitas das provas finais e trabalhos extras foram antecipados, pois assim não teríamos muito pressão para estudar para as provas que decidiriam nosso futuro.

Claro que foi muito difícil pra mim ouvir a Clarissa dizer que gostaria de poder passar um ano fora, depois do término das aulas, para conhecer o mundo em suas viagens, estudar fora, conhecer pessoas e culturas diferencias. Se autoconhecer e se redescobrir longe daqui. Mas a minha função não é destruir seus sonhos e vontades, a minha função é estar ao lado dela, apoiando-a para o que der e vier. Porque sei que se fosse o contrário, ela faria o mesmo por mim.

Ela se vai depois das festas de fim de ano – dessa vez conseguiremos ter nossas primeiras festas de fim de ano juntos, sem mentiras, sem despedidas, sem enganações - sei que vai ser muito difícil viver sabendo que ela estará longe. Mas não posso esquecer que será apenas por um ano, vai passar rápido, ela logo estará de volta, e eu tenho que seguir com a minha vida, cuidar da minha filha, tentar uma vaga na faculdade federal, fazer aquilo que gosto, jamais me esquecer dos meus amigos e esperar pelo meu grande amor pelo tempo que for preciso.

E nem se eu quisesse, eu não iria conseguir mesmo ficar com outra pessoa se meu coração pertence a ela. Eu já tentei e não consegui. Não acho que dessa vez será diferente, ainda mais agora, que estamos vivendo tempos bons, onde nada nos atinge com facilidade. Depois de tudo que ultrapassar para chegarmos aqui, nós dois meio que aprendemos a usar o nosso amor como escudo contra aqueles que não nos desejam o bem. E nada é mais forte que a força do amor entre duas pessoas que se amam verdadeiramente.

Os dias estavam passando muito rápido naqueles últimos meses, quando o que eu mais queria era que passassem lentamente, sabendo que uma hora ou outra o dia da despedida chegaria. Com isso, aproveitávamos para passar mais tempos juntos, sem intervenções, aproveitando ao máximo o quanto podíamos. De uma hora pra outra eu havia me tornamos um garoto carente de carinho e cuidados, mais grudento e mais dependente da companhia da Clarissa. E o melhor de tudo, ela não se queixava, estava sempre sorridente disposta a passar horas de seu dia dedicadas a mim.

Naquela manhã eu tinha acabado de terminar minha prova de inglês, quando a professora deixou eu sair da sala, por ser um dos primeiros a terminar e para que eu não atrapalhasse os outros. Mandei uma mensagem de texto para a Clarissa, perguntando se ela poderia me encontrar no jardim do colégio. Chegando lá, não só encontro por ela, como também vejo com quem ela está acompanhada.

― Ah. Oi, Diego. Como vai?

Eu não tinha necessariamente me tornando amigo dele, mas vinha o suportando melhor. Tudo pela Clarissa. E ele tem feito bastante bem a ela quando ela mudou de turma.

― E aí, Bernardo. – ele sorriu, levantando-se do banco. ― Vou deixar os dois pombinhos namorarem em paz. Até mais.

O Diego foi embora. Ele também não era muito insistente, tentando forçar um amizade que não mais existia entre nós. Era melhor assim, que pelo menos houvesse respeito entre nós dois. Eu não queria confusões.

― Eu tenho uma surpresa pra você hoje à noite. – disse ela tocando meu braço, quando me sentei ao seu lado. No céu, o sol fazia um grande esforço para dar as caras. Mas as nuvens não facilitavam. O ar ainda estava frio. ― Você vai para o cursinho?

― Vou sim. Hoje é meu último dia. – sorri, beijando o rosto dela. ― Agora fiquei curioso. O que é essa tal surpresa?

― Se eu contar vai deixar de ser surpresa, bobinho. – ela riu, juntando-se mais a mim. ― Agora me abraça. Estou com frio!

Sorrindo, eu passei meus braços em volta dela e a puxei para mais perto mim, encostando minha testa na sua cabeça, sentindo o perfume de seus cabelos louros, cacheados e sempre soltos.

Naquela tarde fui ao cursinho com o Miguel e a Marina, íamos caminhando pelo centro, enquanto eles me contavam um pouco mais sobre uma peça do teatro que eles foram assistir no final de semana.

No cursinho não tivemos aula, foi mais uma despedida mesmo. Com bolos, salgados, docinhos, refrigerante e o som ligado bem baixinho.

Apesar de toda a distração, as pessoas conversando comigo, as meninas perguntando sobre a Clarissa ou sobre a Liz, a agitação do Miguel puxando a Mari para dançar, eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse especular o que a Clarissa estava tramando para mim aquela noite.

