Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 48
Capítulo XLVI


Notas iniciais do capítulo

Eu gostei muito desse capítulo, apesar de ter pensando no pobrezinho do Bernardo todo o tempo.



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É um dia alegre, ensolarado, de poucas nuvens no céu e o sol radiante. Por sorte não faz muito calor, o ar está fresco. Estou sentada na calçada, próxima a uma figueira em crescimento. É feriado, não tivemos aula. O Artur me chamou para ir na praça onde havia uma pista de skate. Estou de longe, observando ele mandar bem nas manobras.

Ele é incrível, em todos seus movimentos. Nunca fui muita fã de skate, mas ultimamente tenho admirado muito quem gosta da prática desse esporte tão radical. Artur anda de skate desde seus nove anos, aprendeu sozinho e quase nunca cai. Mesmo assim, todas as vezes em que ele se arrisca em uma manobra mais difícil, prendo a respiração com medo que ele caia feio no chão de concreto.

Ele se aproxima, minutos depois, com o skate em mãos. Seus cabelos castanhos grudando na nuca e nas têmporas por causa do suor e os olhos mais verdes por causa do sol do que castanhos.

Artur senta-se ao meu lado com suas longas pernas dobradas, pegando sua garrafinha com água ao meu lado e bebendo praticamente tudo em um só gole enquanto gotas de água cai pelos cantos de sua boca.

Ele é extremamente sexy.

Porque eu sempre me atraio por garotos de olhos claros?

Ele sorri torto pra mim, sem dizer uma só quer palavra.

Desde aquela noite em meu quarto nós nunca mais tocamos naquele assunto e não chegamos a nos beijar outras vezes após Isabel ter rompido aquele momento. Eu sei que ele ainda espera que eu digo alguma a respeito, mas ainda não estou preparada.

Artur é paciente, carinhoso comigo, atencioso, mas também é muito tímido. Ele quase nunca me abraça se eu não tomar a iniciativa primeiro ou sempre que encosta em mim acidentalmente pede desculpas por isso. Eu não estou acostumada a isso, mas vindo dele, assim, acho extremamente bonitinho. Artur é uma graça.

― Mais tarde vão uns amigos do meu irmão lá em casa da faculdade dele, você quer ir me fazer companhia? Eles vão assistir um filme, comer pipoca, pedir pizza, tomar cerveja. Mas sozinho eu me sinto um pouco deslocado, por ser o mais novo entre eles.

― Bom, eu não tenho planos pra hoje. Eu nunca tenho planos. – dou de ombros, soltando um risinho. ― Mas eu aceito sim te fazer companhia, vai ser muito bom.

Ficamos em silencio novamente.

Passei a observar a movimentação das outras pessoas em volta.

― Você não quer me ensinar a dar uma voltinha de skate, não?

― O quê? – ele olhou pra mim, surpreso. ― Você quer mesmo?

― Mas é claro. – sorriu também. ― Vamos? Você topa?

Em um segundo Artur levantou-se, puxando-me pela mão e orientou-me até o meio da praça, onde algumas criancinhas andavam de bicicleta e de patins. Ele me ajudou a subir sobre o skate e me orientou pelos próximos minutos, cada passo que eu teria que dar para não levar um tombo daqueles de ralar o joelho.

Já em casa, após tomar meu banho, lavar os cabelos e vestir algo básico, porém bonito, como meu vestido azul-claro de algodão e sapatilhas brancas, eu sentei-me na minha cama, sentindo a brisa noturna entrar pela porta da sacada e mover suavemente as cortinas. Abri a gaveta do criado-mudo ao lado da cama, aproveitando estar sozinha, sem nada de Isabel por perto. Peguei dentro da gaveta a minha caderneta, onde costumava escrever praticamente todos os dias. Mas desde que eu saí de São Paulo e vim para Minas Gerais, eu nunca mais o fiz.

Pois escrever, ler certos romances, assistir a determinados filmes ou séries, me faziam lembrar do Bernardo automaticamente. Assim como tudo que lhe me dera durante o nosso namoro, e que agora, está tudo guardado dentro de uma caixa branca na parte mais alta do meu guarda-roupa, onde possivelmente eu não alcanço seu o auxílio de uma cadeira e bem lá no fundo, onde não posso ver todas as vezes em que abrir as portas do guarda-roupa. Não quero lembrar. Não posso lembrar. Apesar de toda a falta que eu ainda sinto dele e tudo nele, eu também não tive coragem de jogar nada fora, apenas esconder de mim mesma.

