Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 34
Capítulo XXXIII


Notas iniciais do capítulo

Aí vai um capítulo super especial, bem fofinho e romântico. Eu não ia postar nem tão cedo, estou atolada de trabalhos para serem entregues. Mas aí, meu professor resolveu faltar e eu vim embora, aproveitando para finalizar esse capítulo. Estou sentindo um alivio, porque eu realmente precisava disso.



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A Liz começou a chorar, assim de uma hora pra outra, como se alguém tivesse acabado de belisca-la. Chorava tanto que suava, seu rostinho estava vermelho, ela não para de se mexer agoniada, o berreiro era alto, escandaloso, qualquer um do outro lado da rua poderia ouvir, as lágrimas escorrendo pelos olhos azuis, rolando pela bochecha rosada.

Comecei a ficar realmente desesperado.

O que ela sentia? Estaria com algum tipo de dor? O que eu faria?

A Clarissa que estava deitada com a gente sobre a minha cama, com a Liz no meio, logo tomou uma atitude coerente. Já que eu estava muito perdido, sem reação. Preocupado com a minha filha. Clarissa sentou-se, pegou-a no colo e a balançou um pouquinho, com muita pratica. O que eu faria também para acalma-la, se tivesse no mínimo condições para isso. Sentei-me também, observando do meu canto, meio perdido, meio sem reação. Atordoado.

Clarissa estava dando tudo de si, eu vi pela sua expressão. E eu nem precisei pedir por sua ajuda, ela mesma agiu da maneira que achava correta. E assim, observando, eu via que ela levava muito jeito com a bebê, quase como se fosse a mãe dela. Ela se levantou com a Liz ainda nos braços e a balançou de um lado pro outro, andando pelo quarto. Perguntei-me se eu deveria recorrer a ajuda da minha mãe, já que ainda assim a Liz chorava muito alto.

― Eu vou pegar a mamadeira dela lá em baixo. – fui até a porta, apressadamente. ― E pedir pra minha mãe fazer um chá antes de sair.

Desci as escadas correndo, na cozinha, a minha mãe estava sentada a mesa conversando com a Isabel. Isabel, que veio até a minha casa com a Clarissa, porque hoje os planos era reunir todos na minha casa, assim que meus pais saíssem, para passar o resto da tarde assistindo filmes e comendo pipoca.

― O que a Liz tem? Ela está chorando muito! – minha mãe perguntou, assim que adentrei a cozinha e corri até o armário.

― Eu não sei. De repente ela começou a chorar, deve estar sentindo alguma coisa. Onde está a mamadeira dela?

Mamãe ajudou-me a procurar, quando encontrei enchi com água.

― Você pode preparar um chazinho? – pedi, o mais gentil possível. ― Eu desço já para buscar.

― Claro filho, sem problemas. Eu faço pra você.

― E eu ajudo. – Isabel moveu-se também.

Voltei para o meu quarto, chegando lá fui surpreendido pelo silencio. Clarissa havia voltado a deitar de lado sobre a minha cama, com a Liz do lado, sem choro dessa vez. Clarissa lhe acariciava o rosto, e a Liz olhava docemente pra ela, os olhinhos ainda vermelhos, porém atentos e de um azul calmo, pacífico. Como o mar pela manhã.

As duas se entenderam. As duas se entendiam.

― O que você fez? Como conseguiu fazê-la parar de chorar?

― Não fiz quase nada. Apenas cantei pra ela.

E foi então que eu me lembrei, que eu costumava cantar pra minha filha ou recitar poemas, para ela se acalmar. Pois o som da minha voz a acalmava quando ela tinha crises de choro ou algo parecido.

― Estou começando a ficar com medo de perder meu posto de melhor pai do mundo. – eu sorri, sentando-me cuidadosamente do outro lado da cama. Dando a mamadeira com água para Liz que aceitou numa boa, tirando os olhos da Clarissa para poder me olhar.

― Não seja bobo. Você sempre será o melhor pai do mundo. Olha só como ela olha pra você - olhamos juntos. ― com admiração. Isso, porque ela ainda nem sabe falar. Espere só quando esse momento chegar.

― Você pode até ter razão. – digo, olhando atentamente para a minha filhinha. ― Mas você também será um boa mãe para os nossos filhos, pode ter certeza. Hoje, agora a pouco, você agiu com todo o seu coração. E funcionou, veja só, você conseguiu acalma-la de um jeito que só eu imaginei que seria capaz.