Cheguei em casa as luzes da sala de estar estavam acessas, mas eu não conseguia ouvir ninguém. Chamei pela minha mãe, depois pelo meu pai, até mesmo pela Liz, mas ninguém respondeu. Não poderiam ter saído e simplesmente ter deixado a porta aberta. A nossa cidade é pequena, todo mundo conhece todo mundo, mas não é um lugar completamente seguro. Nenhum lugar é.

Aquilo estava muito estranho, até eu encontrar um bilhetinho com a letra da minha mãe bem desenhada sobre a mesa de centro.

Filho, eu e seu pai fomos buscar a Liz na creche. Depois vamos até a casa dos avós dela, os pais da Lorena, eles nos convidaram para jantar lá. Estão doidos para rever a neta. Voltaremos antes das dez e meia. Não deixe a porta aberta e economize energia.

Obs.: Tem alguém te esperando no quarto-porão. Se cuidem.

Beijos,

Mamãe e papai.

Sorri assim que terminei de ler, deixando o bilhetinho de lado. Joguei a mochila no canto da sala, tranquei a porta com a chave, desliguei a luz da sala e desci para o quarto-porão. Já sabia quem estava me esperando lá, mas fiquei realmente surpreso ao ver o que ela havia preparado.

Meu quarto-porão nem parecia o mesmo com a falta de iluminação, apenas com os dois abajures ao lado da cama ligados e velas aromáticas espalhadas pelos cantos, no chão, e, sobre a mobília. O ambiente cheirava a perfume a cerejeiras. Conforme fui descendo a escada, senti que ela havia jogado pétalas de rosas pelo caminho sobre o piso laminado.

O meu antigo rádio estava ligado baixinho, tocando uma playlist especial para a ocasião. Músicas lentas e românticas.

Clarissa me esperava no canto, parecia bastante acanhada e nervosa. Ela sorria levemente, os olhos brilhando com as chamas das pequenas velas. Ela estava descalça, de jeans, uma regata branca e um suéter verde-esmeralda aberto.

― Gostou da surpresa? – perguntou, assim que parei de frente a ela. Ainda sorrindo, afastei seu cachos, jogando-os para trás dos ombros e me inclinei lentamente, para beijar seu pescoço.

― Se eu gostei? Claro que gostei. – dava beijinhos em sua pele, sentindo que ela estava quente. ― Eu não esperava por isso.

Com cuidados ela foi abrindo os botões do meu casaco preto, olhando diretamente nos meus olhos. E eu me adiantei, para também tirar o suéter dela, passando minhas mãos em seus braços finos que se arrepiaram com o meu toque. Clarissa suspirou, fechando os olhos. Achei que aquele momento era uma boa oportunidade para beija-la. E eu a beijei vagarosamente, puxando-a para cima de mim.

Fazia tanto tempo que eu não sabia o que era aquilo. Mas ao mesmo tempo, parecia que eu tinha esperava a vida toda por aquele momento.

― Você convenceu meus pais a saírem de casa por algumas horas pra gente poder...? – assim que parei de beija-la, convidei-a para sentar sobre a minha cama. Ela parecia muito nervosa, apesar de tentar transparecer estar tranquila e calma. Mas quando eu a tocava, diferentemente de todas as outras vezes, ela reagia de maneira estranha e eu sabia que aquela era sua primeira vez, então, normal ela está um pouco nervosa. Eu só queria que ela relaxasse.

― Não, bobo! – ela riu, descontraída. Mostrando os primeiros sinais de que estava ficando melhor, pouco a pouco. ― Eu não disse exatamente que íamos fazer isso. O que eles pensariam de mim? Eu só disse que planejava fazer uma surpresa pra você e eles, sem eu nem precisar pedir, ofereceram a casa só para nós dois por algumas horas. Seus pais são maravilhosos comigo!

― São sim. Acho que eles nem sonham que era para isso. – dessa vez eu rir. Meu pais podem já ser bem adultos e maduros, mas as vezes são tão ingênuos. Ou eles fingem ser ingênuos a esse ponto. ― Você preparou tudo isso sozinha?

― É, foi eu. – ela suspirou pensativa, olhando para os lados, como que se pela primeira vez aprovando seu próprio resultado. ― Eu também não imaginava que algum dia ia fazer tudo isso sozinha e nem que ia tomar essa decisões por nós dois. Mas é que – ela voltou a olhar pra mim, os olhos negros brilhando a pouca luz. ― o tempo está passando tão rápido e eu tenho me sentido preparada para tantas coisas. E eu pensei: porque não agora? Eu te amo, você me ama. Nós confiamos um no outro, nos sentimos seguros. Não tinha porque esperar mais por tanto tempo.