Aquela noite, minutos antes de me encontrar com o Artur, sentia que já estava mais que na hora de tomar uma grande decisão, ainda maior que a de ter que te saído de São Paulo para vir morar em BH, que nem foi tão difícil assim, já que não havia nada a perder. Estava mais que na hora de dar o próximo passo na minha vida, apesar de aparentar ser maior que minhas próprias pernas.

Eu percebi que o sofrimento teria que terminar, porque eu merecia ser feliz. Eu lamentei pela perda de um grande amor por todo esse tempo, o que é muito normal, pois eu realmente amei o Bernardo. Mas é um absurdo eu me prender a isso pelos próximos anos como se isso fosse acrescentar alguma coisa na minha vida. Todos nós merecemos ser felizes, tanto eu, quanto ele. Com ou sem um outro alguém. Outros sonhos, outros risos, outros momentos, outras oportunidade virão. Então, é preciso se decidir, antes que seja tarde demais e você passe muito tempo lamentando por aquilo que não volta mais.

Ouvi uma batidinha na porta, chamando-me a atenção. Virei-me para trás, deparando-me com o meu pai.

― Clarissa, minha filha, você está linda. – ele se aproximou, dando-me um abraço fraternal. ― E cheirosa! Você vai sair?

― Eu posso? Posso ir na casa do Artur? O irmão dele vai levar uns amigos e ele pediu pra que eu fizesse companhia a ele.

― Claro que você pode, querida. Hoje é feriado e amanhã já é sábado. – ele sorria, olhando-me de pertinho. ― Mas porque essa carinha? Você não me parece muito empolgada.

― Não é isso, pai. – abaixei a cabeça, fitando minhas unhas sem pintar. Coitadinhas. Estavam precisando de uns cuidados a mais. ― Você acha que o Artur é uma boa pessoa? Digo, um bom garoto?

― Porque está me perguntando isso? – ele soltou um risinho, mas logo voltou a ficar sério. ― Bom, por todas as vezes em que conversei com ele, ele sempre me pareceu um ótimo garoto pra sua idade. Ele é maduro, muito inteligente e tem alguma coisa diferencial. Eu não sei bem o que é....

― Eu também acho! Mas ainda não sei o que é. – eu sorri, ao perceber que não fui a única a notar aquilo no Artur. ― É que eu acho que estou gostando dele, pai. Não é amor, pode ser que seja paixão. Mas algum dia toda paixão pode torna-se um grande amor, não é mesmo? Mas por outro lado, tem o Bernardo e tudo que a gente viveu juntos. Eu ainda me sinto ligada a ele de alguma forma. Não sei se na minha vida há espaço para o Artur sendo que o Bernardo ainda me preenche muito apesar de tudo que ele me fez sofrer. Eu não quero ser injusta com ninguém....

― Eu não sou a melhor pessoa para te aconselhar, Clarissa. Você sabe. – ele riu, descontraído. Segurando a minha mão. ― Fico contente em saber que você confia em mim ao ponto de abrir seu coração comigo. Mas eu sinto muito ter que desaponta-la, mas quanto a isso, você mesma terá que descobrir sozinha. Se deve continuar presa ao passado ou se prefere arriscar no futuro. Mas não pense tanto, querida. Essas coisas não são para serem pensadas, é melhor que você apenas sinta.

Papai deu um beijinho na minha testa, sorriu e se foi.

Toquei a campainha do apartamento do Artur. O Yuri abriu a porta pra mim, cumprimentando-me com um beijo na bochecha e me convidando para entrar. Ele adiantou-se, apresentando-me a sua turma da faculdade, uns cinco garotos e duas meninas. Eu não prestei muita atenção, não tive coragem de olhar muito, estava muito envergonhada, não sou muito fã desse tipo de situação constrangedora.