― Engraçado – Clarissa olhou pra mim com um meio sorriso. ― Eu nunca tive uma mãe, de repente senti como se sempre tivesse tido uma. Deve ser bom ter uma mãe. Mas ainda é cedo para pensar em ser uma. Você não quer ter mais filhos agora, não é mesmo? – ela estava brincando, eu sorri pra ela.

― Não agora. Mas um dia sim. Vamos ter os nossos filhos e seremos como aquelas famílias perfeitas, dos comerciais da televisão. – ela riu com o meu comentário, e eu a admirei. ― Se seu pai me ouve falar isso ele corta o meu pescoço. – foi a fez dela rir, concordando. ― Que música que você cantou pra ela? Acho que ela gostou.

Onde Estiver, da Nx Zero. Conhece? Tenho escutado muito eles desde que a gente começou a namorar.

― Essa eu não conheço, mas vou procurar qualquer hora dessas. – voltei a olhar pra Liz e percebi que ela havia dormindo em questão de segundos, sugando o pico da mamadeira vazia.

Ouvimos uma batida na porta.

― Bernardo? – minha mãe sussurrou, colocando a cabeça pra dentro do quarto. ― Eu trouxe o chá. E vim avisar também que já estou de saídas. Estão todos lá em baixo, esperando por vocês.

O chá não era mais preciso, não agora que a Liz estava dormindo. Quando eu e a Clarissa descemos lá pra baixo deixando a Liz dormindo no quarto tranquilamente, enquanto ela cumprimentava meus amigos, agora nossos amigos, eu guardei o chá pra mais tarde.

― Olha só quem eu trouxe pra ajudar você com as pipocas. – Marina entrou na cozinha, empurrando o Miguel, Gustavo e Eduardo contra a vontade deles. Ela se divertiam com a situação, como sempre. ― Nós meninas estamos cansadas de servir vocês meninos. Hoje é a vez de vocês, portanto, mostrem que são bonzinhos e se ajudem.

Ela sumiu, deixando-nos sozinhos.

― Nem pensar. Eu não levo jeito pra isso. – Gustavo foi o primeiro a recuar. ― Vou voltar lá pra sala e fazer companhia pra Cachinhos Dourado. – ele disse isso, dando tapinhas nas minhas costas e saindo.

Por fim, Miguel e Eduardo me ajudaram com a pipoca e o resto.

As meninas na sala, escolhiam os filmes. O Gustavo já havia tomado conta do sofá maior, folgado. Já deitado, sem fazer nada.

― E aí Edu, quando é que você vai conversar com a gente sobre seu namoro com a Isabel? Afinal, ela é minha cunhadinha. Eu tenho o dever e a obrigação de cuidar dela. E bem, você é nosso amigo, deve se abrir com a gente. – comentei em tom descontraído.

― Ah cara, eu não tenho o que falar. – ele deu de ombros, ajeitando os óculos no rosto, encostando-se na bancada da cozinha. Enquanto a pipoca começava a estourar.

O Miguel, no canto, sorria de maneira travessa, olhando pra gente.

― Tem certeza? Tipo assim – balancei os ombros, como quem não quer nada. ― qualquer coisa, sabe? Se vocês estão bem, como é a relação entre vocês, se brigam muito, se saem bastante, se divertem, sobre o que normalmente conversam, se transam, essas coisas.

― Ei – ele me deu um tapa. ― Mais respeito, por favor.

― Calma cara – o Miguel finalmente abriu a boca, segurando o riso. ― O Bernardo só está brincando pra ver se você fala alguma coisa.

― A verdade mesmo é que o nosso namoro me preocupada, sabe? Eu já tenho dezessete anos e ela só quatorze. Pensa só como vai ser quando o pai dela descobrir isso. Se ele já implica no namoro de você com a Clarissa, imagine quando souber da gente...

― Mas e ela, o que diz sobre isso?

― Ela nem dá muita importância para o pai, mas eu sei que no fundo isso preocuparia qualquer um. Eu gosto dela, sabe? Gosto mesmo, de um jeito que nunca achei possível gostar de alguém. Ela ser mais nova pode até não ser um problema, isso se o pai dela não fosse quem é. Fora isso, a gente se dá muito bem. As vezes parece que somos algo muito além de namorados. Somos melhores amigos pra tudo.

― Ei, podem parar já com essa conversa. – Miguel interveio, fazendo careta. ― Tá muito água com açúcar. E eu não quero morrer de inveja dos meus próprios amigos por eles terem alguém para amar, e eu aqui, sobrando. Vamos parar logo com isso.

Eu e o Eduardo rimos.

― E a Brenda, já era? Não sente mais nada por ela? - arrisquei perguntar.

