Quando Tudo Aconteceu escrita por Mi Freire


Capítulo 31
Capítulo XXX


Notas iniciais do capítulo

Consegui postar esse capítulo dentro do meu próprio prazo. Mas não sei quando vou postar outro, já que em alguns dias, diferente dos outros, eu me encontro sem criatividade, desanimada, preguiçosa ou ocupada. Vou tentar seguir com o meu próprio tempo. Não prometo nada, mas até o final dessa semana eu posto mais um capítulo.



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Bernardo me ligou desesperado para conversar. A primeira coisa que pensei foi pedir ao meu pai que permitisse que eu fosse até a casa da Marina, com qualquer desculpa fajuta, para poder me encontrar com ele.

Ela nós deixou a sós em seu quarto. Sentamos um de frente para o outro sobre a cama. Eu segurei forte a mão dele e olhei fixamente dentro de seus olhos de um azul mais escuro, tristes e pesados. Algo de muito grave havia acontecido com ele, mas por telefone ele não quis me contar e eu tive que me sacrificar, só para estar ao lado dele nesse momento.

― O que foi que aconteceu, Bernardo? Anda logo! Me conta.

Ele suspirou devagar, abaixando o olhar.

Fiquei ainda mais preocupada.

― Ontem um pouco depois que eu liguei pra você e o Miguel me deixou sozinho para ficar com uma garota... O Rafael apareceu e pediu pra conversarmos. Inocentemente e também sob o efeito do álcool das poucas cervejas que eu tomei com o meu amigo, eu aceitei ao convite dele e subi em sua moto. O cara só faltou me matar, fazendo manobras arriscadas, e eu mal conseguia enxergar as coisas em volta. - ele falava depressa, meio desesperado. ― Naquele momento eu só conseguia ouvir a risada dele e meu coração bater forte de medo que caíssemos na rua ou sofrêssemos alguns acidente grave. Por fim, eu descobri que ele não tinha nada pra dizer, não queria conversar, ele só queria me assustar ainda mais, queria me deixar com medo, queria rir de mim, brincar comigo e ferir meus sentimentos! Porque essa é a única função dele: me magoar de todas as formas possíveis. Ele tem ciúmes de mim com a Lorena! Ele detesta a ideia de estarmos ligados pra sempre por causa da Liz. E é por isso que ele quer tira-las de mim! Porque ele não suporta me ver bem.

Não demorou muito pra ele começar a chorar feito um garotinho. E eu além de estar preocupada com ele, tive que ser forte para estar ao seu lado, e o abracei forte. Deixando ele cair em meus braços, enterrando seu rosto molhado no meu pescoço.

Apesar de muito triste por toda essa situação, agora que somos um só, e se ele está triste, eu automaticamente ficarei também. Eu estava com muita raiva desse Rafael por brincar assim com o Bernardo, eu queria poder ir atrás desse garoto e dar uma boa lição nele.

Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Dar uma boas bofetadas dele não seria a melhor das opções. Não iria mudar muita coisa, talvez o garoto fosse tão psicótico ao ponto de sua raiva pelo Bernardo aumentar ainda mais com a minha intervenção.

Voltei pra casa ainda muito pensativa, desejando do fundo do coração que o Bernardo ficasse bem.

Em casa o Vicente ainda estava muito estranho – ainda mais – em relação a tudo. Ele vinha recebendo algumas encomendas por correio muito esquisitas e nunca falava nada a respeito. Não que eu esperasse por isso, mas como alguns pacotes tão simples poderiam afetar tanto o humor dele? Ao invés de conversar a respeito, ele preferia se trancar em seu quarto pelo resto do dia, calado, distante e fechado.

E a única pessoa que sabia exatamente como melhorar o humor de Vicente era Aline, mãe do Miguel. O que só estava deixando a Karen cada vez mais enciumada. E quanto mais ela se afastava do Vicente com suas crises de ciúmes, mas ela o perdia. Todos conseguiam enxergar isso, menos ela. Que nunca foi lá muito inteligente. Coitadinha.

Quanto ao Bernardo, eu estava cada vez mais apegada a ele, como se nos conhecêssemos há anos. Sentia que estávamos cada vez mais envolvidos, e com isso, eu sentia cada vez mais necessidade de enfrentar qualquer coisa por ele. Para estarmos realmente juntos, pois o que tínhamos por enquanto não era o suficiente, nem pra ele e nem pra mim, admito.