Meu coração bateu mais devagar quando eu vi o Artur logo atrás de todas aquelas pessoas novas. Ele sorria pra mim, as bochechas coradas, o cabelo bagunçado e úmido, os olhos escuros, usando jeans e uma camiseta preta gola V sem estampas. Ele me chamou com as mãos, eu pedi licença a todos, atravessei a sala de estar e toda aquela bagunça de DVD’S, pipocas e garrafinhas de cerveja e fui ao seu encontro.

Fomos até o seu quarto, no final do corredor. Fora a decoração, o apartamento dele é igualzinho o meu. Ele também precisa dividir o quarto com o irmã. Não é a primeira vez em que estou ali, já estou acostumada com a bagunça de um lado e a limpeza do outro. A mistura de azul-marinho, cinza e branco. E o grafite que o irmão dele fez em uma das paredes, dando estilo ao quarto masculino.

― Tá afim de fazer o que? – ele perguntou, indo fechar a porta, já que a galera na sala resolveu aumentar o volume da televisão no ultimo para poderem ver ao filme. Eu me sentei sobre a sua cama, sentindo o cheiro forte do desodorante dele.

― Por enquanto nada. – eu sorri, sem jeito. Meu coração voltou a bater forte. Não porque éramos somos nós dois, mas sim, porque eu estava prestes a dizer algo muito importante. ― Sente aqui. Quero dizer umas coisas para você.

Ele assentiu, vindo em minha direção, sentou-se ao meu lado, sem encostar nenhum centímetro do seu corpo no meu. Antes, olhei através da porta aberta da sacada, observando o manto azul do céu repleto de estrelas e a lua minguante. Depois, suspirando forte, virei-me um pouco de lado, quase de frente para Artur e olhei bem dentro dos olhos escuros dele através da pouca iluminação de seu quarto com apenas os dois abajures ligados. Ele já me olhava, com um meio sorriso.

― Lembra daquele dia, há três semanas atrás, no meu quarto, quando você disse que estava disposto a ser muito além de um amigo pra mim? – perguntei, em resposta ele apenas assentiu, alargando um pouquinho mais o seu meigo sorriso. ― Lembra também que você me pediu pra te deixar me fazer esquecer?

― Claro, Clary. Como eu poderia esquecer daquela noite? Eu abri meu coração para você, eu expus meus sentimento, eu me declarei abertamente mesmo em poucas palavras, com toda a minha vergonha e timidez, eu fui sincero com você. Meus sentimentos são verdadeiros!

― Sim, eu sei. Eu não duvido, nem por um momento. Você pra mim também é muito especial. – pousei a minha mão sobre o seu braço, e ele olhou aquele gesto, surpreso. Depois voltou a olhar pra mim, dessa vez com seus olhos verdes escuros brilhando um pouquinho mais que o normal. ― Eu só queria te fazer uma pergunta: tem certeza que você me quer, mesmo sabendo de tudo que ainda sinto pelo Bernardo? Tem certeza de que quer me ajudar a esquecer?

― Você ainda me pergunta isso? – ele sorriu lindamente, balançando a cabeça de um lado para o outro. ― Mas é claro, Clarissa. É claro que eu quero tentar, eu quero te ajudar, eu quero me arriscar. Porque eu amo você, mesmo que você nunca venha a me amar de volta. Eu quero estar com você, pois há muito tempo eu não sinto nada parecido por alguém como o que estou sentindo agora com você.

Ele não precisava dizer mais nada, eu estava certa do que faria a seguir. Sentia isso muito forte batendo dentro de mim. Ergui um pouco o corpo e puxei o rosto dele para um beijo. Eu havia tomado uma decisão: seguir em frente. E se fosse preciso alguém para tentar esquecer o Bernardo, que esse alguém fosse o Artur.

Ele retribuindo o meu beijo, enterrando seus dedos dentro do meu cabelo cacheado. E ficamos assim, por um bom momento. Apenas apreciando a incrível sensação que era estar um nos braços do outro, sentindo nossos corpos pulsarem juntos.

― Então quer dizer que agora somos namorados? – ele perguntou sorridente, me puxando para ir até a sacada apreciar o céu escuro.

― Somos. Ou pelo menos, eu acho que sim. – sorri também, sentindo-o pela primeira vez passar os braços em volta do meu corpo.