― Você tem razão. – eu sorri, tocando seu rosto. ― Eu não sou de ferro, claro. Quando estou perto de você, na maior parte do tempo me sinto em combustão. Mas, eu esperaria. Esperaria até você se sentir à vontade, preparada para isso. Esperaria porque te amo. E isso também não é o mais importante em um relacionamento.

― É por isso e muitas outras coisas que eu te amo tanto. – disse ela, quase em um sussurro, antes de beijar novamente. Dessa vez, empurrando-me lentamente para trás, até eu deitar meu corpo todo sobre a cama. Ela praticamente em cima de mim, beijando-me docemente enquanto eu toco seu rosto, seus cabelos, sentindo cada detalhe do seu rosto, do seu corpo, que é algo de que sempre vou gostar nela.

Eu sempre vou gostar de tudo nela.

O que acontece a seguir, é um daqueles momentos que ficam pra sempre marcados na memória. Aconteceu de um jeito especial, carinhoso, romântico, com leveza e suavidade. Cada toque apesar de muito preciso e firme, era cuidadoso, quente, saboroso. Cada beijo me dava vontade de ir mais além, sem nunca precisar parar. Quando eu olhava pra ela para me certificar de que estava tudo bem e via que ela mantinha os olhos em mim, eu sorria, ela sorria e nós permanecíamos assim, no silêncio prazeroso do nosso grande ninho de amor.

Quando eu tive minha primeira vez aos quinze anos com a Lorena, sendo a minha primeira e última vez também, foi bem diferente do que aconteceu agora comigo e com a Clarissa. Com a Lorena foi coisa de momento, eu estava louco e cego de amor. Tudo era tão novo pra mim, desafiador, por ela ser mais velha e com mais experiência. Acabamos que nem nos cuidados aquela noite e aconteceu que ela ficou gravida.

Com a Clarissa não, eu me importava com a proteção dela, seu bem-estar, queria saber se estava tudo bem, apesar de não perguntar, eu saberia se não estivesse, por sua expressão. Eu fui cuidadoso, carinhos, atencioso, como tem que ser, com qualquer garota, ainda mais aquelas que nós amamos. E eu a amo demais para não me importar com cada detalhe, eu queria que fosse tudo perfeito, que ela gostasse de lembrar daquela noite por toda a vida. Não esqueci dos preservativos, no fundo da minha gaveta, no criado-mudo. E por fim, deu tudo certo. Eu ainda sentia seu corpo quente colado no meu, sua cabeça deitada no meu braço, seus cabelos sobre o meu peito nu e sua respiração ofegante.

― Posso dormir aqui essa noite com você?

― Claro que pode! Seu pai sabe disso?

― Claro que sabe. – ela sorriu, voltando a deitar em mim.

Ouvi quando meus pais chegaram lá em cima, fazendo barulho na porta. Não me importei em estar na minha cama com a minha namorada, até porque a porta estava fechada e meus pais são suficientemente educados para bater antes de pedir pra entrar. E certamente eles não fariam aquilo, não aquela noite.

― Bernardo? Filho, chegamos. – mamãe anunciou.

Ouvi quando ela subiu para levar a Liz no quarto, pois provavelmente deveria estar dormindo. Minha filha ficaria bem, enquanto ela tivesse todos nós por perto. Meu pai ligou a televisão, deve ter se jogado no sofá, cansado. Sorri, fechando os olhos. Não dormi de imediato, mas pela respiração sonolenta da Clarissa, sabia que ela já havia pegado no sono antes mesmo dos meus pais chegarem.

― Como você consegue ser tão bonita mesmo de olhos fechados?

Claro que ela não responderia, estava dormindo. E eu não demorei muito para pegar no sono também ainda encantado com o que acontecera minutos atras.

Semanas depois das provas finais, íamos ao colégio apenas para discutir sobre a festa de formatura. Praticamente estava tudo acabado e cada um iria seguir com a própria vida. Alguns iria para longe, como a Clarissa. Alguns teriam bons empregos, boas vidas, famílias e filhos. Que é o que a maioria deseja. Já outro não teriam a mesma sorte. Quando me pego pensando nisso, me sinto nostálgico. Afinal, ninguém sabe ao certo o que a vida nos reserva. Um dia é uma coisa, no outro pode ser outra completamente diferente. É preciso se adaptar e estar preparado para qualquer coisa. E também, não custa nada sonhar um pouco além.