― Eu até sinto, nem sei se algum dia vou parar de sentir. Ela até me convidou pra sair, um dia desses. Só nós dois. O problema é que ela olha pra mim como um amigo, um irmão, nada mais que isso. E bem, não é exatamente isso o que eu sinto. Eu quero mais! Entende?

― Já tentou dizer isso a ela? – perguntei, indo até a panela. Antes que a primeira remessa de pipoca queimasse.

― O cheirinho já está bom! – Gustavo gritou lá de sala. ― Não demorem muito com isso, meninas.

Limitei-me a dar-lhe uma boa e merecida resposta.

― Então, voltando ao assunto – o Miguel dizia, pegando no armário algo suficientemente grande para despejar a quantidade absurda de pipoca. ― vocês acham mesmo que adiantaria? Digo, me abrir com ela? Dizer tudo que sinto, assim, na lata. Eu particularmente acho que ela só me desprezaria ainda mais. E pior, riria da minha cara.

― O que eu acho é que vale a pena arriscar.

Nos reunimos na sala com o resto e nos acomodamos pelos sofás.

Eu dividi a poltrona com a Clarissa assim como os outros dividiram com suas namoradas - exceto o Miguel, coitado - mesmo o espaço sendo pequeno. Ficamos apertados, mas eu gostava de sentir o corpo dela bem colado ao meu. Sentia que éramos um só e isso me reconfortava.

No domingo de manhã na igreja após a missa a Clarissa e Isabel vieram falar comigo e com meus pais. Elas não eram mais aquelas duas garotas que entravam e saiam da igreja mudas na companhia, unicamente e exclusiva, do pai. Naquele instante, enquanto elas falavam com meus pais, eu percebi que era um bom momento para tentar falar com aquele homem, que se encontrava sozinho, esperando por elas do outro lado da igreja.

Resolvi me aproximar, mesmo meio nervoso.

Eu tinha que me sacrificar: por ela, por mim, por nós.

― Oi, bom dia Vicente. A gente pode conversa?

Ele tirou os olhos do celular em mãos lentamente para poder olhar na minha direção. Senti a frieza daqueles olhos escuros, negros, sombrios e sem expressão. Pareciam dois abismos, mas ao contrário dos de Clarissa, era um abismo que dava a impressão que dali, você jamais sairia com vida. O que só me deixou ainda mais nervoso.

― Tudo bem. Vamos lá. Sente-se. Vamos conversar.

As pessoas saiam as poucos da igreja. Eu me acomodei com ele no banco de madeira próximo ao altar. Não muito longe, não muito colado. Mas assim olhando fixo pra ele, mostrando confiança, determinação. Ele não poderia perceber nunca que eu estava com medo da reação dele para tudo que eu tinha a dizer a seguir.

― Primeiramente, eu queria te dizer que eu gosto mesmo da Clarissa. Eu a amo, de todo o meu coração. É real o que sentimos um pelo outro. Não faz muito tempo que estamos juntos, mas eu queria fazer isso de maneira correta. Por isso vim até aqui para conversar com o senhor, porque sei que vocês não têm tido uma boa relação em casa. Talvez você me culpe por isso, eu entendo. Eu também me sinto culpado. Eu só queria que o senhor entendesse que não estamos brincando. Somos sim dois adolescente, jovens, cheios de vida, entusiasmo, fantasias e uma longa vida pela frente. Mas o senhor também já foi jovem e deve ter se sentindo assim por um bom tempo, como se fosse capaz de tudo. E nesse momento, a Clarissa é o meu tudo, com ela eu me sinto muito melhor. Sem ela, sinto que é possível, mas não é mesma coisa. Sinto-me como se faltasse um pedaço de mim, que só ela é capaz de preencher. Como, porque, ou quando, eu não sei. Tudo começou no comecinho desse ano, por algum motivo, por alguma razão que eu ainda desconheço, mas que estou disposto a arriscar, para um dia poder descobrir, desde que ela esteja ao meu lado.

Ele abriu a boca como se fosse me interromper. Mas se ele interferisse naquele momento, eu não sei se seria capaz de continuar na mesma intensidade. Resolvi ignorar e continuei, dizendo absolutamente tudo que me vinha a cabeça, com o meu coração.