― Parece um sonho. – ele riu. ― Espera um pouco, eu já volto. – ele afastou-se novamente, correndo até o quarto. Artur ligou o som, não muito alto. Deixando tocar sua playlist favorita: músicas do Charlie Brown Jr e da Banda Strike. Voltando em seguida pra perto de mim.

Ficamos ali conversando na sacada por muito tempo, fazendo perguntas um para o outro que nunca tivemos coragem de perguntar. Eu queria saber mais sobre a sua vida amorosa antes de me conhecer. Acabei descobrindo que o Artur nunca havia namorado sério com ninguém até então, mas também não era completamente inexperiente, pois ao longo da vida conheceu inúmeras garotas. Ele também quis saber sobre mim e o Bernardo, eu contei muita coisa, mas não tudo.

Quando sentimos fome, juntamo-nos a galera na sala de estar para comer pizza e pipoca. Eles já não mais assistiam filmes e agora estavam conversando, brincando, sei lá, mas davam muita risada. Eu e o Artur ficamos um pouco mais afastados, sem querer fazer muito parte deles.

Mesmo agora sendo namorados, não mudou muita coisa entre a gente. Era como se sempre tivéssemos sido namorados. Ele ficava ao meu lado o tempo todo, pegava pedaço de pizza pra mim, me servia com refrigerante, limpava o canto sujo da minha boca com guardanapo, segurava a minha mão, me fazia rir, mas não me beijava, não quando todos poderiam nos ver.

Bem mais tarde ele me levou até a porta do meu apartamento, despedimo-nos com mais um beijo daqueles e eu entrei, deparando-se com meu pai assistindo a tevê e devorando um pote de sorvete. Eu, é claro, me juntei a ele. Enquanto Isabel dormia no quarto.

Artur me levou para passear no sábado, passamos o dia inteiro juntos no zoológico, porque não era como se tivéssemos muitas opções, tínhamos apenas um ao outro e isso bastava. No domingo fomos ao Jardim Botânico onde eu fiquei muito encantada com a variedade de flores de todas as cores, tipos e formas. Aproveitei para tirar muitas fotos com o meu novo celular e o Artur me comprou hortênsias azuis. No finalzinho da tarde fomos a sorveteria e ficamos por ali até o anoitecer.

Foi muito prazeroso chegar na escola de mãos dadas com o meu novo namorado para mostrar as pessoas que eu não estava mais sozinha, nem eu e nem ele. Só que não éramos da mesma sala de aula, encontrávamos apenas nos horários livres, no intervalo e na saída do colégio, quando íamos embora pra casa caminhando e chegando ao prédio, namorávamos no elevador até chegar ao nosso andar.

Ia com Isabel para o curso de inglês nas segunda-feira e quarta-feira. Íamos juntas, Vicente nos inscreveu na mesma turma. Mas Isabel ainda não falava exatamente comigo, apenas se necessário. Ela rapidamente fez amizade com todos e eu, bom, fiz amizade com uma garota muito tímida, que praticamente não falava, Tatiele.

Tínhamos muito gostos em comum e ela acabou se tornando uma boa e grande companhia. A única amizade que fiz em BH desde que cheguei, além do Artur e o Yuri. E o meu pai, que não conta. Já era um grande avanço, apesar de nos vermos apenas duas vezes por semana. Já que ela morava longe da minha casa e só fazia curso ali, pois onde morava não haviam muitas opções. Por outro lado, seus pais sempre a levavam e a buscavam de carro. E era só.

Naquela quinta-feira estava fazendo rosquinhas açucaradas para o lanche da tarde. Artur estava sentado à mesa, terminando de digitar seu trabalho do colégio no Notebook. Isabel havia saído para ir ao cinema com as novas amigas. E Vicente estava trabalhando.

― Quer café com leite também? – perguntei a ele, pegando xícaras e a garrafa de café. O prato com rosquinhas já estava sobre a mesa.

― Hum, quero sim. Por favor.

Sentei-me, servindo-o.

Em um mês nosso namoro havia evoluído o bastante para tornamos mais íntimos. O Artur fazia parecer fácil, ele é uma daquelas pessoas fáceis de lidar, que nos deixa à vontade para qualquer coisa. E tem também a convivência diária, já que praticamente vivemos socados um na casa do outro por não termos nenhum outro amigo.