― Cara, o que aconteceu com você hoje? – perguntei ao Miguel, jogávamos videogame aquela noite em seu quarto. A Clarissa estava no quarto dela com a Marina, as portas trancadas, as duas fofocando. Isabel e o Eduardo na sala de estar com o Vicente assistindo a um filme qualquer na tevê a cabo.

― Não é nada, só preocupação mesmo. São tantas coisas na minha cabeça, que as vezes eu fico meio perdido. Sabe?

― Sei, claro que sei. – larguei o controle assim como ele, suspirando forte. Ambos frustrados. ― Mas não é sua namorada que vai pra longe. Quando digo pra longe, é tipo, para o outro lado do mundo e não para o ouro lado do país. Por um ano, Miguel! Você sabe o que é isso? Claro que vai ser legal ir pra faculdade, conhecer gente nova e ter outras experiências. Mas eu vou sentir falta. Muita falta dela. Não vai ser a mesma coisa e eu estou tentando me preparar pra isso psicologicamente.

― Você tem razão. – ele olhou pra mim. ― Eu estou sendo ingrato, com certeza estou. Minha namorada ainda está aqui comigo e não pretende sair daqui tão cedo. Eu também não. Vai ser muito mais difícil pra você com a garota que você ama bem longe daqui. Mas você vai conseguir, eu sei que vai. E pode contar comigo, você sabe não sabe?

― Claro que eu sei, parceiro. Claro que sei. Da mesma forma que você pode contar comigo. Se tiver com problemas e quiser conversar, é só chamar. Sempre foi assim, não foi? – dei alguns tapinhas nas costas dele. ― Agora, sem mais tristeza. Vamos jogar vai!

A formatura aconteceria no dia 10 de dezembro pela tarde e logo depois a festa de formatura, no Clube da cidade. Só para os alunos formados. Não se falava em outra coisa pelos corredores do colégio. As garotas empolgadas para comprar os vestidos e os garotos empolgados para ver as garotas em seus vestidos.

Tirei meu dia de folga para ir com a Clarissa no shopping comprar a roupa que usaríamos no dia. Apesar de termos ido juntos no carro do meu pai, ela não deixou eu ver o vestido dela. Mas me ajudou a escolher meu blazer, a gravata e os sapatos. Em seguida, levamos a Liz no parquinho, compramos algodão e pipoca doce.

O grande dia do vestibular chegou quase no finalzinho de outubro, e eu nunca fiquei tão nervoso. Eu tinha acordado bem, fui caminhar, tomei um reforçado café da manhã, mas bastou eu me encontrar com meus amigos e ver o quanto eles estavam nervosos e ansiosos, e de repente, eu fiquei igual a eles. Minhas pernas não paravam de se mexer. Eu havia estudado o bastante, mas minutos antes dos portões do colégio abrirem para o primeiro dia de prova, eu achei que deveria ter estudado mais.

Sorte a da Clarissa que não precisaria passar por isso enquanto a cidade inteirinha faria as provas, ela ficaria em casa, comendo chocolate e assistindo suas series favoritas largada no sofá da sala.

― Você acha que foi bem? – o Miguel perguntou quando me viu sair da sala no segundo e último dia de prova. ― Eu com certeza fui muito mal, nos dois dias. Acho que não vai ser dessa vez. Não pra mim!

― Calma cara, relaxa. Os resultados só saem ano que vem. Mas até lá tenta se acalmar, ou você vai acabar tendo um troço. Você foi bem, vai ver só. Tente pensar em outras coisas. Por exemplo: o que você vai pagar pra gente comer agora? Eu estou morrendo de fome!

No finalzinho de novembro começaram as despedidas pra valer no colégio. Pelo corredores eu via as meninas chorando e se abraçando, como se nunca mais fossem se ver. Eu, pelo menos, tinha os meus amigos sempre por perto novamente e não os deixaria outra vez. Aprendi muito com meus próprios erros e seria burrice cometa-lo mais uma vez.

Fizemos mais algumas provas de vestibulares não tão importantes assim quanto o primeiro, mas assim como dizia a minha mãe e muitos dos seus colegas de trabalho: “Não custa nada tentar mais de uma opção.”

Depois das provas, nós sempre íamos ao centro comer alguma coisa em grupo. E evitávamos falar muito do futuro, pois sabíamos que aquilo era um incomodo para todos. As pessoas em geral querem ter a vida dos sonhos e quanto mais expectativas sobre isso mais decepções.