Mas todas as vezes em que tentava conversar com o Vicente sobre isso, ele me ignorava completamente, mais interessado em seus envelopes. Aquilo estava mesmo o deixando paranoico e morria de curiosidade de saber o porquê. Só que isso estava bem distante de algum dia eu poder descobrir. Enquanto isso, eu ia tentar falar com ele, apesar dele sempre dizer: Agora não, Clarissa. Outra hora.

― Preciso que me dê cobertura. – Isabel adentrou a cozinha um pouco depois do Vicente sair para o trabalho, na terça-feira da segunda semana de férias. ― Eu vou sair com o Edu.

― Vocês estão mesmo namorando? – sorri, sem olhar diretamente pra ela. Estava colocando ração para o Pepel enquanto ele se alisava nas minhas pernas expostas. ― Isso é loucura, Isa! O Vicente pode chegar a qualquer momento e se deparar com a sua ausência.

― Estou disposto a arriscar. E se ele descobrir vai fazer o que comigo? – Isabel estava mesmo com uma postura imponente, de corajosa, sem qualquer resquício de medo. ― Ele vai me trancar no alto de uma torre pelos próximos anos? Me bater? Me expulsar de casa? Me mandar de volta para o orfanato?

Eu não sei do que Vicente seria capaz de fazer, mesmo ele nunca passando nos limites com sua severidade conosco. Eu não sei se seria tão corajosa quanto Isabel, somos muito diferente em muitos aspectos, mas a vendo assim, sem medos e toda corajosa, senti um formigamento pelo corpo, como se me impulsionasse a fazer o mesmo. Eu só precisaria esperar o momento certo e iria agir, ele querendo ou não me escutar, estava disposta a enfrenta-lo de frente outra vez.

― Estou de saída. – ela jogou a bolsinha de alça fina nos ombros, estava bem vestida, bem maquiada, sorridente e os cabelos escuros soltos em grandes ondulações, realçando seus olhos verdes. ― Qualquer coisa me liga. Estarei com o celular ligado todo o tempo.

Ela saiu, deixando-me para trás, sozinha em casa.

Fiquei o resto da tarde me preparando para o que faria a seguir, nem se quer atendi os telefones do Bernardo. Precisava reunir forças sozinha, no meu quarto, isolada, pensando em qual seria a melhor maneira de tocar no assunto assim que ele chegasse.

Vicente chegou um pouco antes das seis. Parecia exausto, não muito diferente de todos os dias. Isabel ainda não havia chegado do tal passeio com o Eduardo. Mas eu não me importava.

― Pai, precisamos conversar. – dei um passo à frente ao cruzar com ele pelo corredor.

― Agora não, Clarissa. – essa era sempre a mesma resposta que ele tinha a me oferecer. ― Onde está Isabel?

― Pai, precisamos conversar. Agora. É importante pra mim. – ignorei a pergunta dele e insisti, determinada.

― O.K. Vamos conversar. – ele bufou, me olhando com indiferença. ― Vou tomar um banho e já desço. Prepare um café pra mim, por favor. Estou cansado.

Sentei-me a mesa com o café fresco que acabara de preparar, Vicente surgiu alguns minutos depois, com um roupa menos formal. Ele sentou-se de frente pra mim e se serviu em uma xícara de porcelana.

― O que você quer tanto conversar?

― É sobre mim. E um garoto.

― Mais um, Clarissa? Eu pensei que já tínhamos resolvido isso.

― Sim, nós tínhamos. Mais ou menos. – revirei os olhos. ― Mas agora é diferente. É outro garoto. Eu o amo. Ele é especial.

― Me polpa, por favor, minha filha. – ele sorriu, dando um gole lento em sua xícara quente. ― Você não sabe o que é amar uma pessoa.

― E você muito menos. – retruquei, impaciente. Fui bastante tolerante até então, mas agora estava começando a ficar incomodada de verdade. ― Às vezes você parece não amar nem a si mesmo.

― Eu amo vocês, minhas filhas. E isso é o bastante. Você também não entenderia, são problemas de adultos e você ainda é uma criança. Mas agora chega de enrolação. Porque você não vai direto ao ponto?

― Pai, eu não sou mais uma criança e você sabe muito bem. – suspirei forte. ― É por isso que estamos aqui agora. Porque eu queria te dizer, antes que qualquer outra pessoa diga, que eu estou apaixonado por um garoto. E nós queremos ficar juntos.