Agora ele já me abraça sem eu precisar pedir, tem me dado um beijinho e outro mesmo em público, sua timidez diante de mim tem diminuído bastante permitindo-o até de ficar sem camiseta diante de mim, ele conversa bem mais comigo, só não é muito romântico, daquele tipo de namorado que faz surpresas extraordinárias como o Bernardo. O que é normal para o Artur e considerável, já que eu sou sua primeira namorada e eu sei exatamente como ele se sente. Mas as vezes ele dá me chocolate, flores ou manda mensagens de texto bonitinhas durante o dia quando não podemos estar juntos para fazermos outras coisas.

― Minha mãe chega em casa hoje. Preparada para conhece-la?

― Eu não sei. Estou um pouco tensa.

― Ela não é incrível como o seu pai. – ele finalmente desligou o Notebook, podendo me olhar nos olhos e me ajudar a comer as rosquinhas ainda frescas. ― Mas espero que vocês se deem bem.

Quando o Artur foi para casa dar uma leve organizada antes de sua mãe chegar de viagem com toda a bagunça que o Yuri sempre faz, eu aproveitei para tomar um banho e me arrumar.

Vesti um jeans com lavagem mais clara, uma bata soltinha cor pêssego de alças e um sapatilha clara. Passei apenas um lápis de olho e rímel, os cabelos eu deixei meio presos e meio soltos.

O Artur gentilmente veio me buscar no começo da noite.

― Mãe, essa aqui é a minha namorada, Clarissa Sampaio. – ele disse, apresentando-me a uma mulher alta, magra, cabelos curtos de um louro acinzentado, maquiagem forte, roupas elegantes e joias.

Ela me olhou de cima a baixo, sem nem disfarçar. Como se estivesse me avaliando. Admito não ter gostado nenhum pouquinho de sua expressão após a sua rápida avaliação. Ela não me parecia uma boa mulher, para minha primeira impressão, apesar de ter dois filhos homens perfeitamente maravilhosos.

Talvez seja por isso que seu antigo marido a deixou para ficar com outra, o coitado não deve ter a suportado por muito tempo. Assim como seus próprios filhos preferem ter a casa só pra eles.

Esse pensamentos eu preferi guardar pra mim.

― Você já deve saber quem eu sou. Meu filho, o Arturzinho já deve ter falado muito de mim pra você. – ela forçou um sorriso e virou as costas, nem ao menos tocou a minha mão para um cumprimento.

Legal. Uma sogra extremamente simpática.

― Não ligue pra ela. Ela é assim mesmo. – ele sussurrou no meu ouvido, guiando-me até a cozinha. Onde sua mãe já havia mandando servir o jantar. O jantar que ela encomendou, pois pelas unhas impecável que aquela mulher tinha, ela não chegava nem perto da pia para lavar um copo.

O jantar foi extremamente chato, com aquela mulherzinha egocêntrica falando o tempo todo sobre seu trabalho, suas viagens e como as coisas funcionavam ali, com ela agora em casa. Deixando bem claro que eu o Artur não íamos ficar nos vendo todo o tempo e nada de beijos ou agarramento no sofá e de jeito nenhum ficarmos sozinhos no quarto dele. Mal sabe ela que antes dela chegar aconteceu tudo aquilo e muito mais, mesmo sem a sua autorização.

Enquanto ela ditava as regras olhando fixamente pra mim, Artur tentava disfarçar o sorrisinho sacana, provavelmente pensando o mesmo que eu. No final do jantar, cheguei à conclusão que o atraso do Yuri para o jantar foi só uma desculpazinha esfarrapada para não estar ali quando se tinha tantas coisas legais a mais para se fazer por aí.

― Pela sua cara você não gostou muito da minha mãe. – Artur comentou, quando finalmente ficamos a sós. Por pouco tempo, pois a megera só foi ao quarto para tirar os sapatos altos que apertavam seus delicados pezinhos. ― Pode ser sincera, Clary. Eu também não gosto muito dela, ou melhor, desse jeito durão dela. Dando uma de mãe depois de meses fora de casa. – ele soltou um risinho. ― Mas ela ainda é minha mãe e eu devo ama-la mesmo com todos os seus defeitos.