A colocação de grau não é o evento mais divertido na vida de uma pessoa. Toda aquela cerimonia cansativa para parabenizar os alunos, professores e diretores era tediosa pra qualquer um, não só para nos formandos, mas também para os familiares nos assistindo.

A Clarissa estava sentada do meu lado, prestando atenção nas palavras de um de seus professores favoritos. Mesmo com aquela beca horrível sobre o seu vestido – que eu ainda não tinha visto – ela estava muito bonita. Sem dúvidas, era a mais bonita de todo o colégio. Não só porque é minha namorada, mas porque é a verdade.

― O que foi? – ela perguntou baixinho sem jeito, notando que eu estava olhando fixamente pra ela há um bom tempo já.

― Nada não. – eu sorri também, entrelaçando meus dedos nos dela sobre o meu colo. ― Só estava admirando você.

A festa, em seguida, com o chegar da noite, estava superlotada, como já era de se esperar, com bebidas, musica alta, grupos dançando, casais se pegando, alguns garotos já muito bêbados – o Gustavo entre eles – já outros mais tímidos e acanhando conversando pelos cantos.

Cheguei no salão de festas do Clube com o Miguel e o Eduardo. O Edu que naquela noite ficaria sozinho sem sua amada, já que ela não se formaria naquele ano assim como ele. Fiquei de encontrar com a Clarissa ali mesmo, que viria com a Marina. Ao invés de virem direto pra festa assim como nós, ela resolveram passar em casa para retocar a maquiagem.

― Amor, finalmente te encontrei. – disse ela ofegante, um tempo depois. Clarissa me puxou pelo braço para fora do salão.

Seu vestido de formatura – o qual eu finalmente estava vendo – era rosa-claro mais apertado na parte dos seios e da cintura, modelo tomara que caia, saia longa mais soltinha e uma abertura na parte de trás, nas costas. As sandálias prata com um salto não muito alto combinavam com a bolsinha que ela tinha em mãos, parecia com uma carteira, com muito brilho. Seu cabelo louro preso apenas de um lado sobre os ombros e a maquiagem em tons neutros, fortes e cintilantes.

― Ei, para onde estamos indo? – perguntei curioso, parando pelo caminho. ― E a propósito, você está linda. Parece um anjo!

Roubei um beijo dela, que sorriu corada.

― Desculpa ter tirado você assim da festa, a gente volta logo. Mas antes você precisa conhecer uma pessoa.

Fora do Clube, parado em um dos portões, de jeans preto, blusão xadrez, os cabelos castanhos bagunçados e os olhos verde-escuro, estava um garoto, que eu nunca tinha visto antes. E que certamente não morava na cidade. Pelo menos eu não o conhecia de nenhum lugar.

― Bernardo, esse é o Artur. De quem tanto falei. Ele veio de BH, só pra te conhecer. – ela sorria, contente. ― Artur, esse é o Bernardo, meu namorado, quem você finalmente está conhecendo.

Com aquela curta explicação a ficha caiu.

Então aquele era o tal de Artur, o ex-namorado da Clarissa, o único amigo que ela teve em BH, o garoto skatista que tem um irmão legal de quem a Isabel tanto fala, o garoto que aceitou numa boa, sem pestanejar, sem intervir, o término da Clarissa, para que ela pudesse finalmente voltar aos meus braços, ao seu lugar, aqui, em São Paulo.

Eu tinha mais motivos para admirar cada atitude dele a odiá-lo antes mesmo de conhece-lo completamente.

― Não esperava que ia te conhecer tão cedo. – eu sorri, estendendo a mão para ele. O garoto sorriu de volta, apertando a minha mão. ― Que bom que finalmente estamos nos conhecendo frente a frente. É uma pena que você não possa entrar para a festa, pra se juntar a todos nós.

― Pois é. – ele torceu os lábios, mostrando sua chateação. ― Mas não tem problema. Vou ficar aqui por um mês. Teremos tempo de sobra para nos conhecermos melhor. Vão lá, aproveitem a festa. Eu vou ficar bem. Fiquei de conhecer a cidade com o meu irmão.

― Eu tive uma ideia! – disse eu, rápido demais. ― A casa da Clarissa está definitivamente cheia demais. Porque você e seu irmão não ficam lá em casa esses dias? Tenho dois quartos. Lugares de sobra!

― Não precisa se incomodar comigo. Mesmo.

― Eu faço questão! E não aceito um não como resposta.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da reaparição do Artur e do Yuri? Vou mostrar isso um pouquinho melhor no próximo que comecei a escrever mas ainda não terminei. Provavelmente vou postar ele na quarta ou na quinta-feira. Não deixem de comentar. Agora é definitivo: o final está vindo por aí.