― E o senhor não pode dizer que eu não entendo, porque eu entendo sim. Afinal, eu também sou pai, apesar de não ter tanta experiência quanto o senhor. O senhor deve estar pensando... Mas e a sua filha em tudo isso? E o que eu tenho a dizer ao senhor, é que a minha filha não é o problema, e nunca será. Ela é a base da minha vida. Eu sou pai, mesmo sendo tão jovem e com a Liz eu aprendi tanta coisa, que o senhor nem imagina. Ela é um presente de Deus pra mim, e eu só tenho a agradecer a Ele. Nunca, nem por um momento, eu me arrependo por algum dia ter ido longe demais, ter me envolvido com a Lorena, a mãe da minha filha, e ter resultado nisso. Eu aprendi muito, e era exatamente isso que eu precisava. Não se preocupe. Se o senhor acha que eu sou irresponsável, imaturo, infantil... Sinto muito lhe informar, mas o senhor está completamente enganado. Eu até posso ter sido tudo isso há um tempo atrás, mas posso lhe garantir que agora, com todas as novas experiências que a minha filha me proporciona, que deixei de ser um garotinho. Não é porque um dia foi assim, que com a Clarissa vai ser da mesma forma. Então, não há com o que se preocupar. Eu só quero o bem dela, eu quero estar com ela e espero que o senhor compreenda isso. Eu quero namorar a sua filha, com todo o meu amor, carinho e respeito. – pausei, respirando fundo. ― Eu e o senhor ainda não nos conhecemos, mas juntos poderíamos reverte essa situação. E só então eu poderia te provar que eu sou o contrário do que o senhor imagina de mim. O senhor só não tem direito de me julgar, sem nem me conhecer. Se me conhecer melhor eu poss...

― Já entendi, Bernardo. E por favor, pare de me chamar de senhor. Você deve ter dito senhor umas mil vezes em todo esse seu discurso. – ele riu. Riu mesmo. Uma risada contagiosa, divertida, que quebrou toda a tensão. E eu nunca ouvi aquele homem rir. ― Está bem. Você me convenceu. Conseguiu. É admirável sua coragem de vir até aqui falar comigo. Por isso, e outras coisas, eu estou disposto sim a lhe dar uma chance. Uma chance de nos conhecermos melhor, que tal? Você namora a minha filha e pra mim tudo bem. Desde que você seja mesmo tão bom quanto se diz ser. E se não for, rapidinho eu dou um jeito de me livrar de você. E nada de segunda chances!

Eu poderia ter ficado muito assustado com essas ultimas observações, mas havia algo no tom de voz do Vicente que me fez rir com ele, porque ele estava brincando comigo. Querendo me assustar de maneira positiva, me divertir, descontrair aquela conversa que deveria ter sido tão mais séria, dura, difícil. Por fim, concluí que ele não era de todo mal. O homem poderia aparentar ser uma pedra, dura e fria. Mas em seu interior, era quase visível enxergar a fragilidade, a doçura, a sensibilidade que ele tentava camuflar por algum motivo, por alguma razão.

Levantamo-nos, apertamos a mão um do outro, sorridentes, quando Isabel e Clarissa se aproximaram, surpresas. Junto delas, estavam meus pais, para o meu espanto. Que cumprimentaram o Vicente simpaticamente, com apertos de mãos e sorrisinhos.

― Pai, queríamos saber se podemos ir almoçar na casa do Bernardo. – Clarissa pediu.

― Eu pensei que você não precisasse mais pedir a minha autorização pra nada que quisesse fazer. – ele observou.

― Que tal o senhor vir com a gente? Almoçar lá em casa. – perguntei, impedindo que eles começasse uma briguinha ali mesmo.

― Tudo bem. Vão vocês. Eu tenho umas coisas pra fazer. O almoço em família fica pra outro dia. – ele sorriu, passando a mão pela barba curta. ― Não sei se já estou preparado para almoçar com os pais do namorado da minha filha. Se é que vocês me entendem.

Todos riram.

Era a última semana de férias antes do retorno das aulas, não havia tempo a perder. Eu tinha algo muito importante a fazer. Pensei nisso durante toda a noite de domingo, liguei pra Marina um pouco antes de dormir e contei a elas sobre os meus planos.

Comprei tudo que precisaria para surpreender a Clarissa de maneira romântica, algo que ela não pudesse esquecer por nada no mundo, mesmo com o passar do tempo. E por fim liguei para o pessoal, para confirmar a presença de todos. Seria importante que todos pudessem estar presente em um momento como esse.

Eu pensei no seguinte: O jogo dos corações.

Comprei cartolina vermelha e fiz coração pequenos, onde dentro escrevi algumas instruções básicas para a Clarissa conseguir jogar.

O primeiro coração a Marina entregaria, na porta da casa da Clarissa. Logo depois do horário do almoço, o jogo se iniciaria.