― Tudo bem. Ela é sua mãe. – eu toquei seu rosto, fazendo-lhe carinho. ― Bom, e parece que foi ela quem não gostou muito de mim.

― É normal, foi assim com todas as namoradas do meu irmão. Digamos que ela seja um tanto ciumenta com seus filhos.

Isso não justificava tudo. Mas eu ainda tinha esperanças que as coisas pudessem melhorar com o tempo.

― Oh meu Deus, já é quase meia-noite! Estou tão cansada! – ouvimos quando ela voltou a sala de estar e eu automática me afastei do Artur, receosa. ― Mocinha, o seu pai não se importa nenhum pouco de você estar na casa dos outros até a essas horas?

― Eu já estava de saída. – eu disse, levantando-me do sofá. ― Tchau senhora. Foi um prazer te conhecer.

Artur me acompanhou até a porta.

Naquele momento, meu celular vibrou dentro do bolso.

Era uma mensagem de texto do meu pai.

“Clarissa, eu sinto muito querida, mas parece que hoje você vai ter que se virar sozinha em casa. Isabel pediu permissão para dormir na casa de umas amigas. Você deve estar na casa do Artur conhecendo a mãe dele como disse que faria. Mas eu, não vou chegar em casa tão cedo. Vou ficar aqui mesmo, no escritório, tenho uma pilha de papelada para averiguar até amanhã de manhã. Será uma longa madrugada. Não quero ter que acumular para os outros dias. Então, eu peço que se cuide, tranque bem a porta e feche as janelas antes de dormir."

Mostrei o celular ao Artur.

― Tive uma grande ideia. – ele abriu um largo sorriso após terminar de ler meu SMS. ― Que tal eu te fazer companhia por essa noite? Vou só esperar minha mãe pegar no sono e eu dou uma escadinha, venho até aqui e passo a noite com você. Você não pode ficar sozinha. E eu volto pra casa, antes do dia clarear. Podemos fazer alguma coisa juntos, qualquer coisa.

Pensei por um momento.

― Acho ótimo. – dei-lhe um rápido selinho. ― Estou te esperando!

Já no meu quarto troquei minha roupa por meu pijama de flanela.

Meia hora depois ouvi o Artur bater na porta.

― Eu pensei que você não vinha mais.

― Você acha mesmo que eu ia perder essa oportunidade?

Ele trancou a porta em movimentos rápidos, puxou-me pela cintura e começamos a nos beijar ferozmente. Acabei caindo no sofá com o Artur sobre mim, demos muitas risadas antes de retomamos ao beijo.

Assistimos um pouco de tevê comendo brigadeiro de panela, mas depois de um certo horário não havia nada de descente para assistir. Desliguei a tevê. E eu também já estava começando a ficar com sono. Artur, muito engraçadinho, pegou-me no colo e levou-me até o quarto, colocando-me sobre a cama com cuidado.

― Quer que eu vá dormir no sofá? Ou posso ficar aqui do seu lado, na cama da sua irmã. Tem algum problema?

― É claro que tem! – eu o puxei, rindo. ― Pra que você está aqui afinal? – dei-lhe espaço sobre a minha cama. ― Dorme comigo essa noite, não há nada de mais. Eu gosto de você. Você gosta de mim. E tem também a confiança. Não precisamos fazer nada se não quisermos.

― Você tem razão. – ele me abraçou por trás, já deitado. ― Era exatamente isso que eu estava pensando, mas tive medo que... Ah! Deixa pra lá. – ele beijou meus cabelos. ― Eu te amo cada vez mais, Clarissa.

Fechei os olhos, sentindo o impacto de suas palavras.

Artur vinha repetindo essa mesma frase pra mim dia após dia desde que começamos a namorar, mas eu ainda não podia corresponder a tais sentimentos. E não podia dizer algo que não viesse do fundo do meu coração, sem nenhuma certeza. Então ficava em silencio. E o melhor, ele não me cobrava absolutamente nada. Ele apenas me amava, mesmo que eu ainda não o amasse de volta.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam desse novo romance? Aprovado ou não? Comentem!