― Ah é? E o que mais? – ele estava sendo sarcástico, mas não muito alterado como eu imaginei que seria. ― Querem fugir juntos pra bem longe e viver esse amor proibido? Querem se casar? Ter filhos?

― Eu não estou brincando, pai. – não tirava meus olhos dos dele, determinada. ― Eu e o Bernardo só queremos sua permissão para namorar. Fazer diferente, da maneira certa.

― Você e o.... Bernardo? Filhinho da professora do seu colégio? Aquele garoto, amigo do filho da Aline, pai aos dezesseis anos? Tem certeza de que é isso que você quer pra sua vida, Clarissa? Estar ao lado de um garoto que já tem uma filha? O que você está pensando minha filha? Que a vida é uma grande brincadeira de casinha? – agora sim ele estava bravo, muito bravo. Olhando feio pra mim, com uma careta intrigante. ― Essas suas atitudes imaturas, só me provam que você ainda é uma criança e não sabe decidir por si mesma ainda.

Ele levantou-se, nem se quer terminou seu café. Virou as costas e saiu da cozinha, enquanto a luz dos postes da rua adentrava pela janela.

― Mas pai... – levantei-me também, indo atrás dele.

― Não, Clarissa. Não e não. – ele virou-se pra mim uma última vez antes de sair pela porta da frente. ― Você não vai ficar com esse garoto. Poderia ser qualquer um outro, menos esse garoto.

― Então é isso? Você vai virar as costas pra mim sem a gente nem terminar essa conversa? – gritei, observando-o ir até seu carro estacionado em frente a nossa casa. Pra onde ele iria? ― Você quem está sendo infantil! Se não vamos poder namorar com o seu consentimento, então ficaremos juntos sem ele!

Bati a porta com força, voltando pra dentro de casa.

Ninguém tem pai pior que o meu.

Pior, um homem que banca ser meu pai sendo que nem é.

Subi para o meu quarto e desabei sobre a minha cama sentindo as lágrimas escorrem por meu rosto e molharem a almofada, deixando marcas no tecido branco. Chorava porque além de me sentir terrivelmente patética, eu estava com medo de perder tudo por causa do Vicente, sentia-me pequena, diminuída, inferior e presa, de baixo do mesmo teto do homem que diz me amar feito um pai que eu nunca tive.

Isabel chegou antes do Vicente, pra sorte dela. Ela entrou de mansinho no meu quarto, perguntou o que havia acontecido, por causa do choro eu não pude responder, sem insistir ela deitou-se comigo, passando a mão no meu cabelo. Por um momento fechei meus olhos, quase como se pudesse sentir o carinho maternal de um mãe que eu nunca conheci, uma mãe que me abandonou.

Porque tudo tinha que ser tão difícil pra mim?

Na manhã seguinte o Bernardo me ligou desesperado, querendo falar comigo e saber do porque eu estava tão distante e indiferente com ele. Mas eu não queria conversar com ele sobre isso por telefone. Aproveitando que eu e Vicente não estávamos nos falando e tão pouco olhando um para o outro, eu saí de casa mesmo sem a permissão dele.

Bernardo e eu ficamos de nos encontrar na casa dele.

― Entra. – ele abriu a porta pra mim, dando-me um abraço caloroso em seguida. ― Vamos. Vamos conversar.

Bernardo estava muito ansioso de certa forma, parecia bem preocupada com a minha situação que não era lá das melhores. Descemos até seu quarto-porão, ele trancou a porta e sentamos em sua cama ainda bagunçada. Antes de iniciarmos aquela conversa eu desabei sobre o colo dele, apoiando minha cabeça sobre suas pernas e comecei a chorar, porque ainda me sentia muito fraca e perdida, como se eu não pudesse fazer nada, pois minhas mãos e pernas estavam seladas por correntes de aço que o Vicente havia colocado em mim.

Mais do que nunca eu precisava do Bernardo por perto. Da mesma forma que ele precisou de mim e provavelmente seria sempre assim, por fim, acabaríamos sempre precisando um do outro. Porque nos completávamos de uma maneira que não aconteceria com qualquer outra pessoa.

― Por favor, não chore. – ele passava a mão no meu cabelo, tentando olhar no meu rosto, que eu escondia, envergonhada. ― Não chore. Quando eu te vejo chorar sinto meu mundo inteiro desabar.