No primeiro coração estaria escrito para onde ela deveria seguir, ou melhor, o próximo passo para pôr fim poder me encontrar.

A Marina filmaria toda a brincadeira e tiraria fotos também para registrar todos os detalhes. E acompanharia a Clarissa, para todos os lados.

O segundo coração estaria com o Miguel, no Clube. Que foi a primeira vez que saímos juntos, não literalmente, mas foi a primeira vez que a Clarissa saiu da sua zona “negra”, mentiu para o pai saindo de casa, foi a festa comigo, conheceu meus amigos, meu mundinho e a primeira vez também que eu pude ajudá-la a não se encrencar com o pai por sua pequena mentirinha. Foi a primeira vez que tivemos uma noite agradável e a nossa primeira conversa civilizada, quando ela me contou que era adotada, tanto ela quanto Isabel.

Foi naquele momento que eu senti que estava a conhecendo melhor, pouco a pouco, devagarzinho. Foi naquele momento que eu quase conseguia entender porque ela era daquele jeito, toda durona.

O terceiro coração estava com o Gustavo, na casa dele. Que foi um cenário bastante especial no comecinho do nosso “relacionamento”. Foi durante a festa de aniversário de dezessete anos dele, quando a Marina convidou a Clarissa – para a minha surpresa - para a festinha também. Naquele dia a Liz foi fundamental para tudo acontecer. Ela chorou, e eu ia dar a mamadeira pra ela, dentro da casa, com mais calma. Foi quando chamei a Clarissa pra me acompanhar, já que ela parecia tão sozinha entre pessoas que mal conhecia. Subimos para o quarto do Gustavo, conversamos sobre a Liz e o segundo beijo aconteceu. No calor do momento, eu até me declarei pra ela. Em poucas palavras, mas sim. E acho que foi naquele momento que eu deixei claro meus sentimentos por ela.

O quarto coração estava na minha casa, mais especificamente no meu quarto, com o Eduardo.

Basicamente a Clarissa teria que dar uma volta pela cidade, só para me encontrar.

Sobre a escrivaninha do meu quarto eu deixei o pequeno poema que escrevi pensando nela. O primeiro de muitos. Seria a primeira vez que eu mostraria a ela algo tão meu, tão particular. Além do poema, ela poderia ler os outros textos, todos que fiz pensando nela, junto de uma rosa azul que deixei ao lado, porque sabia que era sua preferida. Meu quarto era um lugar também muito importante e significativo para nós, pois era ali que eu passava a maior parte do meu tempo, deitado sobre a minha cama, com meus textos e livros, pensando nela. Somente nela.

O outro coração, o quinto, estaria com Isabel. Em frente ao colégio, mesmo fechado por causa das férias. Bom, ali sim era um lugar extremamente importante pra gente. Porque foi ali que tudo começou. Foi ali que eu a vi pela primeira vez, foi ali que eu me apaixonei, que eu tive dúvidas dos meus sentimentos, desejos, vontades. Foi na sala de aula que eu comecei a observa-la mesmo de longe e me sentir cada vez mais apaixonado por aquela criatura tão diferenciada, mesmo desconhecida. Foi pelos corredores que tivemos nossos desentendimentos. Foi durante a organização do Sarau quando tudo finalmente começou a fazer sentido, passamos a ter uma relação secreta, quando eu finalmente poderia dizer que meus sentimentos por ela eram correspondidos.

E por fim, o ultimo coração a levava até mim. Em frente à igreja, mas especificamente no estacionamento. No ponto exato, onde nos beijamos pela primeira vez. O primeiro beijo da vida dela e o melhor da minha. Quando ela veio ao meu encontro, com aquele sorriso de orelha a orelha, eu soube que tinha feito a coisa certa. De longe ela abriu os braços e veio correndo até mim. De perto vi que seus olhos brilhavam em meios as lagrimas. Ela estava emocionada por tudo que fiz. Eu a abracei, levantando-a do chão e a rodei, fazendo-a rir.

Quando a coloquei no chão, com a mão na sua cintura e ela colocou as mãos nas minhas costas, eu finalmente a beijei, como se tivesse esperado a vida toda por aquele momento.

― Clarissa, quer namorar comigo?


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Notas finais do capítulo

Vocês gostaram? Ah, eu gostei tanto de escrever esse capítulo, estava mesmo muito inspirada. Não sei quando vou postar o próximo. Mas não demoro muito.
Ah, e obrigada meninas por comentarem! Com os comentários de vocês, algumas observações, dicas, duvidas, opiniões me dão uma certa inspiração. Continuem assim!



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