Por um momento me permiti sentir seu carinho, respirei fundo e só então contei a ele sobre a minha discussão com o Vicente.

― Clarissa, eu tenho que ir falar com ele. – ele tocou meu rosto de leve, enxugando meu rosto com o polegar. ― Por você. Por nós. Ele é seu pai, eu entendo. Mas ele não pode te tratar assim.

― E se não adiantar? – olhei pra ele, amedrontada. ― O que nós faremos? Não poderemos mais ficar juntos. Não será justo com você.

― Clarissa, não diga tanta bobagem. – ele sorriu. ― Não importa o que ele pense, o que ele diga, o que ache. Eu preciso provar pra ele que eu sou o melhor pra você. E se ainda assim ele não aceitar nós dois, nada do que eu sinto por você vai mudar. Nunquinha!

Bernardo me puxou pela cintura, puxando-me para cima dele, nós caímos deitados, aos risos. Olhávamos de maneira penetrante, agora sérios. Concentrados um no outro. Bernardo acariciou meu rosto com uma a mão e com a outra as minhas costas. Fechei meus olhos e o beijei, sentindo o sabor fresco de seus lábios e levando meus dedos até a parte de trás dos seus cabelos pretos, sentindo a macies de seus fios lisos.

― Onde você estava, Clarissa? – Vicente vinha na minha direção, quando entrei em casa após ao meio dia.

― Eu? Estava por aí. – dei de ombros, sendo sarcástica. Mas sem olha-lo diretamente nos olhos, com medo da sua reação. ― Vivendo a minha vida da forma que eu acho ser correta.

Tomei um copo de água gelado na cozinha e passei pelo Vicente, ainda muito chocado com a minha audácia, e subi para o meu quarto.

Se era assim que eu precisaria agir, de forma rebelde, imatura, como nunca antes, para provar pra ele que eu estava a disposta a lutar por aquilo que eu queria, então seria assim, que eu iria agir dali pra frente, mesmo que isso me custasse muito caro.

― Clarissa! Abra essa porta! – Vicente batia na porta do meu quarto, enquanto eu fingia não escutar, mais interessada na música que estava ouvindo nos fones de ouvido. ― Precisamos conversar!

Engraçado, porque ali, trancada em meu refúgio eu não sentia medo dele, ou do que ele poderia fazer comigo por estar agindo de forma tão infantil. Eu só queria estar ali, deitada, ouvindo a minha música, com meus pensamentos distantes, voltados ao Bernardo.

Era com ele que eu queria estar naquele momento ou pelos próximos dias da minha vida. Eu não conseguia me ver em nenhum outro lugar. De fato, eu estou perdidamente apaixonado por ele. No início foi duro pra mim ter que admitir, ainda é muito difícil pra mim dizer isso a ele, assim, cara a cara. Mas agora, tudo que eu mais anseio é que ele saiba, de uma vez por todas, o quanto eu o amo.

Naquela noite eu tomei uma decisão que mudaria completamente o rumo daquela história. Eu estava farta de acreditar que o Vicente agiria de maneira grosseira comigo, me bateria, me xingaria ou algo pior. Eu estava disposta a pagar pra ver a partir de então. Se ele era mesmo capaz de tudo isso, eu queria ver de perto, sentir na própria pele. Não deixaria que ele me enganasse apenas com sua carinha de bravo e sua voz grossa. Esperaria por suas atitudes, pois de palavras eu estava cansada, literalmente. Cansada de acreditar em uma coisa que nem eu mesma sabia se ele era capaz de fazer.

Se ele acredita mesmo que eu seja tão infantil ao ponto de não saber decidir por mim mesma, eu agiria como tal. Faria meu próprio joguinho agora. Sairia de casa quando eu quisesse, iria me encontrar com o Bernardo quando tivesse vontade, escutaria seus sermões se tivesse de bom humor, faria o que ele mandasse se achasse ser o melhor. Basicamente eu faria o que quisesse, quando quisesse e se quisesse e ninguém me impediria. Nem mesmo o Vicente. A não ser que ele estivesse disposto a me acorrentar, me agredir, me prender.

Comecei a agir naquela manhã. Vicente estava a mesa, já vestido para o trabalho, tomando seu café da manhã. Peguei meu suco, alguns biscoitos e segui até o sofá da sala, sem nem cumprimentá-lo. Queria fazer meu primeiro teste, ainda muito leve. Sabendo que ele detestava que fossemos mal educadas durante as refeições. Queria saber qual seria a sua reação ao me ver tomando o café da manhã na sala e não junto a ele a mesa, na cozinha.

― Er... Bom dia maninha. – Isabel acabara de descer as escadas, ainda de pijama, porém os cabelos impecáveis amarrados no alto da cabeça. Ao me ver no sofá, ela me olhou intrigada, como se não entendesse o que eu estava fazendo ali. Mas era algo tão simples. Por acaso é proibido querer tomar seu café no sofá e não a mesa?

― Oi, Isa. – sorri pra ela, dando-lhe meu melhor sorriso. Tinha realmente acordado me sentindo muito melhor com tudo que pensei na noite anterior. ― Bom dia!

Liguei a tevê e tomei meu café tranquilamente, com os pés no sofá.

― Clarissa! O que pensa que está fazendo? – não demorou muito para o Vicente vir se queixar comigo.

― Estou tomando meu café da manhã, pai. E vendo televisão. – dei meu último gole na xícara, terminando meu café.

Levantei-me, pronta e satisfeita.

― E só pra você saber– segui até a cozinha, passando por ele sem mal olha-lo nos olhos. ― hoje eu vou sair com o meu namorado.

Eu me sentia tão inconsequente, tão imatura, tão rebelde, tão infantil e ao mesmo tempo tão adulta, tão imponente, tão viva, tão adolescente. Meu coração batia forte, de medo e satisfação por enfim estar fazendo o que eu tinha vontade, o que eu queria.

― Você não pode estar falando sério, Clarissa. – Vicente veio atrás de mim, com aquele tom de voz que antes até poderia me causar medo. Mas agora eu tentava não me importar tanto. ― A gente conversou sobre isso ontem.

― Sim, a gente conversou. – coloquei minha xícara vazia sobre a pia, e finalmente virei-me pra ele. Vendo Isabel logo atrás, sentada a mesa, com aquela cara de espantada, as sobrancelhas arqueadas. ― Mas a gente não chegou em nenhuma conclusão.

― O que você quer? – ele me olhava, indignado. E com razão, afinal eu nunca tinha agido assim. Nunca tinha lhe respondido de maneira travessa e nunca havia dado as minhas próprias cartas. Sempre preferi manter as minhas cartas do jogo escondidas, mas já estava mais que na hora de revelar as minhas jogadas, as minhas estratégias.

― Eu? Ora papai, eu não quero nada. – sorri, revirando os olhos com humor. ― Eu só quero viver a minha vida. – dei de ombros. ― Eu vou subir, vou ligar para o Bernardo. Precisamos marcar a que horas poderemos nos encontrar mais tarde.

Pisquei e passei por ele, com a cabeça erguida. Apesar de sentir a estrutura inteiro do meu corpo tremer de medo de qual seria a sua próxima reação, eu segui firme. Respirei fundo e subi. Agradecendo mentalmente por ele, apesar de chocado comigo, não ter feito nada contra mim.

Mas até quando ele seria tão tolerante com o meu novo eu dentro de casa?

― Bernardo? Oi. Eu te acordei? – já estava em meu quarto, esparrada sobre a minha cama. Sentindo-me liberta.

― Clarissa? Não. Não me acordou. – ele soltou um risinho. ― Na verdade sim. Que horas são? Oito da manhã?

― Na verdade, quase nove. – foi a minha vez de rir. ― Eu liguei tão cedo porque é importante.

― Não me diga que outra vez você e seu pai brigaram?

― Não exatamente. Mas há umas coisas que precisamos conversar. Que tal, irmos ao cinema mais tarde?

― Tá falando sério? – ele realmente pareceu animado e surpreso. ― Você pode? Quero dizer, ele deixou?

― Digamos que ele não precise mais deixar ou não. Eu resolvi decidir por mim mesma. Mas e ai, vamos ou não ao cinema?

― É claro que vamos! Claro! Eu passo pra te pegar as duas, o que você acha? Muito cedo? Muito tarde?

― As duas parece ótimo. – abri um largo sorriso, olhando na direção da janela do meu quarto. Vendo o dia lindo de sol que se formava lá fora, o céu azulzinho de poucas nuvens. ― Mal posso esperar pra te ver mais tarde.


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Notas finais do capítulo

Agora vai. Clarissa e Bernardo merecem ficar juntos, não é mesmo? Comentem!



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